sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DONA SANTINA NONÔ por Cuca

Quando fiz um esboço sobre o professor Béu, comprometi-me em fazer algumas linhas sobre Dona Santina; mas, por ser de uma personalidade bem mais forte e polêmica, fiquei empurrando o compromisso, mas, agora, desejo cumprir a promessa.

Analisando sua forte presença, defino-a, como uma pessoa extremamente valente e generosa. Nos meus sessenta e seis anos bem vividos, afirmo que conheci poucos homens com a coragem de Dona Santina; o sentimento de medo, jamais foi demonstrado em qualquer situação.

Filha predileta do velho Nonô da Mataraca, respeitado por sua coragem e palavra; tinha o nome de sua avó, mais um fato para a proteção explícita do pai.

Muito prendada, tocava violino, pintava, costurava, cozinhava, atirava, adorava andar a cavalo, inclusive, era conhecida pois seu ginete, presente do pai, pulava todas as porteiras da fazenda Mataraca, mesmo estando de selim que era comum à época, sem qualquer apoio; todavia, tinha como marca indelével sua opinião, que defendia com unhas e dentes, adorava uma discussão, para extravasar seus pontos de vista, sempre bem equacionados e baseados em leituras e pesquisas.

Teve um único e grande amor em sua vida, o Béu, com o qual trocava cartas diárias, pela soupa, que fazia o trajeto Maceió/Atalaia, defendê-o até ficar viúva aos oitenta e três anos, mesmo separada já, há mais de vinte anos. Atribuo à causa da separação ao tio Pedro e Derzuíla que tinham ódio de mamãe, vez que ela nunca os bajulou; inclusive, comprou uma briga com eles, pela não aceitação de receber ALBERTINA em Recife, onde foi estudar no Colégio Regina Passe, ficando com a prima Geruza e Dr. Hercílio Auto nos finais de semana. Sendo considerado o rico da família, Pedro quando vinha a Maceió, era alvo de muito zelo pela família, mas Dona Santina não dava muita bola e sempre se impôs.

Dona Santina era uma pessoa brava e destemida, citarei casos que presenciei e participei, pois após a separação, voltei para morar com ela por muitos anos, mesmo depois de casado e, ela foi uma companhia assídua em minhas idas as minhas propriedades em Atalaia, S. Luzia do Norte, Traipú, Tranqüilidade e casa da praia em Coruripe.

Houve um desentendimento com o empregado da Tranqüilidade e dei um prazo para desocupar a casa, mas ele vinha enrolando a mim e ao Waldo; disse ao Waldo que iria retirá-lo por bem ou por mal; sempre tive porte de arma, mas esse dia, levei um rifle 44, uma caixa de balas, deixei com D. Santina no carro e saí para retirar o administrador, que, graças a Deus, prontificou-se a sair, retirando suas tralhas para o caminhão. Estava tranqüilo, pois tinha plena fé em mamãe.

Em outra oportunidade, ia para Coruripe no fusca de papai e, perto de S. Miguel dos Campos uma carreta ao nos ultrapassar, jogou-nos no acostamento, quase virando o carro; após o susto, seguimos viagem e, mais adiante em uma subida vimos a bendita carreta, tendo d. Santina pedido para que eu emparelhasse, pensei que iria dar uma bronca; mas, qual a surpresa ao vê-la abrir o porta luva, onde colocava o revolver , retirá-lo e apontar para o motorista , dizendo que respeitasse os menores atirando no pára-brisa, espatifando-o; era uma exímia atiradora, seguimos viagem.

Tendo comprado propriedade em Traipú, e precisando plantar capim, convoquei meu compadre Aloísio do Pilar para passarmos uma semana na fazenda que não tinha luz elétrica, apenas uma pequena palhoça com dois quartos, sala, cozinha e um sanitário, onde tinha um tanque que trazíamos água de uma cacimba atrás da palhoça. Sabendo de minha pretensão, mamãe disse que iria e ajudaria fazendo a comida dos peões e a nossa, não concordei, mas quando ela encasquetava, não tinha jeito. Levamos dois candeeiros de querosene, três redes, algumas roupas, toalhas, panelas, talheres, baldes etc.; e fomos na aventura. Mamãe ficou num quarto e eu e meu compadre no outro; a noite começamos a ouvir uns assobios ao redor da casa e, dona Santina do quarto, perguntou ao Compadre se era cobra, ao que o mesmo informou ser de caninana, cobra muito venenosa e comum na região. Tendo ela informado que só deveríamos descer da rede com o candeeiro, sem qualquer destemor. Logo cedo ia com o Sr. Aloisio buscar o pessoal no povoado de Olho D´a gua e só voltavam ao entardecer, a comida era preparada por mamãe; depois de deixar o pessoal; seguíamos os três para Traipú, onde fazíamos compras e tomávamos banho no rio S. Francisco. Passamos uma semana em Traipú, ela não reclamava, não tinha frescura, era notável.

