quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OS SINOS DOBRAVAM por Paulo de Castro Silveira

Bem que saí de casa para ir ao encontro do Emilinho – do Emilio Cardoso Filho. Antes, teria uma audiência da Junta de Conciliação e Julgamento, onde três gordos pontificavam. Eu, o Hebel Quintela e o Pedro Barbosa Júnior.

Hebel estava apressado.

- Vou ao enterro do Emilio, dizia.

Sei que minhas mãos tremiam. Também iria levar o meu sobrinho espiritual à última morada. O sobrinho filho do Emilio Cardoso e dona Elizabeth. Sabia que chorava, como choro agora, quando escrevo esta crônica de saudade. Repentinamente, o Pedro, encerrando a audiência, disse:

- Os sinos estão dobrando.

E aquele toque plangente, saudoso, de finados, me acovardou. Emilinho, não fui ao seu enterro. Fugi chorando de asfalto afora. Fui bater no “Mirante da Sereia”, lá para as bandas de Pratagy. E vi você, na piscina natural, menino, comigo, seu pai, sua mãe, seus irmãos, minha esposa, minha filha, naquelas tardes dos sábados em que fazíamos nossos folguedos em família, e você, Emilio, me pedia a benção, talvez pensando que eu fosse seu tio de verdade.

O mar era agressivo. As ondas não deixavam que eu ouvisse a voz de seu pai, me consolando, porque ele era um forte. Mas a voz dos sinos superavam a voz das ondas. E eu sabia que naquela hora você descia à sepultura, e podia ver dona Elizabeth e suas irmãs chorando, chorando, e então pude pronunciar baixinho aquela frase de John Danne: “ A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não me perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti”.

Pois, Emilinho, seu tio não pôde ir ao seu enterro. Não vai a sua missa. Mas, acredite, menino, que sofro como se perdesse um parente querido, porque você era como a Branca Rosa, o Draute, a Denise, a Estela, de quem você tanto gostava; a Cristina, Ricardo, o Dalminho, a Arícia, a Yara, a Martha, o João, o Eduardo, o Cuca, o Lelé, a Socorrinho, o Eurico, o Guilherme e Ricardo Braga, como seus irmãos, uma partícula dos meninos daqui da minha rua, da Avenida da Paz, meninos que sempre amei, e que podem crescer, mas que continuarei a chamar de meninos, porque os pais, os tios, os padrinhos, os amigos sinceros guardam na lembrança, as peraltices daqueles entes pequeninos, que crescem, mas, que simbolicamente são sempre pequeninos, e suas travessuras são subsídios para histórias cheias de saudade.

Por isto, menino, menino Emilio, sentindo sua partida temporária eu continuo ouvindo os sinos dobrando, chorando, como eu choro agora, Emilinho, para dizer finalmente, como qualquer pai, como qualquer tio:

- Deus te abençoe, meu filho.

GAZETA DE ALAGOAS – 13 de setembro de 1968