sexta-feira, 29 de junho de 2012

SÃO JOÃO NA AVENIDA DA PAZ por Lelé


O período das festas juninas, que simplesmente chamamos de SÃO JOÃO, está para nós nordestinos,  como o carnaval está para o Sul Maravilha.

 A partir de 19 de março, dia de São José, já começávamos a contagem regressiva para o início de nossas festas preferidas. Todas as casas da Avenida da Paz tinham um quintal nos fundos onde ficavam as fruteiras, jardins e galinheiro. Especialmente nesse dia,  procurávamos pedacinhos de terra disponíveis para plantar as sementes de milho. As colheitas nessa pequena plantação eram feitas nas vésperas, e nos dias de S. João e S. Pedro. Os milhos novos e verdinhos eram assados na fogueira em frente a casa.


COMIDAS DE SÃO JOÃO

Os saborosos pratos à base de milho, como canjica, pamonha, milho cozido, bolo e mungunzá eram servidos durante todo mês de junho. Eram feitos com milhos comprados no atacado, no mínimo uma mão, 50 espigas, em carroceiros que vendiam de porta em porta.
Nos dias e vésperas das festas em homenagem aos santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, certamente todas as casas tinham esses quitutes, além de arroz doce, amendoim cozido na casca, bolo de macaxeira, pé de moleque, enfim, tudo o que a imaginação e competência culinária de nossas mães podiam fazer com as maravilhas que brotam de nossa terra.  

Quando a fogueira já estava em brasa assávamos os milhos colhidos em nossos quintais. Também na brasa fazíamos churrasquinhos de carne no espeto, acompanhados, claro,  de nosso quentão,  mistura de cachaça, vinho tinto, Cinzano e canela.


AS ADIVINHAÇÕES DAS MENINAS

As festas juninas começavam a tomar fôlego dia 13 de junho, dia de Santo Antonio, quando as meninas se juntavam para fazer adivinhações que giravam em torno de um único tema -  com quem iam se casar???. Era mais um motivo para aumentar a bagunça dos meninos da Avenida, que nunca perdiam uma oportunidade de melar a brincadeira das meninas.

Uma das adivinhações era furar uma bananeira com uma faca que nunca tinha sido usada.   No dia seguinte apareceria na lâmina as iniciais do provável noivo. Víamos escondidos onde as meninas enfiavam as facas. Depois,  colocávamos uma letra na lâmina com sumo de limão, e a faca voltava para o mesmo lugar na bananeira. Quando a menina, no outro dia tirava a faca, estava uma letra de algum menino que ela não gostava. E nós? Lá estávamos, de olho, para apontar o nome do bandido que ela não queria nem ouvir falar. Pura maldade .

Também bagunçávamos as adivinhações de colocar uma moeda na fogueira e no dia seguinte oferecê-la ao primeiro esmoler que aparecia. O nome dele seria do pretenso noivo. Também costumávamos brincar de deixar os pingos de uma vela caírem na água de uma bacia até aparecer uma letra. Era a primeira letra do nome de um  pretendente.  E muitas outras brincadeiras de  adivinhações  animavam as nossas noites juninas,   como colocar clara de ovo num copo d´água. No dia seguinte se aparecesse na água uma figura sugerindo a imagem de uma igreja, era sinal de casamento próximo.  Se a imagem sugerisse  um navio,  era sinal de viagem.  A imagem de  um caixão, era a morte em breve. Claro que pra provocar gritinhos de pavor entre as Luluzinhas,  fazíamos sempre aparecer no copo d´água,  no dia seguinte,  o desenho de um caixão.


FOGOS

Acendíamos as fogueiras no começo da noite. O efeito era quase que mágico. A Rua Silvério Jorge, de repente, ficava totalmente iluminada pelas labaredas e pelas brasas  das fogueiras. A fumaça cobria todo o céu. Com a brasa na extremidade do pau da fogueira acendíamos nossos fogos.