Nas viagens que fazia para Paulo Afonso, na Bahia, para farrear e namorar, era assídua, pois adorava o sobrinho Geraldo, Laiz e sua irmã D. Argentina que era muito parecida com ela em todos os sentidos. Ficávamos na vila da Diretoria na CHESF, onde Geraldo era Diretor de Compras. Fazíamos pelo menos três viagens por ano, acompanhados por Clailton, Adilson e uma vez Emílio.

Era muito sincera e extrovertida, as pessoas a adoravam ou odiavam, não tinha meio termo; tomou medidas erradas ao meu ver, como a educação de Bebé, exigia muito e a obediência era total. Uma ocasião foi a Praça do Pirulito e trouxe Albertina pela Orelha, para que a mesma não se encontrasse com um flerte.

Como mãe, era uma leoa, nos defendia, alertava, observava e acompanhava nossos passos, principalmente de Albertina. Quando fiquei em 2º época na 3º série ginasial, fui obrigado a decorar todo o livro de ciências naturais, fiquei no sótão por um mês inteiro; tomava lição todas as tardes, com uma palmatória na mão. No ano seguinte, me enviou para o reformatório de Sergipe, o Colegio Jakson de Figueiredo, onde terminei o ginasial como interno.

Por ser malandro, levei muitas surras, principalmente por ir ao cais do porto para pescar, fumar escondido, tomar umas cervejas e, como não sabia mentir para ela, não tinha jeito. Mais devo a ela meu estímulo para ser uma pessoa de caráter.

Depois da separação, cismou de viajar para conhecer outras paragens, realizou varias excursões nos Estados Unidos, Terra Santa, Europa, Asia a as Américas do Sul, do Norte e Central.

No final da vida, gastou tudo o que tinha com seu neto, que adorava, e era correspondida, mas no meu entender, o prejudicou por demais.

Era minha fiel escudeira, elem de ir comigo toda semana para a fazenda, também acompanhava-me nas viagens para impetrar ações judiciais no interior, nas compras de gado, nas visitas aos compadres Madeiro e Geraldo, a Hidelbrando Sintra, Antonio Amaral, Biegas e vários outros.

Por idéia dela, fiz duas gincanas com meus sobrinhos e amigos do Albertinho, na Branca, comemorando antecipadamente seu aniversário; para ajudar levava tia Coralia, os meninos adoravam. Também por mais de uma vez levei para a fazenda a pedido de mamãe, suas irmãs Corália e as duas Marias que inclusive colocavam nomes no gado.

Foi a primeira pessoa a levar às sobras das refeições, para a criançada da fazenda, que esperavam por ela para almoçarem; isso há mais de 20 anos, que hoje é natural e corriqueiro.

Solicitava das amigas, roupas usadas, remédios, um kit de recém nascidos com banheira e mais de 10 itens que bordava e pintava fraudas, lençóis, etc.; doando-os ao empregados de minhas propriedades, onde realizava todos os anos as festas de São João e Natal, fazendo comida e dando presentes, aos funcionários, mulheres e filhos.

Comprava sementes de hortaliças, conseguia plantas e roseiras, fazendo e cuidando de hortas e canteiros. Todos os empregados tinham um terreno para plantarem verduras e criarem galinhas; sempre sob sua supervisão.

Contudo, depois de levar uma queda em seu apartamento e quebrar o fêmur, mesmo após a operação e colocação de pinos, mudou-se para Ponta Verde e, deixou de sair de casa, entrando em depressão, entregando-se à doença.

Já sem sair de casa, pediu-me para que fosse enterrada no Pilar, junto ao seu pai; mas o problema era que o mausoléu onde estão enterrados vovô e vovó é pequeno e tio Celso não aceitou seu pleito, abriria um precedente.

Mais indo ao cemitério, constatei que logo atrás do túmulo de meus avós maternos, existe um grande mausoléu da família Lima, de meu pai. Então, passei a cuidar do mesmo; e nele fiz o enterro de minhas tias Maria Alice, Virginia, papai e mamãe, que ficou ao lado de vovô Nonô, como desejava.

