terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MORADORES DA AVENIDA 2 por Mozart Cintra

Para complementação do trabalho de Ricardo Peixoto‏
De: mozart cintra (mozartcintra@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 29 de janeiro de 2008 17:58:57
Para: Américo J.P. Lima (americojplima@hotmail.com)
Grande Lelé - Espero tá contribuindo com alguma coisa - pelo menos para a história dos fatos da AVENIDA., e complementando o trabalho do Ricardo Peixoto.
Escolhi a esquina em frente ao Coreto, até a outra esquina da antiga Capitania dos Portos. Vamos lá:
Logo na esquina, era a casa da dona Melinha que junto com uma irmã, eram irmães do General Mario Lima, marido de dona Zeca, pai da Rosita, Betuca, Carlito, VOCE e Socorrinho;
Depois era a casa de uma família que tinha um cozinheiro, que era misto de mordono e administrador da casa: sr. Alceu;
A outra era a casa do Zezinho Cardoso, irmão do dep. Oséas Cardoso e que tinha um sobrinho apelidado de Tonico e que trabalhou a vida toda na Cia. Telefônica de Alagoas;
A outra era a minha casa. Seu Aryoswaldo, marido de dona Aurea, pai também de Verônica, Vitória e Marcos;
Em seguida a casa do seu Emilio Cardoso, marido de dona Elizabeth, donos da empreza comercial "A Mobiliadora" em frente a antiga "Gazeta de Alagoas", pais de Laiz, Iracilda, Alberto, Elza, Emílio, Lêda, Sonia e Elizabeth. Emílio faleceu em um ascidente de automóvel:
A próxima casa era do sr. Segismundo Walderley (que veio a falecer em um ascidente de carro) marido de dona Enaura, pai de Werter, Wolney, Welma, Waldo, Wânia, Wilmene, Walma, Tido, Segismundo e Cid. Wolney e Werter tiveram também um ascidente de carro, onde Wolney faleceu e Wertwr ficou paraplégico. Na época Wolney era Assistente Social e Werter era cadete do Exercito;
Em seguida vinha a casa do sr. Homero Galvão:
A proxima era a casa do sr. Nemézio, marido da dona Marieta, pais de Chiquinho, Hugo, Célia e sogro de Cid Scala, marido desta última. Tinham outros filhos. O Hugo Nemézio era casado com a irmã do "Binha" (Robson Guimarães Lins) que morava na Estrada Nova, hoje avenida Comendador Leão. Depois morou o dr. Jair Galvão e dona Sílvia;
Depois vinha uma outra casa que eu não me lembro bem de quem era e que junto com a casa do sr. Némézio, foram demolidas para dar lugar a antiga AABB, Associação Atlética Banco do Brasil;
Logo junto a esta casa, vinha a de um "médico de criança", da época, hoje Pediatra e que era casado com uma senhora natural da Bahia e tinham como filha adotiva a Tereza, que a gente chamava de "Tereza Doida";
Depois, a casa do Dr. Neves Pinto, marido da dona Olga, pai de Roberto, Vera, Guiga e Ana;
Junto a esta casa, vinha a das irmães Mitchel, tias e mães adotivas de uma moça chamada Expedita;
A próxima, era a casa da dona Nice Buenos Aires, que foi casada com o Dr. Alvaro Leite, irmão de Bráulio Leite Junior, chefe do Ministério da Fazenda, cargo hoje equivalente ao de delegado da Receita Federal. Eles tiveram três filhos: Mércia, Talvanes e Cézar;
Em seguida a casa da dona Joaninha, uma expécie de "república", pensionato, para os marmanjos da época:
Como penúltima casa, e última residência, a casa do sr. Morgado, dona de Morgado Pinto & Cia. Ltda. na rua do Comércio. Depois morou o sr. Chico Rocha, de União dos Palmares, e pai mesmo de um "Mário Doido" a quem o Ricardo Peixoto na sua relação, complementa o nome do Chiquinho Nemézio. Hoje funciona uma das unidades da Secretaria de Saúde;
E finalmente a casa da esquina que vivia fechada e que teria funcionado antes a Capitania dos Portos. Depois é que ela passou para o outro lado da rua onde é a Capítania.
O outro quarteirão, que era composto da Capitania (esquina da rua do Uruguai) até a esquina da rua Mato Grosso, que termina na Praça Rayol, tinha apenas quatro unidades: a Capitania, a casa do seu Barreto, a do senhor Pompeu Sarmento (ambos altos funcionários da Cia. Utinga Leão) e uma onde hoje está funcionando uma unidade do Sebrae e era também um prédio da Usina. O senhor Pompeu era pai de Asdrubal, Hélvio, Amilcar e Anibal e várias irmães. Hoje dos filhos homens, apenas Anibal está vivo.

