segunda-feira, 3 de março de 2008

JOGO DE BOTÃO por Lelé

Semana passada rolou aqui em Maceió um torneio de Futebol de Mesa da regra chamada 12 toques. Esta regra é descrita no site de recomendação dos meninos no nosso Blog : http://www.futeboldebotao.com/ Tive curiosidade de dar uma espiada no torneio, mas acabei não indo lá. Mas me parece que é levado a sério mesmo. Já estão anunciando o 1º. Nordestão em Caruaru.

Estes fatos me levaram a recordar nosso tempo de meninos da Avenida. O jogo de botão era uma das brincadeiras preferidas da gente e a que levavam mais a sério. Raros os que não tinham seu time, seus botões. Nossa regra era bem mais livre e específica do pessoal da Avenida, mas seguida a risca. A gente jogava até no chão ou em mesa de jantar, mas os mais dedicados tinham seu campo de botão, embora poucos possuíam aquela mesa totalmente apropriada, como a do Ricardo Peixoto, o nosso Maraca.

Os nossos botões eram de capa, daquelas de Humphrey Bogart, que se podia vestir dos dois lados, e a gente arrancava os botões de dentro do casaco de nossos pais, pra eles não perceberem, pois raramente usavam a capa, menos ainda os dois lados. Os botões eram também de vidro de relógio, de chifre de boi, feitos pelos presidiários de Maceió e Recife, e também de caco de côco. Estes feitos pela gente mesmo, ralando o caco no cimento da calçada. Alguns faziam verdadeiras obras primas. Valia um bocado no nosso mercado de botões. Os primeiros botões de plástico eram feitos com fichas de jogo de cartas, e para ficar mais altos colávamos duas delas com chiclete queimado. Depois chegaram os industrializados pela Estrela, com rosto de jogador de futebol no centro do botão.

A qualidade do botão era para a gente poder controlar, tocar, driblar, chutar, ajudava. Porém o que resolvia mesmo era a habilidade de cada um. Carlito que na geração dele era imbatível foi campeão com um time de botões de braguilhas. Depois vendia-os no mercado de botão a preço de Ronaldinho. Mas nas mãos de muitos estes botões se tornavam perna-de-pau. Carlito me deu uma vez um artilheiro, um botão de braguilha pretinho, chamado Baltazar. Comigo ele continuou artilheiro. Modéstia a parte, eu também era um dos bons.

Na geração do Carlito tinham outros craques como Rafael Perrelli, seu principal rival, com o time do Vasco. O botão Ademir era terrível. Quando Perrelli falava “coloque-se” pra ele chutar, o adversário tremia, certamente lá vinha um gol . Lizardo tinha um time de capa espetacular (ainda hoje ele guarda o time). Betuca, Paulo e Cuíca também entravam na parada.

A gente controlava o botão não com palheta como hoje em dia, mas com um pente. O preferido era da marca Flamengo, o comprido. Um lado era fino apropriado para tocar e outro grosso para chutar. Na minha geração, meu principal rival era o Cuca. Outro Vasco X Fluminense. Em jogo amistoso era pau a pau. Mas na vera, em torneio, campeonato, minha vantagem era muito grande. Eu fazia dois gols no começo do jogo e aproveitava o nevorsismo do Cuca. Quando eu pegava o pente fino para ficar controlando a bola, fazendo cera, ele prontamente começava a mastigar cotoco de vela, que usávamos para lustrar os botões. Final do jogo 2 X 0 , e nisso ele já tinha comido uma vela inteira. Nessa geração despontaram outros craques como Guilherme e Ricardo Braga, Luciano e Ricardo Peixoto, que tinha um time temido.

Ano passado Betuca fez um campo de botão de 1ª. linha para mim. Jogamos algumas vezes , mas o campo, agora, tá lá no quarto dos fundos mofando. Aproveito nosso Blog para mandar um recado à galera: vamos renovar nossa aptidão , e marcar aqui em Guaxuma um torneio de botão! E se a final for entre eu e Cuca, por favor, tirem os cotocos de vela de perto dele!

(Lelé – Março/2008)