Mamãe veio a falecer aos noventa anos, praticamente fora de si, mas sofreu pouco, graças a Deus, e deu muito menos trabalho do que papai que sofreu mais e tinha plena consciência, sempre pedindo para morrer.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM PUXÃO DE ORELHA por Paulo Ramalho


O encontro mensal dos Meninos da Avenida ocorre sempre a partir das 12 horas, na primeira sexta-feira, agora no Restaurante Candelabro, no térreo do Clube Fenix Alagoano.

Este mês foi no dia 5 próximo passado, que apesar de uma pequena freqüência Eu, Alberto Nono, o Cuca, Carlito, o escritor e Secretário de Cultura de Marechal Deodoro, Lelé, o neguinho, Guilherme e Ricardo Braga, Eurico Uchoa e Sérgio Nobre, houve uma grande satisfação e alegria, pelo comparecimento de um avenidense, que já por diversas vezes havia dito que ia, e ainda não havia dado a satisfação de sua presença.

Trata-se de Roberto Mascarenhas, carinhosamente chamado de Betinho Mascarenhas, que morou em uma casa que tinha a estátua de dois leões na entrada, vizinha ao atual Museu Téo Brandão, antiga residência dos Machados.

Que a freqüência reduzida não o desestimule a voltar outras vezes, e se possível com seu irmão Jouber , que veio a ser meu primo, pois casou com Nina Maria prima irmã, filha de minha Tia Zuíla , irmã de minha Mãe .

Foi neste almoço que levei um puxão de orelha de meu amigo irmão de infância e vizinho, Guilherme Braga, o Guila na intimidade.

Quando escrevi Mais Um Causo dos avenidenses, que teve como figura central Bené, o Benedito Bentes, disse que ele morava quase vizinho a nossa casa, apenas uma nos separava, mas não falei quem morava na casa que nos separava.

Venho agora me retratar, pedindo desculpas pela minha falta, e dizer que os moradores eram os Braga, Dr. Ulisses , casado com Dona Creusa, pais de nossos amigos irmãos de infância, Guilherme e Ricardo que tiveram como babá a saudosa Marina.

Dr. Ulisses, advogado brilhante,intelectual, muito distinto , educado e professor titular e efetivo da Faculdade de Direito de Alagoas onde preparou grandes advogados que militam em nosso e outros estados.

Dona Creusa que veio a falecer quando do nascimento do terceiro filho Felipe, era uma senhora fina e muito educada.

Não sei se o Guilherme se lembra, que encontrei-me com ele na Praça Monte Pio, próxima a Faculdade de Direito, onde seu pai lecionava, hoje sede da Ordem dos Advogados de Alagoas, pouco depois do falecimento de sua genitora, e disse, Guilherme sonhei com Dona Creusa, contei-lhe o sonho e ele saiu com os olhos cheios de lágrimas.

Antecedeu aos Braga os Normandes, que depois foram morar na Fernandes Lima, esquina com a Rua Goiás e os Bragas no Tabuleiro dos Martins.

Naquela época, morar na Fernandes Lima era o máximo dos status.

Durval Normande era casado com Dona Silvia , senhora fidalga, muito educada e seus filhos eram, os homens Júlio, Manoel, mais conhecido por Né, Zeca e Henrique, as mulheres Nizia, Rosa, Eunìce e Helvina.

Júlio e Né não estão mais entre nós.

Eram muito amigos de meus pais, pois minha mãe conhecia Durval , desde solteira em União dos Palmares.

Interessante é que Durval veio a ser Bisavô dos filhos de Ricardo Braga, que foi casado com uma filha de Né Normande.

Júlio, no futebol dos Perrelli, realizado na praia da Avenida aos domingos, tinha o apelido de canela de trilho, ai de quem levasse uma canelada dele, e Henrique de Kirí.

Lembro-me, apesar de que estava com apenas 8 anos de idade, na cheia de 1949, quando caiu a ponte sobre o Riacho Salgadinho, próxima a nossa casa, e a água chegou ao quintal de nossa casas, Kirí no cangote do empregado, com um cabo de vassoura na mão, matando as cobras de duas cabeças que apareciam.

Fui convidado, não recordo em que ano, a participar de um grupo de danças organizado por Dona Maria Magalhães, que promovia esses eventos, a fim de angariar fundos para obras de caridade.

