segunda-feira, 5 de maio de 2008

UM INESQUECÍVEL CARNAVAL por Carlito Lima

General Mário Lima foi uma das figuras marcantes do século passado no Estado das Alagoas. Desde os tempos que saiu da Escola Militar de Realengo em 1930 teve um relacionamento de amor e cidadania com a sociedade alagoana. Sua carreira militar foi repleta de feitos e de lutas. Participou ativamente em lutas armadas, como a revolução Constitucionalista de 1932, quando partiu com a tropa do 20º BC para lutar no Vale do Paraíba em São Paulo e tornou-se herói daquela guerra entre irmãos. Sua vida militar foi quase toda dedicada aqui no Estado de Alagoas, onde serviu no 20º Batalhão de Caçadores desde tenente até sua aposentadoria como general. Serviu em poucos lugares do Brasil: Lorena, Rio, Recife e USA se preparando para a II Guerra, quando chegou a paz.
Meu pai foi de uma dedicação extraordinária à sua comunidade. Além de oficial do Exército e por certo tempo Comandante da Polícia Militar, foi presidente do CRB, da Fênix , da Federação Alagoana de Desportos, juiz de Futebol, Provedor da Santa Casa, Diretor do Orfanato São Domingos, Lions , Rotary, diretor da TELASA, professor, escritor, membro do Instituto Histórico, intelectual, historiador e outros tipos de participação, de cidadania..
Fatos marcantes me ficaram gravados, principalmente nos anos 50 em que ele era comandante do 20º BC, e o governador do Estado, Silvestre Péricles; um homem honesto mas altamente arbitrário, violento, ditatorial.

O General Mário Lima escreveu um livro, SURURU APIMENTADO, onde narra histórias de um tempo de violências nas Alagoas. Documento histórico da época dos Góes Monteiro.
Em um capítulo dos mais interessantes ele conta fatos com a família do deputado Oséas Cardoso. Fatos esses que também ficaram gravados na mente daqu
ele menino de 10 anos, testemunha de alguns acontecimentos aqui narrados por essa criança, buscados no livro de seu pai e em sua memória.
Num final de tarde de janeiro do ano de 1950, meu pai chegou em casa comovido, abalado, contando a tragédia que havia acontecido na farmácia Pasteur, Rua do Comércio, no centro da cidade, quando numa briga com os irmãos Pinho (ligados ao Governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro), o deputado Oséas Cardoso atingiu mortalmente com um tiro de revólver um dos irmãos, Policarpo Pinho.
A partir desse episódio Alagoas tornou-se notícia em todos os jornais do Brasil, e pronunciamentos na Câmara e Senado, inclusive do Deputado Aurélio Viana, testemunha ocular do episódio, declarou na tribuna que o deputado Oséas Cardoso tudo fez para evitar aquela desgraça. Matou para não morr
er.
A Assembléia não deu licença para processar o deputado. Oséas resolveu se afastar de Alagoas por algum tempo.
Conta Mário Lima no Sururu Apimentado: “Na sexta-feira, 17 de fevereiro, anterior ao carnaval, quando a cidade se preparava para as alegrias momescas, uma notícia inquietadora sobressaltava a população ordeira de Maceió. Cerca das 12 h., um grupo de indivíduos assaltou a Pensão Aurora, residência e meio de vida do Sr. João Paes Cardoso, progenitor do deputado Oseás Cardoso, resultando dessa agressão o assassínio do velho Cardoso e ferimentos nas suas filhas Marieta e Nair. Boatos contraditórios e alarmantes encheram a cidade de apreensão, pois foi constatado que os agressores eram pertencentes à Força Pública do Estado. A Rádio Difusora, do governo estadual, dava a notícia com o título “um bandido que morre “, entremeados de músicas carnavalescas. “
Nessa mesma tarde, o coronel Mário Lima encontrava-se no expediente no 20º BC, quando chegaram em minha casa na Rua Silvério Jorge 290, aflitos e temerosos, os irmãos José, Edson e João Cardoso. Assim que soube, meu pai
voltou imediatamente, e encontrou os irmãos que pediam garantia de vida, estavam ameaçados e caçados por elementos do governo estadual.
O Coronel Mário Lima resolveu assumir pessoalmente a responsabilidade de garantia de vida dos irmãos Cardoso. Alojou-os em nosso quarto. Eu e meus irmãos dormimos por algum tempo em outros quartos, colchões no chão. Meu pai preferiu não envolver o Exército nesse caso político e de segurança estadual. Os irmãos Cardoso ficaram no nosso quarto, não saíram sequer para o enterro do pai no sábado de carnaval evitando choques imprevisíveis.

