quarta-feira, 27 de maio de 2009

OS 70 DE PETRÚCIO por Paulo Ramalho

Petrúcio, Eu e Quico, somos os rabugentos do Clã dos Ramalhos.

A nossa diferença de idade, o aniversariante e Eu, é de 1 ano e 9 meses, aproximadamente.

Hoje, essa diferença pouco representa, mas naquela época, freqüentávamos turmas diferentes.

Além de que saiu cedo de casa para morar em Vitória, no Espírito Santo, onde constituiu essa bela e querida família.

Mas, alguns fatos ficaram gravados na memória.

Nossas férias no Fundão, com nossos queridos e saudosos tios Helena e João, jamais serão esquecidas.

Assim como nossa infância na Avenida da Paz.

Aconteceu em pleno carnaval: Cada um recebeu um lança perfume Rodoro, para irmos ao baile infantil do Clube Fênix.

Fomos nos preparar, Petrúcio tomou um porre de lança no nosso quarto de vestir, que ficava anexo ao banheiro, no pavimento térreo. Rodopiou, bateu a perna com tanta força, na cômoda que ficava no quarto que D. Bi ouviu e foi olhar.

Petrúcio estava sentado no chão, com o lança perfume na mão, os olhos revirados.

Mamãe tomou o lança perfume e disse: - não vai mais a festa!

Eu e Quico, apressamos para sair logo, foi quando Petrúcio melhorou do porre e nos dedurou, Paulo e Quico também tomam.

D. Bi tomou nossos lanças perfume e disse: - ninguém vai mais à festa! Conclusão, perdemos o carnaval.

Outro fato, que já escrevi, e consta do Blog dos Meninos da Avenida, é que confeccionamos um Judas, para sacrificá-lo no sábado.

Amaramos o Judas em uma das traves de sustentação da porta da garagem, e a trave, amaramos no poste de iluminação que ficava atrás de nossa casa, na Rua Silvério Jorge, e ficamos esperando a hora do sacrifício.

Foi quando passou um grupo de operários de uma fábrica que ficava próxima a nossa casa, e levou o Judas.

Além do Judas, nossa preocupação era com a trave da porta da garagem, que D. Bi iria dar maior bronca.

Foi quando lembramos que Amaury, ainda estava em casa.

Entramos na maior carreira e aos gritos, Amaury, Amaury, os operários da fábrica roubaram nosso Judas.

Pelos gritos Amaury sentiu a nossa aflição,já estava no Box do banheiro, vestiu a calça do pijama, que naquela época era comprida, e saiu pela rua amarrando o cordão.

Além da estatura, Ele e Petrúcio são os mais altos, herança de nosso Pai, tinha um físico atlético, pois fazia bastante musculação.

Quando chegamos próximo à fábrica, nós atrás, em fila indiana, vimos os operários sentados na calçada da fábrica, e o Judas no poste do lado oposto.

Amaury desamarrou o Judas, colocou com a trave nas costa, e nos dirigimos para casa.

Os operários olhando, nada disseram, nós é que não conseguimos conter a alegria, olhando para os operários, demos o maior grito: ah! ah! ah! ah! ah!

Fundamos um time de futebol, o Atlântico Futebol Clube, e pedimos autorização a D. Bi para transformar a garagem em sede do clube, e fomos atendidos.

Pintamos a garagem e compramos lá pela Rua do Queimado ou Praça Rayol, um escudo de ferro de um time de futebol que havia sido extinto.

Mandamos pintá-lo com as corres de nosso clube, e penduramos na parede, coberto com um pano para ser retirado na hora da inauguração.

Petrúcio era o Presidente, e nossa Mãe, Presidente de Honra.

Quando da inauguração, o Presidente disse: - agora a Presidente de Honra vai tirar o pano do negócio!

Desnecessário dizer que a risada foi geral.

Fica a cargo de Quico dizer o motivo que levou D. Bi, acabar com a sede.

É possível que os fatos não estejam em ordem cronológica, mais são de nossa infância de meninos livres e felizes da Avenida.

Quem diria, Petrúcio 70, é Deus querer, eu chego lá.

Concluirei com um poema do teólogo Miguel de Unamuno:

“Alarga a porta, Pai,

porque não posso passar.

Fizeste a para as crianças

e eu cresci, a meu pesar.

Se não me alargas a porta,

diminui-me, por piedade.

Volta-me àquela idade

em que viver é sonhar”.

Beijos, e fiquem com Deus.

23 de abril de 2009.