Neste ano a dança era o Coco, e os ensaios no Clube Fenix .

Estávamos reunidos, mas ninguém sabia dançar coco, foi quando alguém lembrou de Durval Normande, e foi buscá-lo em sua casa no Farol, ele veio com a maior boa vontade, e nos ensinou a dançar, e fizemos uma grande e bonita apresentação.

Guila mais uma vez peço desculpas pela minha distração, acredito que me redimi.

Beijo no coração de todos e fiquem com Deus.

Paulo Ramalho, agosto 2011.

domingo, 7 de agosto de 2011

SOCORRINHO por Carlito

Idosos não perdem a memória, às vezes fica esquecido. O fascinante do ser humano é que detalhes de um passado mais distante ficam perpetuados em nossa mente. Consegui programar minha memória só para bons acontecimentos, só recordo coisas boas, as ruins, os fatos sinistros, apago-os ou coloco-os em um arquivo morto, para ser feliz.

Lembro bem quando eu era menino, ano da graça de 1947, tinha sete anos, morava na Avenida da Paz nº 1074. No último dia de novembro, minha mãe deu mais um presente para família, nasceu Socorrinho a caçula, a última de cinco filhos. Alguém saiu com ela nos braços para mostrá-la aos irmãos. Eu estava curioso ao ver a recém nascida chorando como se tivesse fome. Fiquei emocionado e feliz da vida, não sabia que era uma premonição. Aquela menina chorona ia tornar-se uma das figuras mais importantes de minha existência.

Nossa infância na praia da Avenida e no riacho Salgadinho foi de muita liberdade e alegria. Na aurora de minha vida, nos meus 12 anos queridos, eu percorria toda redondeza pescando ou pegando caranguejo. Meus pais criaram os filhos com sabedoria e generosidade, mas menino é malvado, Socorrinho devia ter quatro ou cinco anos, eu já quase rapaz, pegava caranguejo pelo casco, ele abria as patas enormes, maldosamente eu amedrontava, achegava o bicho brabo perto do rosto dos pivetes, Socorrinho foi a vítima número um. Até hoje ela tem pavor, fobia a caranguejo, nem sequer sabe o gosto de uma saborosa caranguejada no pirão, por minha culpa exclusiva.

Certo tempo fui para Escola Militar, peguei um trem em Maceió até o Recife de onde viajei para Fortaleza. Durante 12 horas viagem entre pequenos morros eu admirava os canaviais verdes em contraste com o azul do céu, vinham lembranças de minha praia, meus pais, meus irmãos e principalmente da caçula que eu já era apegado. Disfarçadamente eu chorava.

Perambulei 13 anos pelo Brasil sem nunca deixar de passar férias em Maceió. Certa vez Socorrinho me confidenciou que estava paquerando, me apresentou seu namorado Clailton, a partir desse dia ganhei outro irmão. Está gravada em minha mente a figura de Clailton na varanda de nossa casa, com um violão cantando: “Oh cachaça amiga, não há quem me diga que não tens valor... e de saudade eu morro, vem em meu SOCORRO mais outra lapada”. Minha afinidade é tanta com Socorrinho que Clailton costuma dizer que só tem ciúmes de mim e de Chico Buarque de quem Socorrinho é fã de carteirinha.

Em 1967, promovido a capitão, vim morar nas Alagoas. Nada mais queria em minha vida, solteiro, morando em minha casa com o carinho, casa e comida dos pais e uma Maceió bonita, festiva, que me encantou. Nessa época, dos irmãos, apenas Socorrinho estava ainda na casa do General e Dona Zeca. Foi uma fase das mais bonitas e alegres de minha existência. Socorrinho era minha companheira, minha amiga para todos cantos, festas, casamentos, Zinga Bar. Eu adorava paquerar suas amigas. Ela fazia não gostar, dizia estar preocupada que eu fizesse sujeira, mas no fundo eu sabia que minha irmã tinha maior orgulho de seu irmão.

Nunca tive desentendimento com Socorrinho. Aliás, tive uma única briga. Certa vez nós discutimos, não lembro o porquê. No outro dia ela não falou comigo, raiva mesmo, ranzinza. Eu pensei e percebi que ela tinha razão. Socorrinho não só me perdoou, como me abraçou emocionada quando ao entrar em seu quarto, uma surpresa: sua cama estava coberta de rosas. Foi a única maneira que encontrei para pedir desculpas.