Espero não ter esquecido muita coisa.

Um forte abraço e disponha do

Mozart Cintra

Grande Lelé: No entusiasmo de poder contribuir com a história do começo de nossas vidas, esqueci um detalhe muito importante no início do meu relato. Na esquina da rua que devidia a casa do seu Pádua com a casa do lado de cá, era a residência do sr. Paulo Tenório, toda emuldorada com uma grade de chumbo prateado, onde a gente quebrava e roubava para vender o metal no pêso. Essa travessa recebeu o nome de "Travessa Emílio Cardoso" na gestão de Vinícius Cansanção como prefeito. Ele era um homem - o senhor Paulo Tenório - muito rico de União dos Palmares e que teve uma filha chamada de Divanete Tenório que casou com Aloísio de Goes, que foi prefeito mais de uma vez de Quebrangulo. Depois esta casa foi vendida para o Estado, no Governo do Major Luiz Cavalcante e acomodou por muitos anos a CODEAL - Companhia de Desenvolvimento de Alagoas. Hoje, lá funciona a Secretaria de Industria e Comercio do Estado de Alagoas.
Desculpe a nosa falha
Mozart Cintra


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

MORADORES DA AVENIDA por Ricardo Peixoto








IMAGENS de SATÉLITE - 2 LADOS DO SALGADINHO - PEGUEI NO GOOGLE (Lelé)

ATENÇÃO LELÉ
Pelo que estou lembrado, o Riacho Salgadinho era um divisor que tinhamos na AVENIDA, pois tinha os meninos do lado que dava para o Corêto e outros para o lado da Fênix e, aqui vou tentar colocar os nomes de todos que me chegam na memória :
LADO DA FÊNIX - partindo da ponte -
Família Laverère Machado : Haíno, Marcelo, Eduardo e Alberto (não eram integrados)
- Ricardo Peixoto -
Gago Di (3º Sargento Valdir Moraes) - Draute Barbosa logo depois morou Walter Ananias, por longo tempo (na casa que foi do Gago Di) -
Familia Couto : Jarbas - Capixaba e Getúlio (mudaram para Recife) -
Athayde : João e Eduardo (Guda) -
Dr. Adail e Terezinha Bicuda
Mascarenhas : Joubert - Roberto - Gilson (mudaram para o Farol) -
Na Silvério Jorge tinha Laércio (era com o R mesmo)
LADO DO CORETO - partindo da ponte
Familia Miranda - Hélio e os irmãos e, depois, os filhos de Haroldo (Tonico, Mirandinha, etc)
Familia Melé - Cesar e Mardem
Familia Jardim - Lizardo - Mário e Biriba (Lisandro)
F. Ramalho -- Petrucio - Paulo e Quico - GRAPETTE (agregado)
F. Bentes - Luciano - Mardem - Tinho - Dudu e Géo (mudaram para o FArol)
F. Braga - Guilherme e Ricardo (mudaram para o Farol) e BIU e de Marina.
Adilson Cuíca -
Cuca -
Tonho (Seu Pádua)
Paulo Tenório
Familia Lima - D. Melinha
Marcos e Mozart Cintra
Placido Alvim
Alberto e Emilio Cardoso
Werther - Wolney e Waldo Wanderley (e Tido ?)
Chiquinho Nemésio Mário Doido
Dr. Neves Pinto
Seu Morgado Pinto
e após a Capitania dos Portos -
Familia Sarmento : Asdrubal, Amilcar e Anibal
e daí em diante, em Jaraguá, só o PAI VÉIO DOS MENINOS - BIU MOSSORÓ
Na Silvério Jorge :
F . Perrelli - Betinho e Rafael
Marcondes
Sobradinho - Pericles
F. Lima - Betuca , Carlito e Lelé
Piduca e Morinha - depois Eurico
Lelo e Lula
Tonho (Casa do Dr. Homero) e Benedito Policarpo irmão da Marina.
Zé Guilherme (Zé Gordinho) -
tinha o pessoal de "Seu Nelo" (da venda) que era nosso rival, mas de vez em quando estava conosco
- Mí - Toinho - Binha (Robson), que era mais da turma da Rayol e do Jaraguá Tênis Clube e nós, FENIANOS DOENTES.
INTEGRADOS NA TURMA - Walter Lima - P.C. Farias - Marú (seu primo)
Faltei mencionar : Tonho - Mané Sapinho - Siginho (ou Serginho ?) e Paulão por não ter conseguido cair a ficha.
Achei ótima a sua idéia do Blog, PARABENS MESMO. Aproveito a oportunidade para lhe agradecer o DVD que me enviou e achei emocionante a confraternização da turma do Palmeiras, muito mais pela idade dos integrantes, comandados pelo GRANDE CARIOCA DA RUA SÃO SALVADOR - FLAMENGO - CAL (ou Cau ?) LIMA. Já falei com Eduardo (Dunga) e Sérgio Magalhães (que estava presente) para ver o filme.
Grande abraço,
Ricardão
(Ricardo , modifiquei um pouco a lista. Mas vou provocar discussão na próxima reunião - LeLé)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

CARNAVAL NA AVENIDA por Paulo Ramalho




Na década de cinqüenta, não recordo o ano, meu Pai Luiz Ramalho, resolveu fazer um bloco para o carnaval, com os filhos e sobrinhos.

Foi o Bloco do Flitt, não sei se a ortografia está correta, era um inseticida muito utilizado na época, cuja propaganda apresentava uns soldados vestidos a caráter, cuja farda predominava o branco, uma túnica com botões dourados de cima a baixo, nos dois lados com as bordas também douradas, cartola alta na cabeça, com bastante dourado, e a bomba de inseticida na mão.

Assim fizemos, o pai se fantasiou de barata, e nós os soldados, com farda idêntica, e nas bombas uma essência de perfume que compramos no mercado, diluída em água para não ficar ativa, muito forte, e assim fomos ao baile de carnaval no Fênix.

Anos depois participei do Quarenta e Dois Espada D’Água, com vários amigos-irmãos da avenida e inúmeros outros.

Antes dos bailes, a concentração era num buteco que havia na Rua Marechal Roberto Ferreira, perto da Praça Sinimbu.

Quando chegávamos no ponto, partíamos para o Clube. CORSO

Não vou citar os componentes, porque éramos muitos e sei que não lembro de todos.

Nessa época o General Mário Lima era Presidente do Fênix, e flagrou Betuca, seu filho, tomando porre de lança perfume.

Como exemplo começa em casa, de imediato expulsou Betuca do Clube.

Como era diferente!

Reunimos o Quarenta e Dois Espada D’Água, e decidimos por unanimidade rebaixar o General para Cabo Lima.

E assim passamos a tratá-lo, entre nós, é claro.

Além das prévias, que íamos a todas, durante os quatro dias, brincávamos direto que nem cantiga de grilo.

Íamos pular e fazer o corso no comércio, às onze horas íamos para casa trocar de roupa, encontrávamos no Quartel General, na Rua Marechal Roberto Ferreira, e íamos para o Clube até às cinco ou seis da manhã.

A segunda-feira que era dia de descanso, passávamos o dia em algum banho, lembro-me de um em Messias, uma bela piscina de água corrente, numa pedreira da Família Uchoa.

Em toda casa que íamos, fazíamos uma modinha rimando Zé Pereira, Carnaval, Quarenta e Dois, e o dono da casa.

Na casa do General Mário Lima:

Viva o Zé Pereira
Viva a Festa Fina
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Mário Lima

Na casa do Almir:

Viva o Zé Pereira
Viva o Carnaval
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Agesilao

Na casa do Seu Raul, pai do Ronaldo:

Viva o Zé Pereira .
Viva a Festa Azul
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Seu Raul.

Na casa do Seu Uchoa:

Viva o Zé Pereira
Viva a Festa Boa
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Seu Uchoa.

Sem me prender à cronologia, nem citar nomes, para não cometer injustiça, lembro-me ainda dos blocos Guerreiros Astecas, que não participei, Tirolês, esse participei, e numa época em que a bermuda ainda não era bem aceita nos bailes noturnos, fomos de bermuda, e a rigor, da cintura para cima, fui com um fraque e cartola, que eram de meu pai.

