domingo, 10 de fevereiro de 2008

CHEIA DO SALGADINHO por Paulo Ramalho

O Jornal Gazeta de Alagoas, publicou anos atrás, acredito que não cometi pleonasmo, uma foto que se encontrava no seu Baú de Imagens, relembrando as obras de mudança de curso e deslocamento da Foz do Salgadinho, que em 1949, a nova foz não agüentou a vazão da tromba d’água que castigou Maceió.

Morávamos bem próximo ao Salgadinho, na Avenida da Paz, e que apesar dos meus oitos anos, a citada foto, esta gravada nitidamente no baú do meu subconsciente.

A água chegou ao quintal de nossa casa, porém, como a diferença de nível da Rua Silvério Jorge, para a Avenida, em nossa casa, ela ia de uma rua a outra, era algo próximo aos dois metros, não nos causou maiores danos.

Lembro-me que um bêbado tentou atravessar pelo trilho do bonde que ficou pendurado, com o desabamento da ponte, não me recordo se conseguiu.

Ficamos isolados de Maceió, digo Maceió, porque naquela época, quem morava nessas imediações, na Pajuçara, Ponta da Terra, quando ia ao comércio no Centro, dizia que ia à Maceió.

A ponte da avenida era a única ligação para veículos, a outra era a ponte de ferro, destinada ao trem, localizada na Rua Buarque de Macedo.

Quando não vinha trem, o pedestre podia atravessar equilibrando no trilho, ou pelos dormentes.

Os bondes que ficaram na ponta da terra, paravam defronte a nossa casa, fazendo garagem a céu aberto.

Inicialmente a travessia era feita de canoa.

Mais tarde foi construída uma ponte estreita de madeira, para os pedestres. E tempos depois, uma ponte também de madeira, na Rua Silvério Jorge, para os veículos.

Havia quem arriscasse atravessar pela praia, quando o mar estava baixo, mas de vez em quando um atolava, e ficava até o mar encher, ai era desastre total.

Nessa época, nossa mãe estava internada na Santa Casa, operada de vesícula. Quando recebeu alta, foi de carro para a Estação Ferroviária Central, e de trem foi para a Estação de Jaraguá, e novamente de carro foi para casa.

A referida tromba d’água, provocou a queda da barreiRa no bairro do Poço, causando destruição e várias mortes, entre elas um tio avô, irmão de minha avó materna que lá morava, tirou a família, e voltou para ver como estava, foi quando a barreira caiu atingindo-o fatalmente, jogando-o para o outro lado da rua. Ficou tão deformado, que o filho somente reconheceu pela aliança.

Morava também uma tia, irmã de meu pai, que ela e o marido tiveram mais sorte, defronte morava Hélio Ramalho, o do cartório, nosso parente, que os tirou a tempo, apenas com as roupas que estavam vestidos, perderam tudo.

O tio que faleceu, era uma pessoa que quando acontecia qualquer anormalidade, ele procurava se inteirar, e saia pelas casas dos parentes, relatando tudo.

Como nossa mãe estava se recuperando de uma cirurgia, tentamos ao máximo esconder, porque ela gostava muito do tio.

Todavia ela disse, vocês estão escondendo alguma coisa, porque Tio Zé já deveria estar aqui contando o ocorrido, não tivemos outra solução, e contamos a verdade, digo

contamos, mas de fato, foram os irmãos mais velhos.