Em 1970 me casei, logo depois foi ela. Socorrinho tornou-se um esteio na família. Sempre foi a primeira chegar nos problemas, nas dificuldades da família, nos piores momentos, na hora da morte, como também na hora da alegria. Ela herdou de Dona Zeca o amor às festas, à família, ao natal, ao ano novo. Sua casa sempre foi cheia, Clailton feito o General, apoiando. Vieram três filhos, os sobrinhos do Capitão, quatro netos para a alegria da Vovó.

Está fazendo 60 anos daquela cena gravada em minha mente, a menina nos braços não sei de quem, sendo mostrada para os irmãos. Desde aquele momento veio nossa bem querência, nossa cumplicidade, amizade, o apoio mútuo, até os dias de hoje. Socorrinho tornou-se importante em minha vida, a maior incentivadora quando comecei a escrever aos 61 anos. Devo-lhe muito de minha alegria, de meu jeito de ser feliz!

DONA ZECA - A ÚLTIMA DAS MATRIARCAS por Carlito

Se é que pode existir, foi um enterro bonito, seus amigos foram chorar junto com a gente. A missa de cânticos lindos e sublimes fez parecer que a senhora estava sendo levada para algum lugar etéreo, puro, elevado, deve ser o céu mesmo.

Tudo foi muito comovente e dolorido. Seus filhos não lhe deixaram um instante. Seus netos naquelas horas de dor mostraram como a avó querida vai fazer falta.

A turma dos serviços estava no cemitério, inconsolável. É difícil, nesses tempos, empregados terem tanta dedicação e carinho ao "patrão". Cecília lavadeira de tantas épocas, chegou nas últimas horas, chorava, urrava, foi de doer no fundo da gente.

Maceió estava em peso no Parque das Flores. Desde os mais humildes até o governador, aquele, que a senhora era apaixonado, Divaldo, sabe? E o mais bonito é que os que lá chegavam, não era só pela família, foram mesmo lhe reverenciar, a senhora era querida demais.

Meus amigos, a maioria seus afilhados, choravam pela mãe Zeca, como carinhosamente lhe chamavam e lembravam os tempos das festas na Silvério Jorge. Os grandes almoços, os perus roubados que eram cozinhados e acobertados pela senhora. A sua alegria, sua energia, sua irreverência, sua bondade, seu amor à vida, todos comentavam.

Principalmente sua felicidade, porque mamãe nestes seus tantos anos, 50, foram convividos com outra extraordinária criatura o seu Mário Lima. Foi muito amor e felicidade.

São poucas a criaturas neste mundo de Deus que teve uma vida tão intensa de ternura, de vitalidade e desprendimento. Sua simpatia fazia bem a quem lhe cercava. A senhora passava esta energia positiva. Filhos, netos e bisnetos cresceram, se criaram juntos a sua saia.

Afinal no fundo, no fundo, com todo sua bondade, sua tolerância, sua indulgência, a senhora foi uma grande matriarca, a última das matriarcas. Porque estes tempos novos jamais produzirão uma outra dona Zeca.

Hoje terça-feira, era e seu dia, (filhos e netos cumpriam ritual de 10 anos desde a morte do general. O grande almoço semanal da mesa redonda na sua casa. Aquela carapeba que só dona Zeca sabia fazer. Tudo acabou. Como a senhora vai fazer falta, e como dói. Mas tenha certeza, nós não vamos desagregar. Seus filhos serão unidos, seus netos amigos.

Escrevendo em forma de relato para senhora, é porque como todo mundo sabe, a senhora ainda não teve tempo de olhar aqui para baixo, deve estar curtindo de montão, o seu amado Mário nesses paraísos de Deus.

É isso aí, Dona Zeca, todos lhe choram, mas têm sempre uma lembrança carinhosa alegre e cheia de vida para curtir.

“Ah, minha adorada mãe...Se lhe contasse que sua imagem adornei com flores..Que suas flores foram minhas preces...Preces colhidas nos jardins das dores.”

Gazeta de Alagoas janeiro de 1993.

GENERAL MARIO LIMA por Carlito



Papai,

Tudo está nos conformes como o senhor determinou. Fui ao 20º BC (ainda chamo assim o 59º B.I.Mtz.), resolvi a pensão de mamãe e os seguros. Foi fácil, o senhor deixou tudo organizado. Estou com os originais do livro, vou entregar ao Nabuco e ao Maya Pedrosa para fazer o prefácio e um resumo biográfico, pretendo publicar ainda este ano.