O Banho de Mar à Fantasia, realizado do domingo que antecede o carnaval, era realizado na Avenida, e as casas do General Mário Lima e Luiz Ramalho, meu pai, eram paradas obrigatórias dos blocos que lá desfilavam.

E assim brincamos inúmeros, bons e inesquecíveis carnavais.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O LIDER (EMILIO) por Lelé

Quer me fazer feliz? Empreste um gibi pra eu ler. Luluzinha e a turma do Bolinha está entre as minhas revistas preferidas. A turma do Bolinha me leva a nossa infância na Avenida e não consigo dissociar a personagem principal do nosso saudoso amigo Emilio Cardoso. Apesar da aparência totalmente diferente, a personalidade de líder, aventureiro, protetor, amante platônico é muito semelhante. Como o Bolinha, qualquer acontecimento tinha que passar necessariamente por ele. A idéia podia ser de outro, mas Emílio era quem a tornava realizável. Tomar banho no Catolé ou no rio Jacarecica, passar fim de semana na casa da tia Jú em Santa Luzia do Norte ou no sítio de seu Bemon em Urucu. Quem decidia onde, quando e como era ele.

Lente na ximbra. O melhor no pião. No rouba bandeira ou no garrafão, todos queriam ficar do lado dele. Principalmente na trincheira, ninguém queria Emílio como inimigo. Esta brincadeira onde se cavava dois grandes buracos feitos trincheiras, distantes cerca de 10 metros, até encontrar água, para poder fazer um bolo duro juntando com a areia fina, é uma invenção do pessoal da Avenida. Ficavam três ou quatro meninos por buraco, procurando atingir os inimigos no outro buraco. Emilio com aquela altura e habilidade era temido por todos. Lembro que eu certa vez estava cobrindo um ataque dele à trincheira inimiga quando levei uma bolada do Quico no quengo que desmaiei. Brincadeirinha dócil, hein?


Vivemos muitas histórias juntos. Jogávamos futebol frequentemente no campo da casa do Lelo. Um dia D.Maristela mandou o Lelo estudar e pediu a gente que saísse para não atrapalhar o estudo do filho. Não adiantava argumentar. Jogar naquele campo era um direito nosso. Saímos indignados. A idéia foi minha. Uma parte do muro atrás do campo tinha sido refeita recentemente, ainda estava secando. Emilio bolou a estratégia para derrubarmos esta parte do muro. De manhã faríamos uma corda com cipó de guajuru, plantação abundante atrás do muro, e a noite iríamos lá, derrubar o pedaço dele com a corda. Depois voltaríamos correndo para o banco da avenida para não causar suspeitas. Fizemos exatamente isto, só que em vez de parte, veio o muro inteiro abaixo. Com o susto deixamos a corda de cipó na plantação. Não havia nenhuma dúvida dos responsáveis pelo desabamento. D. Maristela foi a cada uma de nossa mãe, Zeca, Santina e Beth, dizendo que o filho dela era um bom menino, mas quando se juntava com os outros dois maloqueiros, ficava influenciado e se não tomasse cuidado iria se tornar um moleque também. Pior é que ficamos sem jogar no nosso campinho predileto por um tempão.

Uma outra idéia partiu do Cuca. Não sei como ele descobriu, mas sabia que os presentes de natal da casa do Lelo estavam guardados no sótão. Emilio traçou a estratégia para a gente entrar no sótão e trocar os nomes dos presenteados para o nosso nome. Tínhamos que fazer isto de madrugada. Subimos no telhado da casa do Eurico, conseguimos abrir a janela da frente do sótão, e começamos a mudar os nomes dos presentes para Lelé, Cuca e Emilio. A família era tão generosa que havia presentes com nosso nome. Mas éramos tão sacanas que trocamos os nossos nomes com os da família, supondo que os presentes destinados a gente deveriam ser piores que os dos familiares. E assim no dia de Natal, a Tia Elza, vestida de Papai Noel, surpresa, entregou mais presentes pra gente do que para os filhos e sobrinhos. Que maldade. Bando de canalhinhas. E tem gente aí dizendo que toda criança é pura, não tem maldade. Esses caras não tiveram infância.

Emilhão gostava de apelidar pessoas, principalmente as que não achava simpáticas. Mas também dava muitos apelidos carinhosos, de amizade. Só me chamava de neguinho. Desconfio que foi ele quem apelidou PC Farias de Paulo Gasolina. Certa vez, estávamos passeando na camionete do Ricardo Peixoto, com o Paulo César na boléia, e atrás na carroceria, Emilio, Eurico e eu. De repente aparece uma viatura dos guardas de trânsito. Ricardo sem carteira percebeu e acelerou. Foi uma perseguição digna de filme policial americano. Emilio começou a mostrar o dedo pros guardas, claro que acompanhei meu líder, acrescentando banana além de dedo. Sempre exagerei na dose. Continuo até hoje, principalmente quando é uma boa cachacinha. Bem, Ricardão livrou-se dos guardas na praça Sinimbu, e voltamos para a mansão dos Peixoto. Menos de dez minutos depois chegaram os guardas lá. Dona Zélia recebeu-os.
O Zarôlho, conhecido nosso por usar óculos de fundo de garrafa, falou:
- Seu filho de menor estava em alta velocidade pelas ruas da cidade, colocando em perigo os transeuntes. E atrás da camionete tinha um molequezinho dando banana pra gente.
- O senhor é um irresponsável. Não tem vergonha de estimular uma criança a dirigir correndo no transito? E o molequezinho que você está chamando é filho do Coronel Mário Lima. Se ele souber que o filho dele está sendo desrespeitado por vocês...
Os guardas botaram a viola no saco e se mandaram. Mãe é mãe, em qualquer época e lugar do mundo.


Emilio tinha espírito de comandante, gostava mesmo era de mandar. Estávamos consertando um barco no Hotel Atlântico. Mardem Melé pregando umas tábuas ajudado pelo Tonho. O resto do grupo sentado na calçada dando palpite. Até que Emilio falou que Melé estava pregando as tábuas de forma totalmente errada. Mardem se emputeceu e gaguejou:
- To-tome a-a-aqui e-e-esta me-merda de ma-ma-mar-te-telo. Não pre-pre-go mais po-porra nenhuma. E-e-esse na-navio vai a-a-afundar. Tem po-poucos ma-mari-rinheiros e mui-mui-muitos a-a-almi-mi-rantes.

Num domingo saímos nós dois para caçar no sítio de seu Ribemon Uchôa, pai do Euricão, em Urucu, lugarejo de Novo Lino. Fomos de ônibus de Recife e voltaríamos no FNM do seu Bemon. Pedimos ao motorista para parar o pinga-pinga em Urucu, mas o filho de uma égua passou direto. Quando demos por fé estávamos em Pernambuco. Foi aquela discussão com o motorista, cada um com uma espingarda na mão. Emilhão ameaçando o cara. A gente liso, sem um tostão. Ele disse que a única coisa que poderia fazer era levar a gente até Recife. Chegamos no começo da tarde na rodoviária antiga. Rosita, minha irmã, morava no Prado, e fomos até lá a pé. Só na Conde da Boa Vista andamos mais de uma hora, com as merdas das espingardas nas costas. Quem passava pela gente olhava como dissesse “que é que é isso?”. Com uma fome da gota, almoçamos na casa da Zita, e João Carlos nos levou de volta para rodoviária. Só pudemos pegar o último ônibus. Pior é que seu Bemon, meu vizinho, já tinha retornado pra casa. Aí mãe Zeca enlouqueceu. Resumindo, quando chegamos já a noitona, tinha uma verdadeira multidão nos esperando, assistindo aqueles dois caras lisas descerem do ônibus.

Um outro momento inesquecível foi quando estávamos batendo papo no coreto. Eu confessei que estava apaixonado por uma menina, e não estava conseguindo me declarar. Para minha surpresa, pois era dificílimo tirar alguma revelação sentimental do Emilio, ele me confessou, sob minha jura de morte, que era apaixonadíssimo por uma garota há muito tempo, e nunca teve coragem de se declarar. Creio que ele levou este amor platônica pra o túmulo. Lembro-me de a gente ter comentado “se fosse com o Alberto”.