Paulo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

AS ÁGUAS DE 1949 por Carlito Lima


A chuva intensa nesse inverno nordestino fez-me voltar à infância. O ano, 1949, era um menino, nove anos, fiquei assustado com relâmpagos e trovoadas, me alegrava apenas lembrar dos caranguejos, eles saem do buraco com trovões, naquele dia eu havia colocado “ratoeiras” feita de lata de óleo em algumas tocas de goiamuns nas margens do Riacho Salgadinho. Durante a madrugada houve um temporal diluviano. O Salgadinho transbordou, encheu a Rua Silvério Jorge, onde eu morava, e adjacências. As grandes chuvas previstas para maio estavam acontecendo no final de abril.

À noite uma enxurrada desceu do Tabuleiro com muita velocidade, passando pelo bairro do Farol com um barulho aterrador de água em grande movimento. A aluvião avançou como se fosse uma onda desgovernada atropelando o que encontrava pela frente, carros, carroças, derrubou árvores. Quando a enxurrada se intensificou na descida do Farol, na Rua Barão de Anadia, perto fábrica de Guaraná Davino, aconteceu um forte estrondo, rompeu um enorme bloco de barro, desprendido da barreira caiu por trás das casas daquela rua. Tragédia, 20 residências soterradas, mais de 50 mortos.

No leito do vale do Riacho Reginaldo–Salgadinho a correnteza da água de chuva, volumosa e insustentável como um enorme vagalhão, levava o que havia pela frente em seu corredor. Na foz, no desembocar, onde o riacho deságua na Avenida da Paz, a enxurrada chegou tão forte que partiu ao meio a ponte de concreto da avenida. A ponte desmoronou, foi arrastada em dois blocos à beira-mar.

No vão, onde estava a ponte sobre o Salgadinho, ficaram apenas trilhos dos velhos bondes pregados em seus dormentes. O bonde era o transporte urbano mais usado naquela época.

Quando o dia amanheceu puderam-se avaliar os estragos da catástrofe, daquela chuva de volume nunca visto. Curiosos, usuários do bonde para o trabalho, ficaram estarrecidos, contemplando as conseqüências da água violenta naquela madrugada.

Pela manhã já se sabia pela da catástrofe pela Rádio Difusora, a enxurrada havia derrubado a ponte da Avenida. A Rádio anunciou a suspensão das aulas; depois do café da manhã, corri atrás de minhas “ratoeiras”, não encontrei uma sequer, em alguns locais estavam submersas. Andei até a praia, entrei no Hotel Atlântico, de uma privilegiada posição fiquei contemplando emocionado o vão da ponte apenas com os dormentes do bonde balançando.

Dois enormes blocos de concretos à beira-mar, lavados pelas ondas, como se fossem rochas naturais. Dois pedaços de ponte. Fiquei encantado com os trilhos pregados no dormente, resistindo numa linha curva, o que restou da tragédia. Esses mesmos trilhos serviram como base, construíram imediatamente uma ponte de pedestre provisória para usuários dos bondes atravessarem fazendo baldeação da linha Vergel do Lago - Ponta da Terra e vice versa. Os bondes paravam na cabeceira da ponte, os passageiros recebiam um tíquete, atravessavam a ponte improvisada, tomavam outro bonde que os levavam ao destino. Carros, caminhões e ônibus seguiam seu destino de Ponta da Terra para o Centro, arrodeando via bairro do Poço. Por conta disso, em Maceió, quando uma pessoa percorre um percurso maior que o previsto, ou faz muita delonga para contar alguma história, diz-se estar caminhando via Poço.

A meninada inocente e traquina até gostou da tragédia, apareceu mais outro divertimento. Todo dia nós acompanhávamos, encantados, as obras de engenharia, construção da nova ponte do Salgadinho. Da cabeceira descíamos, ficávamos por baixo da ponte de pedestre improvisada, em local estratégico, apreciando o desfile das calcinhas das meninas, das mulheres que atravessavam distraídas.

Com a construção de uma ponte de madeira provisória na Rua Silvério Jorge, o trânsito voltou ao normal na região da orla. Não gostamos, a rua ficou com trânsito intenso, tirou o bucolismo. A nova ponte de madeira acabou com nossa tranqüilidade e com o divertimento de apreciar as pernas das meninas por baixo da ponte.

Foi rápida a construção da nova ponte de concreto, logo inaugurada com muito estardalhaço. Quatro anos depois, Luzia, embaixo dessa mesma ponte do Salgadinho, tirou minha inocência, meus cabrestos.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

ENCONTRO 7-maio-2009 aniversario ALBERTO









CARINHO SÓ DE MULÉ... CAPITÁ SÓ MACEIÓ por Carlito



Final dos anos 60 retornei a Maceió para curtir minhas férias, voltava de Roraima aonde comandei por dois anos a 9ª Companhia de Fronteira, na região da Serra da Raposa do Sol. Muito tempo sem ver o mar, só a imensidão dos rios amazonenses. Ao chegar do aeroporto, em casa, vesti um velho calção de banho, desci à praia, descalço, peito nu, feliz da vida, voltava à terra amada. Em frente ao coreto, sentei-me na praia de extensa areia branca e morna onde aprendi a andar, onde me criei. Sozinho, extasiado, deslumbrado, contemplava o belo verde-azulado, cor exclusiva que Deus inventou num dia de inspiração e colocou nos mares de Maceió. Permaneci sentado, meditando, até o Sol se esconder lá no fim do mundo pra noite chegar, pôr-do-sol belíssimo, espetáculo que a natureza repete todo entardecer na enseada da praia da Avenida da Paz. Dentro de mim uma enorme alegria, concentrado no encantamento, absorto em minha paixão por essa terra onde nasci, olhava ao longe o infinito, o horizonte, beleza divina misteriosa. Não pensava, não falava, só sentia e curtia aquele momento. Foi assim a celebração de meu retorno a Maceió naquele belo e ensolarado verão.

Ainda em férias recebi a notícia, havia sido promovido a capitão e classificado no 15º RI de João Pessoa. Nada contra qualquer cidade de meu belo Nordeste, apenas depois de 13 anos perambulando por esse Brasil, resolvi ficar em Maceió.

Comprei uma passagem, voei ao Rio de Janeiro. Com apenas uma maleta na mão fui ao Ministério da Guerra, dirigi-me ao Departamento Geral de Pessoal, responsável pelas transferências e classificações de oficiais. Atendeu-me um coronel, apresentei-me, contei-lhe a verdade, gostaria de retificar minha classificação do 15º RI de João Pessoa para o 20º BC de Maceió. Dei sorte, o coronel, era um homem gentil e prático. Pediu que eu esperasse; logo depois voltou com a notícia, existe vaga de capitão no 20º BC e que publicaria a retificação de minha classificação no Noticiário do Exército ainda naquela semana. Vibrei, afinal ia servir em minha terra. Tomei um lotação para o Flamengo, direto para o apartamento do Cáo, amigo velho, seu apartamento era uma espécie de embaixada alagoana. Cáo é uma figura extraordinária, leitor compulsivo, sabe tudo sobre as histórias das guerras embora seja um tremendo pacifista. Setentão, organiza todo final de ano uma divertida festa do Palmeira, antigo time de futebol do Farol, comparecem grandes figuras que fizeram a história de Maceió dos anos 50/60.

Voltando ao Rio, para comemorar minha alegria telefonei para duas primas-irmãs, Lourdinha e Bebete. Durante o jantar na casa de Tia Rosita, Lourdinha aventou a possibilidade de um contato com Vladimir Palmeira, naquela época ele liderou a marcha de 100 mil pessoas na Cinelândia contra a ditadura militar, estava na clandestinidade, era um dos homens mais procurados pelo regime. Às 10 da noite encontrei meu querido Vladimir em um discreto bar de Botafogo. Vladimir sugeriu irmos para o Canecão. Tomamos uma mesa estratégica, excelente música. Dançamos, bebemos, comemos. Quem por ali passasse jamais imaginaria que naquele grupo alegre havia o líder estudantil mais procurado, caçado pela ditadura e um capitão do Exército, divertindo-se, celebrando encontro de amigos.

Às seis da manhã, o dia amanhecia, perambulávamos pela praia de Copacabana cantando: “Ai, ai que saudade ai que dó... Viver longe de Maceió...” Encontrei-me outras vezes com Vladimir nesses dias de Rio de Janeiro. Depois ele foi preso e banido. Só fui revê-lo muito tempo depois, em 1979, por conta da anistia, quando voltou da Bélgica.

Passei quase todo mês de janeiro no apartamento do Cáo, sempre hospedados 2 ou 3 alagoanos na “Embaixada”. Ao voltar para Maceió, falei para mim mesmo, aqui é meu lugar, basta de perambular pelo Brasil. Logo depois deixei o Exército, mas fiquei em Maceió. Na época jamais passou por minha cabeça que um dia seria um cronista da cidade, contador de histórias de minha terra, que estrearia escritor aos 61 anos. Agora, aos 69 anos, em Brasília, lanço meu 11º livro na próxima quarta-feira, dia 13 de maio, CARINHO SÓ DE MULÉ... CAPITÁ SÓ MACEIÓ. Todos os leitores estão convidados, avisem aos parentes e amigos que moram em Brasília. Estarei recebendo, autografando, a partir das 18 horas no Mercado Municipal de Brasília, W 3 – Sul –quadra 509, onde haverá uma noitada divertida, bom uísque e papos maravilhosos. Em Maceió o lançamento será dia 29 no Bar do Chope.