Francamente não esperava que o senhor se fosse naquele dia. Tinha ainda esperança que voltasse para casa por algum tempo. Tudo foi tão rápido, o vazio ficou total, a dor aperta, as lágrimas caem, aquela sua presença quase muda de homem que fala pouco, tornou-se uma ausência gritante.

A saudade é amenizada, porque tudo que lembra o senhor só tem amor, carinho, vida e alegria. Todos os amigos foram de enorme solidariedade no Parque das Flores ou na Catedral. Cada abraço e palavras de consolo recebidos foram frutos do amor semeado durante a sua vida. Jornais, rádios, televisões, telegramas lamentavam sua ida, agradeciam todos os favores e bens que o senhor fez. O Paulo Silveira disse que Alagoas ficou menor, o Zé Soldado ainda hoje dizia que homem igual ao general vem muito pouco no mundo.

Fala-se em tudo o que o senhor foi: militar, professor, homem de telecomunicações, provedor, diretor etc., etc. O gordo Seton indignado me reclamava o esquecimento que o senhor foi o melhor juiz de futebol de Alagoas. Até nessa heim papai? Era esse seu ecletismo que dava a originalidade de seu universo. O Sr. sempre jogou nas 11 posições, tenho certeza que onde estiver, será sempre escalado no 1º time, nunca um regra 3. Mas seu passe custou muito caro para nós.

Foi embora o Continente o conteúdo ficou, foi embora a carcaça mas a chama de vida continuará acesa em todos os seus filhos que passarão para os netos e bisnetos. Esse legado ninguém abdica, pode deixar que a peteca não vai cair.

Sabemos que o senhor está sentindo mais que a própria morte, é o sofrimento de todos. Sua preocupação sempre foi a de poupar-nos de qualquer dor. Como tudo que fez na vida: amenizando a dor, dando alegria e lição da própria vida.

Não pense que me enganou durante a enfermidade, tudo fez para esconder, mas estava sabendo da sua dor, de seu sofrimento. Suas últimas palavras foram para mim, perguntando na maca, para onde eu estava lhe levando. Respondi para a U.T.I., mas estava sabendo que lhe levava para um final de dor e inicio de um outro lado incógnito da humanidade. É a maior verdade da vida. A morte é a única niveladora da igualdade humana.

A reação de D. Zeca está a melhor possível, continua com a determinação que sempre teve, em casa, na cozinha, é sempre ela. Mas, dilacerada, partida ao meio, porque afinal o senhor era um pedaço dela. Eram uma mesma pessoa. Na sua dor, no seu sofrimento, tenho certeza que mamãe vai buscar a força interior que sempre teve, para continua vivendo para os filhos, netos que a adoram. E sabe de uma coisa papai, ela vai se tornar investidora, a grana do seguro vai aplicar, ter rendas, que diria heim, para quem...

Jornal de Alagoas 14 de janeiro de 1983

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AS VIAGENS A PAULO AFONSO por Cuca

NA MINHA ADOLECÊNCIA O MELHOR LUGAR PARA CURTIÇÃO, ERA SEM DÚVIDA A CIDADE DE PAULO AFONSO, POIS NAQUELA ÉPOCA, PARA A CONSTRUÇÃO DAS HIDROÉLETRICAS, FOI NECESSÁRIO A CHESF OUTORGAR VANTAGENS A FIM DE TRAZER PARA AQUELE SERTÃO BRABO, BONS TÉCNICOS , ENGENHEIROS, ADMINISTRADORES, EMPREITEIROS ETC.

DESSE MODO, FORAM CRIADAS DUAS VILAS DENTRO DA CIDADE, BEM PROTEGIDAS POR GUARITAS, CONTANDO COM AMPLAS MORADIAS, PRAÇAS, CLUBES SOCIAIS, HOSPITAIS, SUPERMERCADOS, CINEMAS , IGREJAS E ATÉ UMA FAZENDA PARA CULTURA DE HORTALIÇAS, PRODUÇÃO DE LEITE E CARNE.

A VILA DOS DIRETORES E A DOS OPERÁRIOS; NA PRIMEIRA FICARAM INSTALADOS OS TÉCNICOS DE NIVEL SUPERIOR EM SUA MAIORIA ENGENHEIROS, GEOLOGOS, ADMINISTRADORES, ADVOGADOS, MÉDICOS, CONTADORES E NA SEGUNDA VILA OS OPERÁRIOS DE UM MODO GERAL.

