quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

NINGUÉM PODIA JAMAIS CERCEAR A FELICIDADE DOS MENINOS DA AVENIDA por Paulo Ramalho

Ao redor do ano de 1950, pouco mais, ou pouco menos, éramos crianças livres e felizes da Avenida da Paz.

Residindo na casa de número 1200, Petrúcio, eu e Quico, pela ordem decrescente, éramos o nono, décimo e décimo primeiro, filhos de Luiz Ramalho de Castro, natural de Coruripe, e Benedita Prazeres de Castro, natural de União dos Palmares, quando solteira, Benedita Sarmento Prazeres.

Disse crianças porque eu tinha naquela época nove anos de idade, Petrúcio um a mais, e Quico, o caçula, um a menos. Juntos com alguns amigos, não me recordo se Jardim, Braga, Perrelli, Lima, Nonô, Bentes, entre outros.

Confeccionamos um Judas para sacrificá-lo no sábado de aleluia, costume da época, que na realidade nunca existiu sábado de aleluia e sim sábado santo, somente para esclarecimento, porque outro é o enfoque que darei neste escrito.

A nossa casa, como já relatei anteriormente, ia da Avenida da Paz,a rua Silvério Jorge, nessa rua ficava a garagem, que tinha uma porta de madeira, dividida em quatro partes, todas fixas com ferrolhos em cima e em baixo de cada parte, no centro uma fechadura bastante forte, e duas traves de madeira, reforçavam a segurança, indo um lado ao outro da porta.

Quando nosso Judas ficou pronto, o amarramos em uma das traves, e a trave amarramos no poste de iluminação que ficava logo atrás de nossa casa, na rua Silvério Jorge.

Ficamos aguardando a hora do sacrifício, que se não me falha a memória, se dava as onze horas. Nisso passam alguns operários da Fábrica de Cama Progresso, que ficava um pouco adiante, arrancaram o Judas e levaram com a trave e tudo.

Ficamos bastante aflitos, não só pelo Judas, como pela trave, segurança da porta da garagem, foi quando lembramos que nosso irmão Amaury ainda estava em casa.

Amaury é o quarto de cima para baixo, e junto com Petrúcio, foram os que puxaram nosso Pai, na estatura, os demais, estatura baixa, herança de nossa querida Mãe.

Entramos em casa correndo e aos gritos, Amaury, Amaury, os operários da fábrica roubaram o nosso Judas.

Ele que estava no banheiro, já iniciando o banho, ouvindo a nossa aflição, vestiu a calça do pijama, que naquela época era comprida, e saiu amarrando o cordão do pijama, até quando chegou à rua, seguindo em direção à fábrica, nu da cintura para cima, mostrando o porte atlético, e nós em fila indiana, atrás.

Chegando próximo à fábrica, avistamos o Judas amarrado ao poste, no lado oposto à fábrica, e os operários sentados na calcada em frente à fábrica, Amaury desamarrou o Judas colocou nas costas, sob os olhares dos operários, que nada disseram, e voltou em direção a nossa casa.

Nesta hora não conseguimos conter nossa alegria e admiração pelo feito, explodimos no maior grito, ah!ah!ah!ah!ah!ah!ah!, olhando para os operários.

Amarramos o Judas no mesmo poste, até a hora que o sacrificamos, sem mais sermos importunados pelos operários.

Esse e muitos outros fatos ocorreram em nossa infância, juventude e mocidade em nossa Avenida da Paz.

Já disse o poeta: “recordar é viver”.

Nenhum comentário: