terça-feira, 19 de abril de 2011

LUIZ POLICARPO e SEU RODOLFO por CUCA

Os Meninos já escreveram sobre grande parte dos nossos companheiros daquela época, seu Fortes; o sorveteiro Primitivo, Grapete, Papa Mé, Paulo dentre outros ,mas esqueceram duas pessoas que a meu ver, participaram ativamente de nossa infância e adolescência, Luiz Policarpo e seu Rodolfo.

O Luiz foi veio de São Luis do Quitunde juntamente com sua irmã Marina. Ele ficou com dr. Homero, para brincar com seus filhos Geraldo e Maria Tereza. Ela com D. Creuza Braga para tomar conta de Guilherme, Ricardo e por fim do Felipe.

Com o falecimento do Geraldo e a ida de Maria Tereza e sua mãe para o Rio de Janeiro, Luiz foi ficando, como era costume da época passando a morar na casa nos fundos do quintal, sendo mantido pelo Dr. Homero. Ele também vendia leite ao pessoal da Avenida e adjacências, como também fazia bicos de toda natureza, como encanador, eletricista, consertava rádios etc.

Nunca casou nem namorou, tinha um coração grande e uma língua afiada, falava de todo mundo, porém, conversava muito com a turma e era muito querido, pois nos aconselhava, nos emprestava dinheiro para comprar cigarros e figurinhas, consertava nossas bicicletas, campos de botão, fazia arraias, piões e por aí vai. Contudo, por ser muito agitado, fofoqueiro contumaz e gago, a turma gozava muito dele, por isso tinha uma cisma com o Lelé e Socorrinho a quem chamava de neguinhos do GENERAL..

Conhecia todo mundo da região, sempre tendo historias para narrar e nós éramos seus ouvintes prediletos, inclusive porque um dos nossos pontos de encontro era na calçada de sua casa, no pé de oiti (que existe até hoje) onde programávamos nossas tripolias.

Tínhamos divergência quando roubávamos as mangas e sapotis do quintal, aproveitávamos sua saída de casa, mas ele sempre descobria e ficava uma fera e começava a gaguejar para satisfação de Lelé e Emílio.

O Luiz não tinha nenhum vício, sempre orientando pelos bons princípios, não acatava nossas traquinagens, porém, já no início de nossa adolescência, roubávamos as cadeiras de ferro da boate da Railda e, dizendo que era de uma tia do Clailton, vendíamos a ele para custear nossas farras.

Da turma, eu era que tinha mais paciência para ouvir suas histórias e queixas; todo dia passava horas em sua companhia e, não mangava de sua gagueira.

Ele tinha um coração imenso, ajudava a muita gente além da turma, como os irmãos do Tonho, o Paulo, suas irmãs e criou a Rita uma sobrinha sua, como se fosse mãe e pai, trocava fraudas, dava gogó, botava para dormir, estudar, responsabilizando-se até que a mesma casasse, mas ninguém poderia falar de sua deusa Maria Tereza, filha do dr. Homero, até sua grande decepção.

Tinha verdadeira adoração por ela, que no entanto não foi muito honesta com ele, pois após o falecimento do Dr. Homero, quando veio a Maceió para receber a herança de mais de cem casas, propriedades rurais, pontos comerciais dentre outras coisas, não deu a mínima para o pobre Luiz, deu-lhe um prazo de uma semana para desocupar a casa onde sempre morou.

Encontrei o Luiz aos prantos, pois além de sua decepção pela atitude de sua deusa, não tinha dinheiro ,nem para onde ir. Nessa época, se não me engano, estava em Recife juntamente com boa parte da turma, que preparávamos para vestibular. Indignado com o tratamento dado ao Luiz, fui pessoalmente enfrentar a fera e seu marido, que estavam na casa do falecido.

Como à época não existia direito trabalhista, foi uma conversa tensa e desagradável, pois cheguei a afirmar que o Luiz só sairia da casa para outra doada pela Maria Tereza, sob pena de vir juntamente com outros da turma a morar na casa do Luiz, e dizer a todos a atitude tacanha e mesquinha por ela tomada. Depois de alguns problemas e com a ajuda de Dr. Jair Galvão, ficou acertado a entrega de uma pequena casa no poço, onde o Luiz foi morar um mês após.

Em sua nova morada estive poucas vezes, até perder o contato por completo. Tive ciência pelo TONHO, que algum tempo depois, teve uma paralisia, sendo abandonado pela filha adotiva, contudo o Samuel, pessoa que ele tinha arranjado trabalho, seu velho amigo foi quem cuidou dele até seu falecimento.

Já o velho Rodoufo, que tinha um casebre no quintal dos Perrelli, onde morava com dona Santinha e seu filho Alexandre que era menor que a gente, outro ponto de nossos encontros, compactuava com nossas traquinagens, como roubo de cocos, cana, galinhas, patos e frutas de toda espécie.

Era o nosso esconderijo e, onde começamos a tomar umas e outras, pois o velho era um alcoólatra, mas tocava violão e contava histórias como ninguém, mas não tinha nem de perto o bom caráter do Luiz.

Lá aprendemos a fazer rede, tarrafa, gaiolas para goiamuns e tetéias para as memoráveis pescarias no riacho salgadinho e siris no início do cais do porto.

Era lá também que levávamos os doces e salgados que tirávamos dos assaltos aos cozinhados das meninas, o que acontecia com freqüência.

Foi no casebre que me embebedei pela primeira vez, aconteceu com a chegada na Avenida de uma prima do pessoal que morava no sobrado em frente a casa do Euricão, vinda do Recife, já escolada, todos começaram a tentar um namoro; surgiu a idéia de a convidar para uma serenata de violão na casa do Rodoufo, onde na base do vermute Cinzano, tira gosto de galinha e peixe, escutávamos a cantoria do velho; como era escuro, na base do candeeiro, não havia luz elétrica, podíamos tirar um sarrinho nas peniqueiras que eventualmente convidávamos e, especificamente nesse dia disputava com Emilio os favores da jovem, se não me falha a memória, IOLANDA. Terminou a dita serenata com todos de porre de Cinzano.

Sr. Rodoufo era um velho pescador que fez amizade com tio Nilo, tendo usufruído uma rede em sociedade, mas era muito sabido e nosso tio desfez a sociedade mas deixou a rede com ele que logo vendeu para tomar pinga. Então passou a comprar peixe dos outros pescadores e revender às nossas mães, contudo, tinha a habilidade de colocar areia no estomago dos pescados para pesarem mais.

O velho era malandra, mais foi importante em nosso aprendizado, onde tivemos bons e inesquecíveis momentos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

LIBIDINAGEM DOS MENINOS DA AVENIDA por Lelé

O MAR QUE FAVORECE O ONANISMO

A temperatura do mar da praia da Avenida, principalmente no verão, é de fazer inveja a muitas saunas. Então, favorável a um sabãozinho, e mamão com açúcar para os adeptos do onanismo. Esse costume no mar, é exclusividade nossa, que tem essa água caliente. Jamais seria praticado no sul maravilha, apesar da matéria prima por lá, que fica nas imediações do mar, ser bem mais voluptuosa. No sul não dá, a água do mar é fria pro cacete; Broxante... eles dão mergulho no mar, vapt-vupt, a gente toma banho de mar. Bate papo. Muita diferença...

Naquela época na praia da Avenida, quando a gente dava uma olhada giratória para a beira do mar, estavam lá eles, só se via a cabecinha do lado de fora da água. Ficavam concentrados em determinado lugar. A gente espiando a praia realçava logo uma gostosona naquela área. Os punheteiros eram bem conhecidos, até hoje continuam com os apelidos: fulano bronha, sicrano tara, beltrano punho de ouro...

Um dos mais conhecidos, o China (musculoso, gostava de brigar, fazia luta livre), certo dia saiu correndo da água, caiu em cima de uma menina deitada na praia, conhecida nossa, e ejaculou naquelas belíssimas pernas. Cabra safado... A turma estava jogando bola na praia, e imediatamente correu pra cima dele. O China levou a maior lixa. Porrada pra valer. Mesmo assim o sem vergonha gritava “ podem me matar, foi a maior gozada da minha vida”.


NADANDO PARA O CAIS DO PORTO

Vez em quando, íamos nadando pro cais, longe pro cacete, levando como segurança uma bóia grande, geralmente câmara de ar de trator. Eramos seguidos pelos mergulhos dos botos, ou golfinhos como chamam hoje. Diziam que eles salvavam, empurrando pra praia, jangadeiros que caiam na água e não sabiam nadar. Saíamos em grupo. As meninas, nossas amigas, também nos acompanhavam. Quando alguma boazuda estava no meio, a gente notava que alguns se afastavam pra praticar o ato solitário no mar adentro. A água transparente denunciava o calção no joelho. Sacanas...