No domingo de carnaval toda família foi para a matinée infantil do Clube Fênix Alagoana. Minha mãe, festeira, nos dias de carnaval fazia alguma fantasia para os filhos, comprava lança-perfume Rodhouro e deixava a meninada cair no passo feliz da vida. Como garantia, os irmãos Cardoso ficaram na casa vizinha do Dr. Balthazar de Mendonça, parente dos Cardoso, onde hoje é o Restaurante “Flagrante Delitro”. Os quintais das casas eram separados apenas por uma cerca.
Quando acabava a matinée infantil, apareceu um cidadão apavorado informando a meu pai que um grupo carnavalesco fantasiado de cangaceiros estava em frente a nossa casa com intuito de fuzilar os irmãos Cardoso, pois havia presidiários, cabras, jagunços com armas verdadeiras. Meu pai imediatamente se dirigiu à nossa residência. Encontramos um alegre grupo de cangaceiros cant
ando, bebendo e olhando para o interior da casa. Meu pai se aproximou, dialogou com eles, deu alguns trocados para uma cachacinha, e ordenou para o grupo debandar.
Quando entramos, atrás de cada coluna da varanda lateral, junto ao jardim, escondia-se um dos irmãos Cardoso com arma em punho, preparados para matar ou morrer. Quase que a casa aonde nasci tornava-se palco de mais uma tragédia alagoana.
Na quarta-feira de cinzas houve uma comovente cena: as irmãs feridas saíram sigilosamente do hospital e foram se despedir dos irmãos que embarcavam para Aracaju num teco-teco, deixando nossa casa, uma providencial e acidental guarida. Assim foi o carnaval de 1950, um inesquecível carnaval para aquele menino de 10 anos.

DIOCESANO por Carlito Lima



Somos o produto do meio, de nossa educação, de nossa gênese. Cinco instituições básicas tiveram maiores influências em minha formação: 1-Minha família, 2-As ruas e praias de Maceió da minha infância livre e solta, 3- O Colégio Diocesano, 4- O Exército Brasileiro e 5-A Boemia. Embora um tanto rebelde e contestador como todo jovem, aprendi muito com os ensinamentos e caminhos mostrados por essas entidades que fazem parte de meu ser.
Uma delas, O Colégio Diocesano, completa nesse ano da graça de 2005 seu centenário. Meu amigo Petrúcio Codá enviou-me um e-mail acerca do Colégio dos Irmãos Maristas, no qual tomo um bigu.

Na abertura das aulas do 1º ano colegial, em 1955, o “lente” da turma, Irmão Bráulio, lembrou a todos alunos, que aquele ano era um ano de glória, pois o Colégio Diocesano completava 50 anos de fundação. Muitas festas estavam programadas inclusive uma passeata, um desfile militar pelas ruas da cidade como parte da comemoração do cinqüentenário. Os candidatos para a banda marcial deviam procurar o Irmão Rodolfo. Tocar na banda era privilégio, principalmente naquele ano de festas. O Diocesano voltaria a desfilar também no dia da Emancipação Política de Alagoas, dia 16 de setembro. Havia 4 anos que nosso colégio não desfilava nessa parada, o que muito entristecia os alunos.
Afinal houve os primeiros ensaios da banda com alguns alunos voluntários, hoje figuras conhecidas das Alagoas: Petrúcio Codá, Betuca Lima, Oscar
Cunha, Geraldo Bulhões, João Sampaio, Breno Cansanção (Arroz Doce) entre outros. Havia também o João Paulo, filho do Coronel Bina Machado comandante do 20º BC, que destacou um cabo corneteiro para ensaiar a banda. Nos primeiros ensaios, o Irmão Rodolfo, acompanhou de perto todos os treinamentos, e fez uma recomendação peremptória, com ameaças de expulsão:
- “Quero avisar aos compone
ntes da banda marcial, que está terminantemente proibida de tocar, quer nos ensaios, quer no dia do desfile, o dobrado conhecido vulgarmente como “Cortar Cebola”.
Foi uma enorme frustração para os componentes da banda, verdadeiros artistas dos dobrados militares, que tinham o “Cortar Cebola” entre os melhores dobrados: Alvorada, Major Gastão, Floriano Peixoto, e outros tantos . O “Cortar Cebola” era preferência dos estudantes, músicos, do fã clube feminino e do povo de Maceió. Fácil de aprender, de executar, bonito, vibrante, e era o único que podia ser cantado. Exatamente por isso o belo dobrado foi proibido. Um autor anônimo colocou uma letra que caiu na aceitação popular e era cantado nos quatro cantos da província de Maceió quando iniciava a segunda parte do dobrado:
“Eu fui pra mata...Cortar cebola...Errei a faca...e cortei a rola....”
Os componentes da banda fizeram pressão, pediram, suplicaram. Não adiantou. Não conseguiram tocar o dobrado “Cortar Cebola” nem nos ensaios.
Naquele ano o uniforme do Colégio Diocesano teve uma radical e moderna mudança, coisa de vanguarda: Foi adotado como uniforme a calça “sem cinto” em tropical azul marinho. Era o famoso “cós argentino”, a grande e censurada novidade da moda masculina na época. Completava uma camisa branca com um escudo, sapatos pretos e um casquete estilo Fuzileiro Naval no mesmo tecido da calça.
Assim o Diocesano desfilou garbosamente nas ruas centrais de Maceió no dia de seu cinqüentenário, 6 de junho de 1955. Houve várias festas, come
morações, palestras, competições. A prática do esporte no Diocesano era incentivada. Nas tardes havia o campeonato de futebol entre as classes. O campo era o enorme pátio com oitizeiros que faziam parte da jogada, a bola podia bater nas árvores ou nos muros laterais continuava o jogo, era como bola na trave.
Petrúcio Codá termina seu email fazendo um apelo, uma sugestão:
“Que nas comemorações do centenário se promova um desfile comemorativo e que nós, velhinhos transviados da década de 50, possamos também participar, quem sabe formando o pelotão “Cortar Cebola”. Aproveitaríamos para homenagear o antigo Diocesano, suas tradições, seu corpo docente. Saudar os Irmãos do cinqüentenário: Rodolfo, Luis Pascal, Luis Barreto, Eugênio, Silvino, Bráulio, entre outros.
Só assim mataríamos a saudade do velho casarão da Rua do Macena. Dos oitizeiros do campo de futebol. Do porteiro Seu Luis Camões.
Dos livros didáticos da Editora FTD. Das canetas-tinteiros marca Esterbook. Do terço rezado diariamente às nove da manhã em todas as salas de aula. Da benção do Santíssimo rezada pelo padre Hélio na última sexta-feira do mês. Do Canto Orfeônico. Do jogo de espiribol. Das missas aos domingos. Da Cruzada Infantil. Da Congregação Mariana. E de tantas cousas boas e salutares daqueles tempos.”
Concordo com o Petrúcio e acrescento: Das paqueras no Colégio São José e Sacramento. Dos recreios. Das ximbras e piões. E as histórias do Museu, hein?
Ficam as sugestões para a comissão organizadora do centenário. Alguns ex-alunos estão se movimentando como Glênio Guimarães, Jaime de Altavila. Participei do cinqüentenário, quero celebrar o centenário do Diocesan
o/Marista, celeiro de muitas cabeças coroadas das Alagoas.

P.S.1- Quem tiver histórias do Diocesano-Marista favor me enviar por email ou 99810199.
P.S.2 – Na foto cinqüentenária(27/10/55) gentilmente cedida por Marinalva Lima, viúva do saudoso cirurgião plástico José Costa Lima: 1ª Fila: Fernando Tourinho,Odon Cedrim, Adalberto Câmara, Jarbas Cerqueira, Chico Reis, Roberto Von Sósthenes. 2ª Fila: Afrânio Lages, Alberto Carnaúba, José Lima, Renato, Leonardo, Geraldo Lima, Otávio, Emerson, Cleomenes. 3ª Fila: Carlito, Ayrton Lessa, Mauro Jorge, Pascoal Savastano, Hamilton Bahia, José Rocha, Nery Fireman, Nilson Cerqueira. Sentados (os peixinhos do Irmão): Nilson Lira, Ib Santiago, Denis Barbosa, Irmão Bráulio, João Almeida, Jadson, Manilton Calumby. Faltaram: Carlos Fortes e Edmilson. Notar as calças “sem cinto”.
P.S.3- Amanhã 27 fev, como todo bom menino, estarei comemorando meu aniversário, 65 aninhos. No Acarajé do Alagoinha, praça Gogó da Ema, a partir das 10 horas receberei os amigos para uma cerveja com acarajé.
P.S.4- Participem da campanha de fomento à leitura: “Dê livro (nem que seja do sebo). Um presente para toda vida.”

ACABOU NOSSO CARNAVAL por Carlito Lima

Eu morava fora de Maceió, mas sempre achava uma maneira de vir no carnaval. Seja em férias, licença ou feriado. Os carnavais eram de uma animação e de um alto astral que fazia bem ao espírito, aumentava a alegria de viver de cada um de nós, mancebos e mancebas de uma terra bonita, onde todos se conheciam, se amavam. No carnaval a ordem era cair no passo, dançar o frevo, sambar, se esbaldar, curtir, namorar.
A temporada carnavalesca começava com o Baile de Máscaras logo após o ano novo. Baile chiquérrimo, com fantasias e máscaras obrigatórias ou traje a rigor. Muitos senhores vestiam seus smokings. Os foliões pulavam até o Sol raiar.
Enquanto esperava o carnaval chegar, n
os sábados havia festas pré-carnavalescas: Noite no Hawai, Preto e Branco, Baile Tricolor. Os surdos e tamborins começavam a esquentar nessas festas, onde a paquera era escancarada. Início e término de muitos namoros. Os mais sabidos entravam solteiros no carnaval.
No domingo antes do carnaval a
contecia o Banho de Mar à Fantasia. A Avenida da Paz ficava apinhada de foliões. A C.O.C. organizava concurso de fantasias, blocos e críticas (sempre bem humoradas malhando o governo ou nossos costumes). Destaque para uma turma irreverentíssima formada por: Rubem Camelo, Alipão, João Moura, Napoleão, Bráulio Leite, Vadinho, Santa Rita. O Fusco dava seu show particular, além do Tarzan e senhora.
Durante a quinzena anterior ao carnaval, a Prefeitura organizava uma animada Maratona Carnavalesca toda noite no Comércio, com corso e muito frevo. Os carros desfilavam com as meninas sentadas nos pára-lamas d
os carros, jipes e caminhonetes abertas. Saltávamos nas esquinas onde havia uma banda tocando o frevo. Ali se misturava a burguesia, a classe média com o povão, os estivadores, as empregadas, soldados, pedreiros, lavadeiras e putas. A Maratona só terminava quarta-feira de cinzas.
O carnaval iniciava no sábado de Zé Pereira. Depois do corso tínhamos duas opções para os clubes: CRB ou Tênis. No domingo além da matinal da Fênix havia à noite o Baile dos Marujos no Iate ou o Baile da Fênix.
Certa vez coincidiu meu aniversário com o último dia de carnaval. Nessa terça-feira a Escola de Samba Unidos do Poço animava a matinal da Fênix. Depois da matinal levei alguns amigos para casa. Minha mãe concordou na maior animação. Era uma festeira. Comandei a bateria da Unidos do Poço, sambando pela Avenida até minha casa. Comemoramos meu aniversário até o anoitecer ao som dos tamborins. Era o início da despedida do carnaval.
Ainda agüentei ir ao corso depois de tomar um banho. Estava cansad
o, com medo de não agüentar o restante do último dia, quando Paulo Sá me viu naquele estado, cochichou no meu ouvido: “Levante-te Capita, vamos até ali”. Entramos num bar na Rua da Praia. Paulinho pediu um copo d’água, deu-me uma pílula vermelha com recomendação: “É um energético para recuperar o cansaço, uma pílula milagrosa!”
Chegando em casa recomendei que me despertasse à meia-noite, estava com medo de perder a última festa. Quando a empregada foi me acordar, eu já estava pronto de banho tomado, vestido com um macacão. Dormi um pouco, meus lábios formigavam, estava recuperado, zerado, disposto a cair no carnaval.
Pensei na pílula do Paulo Sá, vá ser milagrosa assim na p.q.p.


O Baile havia começado tocando marchinhas bonitas para alegrar o
coração dos foliões. Eu dançava nas cadeiras, no salão, em todos lugares. A festa foi se animando com muita mulher bonita. Até que lá para três da manhã o presidente Dr. Ardel Jucá anunciou o folião do ano, escolhido por unanimidade. Fiquei surpreso quando falaram meu nome. Com muitos aplausos recebi o prêmio oferecendo à milagrosa do Paulo Sá. Havia quebrado uma tradição de vários anos, quando Pitão e Ednor Bitencourt se alternavam no prêmio de folião do ano.
A festa continuou até o Sol raiar. Finalmente a orquestra desceu do palco tocando, deu várias voltas no salão até se dirigir e conduzir a multidão para praia onde continuaram dançando e cantando: “É de fazer chorar...quando o dia amanhece...e obriga o frevo acabar...Oh! quarta-feira ingrata...c
hega tão de pressa só pra contrariar...” O carnaval terminava com um banho de mar com a fantasia suada e cansada. Yemanjá a tudo assistia e abençoava com alegria.
Jovens alegres, molhados, cansados, deitados, esparramados embaixo das amendoeiras da Avenida, sentia saudade daquele carnaval que findava. Alguns de mãos entrelaçadas, abraçados, outros se beijavam. Quico e Alice, namoro de carnaval. Socorrinho e Clailton namoro antigo. Um bando de jo
vens bonitos e felizes se reunia aos poucos: Bebete, Lourdinha, Ângela, Zito, Nia Malta, Vladimir e Guilherme Palmeira, Uchoa, Bárbara, Lelé , Salete Toledo, Vadinho, Frazão, Teca, Vânia, Carmen, Bethânia, João, Ana Amélia, Suely, Martinha, prima que ti quiero prima. Todos unidos pelo cansaço e pela saudade da folia que havia terminado. O que nunca se acabou foi o carinho, a amizade de todos nós.
Certa hora alguém falou em tomar café e uma saideira na casa
de Dona Zeca. Levantamos, andando devagar feito o Exército de Brancaleone. Alguns descalços, outros sem camisa, namorados de mãos dadas, amigos abraçados. O dia estava claro, o mar e o céu passavam do alaranjado da madrugada para o azul-esverdeado, brilhante de uma luminosa manhã de quarta-feira de cinzas.
No lento andar, Vladimir iniciou cantando a marcha da quarta-feira de cinzas, e todos nós acompanhamos como se fosse uma premonição. Nem ale
gres, nem tristes, sabíamos que alguma coisa estava para acontecer, deu uma sensação de perda. Alguém chorou sem saber o por quê. De mãos dadas cantamos com o coração, perambulando pela Avenida: “Acabou nosso carnaval...Ninguém ouve cantar canções...Ninguém passa mais brincando feliz...E nos corações saudades e cinzas foi o que restou...E, no entanto, é preciso cantar, Mais que nunca é preciso cantar ...e alegrar a cidade...”
Aquele tinha sido o último dos nossos carnavais.