Pistolão, vulcão, estrelinhas, diabinhos, bombas, pipocavam em cores e luzes enfeitando toda a rua. A pivetada corria de fogueira em fogueira, jogando travaliana, beliscando os quitutes feitos por nossas mães, felizes como pinto no lixo.

Na Avenida da Paz, as fogueiras eram altas, montadas na areia da praia, onde não havia a limitação da rede elétrica. O contraste daquele fogaréu com a lua e o mar, formava uma paisagem de tirar o fôlego. Belíssima. Principalmente quando o tio Béu  soltava os mais deslumbrantes fogos de artifícios. Outros soltavam balões. Era um momento especial esperado ansiosamente por todos os meninos da região. A noite da Avenida da Paz brilhava em todo seu esplendor.


GUERRA DE FOGUETES




Nesse período de São João, os meninos da Avenida mantinham um confronto sem trégua com os meninos da Praça Sinimbu, armados só com foguetes. O Rio Salgadinho era a divisa da área de atuação. Passando desse limite, o moleque era coberto com bombas de pistolões. Sempre havia alguma queimadura na batalha.
Certa vez, Dimas, um mulato da Praça Sinimbu atravessou o rio, pela praia, com um grupo de amigos. Estávamos escondidos atrás das pilastras da Ponte do Salgadinho, esperando justamente isso, um atrevimento da parte deles. De um lugar estratégico,  com boa visão do campo de batalha, acompanhávamos cada passo, cada manobra dos inimigos. E de cima para baixo, surpreendemos Dimas e sua tropa, jogando foguetes em cima deles. Alberto Cardoso acertou o cocuruto do Dimas com um rojão. Ele passou meses com uma faixa no cabelo pixaim. Maldade.

Não existia para nós, Meninos da Avenida, melhor época do ano que o São João.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

RAFAEL PERRELLI por Cuca


Era da turma intermediária, mais que na adolescência já andava conosco nas caçadas, farras e namoros. Era o menor de três irmãos homens da família Perrelli. O Fael era uma figura notável, amigo fiel, valente, vaidoso, apaixonado pela namorada Gilda, destemperado principalmente quando se falava da namorada e dos irmãos, logo partia para brigar.

Dentre várias situações, vou detalhar algumas que tive o prazer de vivenciar; Eu adorava caçar todos os sábados na cidade do Pilar, onde residia o compadre Aloisio e,  tinha uma canoa que adquiri para as caçadas e pescarias; na primeira vez que chamei o Fael para participar de nossa distração semanal,  ele empolgado me acordou as 3 horas da matina, juntamente com Emilio seguimos no Guerreiro ( meu Jeep Williams 60), chegando na casa do compadre as quatro horas, ainda escuro.Após tomar um café com charque e macaxeira, seguimos para o porto onde embarcamos rumo a propriedade Lamas, já iniciando a atirar nos galos d´água, jaçanãs, socos, carões, marrecos  etc. Era época de inverno e com a lagoa cheia, transbordava para o vale ficando uma imensa  área alagada.

Ao chegarmos ao destino, descemos da canoa e seguimos a pés pelo grande alagado, depois de andarmos umas quatro horas, o corpo já pedindo um descanso, o Fael, gordo, começou a olhar para os lados, tudo alagado e subitamente apavorado, grita “Cuca eu quero terra, eu quero terra”. Foi uma gozação geral; ele ficava brabo quando alguns da turma para chateá-lo gritava  “quero terra, quero terra”.

Quando o sol esquentava ( onze horas), juntávamos a caça e voltávamos para a cidade, onde deixávamos os marrecos para assar no bar do Tonho, seguíamos para o Grajaú onde tomávamos um banho de bica e de volta, tomar cerveja e pinga com os pássaros de tira gosto, voltando a Maceió no final da tarde; era uma beleza.   