A SEGURANÇA ERA FEITA PELA PROPRIA COMPANHÍA, SENDO DE UMA EFICIÊNCIA IMPAR, INCLUSIVE AJUDADA POR UMA GUARNIÇÃO DO EXERCITO TAMBÉM INSTALADA JUNTO A VILA OPERÁRIA.

ERA UM VERDADEIRO OASIS NO MEIO DAQUELE SERTÃO, OS TÉCNICOS E OPERÁRIOS TINHAM O PRIVILÉGIO DE NÃO PAGAR ALUGUÉIS, AGUA, LUZ, GAZ, TELEFONE E USURFRUIR DOS CLUBES SOCIAIS, ESCOLAS E HOSPITAIS POR UM VALOR SIMBÓLICO E COMPRAR MERCADORIAS NOS SUPERMERCADOS POR VALOR DE CUSTO.

POR CONTA DESSES BENEFÍCIOS, A CHESF MANTEVE POR VARIOS ANOS UM CORPO TÉCNICO DE ALTISSIMO NÍVEL, QUE IMPLANTOU ÀS HIDROÉLETRICAS E ALAVANCOU A CIDADE DE PAULO AFONSO, ANTIGA VILA POTY.

EU TINHA UM AMIGÃO PRIMO E COMPADRE QUE ERA DIRETOR COMERCIAL, MORANDO NA MAIOR CASA DA VILA FACE SUA NUMEROSA PROLE, NOVE FILHOS , O SAUDOSO GERALDO SILVA; E CLAILTON TINHA SEU IRMÃO MAIS VELHO LAILTON, QUE TAMBÉM MORAVA LÁ, PORTANTO FOI A SOPA NO MÉL; JAMAIS DEIXAMOS DE TER UMA NAMORADA EFETIVA NAQUELA CRESCENTE CIDADE.

NOSSAS VIAGENS SEMPRE ERAM A NOITE, PARA EVITAR O CALOR E A QUANTIDADE DE RETAS, TORNANDO-SE CANSATIVA E EXTENUANTE. FAREI O RELATO DE UMA DAS VIAGENS QUE RESOLVEMOS INICIA-LA ÀS 23 HORAS DE UMA QUARTA-FEIRA, APÓS UM JOGO NO GINÁSIO DO ESTADUAL, EU, CLAILTON E NEGO ADILSON; MAS AO PASSAR EM CASA PARA PEGAR A ROUPA E UM PNEU DE RESERVA, POIS COMO SEMPRE, ELES ESTAVAM DEVIDAMENTE CARECAS, DONA SANTINA DISSE QUE IRIA, SEM CONTESTAÇÃO, MAIS MAMÃE ERA ÓTIMA PARA VIAGENS,SEM QUALQUER FRESCURA, DAVA-NOS STATUS. DEPOIS DE DUAS TROCAS DE PNEUS TRES PILEQUES NOS BARES DA ESTRADA, DIA JÁ RAIANDO, PERTO DO CARIÉ, APARECEU UNS BODES, CLAILTON PEDIU PARA PARAR O JEEP, E DE REVOLVER EM PUNHO, A MENOS DE MEIO METRO DA VÍTIMA ATIRA UMA, DUAS, TRES VEZES E NADA O BODE ESTÁTICO OBSERVANDO O ATIRADOR, A SEGUIR SAI PELO CANO O CHUMBO E CAI NO CHÃO AOS PÉS DO CLAILTON. BALA VELHA, FOI A MAIOR GOZAÇÃO.

DEIXEI O CLAILTON NA CASA DO DAILTON E FOMOS PARA A CASA DO GERALDO E LAIS, ONDE, PELO MENOS PASSAVA PARTE DAS FÉRIAS E QUATRO VEZES POR ANO NAQUELE PARAÍZO.