PRIMEIRO ALUMBRAMENTO


ALUMBRAMENTO (Manuel Bandeira)

Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!

. . .
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar flor
Da água que o vento desapruma...
. . .
- Eu vi-a nua... toda nua!


Nosso primeiro alumbramento foi ver uma empregada, nuinha, tomando banho no quintal perto da casa do Emílio, que a gente só tinha acesso subindo no frondoso sapotizeiro atrás da casa. Na época, a gala mal tinha chegado na gente.

A festa acabou quando estávamos, Emilio, Cuca e eu, no galho mais alto da árvore, o único que dava vista para o bendito quintal, e repentinamente ele partiu. Menos pelo peso da gente, mais pelo movimento harmônico que fazíamos. Era mais uma estória que tínhamos que inventar em casa para justificar os arranhões que arranjamos por toda parte do corpo. Mas valeu...


PENIQUEIRA, GRAÇAS A DEUS

Ah... o nosso namoro com as meninos. Tempão depois do começo do namoro, nos era permitido apalpar os peitinhos. E olhe lá! E só. E nossa gala pra onde ia? Era o grande dilema dos meninos de nossa geração. Entrar no clube do China? Foi aí que se formaram verdadeiras armadas, como a de Brancaleone, para facilitar o carinho das empregadas domésticas. As peniqueiras.

Felizmente existiam as peniqueiras... Os meninos da praça Gonçalves Lêdo, que formavam o Palmeiras, tinha até uma armada com hierarquia militar, com graduação não por antiguidade, mas por mérito na batalha. Marechal era o sedutor mor das empregadinhas, o pegador. Na Avenida tínhamos os bambas. Paulo da Capa sempre esteve no pódio, bem acima dos outros.

Nós os menores penávamos. Conosco ficava a sobra. Mas tínhamos nossa estratégia para comer carnes mais saborosas. Como não dávamos muitas importâncias as meninas para namoro, convivíamos mais intensamente com as peniqueiras do que os amigos maiores, que só a procuravam na hora da sede. A gente sentava com as empregadas no banco exclusivo delas na Avenida, ouvíamos suas confidências e lamurias: "Tonho tá saindo com a Zefinha!!!", e nesse papel de pequenos sacerdotes aproveitávamos para faturar o nosso objetivo. Assim nosso sêmen era eventualmente expelido... viva as peniqueiras!


MARCAR CARTÃO

Esse é um termo genuinamente alagoano. Surgiu do fato que os pais marcavam em cima os namorados, mal deixava pegar nas mãos das meninas. Eles então esperavam as festas populares de fim de ano, as natalinas, onde eram montadas roda gigante e barquinhos, com direito a apresentação do nosso folclore tão rico, Chegança, Pastoril, Reisado, Baianas, e que nunca deixavam de ter espalhadas varias barracas de bingo. Aí era onde o namorado aproveitava. Mesmo na vista conivente dos pais, a menina sentava na banca da barraca, pedia os cartões de bingo, e o namorado ficava em pé, por trás da menina, marcando o seu cartão debruçado nela. Era a rara oportunidade de encostar seu membro oculto no corpo da amada. Marcar cartão foi então uma grande tática dos maloqueiros para conhecer melhor sua namorada.

O termo ficou abrangente. Frequentemente, com turma reunida, sentada num banco da Avenida, alguém dava a idéia "vamos marcar cartão, tá na hora!". Tratava-se de subir num ônibus cheio, à tardinha, e procurar uma dona que topasse a esfrega. Quando assisti A Dama do Lotação lembrei-me daqueles tempos. Com a prosperidade de Pajuçara foi inaugurada uma linha, Bebedouro-Pajuçara, que passava pela Avenida, com ônibus novíssimos tipo Atocar, que quando freava dava aquela balançada, arrumando os que ficavam em pé. Eram melhores freqüentados, pelo menos na parte das donas que topavam o sabão, geralmente comerciaria e casada. Quando chegava no ponto de ônibus delas, fechavam a cara e desciam rapidamente, como nada tivesse acontecido. O troféu dos meninos era quando descia do ônibus na Avenida e mostrava a calça esporrada. A glória!


