quarta-feira, 12 de agosto de 2009

7 DE SETEMBRO ESPECIAL por Alberto Cardoso

Reminiscências da 1ª Juventude .

Um 7 de setembro ESPECIAL.

Ano 1957, dia 7 de setembro, 9 horas de mais uma bela manhã de sol na Avenida Duque de Caxias ou Avenida da Paz, acordei com um grito de minha querida Mãe dizendo que a Parada Militar já estava iniciando. Pulando da cama, rosto lavado, pão com ovo e vitamina de banana, com o corriqueiro calção sem camisa, estava pronto e de saída para usufruir daquele magnífico dia. Um navio cargueiro e outro de combustível encontravam-se ancorados no pequeno Porto de Maceió em frente a minha casa(nº 1074)e o mar calmo com águas translúcidas indicava a todos que a abertura de verão estava decretada.

Atravessei a rua, cheguei na praça e passei quase correndo em frente ao Coreto e ia observando todos os moradores a postos nas calçadas e logo na esquina da casa de Paulo Afonso estavam o Grapete, Mané Sapinho, Mané pintor, Paulo da capa, Tonho e Luiz Policarpo no maior papo e do outro lado do beco o Sr. Pádua de tamancos e camisa listada de pijama, conversando com Tonho garçon, logo após Sr. Béu , dona Santina com Bebé e mais na frente o Sr. Heráclito preocupado com os pivetes dos Bentes, seguia na direção da ponte do rio Salgadinho até o clube Fenix Alagoano, local da concentração onde seria iniciada a Parada e seguiria na direção de Jaraguá, onde se encontravam os grupamentos do exército, da marinha da aeronáutica,bombeiros que desfilariam com suas respectivas bandas, com seus hinos e marchas que nunca saíram de minha memória. Sozinho seguia driblando os transeuntes, muitos vindo do interior que juntos com os da capital, chegavam para assistir e participar do grande evento, muita gente desconhecida num vai e vem contínuo e de vez em quando alguns aviões da FAB davam rasantes entre a avenida e a praia, na beira mar onde alguns banhistas pulavam tentando alcançar os trens de pouso, enquanto outros se jogavam no chão com medo e receio em função da baixa altitude que os mesmos atingiam.

Nesse percurso encontrei os colegas Adilson,Rafael Perreli, Lelé, Waldo e continuamos andando , quando observei Dr. Ulisses Braga com Guila e Ricardo e na porta de casa Sr. Ramalho com Quico, Paulo e Petrúcio sentados na arcada do terraço observando toda movimentação, em seguida a família Jardim em grupo com Biriba, Mário e Lizardo acenando para nós.

Muita gente circulando na Avenida, alegrias contagiantes e a turma ia se encontrando naturalmente para assistir a parada prestes a iniciar, passamos em frente ao Hotel Atlântico onde os Mirandas comandavam tudo com Hélio sempre risonho e brincalhão, explicando tudo a todos.Cruzamos a ponte do Salgadinho e avistei os Laveneres com a amiga Baby mais animada do grupo, e logo depois na porta de casa Dalmo Peixoto com dona Zélia e Cristina e em seguida o Sr. Barbosa com um time de peso sentados no seu muro, Draute, Ricardo, Emílio, Cuca,Eurico, Denise e Maristela assistiam a tudo alegremente e fizeram muitos acenos pela passagem da nossa turma pelo lado da praça .

Vimos alguns desmaios de soldados, pois diziam que acordavam cedo e que com aquele uniforme apertado e com aumento da temperatura ambiente naquela posição de sentido, a resistência acabava e tinham que ser socorridos, o que para nós parecia fraqueza e vergonha. Tínhamos muito preparo físico e não admitíamos tal hipótese, coisas da idade.

Lá vem o desfile, começando os carneirinhos com capas azuis por cima da lã, Jeeps sem capota com os militares graduados cheios de estrelas no peito, em continência, outros com espadas em punho, todos marchando forte e no mesmo rítimo e enfileirados ,seguidos dos tanques de guerra, caminhões de tropas, grupo de para-quedistas, ex-combatentes e carros de bombeiros,sob muitos aplausos e respeito, todas as forças desfilavam procurando mostrar o que tinham de melhor.

Por volta das 12 horas a parada estava acabando e todas as pessoas como se tivessem combinado, desciam para a praia para jogar bola e tomar banho de mar a vontade.

A nossa turma regressou das imediações do clube Fenix até o Coreto acompanhando a marcha e banda do exército, onde Cuíca ficava assobiando o hino tocado repetidas vezes até encher o saco e levar muitas lixas para parar.

Em frente ao Coreto na casa de dona Melinha estavam Carlito, Betuca , dona Zeca, Rosita , Socorrinho, com Alice e demais tias e parentes, todos empolgados com justa razão pela participação na parada militar daquele que um dia viria a ser o General Mário Lima o comandante do 20º BC. Mais a frente o Sr. Ariosvaldo com a família Cintra , com dona Áurea, Mozart , Marcos,Vitória, Verônica ,conversando animadamente com as famílias Cardoso, com minha mãe Elizabeth,minhas irmãs Laís, Iracilda,Elza,Leda, Sonia e Bete e a família Wanderley, com dona Enaura, Welma, Wania, Walma, Wilmene, e os pivetes Tido e Lívio.Enquanto meu pai Sr. Cardoso trocava opiniões com Sr. Sigismundo, Werter e Wolney, curtindo na sombra de uma castanholeira a brisa mansa que soprava do oceano atlântico.

Para os Meninos da Avenida , o tempo era infinito e absoluto,pois para nós felizes da vida, simplesmente não passava pelas nossas mentes que aquele macro ambiente pudesse ser alterado . Não pensávamos nem refletíamos, nem muito menos meditávamos sobre esta possibilidade. Estávamos como encobertos por uma nuvem de boa inocência. A regra era brincar, estudar e viver integralmente a cada dia, sem compromissos, sem grandes exigências, favorecidos pelo excelente ambiente coletivo existente, que permitia este precioso sentimento de paz e tranqüilidade.

Hoje, crescidinhos e olhando para nosso passado, cerca de 50 anos atrás, somos testemunhas de quanto fomos felizes e agradeço a DEUS ,em nome dos Meninos da Avenida, pelos belos dias e pelos belos sonhos que tivemos.

Recife,05/08/2009

Alberto Cardoso