O Rafael, mesmo com o “quero terra”, tomou gosto com as caçadas, programou passarmos uma semana no seu sítio no Carrapatinho, fomos eu, nego Lelé, Fael e por insistência, como nosso cozinheiro o Bil Taveiros, primo de Rafael e um cachaceiro irrecuperável. O programa sempre era parecido, de madrugada saiamos para caçar em uma canoa de Sr. Pedro, morador e conhecia os alagados; La pelas onze horas, voltávamos com os pássaros, sempre galos e galinhas d ´água, marrecos, socos e vez por outra carões; enquanto limpávamos às armas, o Bil despenava , tratava e cozinhava à caça, as duas horas almoçávamos, depois ficávamos jogando baralho,  ou Banco Imobiliário, ouvindo música e as vezes apostando quem melhor atirava, a noite tomávamos uns goles de vermute e comentávamos sobre a caçada do dia seguinte, era uma tranqüilidade. Os únicos problemas que tivemos, foram as cachaçadas do Bil; que no segundo dia, ao voltarmos da caça, estava completamente bêbado e não tinha cozinhado nem o arroz, feijão e macarrão; tivemos de almoçar jaca mole. Nesse dia o Fael deu umas porradas nele, mas não tinha jeito; então decidimos que também o levaríamos pela madrugada e na volta ajudávamos na cozinha, o que em parte solucionou o impasse, passando a só beber à noite. Também tínhamos muitas frutas que tirávamos toda tarde, para diminuir as despesas. 


Lembro-me  que estava no Coreto quando alguém pediu-me para chamar o Fael, pois o Betinho, seu irmão tinha tido um acidente e estava no Hospital dos Usineiros; segui no Guerreiro para o gramado, onde o mesmo estava marcando ponto com a Gilda, no portão de trás , dei sinal de luz, mais ele pensou que era sacanagem minha e partiu para brigar aí tive de dizer bruscamente o caso do acidente. O Fael apavorado, entrou no Jeep e pedindo sempre que aumentasse a velocidade, começou a chorar, não se contentando, colocou seu pé no acelerador, foi uma loucura, entremos no hospital a uns 120 km por hora, não sei como conseguimos chegar vivos. 


 
 Outro caso que merece recordar, foi a sua fantasia de “Feiticeiro Africano” no baile de Mascaras do Clube Fênix Alagoana. Naquela época, o baile de Mascaras e seu concurso de fantasias era muito festejado e os prêmios eram caixas de lança perfume Rodouro, viagens ao Sul do país, enfim, a disputa era acirrada e levada a serio por toda a sociedade alagoana. As fantasias eram escondidas, não alardeadas até o grande dia. Existia em Maceió um cronista social muito festejado, o saudoso Sam Duarte que sempre disputava com apresentações exuberantes, e tinha afirmado nos jornais que venceria naquele ano, e era gordo como o Fael.

No esperado dia do citado baile, estávamos numa mesa na Fênix, todos devidamente mascarados e fantasiados, quando chega o Fael puto de vida, pois um c ara já por duas vezes tinha passado a mão na sua bunda, chamando-o de viado, mas como ele estava  disputando o concurso de fantasia, não queria brigar. Tendo afirmado que iria pegar o tal fulano após o resultado para dar uma surra. Vem o concurso, e o Rafael ganha em terceiro lugar e quando desce do palco para procurar o desafeto, eis  que ele aparece e pela terceira vez  alisa a bunda, ao tempo em que diz “ganhaste cronista viado”, o Fael dá uma surra no agressor que estupefato não revida e, ao tirar a mascara era Paulinho Malta pensando que o Fael era o Sam Duarte. Como não tinha porte para uma luta com o Fael, o Paulinho foi para sua casa armou-se de uma soqueira de metal e volta ao clube, espera quando o Fael  deita-se para descansar na quadra ao lado do ginásio e aplica um murro e corre pulando o muro . Esse caso foi preciso muita paciência e jeito para que não terminasse numa tragédia.

Mais infelizmente Rafael Perrelli teve uma vida curta, ao visitá-lo no hospital do Câncer, ele já se ultimando, ficava conversando por horas na varanda de seu quarto, ele tinha dores horríveis toda vez que precisava defecar e sabia que também a época tinha retirado um câncer em São Paulo, queria saber o que eu fazia para evitar as dores, quando lhe afirmei que não defecava pois só ingeria líquido, e ele “até doente você é um cara cagado Cuca”.    

Maceió 26 de junho 2.012
Cuca

quarta-feira, 27 de junho de 2012

HUMBERTO GOMES DE BARROS, SIMPLESMENTE COMPADRE BETO por Chiquinho Nemésio


                             Cheguei à Brasília em 04.12.1961, e o compadre Beto aqui já estava! O encontro casual foi inevitável. Amigos na infância, o reencontro em Brasília foi uma bênção! No carnaval de 1962 conheci Selma, carioca e filha de Português, hoje minha esposa, com quem me casei em 31.12.1963. Beto casa com Yvette, também carioca e filha de Português! Coincidência providencial, pois surgiu uma grande amizade entre as duas, com convivência quase diária, até hoje! São 50 anos de uma grande amizade! Desde então passamos os natais juntos (as duas famílias).  Ano bom em nossa casa (Data do nosso casamento) e natal na casa do Beto!
                           Nas nossas reuniões eu costumava dizer: No começo, era eu e o Beto. Agora somos:



 
Beto &             *Betinho -Débora, Pedro Paulo, Fernandinha e Carol
  Yvette                    *Lícia – Jefferson, Guilherme e Ana Júlia
 
                                            * Raquel –Fernando, Mariana e Fernandinho
                                             * Carlos Adolfo - Denise




 
Eu &                * Marcus Vinicius – Cristina, Mª Luíza, Izabela e Gabriela
Selma                     * Andréa – Ângelo ,Amanda e André
                                         * Cristiane – Tiago
                                         * Daniele –Konrad- Em Gestação


                      Vejam vocês, somos agora 28. Demos uma significativa contribuição ao povoamento do Planalto Central! Meu compadre Humberto não acreditava muito noutra vida. Era meio agnóstico, porém um grande cristão! Sempre esteve pronto a ajudar o semelhante! Pobre e rico foram ajudados por ele! Sei de pelo menos uns 7 ou 8 casos em que os ajudados são eternamente gratos ao Procurador Geral e ao Ministro! 

Em seus últimos meses de vida tive a felicidade de vê-lo receber o Frei Oslan, a meu pedido, em visita à sua casa, que foi, quero crer, o início de sua conversão! Nos últimos dias recebeu a visita, já no hospital, do Pastor Hércio, levado por seu filho Betinho e do Padre José Maria a pedido do Stéllio, culminando em sua conversão.

                       Ministro Humberto Gomes de Barros, homem de reputação ilibada, (por ele sempre pus a minha mão no fogo), sempre foi um bom amigo, bom pai, bom filho e bom irmão! Nós tínhamos um bom e respeitoso relacionamento! Nunca brigamos ! Nos casos mais sérios de vida sempre trocamos consultas e conselhos! E todas as vezes os resultados eram sábios!

                       Em outubro de 1963, nós, eu e o compadre, fomos de carro para o Rio. Era um Fusquinha amarelo escuro/1960, presente do Dr. Carlos, seu pai. Beto ia casar e eu visitar a noiva, com quem casaria em 31/12/63. Em Cristalina o motor do carro “bateu” e tivemos que voltar para Brasília. 

À época eu era sócio de uma oficina Volks onde o mestre Pedro fez o serviço de maquina. Eu como tinha problema de folgas no Banco peguei o primeiro ônibus para o Rio e o Beto esperou o carro ficar pronto. Detalhe: na volta de Cristalina, colocamos o carro em cima de um caminhão e voltamos dentro dele a tomar uma boa cachaça, aventuras de noivos! 

                    Muitos e muitos anos depois, quando o Internacional tornou-se campeão do mundo, fomos eu e o compadre a Maceió para o tradicional encontro da turma do Palmeiras. Beto convidou-me a ficar com ele em seu apartamento de 2 quartos na orla de Ponta Verde, foram 3 dias de gentilezas e atenções. O mais admirável foi ele me ceder o banheiro principal e ficar com o da empregada. Veja quanta hospitalidade e humildade; eu amigo/ irmão e compadre não o dissuadi a trocar de banheiro. 

Por essas e por outras é que ele era muito querido. Ainda hoje recebi uma ligação de um grande advogado de Brasília, amigo comum de longa data que chorou comigo ao telefone dizendo das qualidades de Beto Gomes e o quanto aprendeu com ele quando foram companheiros na OAB. Assim era o nosso Ministro.

 Companheiro de futebol de salão e de campo Humberto Gomes Barros, foi fundador do Gerovital juntamente comigo, Robertinho  e Edmundo Guimarães Figueiredo(Presidente), nos anos de 1964 quando jogamos no terreno baldio na SQS 115. Ele morou na SQS 315, defronte.

Fundadores do Gerovital éramos muito amigos e unidos. Tantos anos depois, já jogando à beira do lago, junto ao Cota Mil, Beto Gomes e Edmundo Figueiredo brigaram, não me lembro por qual razão. Amigo de ambos tentei por tudo fazer as pazes; em vão. Então fiz greve. Deixei uns dois ou três sábados de jogar em sinal de protesto, prometendo só voltar quando eles fizessem as pazes. Indo às “peladas” e não jogando não deu certo, reinava a intransigência.

 Então apelei para a carta de São Paulo aos Coríntios, onde fala na caridade/amor. Mandei uma cópia para cada um. Foi tiro e queda. Consegui a paz. Fomos todos à casa do compadre Beto. Eu mesmo fiz uma batida de limão com azuladinha de Coruripi. Foi um grande porre regado a lagrimas e alegrias, voltei a jogar!


Eu e Beto nos respeitávamos muito. Lembro de várias vezes que trocamos idéias e conselhos em vários casos sérios de nossas vidas. Todos os problemas foram resolvidos com serenidade, quão bonita foi a nossa amizade! Que grande privilegio foi ter Beto em minha vida.

 Não fosse a grande amizade entre as nossas mulheres talvez a nossa convivência não fosse tão assídua. Foram vários e vários Natais juntos em Brasília. Naqueles tempos, “criamos” a nossa família. A nós dois juntaram-se Robertinho , Celso Martins da Silva, Marcello Campello, Pedro Henessy, Amaury Ramos, Stellio Seabra, formando uma grande e solida confraria. 

Caros amigos, fosse eu contar aqui todas as historias daria um grande livro. Foi uma década, a de 60, com freqüência assídua ao Clube do Congresso. Nossos filhos ainda pequenos apreciando os pais jogarem futebol de salão e campo. De 1970 em diante o clube foi o Country , junto ao Catetinho. Futebol e churrasco todos os domingos.  Foram 5 anos de Diretoria. Beto 1º secretário e eu 2º segundo secretário. O presidente era Dr. Geraldo Guimarães. Beto, sócio fundador do Country Club, redigiu seus estatutos. Depois nos mudamos para o Lago Sul, em cujas casas, aos domingos degustávamos deliciosos churrascos, revezando as residências. E a confraria continuava reunida e assim continua até hoje. Amizade fraternal, muito linda. 

Tive a felicidade e honra de ouvir, no velório, de dois filhos do meu compadre Beto a seguinte frase: “Agora o senhor é o meu pai”. As famílias foram se entrelaçando: eu e Selma padrinhos da Lícia (filha) e da Fernandinha (neta), meu filho padrinho de Ana Julia, filha da Lícia e meu sobrinho neto tá namorando a Carol, filha do Betinho. Nós fomos padrinhos de casamento de todos os filhos dele e vice e versa. Compadre Beto nasceu no mesmo dia em que nasceu minha mãe: 23/07 quando faria 74 anos. 
 
Finalmente faço questão de frisar a fibra inquebrantável da minha comadre Yvette que nunca se deixou abater, alimentando esperanças até o fim. Foram quatro anos de incansável dedicação, fez tudo o que podia, tudo, tudo. Creio que a ficha ainda não caiu para nós.

 O vazio é grande, enorme, a vida sem o compadre Beto será diferente, o “cara” era uma referencia. A adaptação será dolorosa, como foi durante a sua enfermidade. Luta sofrida, mas sempre alimentada de esperança.

Compadre Beto, que Deus o tenha em bom lugar, pois você merece, lembranças nossas ao Capixaba, Marcelo, Geraldo Lopes e outros.
Brasília, 14 de junho de 2012.

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terça-feira, 26 de junho de 2012

SÃO JOÃO DE SAUDADE por Milton Hênio


Hoje é dia de São João. Nesta época, o nordestino canta, dança e se farta com a boa comida regional como a pamonha, a canjica, o milho verde, bolos etc. Porém, na música, está o ponto alto dos festejos, como o forró, o baião, o xaxado. E nessa música que anima, que entusiasma, está a figura inesquecível do saudoso Luiz Gonzaga, que este ano completa o seu centenário de nascimento.

Ontem, completaria 74 anos o meu caríssimo amigo Humberto Gomes de Barros que partiu há 15 dias para a eternidade, vítima do terrível câncer. Fomos companheiros na adolescência, nas brincadeiras lá no Parque Gonçalves Lêdo, e o Beto, como o chamávamos, conseguiu com sua inteligência, simpatia e modéstia, galgar o elevado título de ministro do Superior Tribunal de Justiça, onde ganhou prestígio e projetou o nome de Alagoas. Em sua posse na Academia Alagoana de Letras, pois é autor de vários livros, Beto recorda os momentos vividos com os demais amigos lá no Farol.


Partiu numa época em que ele adorava viver e recordar. Assim é a vida. Ele deixou a todos os que aprenderam a admirá-lo uma lição de honradez, de dignidade profissional e fidelidade às suas convicções. Que ele descanse em paz!

Luiz Gonzaga, no seu repouso eterno, deve estar dizendo: “Acorda, povo, que São João chegou!”. Acorda “sanfoneiro macho”, desperta “assum preto”, e vem cantar sob o “luar do Sertão”.

A música faz parte dos festejos juninos de forma admirável. E Luiz Gonzaga é o sinônimo de festas juninas. Até hoje, depois de tantos anos falecido, suas encantadoras músicas não deixam de ser ouvidas em todos os lugares onde se comemora o São João.

Asa Branca, Feira de Caruaru, São João na Roça, e tantas outras que alegram o viver do povo nordestino nesses dias de junho.

O tempo foi passando e as pessoas foram se sucedendo como se sucede uma guarda.
 O Parque Gonçalves Lêdo era o sonho de nossas vidas; brincadeiras, jogos de pião, de futebol entre os eucaliptos, passeios de bonde e as inesquecíveis festas de Santo Antônio e São João.

Eu tenho uma saudade imensa do São João da minha infância. As fogueiras enchiam as ruas, pois não tinha pavimentação. Toda casa tinha uma. Quando restavam só brasas começava a cerimônia dos compadres e comadres. “São João dormiu, São João acordou. Vamos ser compadres que São João mandou”.

Aquela felicidade passou, porém, no meu coração a fogueira da saudade continua ardendo sempre.

GAZETA DE ALAGOAS – DOMINGO – 24/06/2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

AVENIDA DA PAZ por Paulo Ramalho


A paz não era apenas no nome como nos dias de hoje, era realmente o grande momento de paz e felicidade que se vivia  naquela época, pois morávamos na casa de nº 1200 da avenida acima citada.
Nossa mãe era natural de União dos Palmares, e nós passávamos um mês no meio, e três no final e início do ano, em uma fazenda naquele município, pois assim era o período de férias naquele tempo.
Fazíamos a viagem de trem, e quando chegávamos de volta a Estação Ferroviária de Maceió, o carregador pegava nossas malas e levava até nossa casa, e não havia necessidade de acompanhá-lo.
A nossa irmã Ângela, a oitava de cima para baixo, já casada voltou a morar conosco, seu filho primogênito, Geraldo Luiz, nascido no dia 13 de setembro de l961, que herdou o primeiro nome do pai, e o segundo dos avós, acredito que ao redor de seus dois anos de idade, muito traquino que era, encontrou os portões da casa abertos, foi para rua.
Quando estava atravessando a rua, foi visto por um motorista de carro de praça, naquela época não havia taxi, conhecido pelo apelido de Bagre, que estacionou o carro, segurou Geraldo Luiz, colocou-o em seu braço e foi levá-lo em nossa casa, pois nossos pais usavam com relativa freqüência o seu carro.
Hoje ele seria atropelado ou raptado.

Estes fatos, do carregador e do motorista, bem caracterizam a paz que vivíamos naquela época.

Não me recordo qual era a praça do carro do Bagre, se no oitão da Igreja do Livramento, ou se no início da rua Moreira Lima, defronte a Igreja do Rosário.
Além das duas praças citadas, havia uma ao lado do Cine Ideal, próximo ao Mercado Público, e outra na Praça Palmares, conhecida também como Praça do Relógio, onde havia um bar com esse nome,  bem freqüentado pelos boêmios.

Também era próxima ao Hotel Bela Vista, que tinha ao lado uma linda casa que pertenceu ao marido de uma tia avo, grande comerciante da época. Tanto o hotel como a casa, eram de uma arquitetura belíssima, e foram vítima da insensatez de nossos dirigentes, que permitiram ou fizeram vista grossa a demolição daquelas obras de arte da arquitetura e engenharia, que deveriam permanecer em pé para orgulho de nós alagoanos, e ponto de visitação turística, a exemplo do prédio da Associação Comercial, em Jaraguá.

Tivemos um engraxate que me acompanhou desde menino de calça curta na avenida, casei fui morar na Pajuçara e depois no Farol, e ele toda semana ou a cada quinze dias ia engraxar os nossos sapatos.

Indiquei a alguns parentes e a amigos, e ele ia frequentemente a casa de todos, seu nome era Joventino, mas eu o chamava de Guerreiro, pois ele gostava muito da dança e fazia parte de um grupo de guerreiro.

No final do ano ele aparecia no início do mês de dezembro, deixava os sapatos nos trinques para o final do ano, recebia suas festas e somente voltava no ano seguinte, pois sempre viajava com seu grupo de dança para outros estados, inclusive Brasília.


Quando tinha um sapato que queria mudar de cor, ele levava para sua casa, pois era um trabalho mais demorado, trazia de volta quando ficava pronto, e não sabíamos onde ele morava.

Os sorveteiros da época nos vendiam sorvete ou picolé na praia ou na avenida, e como não andávamos com dinheiro, depois iam receber em nossas casas.
Há tempo bom!!!

Hoje saímos de casa sem saber se vamos voltar, tal está a violência.
Vivemos sempre preocupados com os nossos filhos, netos, entre outros parente e amigos.

Escrevo isso porque sou vítima dessa violência maldita e covarde, provocada e incentivada pelos poderes constituídos de nosso País, principalmente de nossa Alagoas e de nossa querida Maceió.

Tanto é que não temos a quem e de nada adianta apelar.
Os recursos são para as maracutaias restando muito pouco ou quase nada para saúde, educação, segurança, entre outras, a prova está aí patente.

Temos uma grande prova do descaso em nossa avenida, onde deságua o antigo Riacho Salgadinho, onde tomávamos banho, pescávamos e andávamos de jangada de tronco de bananeira por nos fabricada, e hoje um vergonhoso esgoto a céu aberto, em pleno Século XXI, poluindo a praia que já foi uma das mais belas do litoral alagoano, e a mais freqüentada, em função de sua localização, praticamente no centro da cidade.

Será que nós antigos “Meninos da Avenida”, na  idade que nos encontramos, teremos a felicidade e o prazer de ver voltar o Riacho Salgadinho, e tomar um banho em nossa querida praia da Avenida ?

Só Deus sabe.

Paulo Ramalho
Junho/2012