OS MENINOS DA AVENIDA E AS MENINAS DO MOSSORÓ

A praia do Trapiche, pertinho da Avenida, era aonde na maré cheia corríamos para os velhos trapiches desativados, para pular de cima deles na água do mar, fazendo-os de trampolim. Eles já foram armazéns junto do cais para guardar gêneros de embarque. Ali também ficava a colônia dos pescadores, onde as jangadas saíam em busca dos pescados. E paralelo a praia, a rua dos principais puteiros de Maceió. Alhambra, Tabaris, Night-and-Day, São Jorge...

As damas das boates iam curtir a ressaca à tarde na praia do Trapiche. Os meninos da Avenida que estudavam pela manhã davam sempre uma esticada por lá na tardinha para conversar com elas. A amizade era sólida, elas gostavam da atenção dos pivetes, tomavam banho de mar juntos, mas pelo dia claro, elas não deixavam os meninos se aproximarem, impunham respeito. Porém às vezes, como presente pela amizade, depois do por do sol, rolava dentro da água, ainda caliente, algo sublime para os meninos. Se descobriam com as especialistas. Chegavam em casa com um sorriso na cara, e ouviam: “maloqueiro, uma hora desta, o jantar na mesa, e você com essa cara de safado!”. Pior que era.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MOLECAGENS DE MARDEM MELÉ por Lelé



MATINÉ NO PLAZA

Sábado à tarde, Cuíca, Melé e eu fomos para o Plaza ver um faroeste. A seção tava meio vazia, a negrada concentrada no centro do salão. No meio do filme, Melé se levanta, e vai até as cadeiras da frente, olha pra baixo, demora um pouco e volta pra junto da gente. Um curioso foi lá conferir que o Melé espiou. Na mesma hora que baixou a cabeça para olhar botou um lenço no nariz. Mardem, educadamente, para não incomodar os vizinhos de cadeira foi peidar na frente do salão onde estava vazio. Nós três caímos na gaitada...

O CARRO DO DR. ADAIL

Pouquíssima pessoa tinha carro na Avenida, um deles era Dr. Adail, um tremendo munheca de pau. Em frente a casa dele havia uma espécie de tonel na rua. Ele pediu a Mardem Melé, que passava na hora, para lhe orientar no acostamento. Mardem na sua gagueira começou a berrar “ ven-ven-ven-ven...” , aí, TIBUM, o carro derrubou o tonel, e amassou toda a traseira. Imediatamente Melé gritou sem gaguejar: “Aí tá bom!!!” , e saiu na maior carreira...

A CHAVE DE SÃO PEDRO

Melé achou uma chave de portão na calçada da Avenida, daquelas chaves que São Pedro carrega para guardar a porta do céu. Aí ele foi para beira do calçamento e ficou parando os carros (a freqüência não era grande) perguntando se o motorista não tinha perdido aquela chave.( Tô ficando broco - a tempo - essa história aconteceu com Mozart Cintra e não com Melé. Dois maloqueiros de primeira linhagem!)

APRESENTAÇÃO AO FRAZÃO

O mago Edson Frazão morava no Rio, mas a fama da gagueira e molecagem de Melé já andava por lá. Frazão veio à Maceió, e encontrou com a gente no bar do Chopp. Apresento ele ao Melé. Mardem estende a mão e começa a gaguejar: “ mui-mui-mui...”, aí o mago dá maior gargalhada. Melé berra imediatamente “ ta-tá-tá se abrindo a pri-primeira vista, porra!”.

QUILOWATT

Na praia da Avenida geralmente sentávamos em roda para papear com as meninas, debaixo de sombrinhas de praia. Numa roda dessa, Mardem tentava dizer alguma coisa, mas com a dificuldade que tinha pra falar, não saía a voz, e com o papo animado ninguém ficou esperando sair a fala de Melé. De repente sai um grito dele: “ Bi-Bi-Biriba, se-seus qui-quilowatts estão de fora”. Biriba olhou pra baixo, viu seus colhões à vista das meninas, e vermelho de vergonha (naquela época existia isso), levantou-se e saiu correndo...

TRAVALIANA

Na época de São João, Mardem, ainda bem criança, andava com os bolsos cheio de travalianas, aquelas bombas que estouravam quando jogávamos ela na parede, e faziam estremecer os ares. Era um estrondo da gota. No começo da noite, as donas de casa ficavam tomando sereno sentadas em cadeiras de balanço na calçada em todas as ruas da região. Melé não perdoava, percorria as ruas onde não era conhecido (foi logo quando chegou na Avenida) e jogava as travalianas perto das cadeiras das velhinhas. Ele era desprovido totalmente da noção de perigo que podia causar tal insanidade. E dizem que menino não tem maldade...