A CASA DE MEU COMPADRE ERA DE UMA FARTURA IMPAR, E TODOS, SEM EXCEÇÃO ADORAVAM NOSSA PRESENÇA, MAMÃE ENTÃO ERA QUERIDISSIMA POR SEU ESTILO BRINCALHÃO E SINCERO. NAQUELE TEMPO, HAVIA SATISFAÇÃO EM RECEBER OS PARENTES SEM QUAISQUER INTERESSES, EXISTIA HARMONIA FAMILIAR, COMO TAMBÉM VIAJAR À NOITE ERA NORMAL, NÃO OCORRIA ASSALTOS , AS PESSOAS TINHAM PRAZER EM AJUDAR AO PRÓXIMO SOB QUALQUER ASPÉCTO. EM OUTRA VIAGEM FALTOU GASOLINA PELA MADRUGADA E, FOMOS SOCORRIDOS POR UM TENENTE QUE ESTAVA VINDO AO NORDESTE PASSAR AS FÉRIAS, ELE DERRAMOU A AGUA DE UM CANTIL E COLOCOU GASOLINA RETIRADA DO TANQUE COM UMA PEQUENA MANGUEIRA, QUE SEMPRE TINHAMOS COMO PREVENÇÃO. A MUDANÇA DE VALORES E ATITUDES FOI DRÁSTICA E TERRÍVEL.

NOSSA PROGRAMAÇÃO ERA CURTIR O CLUBE, A LAGOA DOS PATOS, JOGAR BARALHO, BANCO IMOBILIÁRIO, GUERRA, TOMAR UMAS E OUTRAS,DANÇAR, IR A FAZENDA, FAZER COMPRAS, ASSISTIR FILMES, MAS PRINCIPALMENTE N A M O R A R.

EM PAULO AFONSO HAVIA UM MULHERIO DE PRIMEIRA, TANTO PELA BELEZA, COMO PELA EDUCAÇÃO, CULTURA E ASSANHAMENTO TOTAL, ERA BÓTIMO. TINHA UM GUARDA MEU CONHECIDO, O ALCÂNTARA, QUE TINHA POR OBRIGAÇÃO DE LEVAR OS TURISTAS PARA VISITAR A CACHOEIRA, MAS COMO JÁ CONHECIAMOS DE CÓR OS LUGARES, CONVENCEMOS AO MEU AMIGO DE NOS LEVAR ATÉ O BONDINHO QUE ATRAVESSAVA A CACHOEIRA, FICANNDO ELE COM O JEEP, E ÍA NOS BUSCAR A TARDINHA; FICAVAMOS COM ÀS NAMORADAS NAS CASAS DE VIGIA, ATÉ À HORA ACERTADA DA VOLTA; ERA GENIAL.

TODO FINAL DE SEMANA TINHA DANÇA NOS DOIS CLUBES, COMPETIÇÕES E OUTROS EVENTOS, POIS A COMUNIDADE ERA MUITO ATUANTE E AMIGA E, GERALDO COMO DAILTON ERAM MUITO RESPEITADOS.

NESSA ESPECÍFICA VIAGEM VIMOS NUMA QUARTA FEIRA, APROVEITANDO UM FERIADO NA QUINTA E VOLTAMOS NA SEGUNDA FEIRA PELA MANHÃ. NA VOLTA, PERTO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS, O JEEP QUEBROU A CAIXA DE MARCHA, SOLTANDO OS PARAFUSOS, OBRIGANDO A CLAILTON A SEGURÁ-LA PARA NÃO CAIR. DEIXAMOS MAMÃE NA CASA DE DONA DORINHA, NOSSA VELHA AMIGA E FOMOS PARA A OFICINA CONSERTAR O JEEP QUE SO FICOU PRONTO NO FINAL DA TARDE, JANTAMOS E TOMAMOS BANHO NA CASA DE DORINHA COM SABONETE PHEBO, EXIGENCIA DO CLAILTON E COMO À TARDE TINHAMOS COMPRADO MUITAS PINHAS EM PALMEIRA DE FORA, COM O DINHEIRO DO ADILSON, CONTRA SUA VONTADE, MAS POR IDÉIA DO CLAILTON, TIRARIAMOS AS DESPESAS DA VIAGEM COM A VENDA DAS PINHAS NO MERCADO DE MACEIÓ. MAS COM A DEMORA DA VIAGEM, POIS, RESOLVEMOS DORMIR NA MATARACA, FACE A FADIGA DE TODOS, AS PINHAS AMADURECERAM DE VEZ, E, NÃO CONSEGUIMOS VENDÊ-LAS NO MERCADO; O JEITO FOI LEVA-LAS PARA A ZONA DE JARAGUÁ, ONDE, A MUITO CUSTO CONSEGUIMOS O CAPITAL APLICADO RECLAMADOR ADILSON.

FOI UM ESTILO DE VIDA COMPLETAMENTE DIFERENTE DO ATUAL, VALORES E ATITUDES QUE NOS DEIXAM SAUDOSOS E PERPLEXOS PELAS MUDANÇAS ABSURDAS CONCRETIZADAS.