O irmão mais velho dele era o nosso guru. Alberto Cardoso era nosso referencial para tudo. Foi ele inclusive que me trouxe pelo braço para a esquerda, embora eu seja gauche na vida de nascença. Nossa admiração por Albertão era tanta, que uma das coisas mais importante para um adolescente, escolher a profissão, teve a influência dele também: Engenheiro Eletricista. Emilio, inteligente mas um pouco malandro no estudo, largou o projeto. Eu era mais aplicado e perseverante. Cheguei lá. Minha formatura em Elétrica, na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, a mesma de Alberto, foi no dia 23 de dezembro de 1968. Dez dias após o AI5. Naquele dia os milicos cercaram a Escola na hora da formatura. No meu lado tinha uma cadeira vazia. Vazia pro resto do mundo. Pra mim estava Emilhão ali sentado, com a mão no meu ombro, protegendo o irmão por adoção, como sempre.

Hoje ele é nome de rua em Maceió. Travessa Emilio Cardoso Filho, esquina com a Avenida da Paz. O beco mais querido no mundo pelos meninos da Avenida.

( Lelé – outubro 2007)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

GRAPETTE por Ricardo Peixoto

Para - Léle e Paulo Ramalho
A idade chega e os valores da vida começam a se modificar , para melhor é claro. Fatos da nossa infância e da adolescência que não davamos o valor devido, agora são os que ocupam o espaço mais importante nas nossas memórias.Relembrar todas estas ocorrências, como especialmente aquela da nossa aventura na caminhonete Ford Roquete F-100 em que estavamos eu, Lelé, Eurico e os saudosos Emilio e Paulo Cesar (Gasolina, Zur Velho, Cafar Velho, Titela Envergada, Boca Troncha, etc , tinha até mais), perseguidos por Milton "Zaroio" da Guarda de Trânsito, como também esta que Paulo Ramalho está lembrando, que embora não estivesse deletada, estava no arquivo cheia de poeira, mas é fantástica.Não sei se lembram de uma, também ocorrida no mesmo banco da Avenida, quando passou um "Japona" membro da tripulação de um navio e nós pedimos "please one cigarrete" (era uma forma da gente fumar cigarro americano) e o cara deu numa boa, quando Carlito aproveitou que êle estava de costas e deu-lhe uma dedada ; o Japa se virou e deu de cara com Grapette (que trabalhava na casa de Sr. Jorge Barros) e avançou para dar, falando coisas que ninguem entendia, uma fera. Grapette, sem alternativa, deu uma carreira com o Japa atrás dêle e deu a volta na Silvério Jorge, foi até a Rua do Uruguai e voltou para o mesmo local da Avenida, em frente ao Coreto ; só que o Japa, já exausto, desistiu quando voltou para a Avenida e foi gastar as energias e economias, nos Jardins Suspensos da Sá e Albuquerque, em Jaraguá.Vou espanar toda a poeira do meu arquivo e salvar as boas que tempor lá e, pelo que estou percebendo, vocês já estão fazendo o mesmo.
Grande abraço, Ricardão

Ricardão V. lembrou de um personagem incrível da Avenida. Nêgo Grapette. Logo que ele chegou em maceió (veio do interior) queria conhecer um cinema. Foi pro REX. E antes de começar o filme, ele agoniado, saiu porrilhões de vezes. E cada vez que entrava pagava a entrada novamente. O filme era uma serie de cowboy , no primeiro tiroteio saiu correndo com a gôta embora. Já na avenida disse que não voltava mais nunca, que não queria levar um tiro, e também porque era caro prá pêga. Grande Grapette, onde andará?
abraçoslelé
Não esqueçam dia 6 (quinta-feira) no Bicui do seu Pádua

SEDE DO ATLÂNTICO FUTEBOL CLUBE por Paulo Ramalho

Nos idos de 1957, morávamos na Avenida da Paz, 1 200, nossa casa ia da avenida à Rua Silvério Jorge, onde ficava a garagem.

Resolvemos fundar um time de futebol, as reuniões eram em nossa casa.

Foi indo para uma dessas reuniões, que Carlito insultou o famoso Guarda Doido, fato já relatado em uma de suas crônicas, fazendo com que ele chegasse mais rápido a nossa casa, quase atropelando nosso pai, Luiz Ramalho, que fumava seu charuto, sentado em uma cadeira, na porta de casa, naquela época podia, deu boa noite e entrou que só uma bala, pois o Guarda Doido vinha em seu encalço.

Será que hoje ele correria do mesmo jeito?

Obtivemos autorização de nossa mãe Bi, para transformar a garagem na sede do ATLÁNTICO FUTEBOL CLUBE, fato que nos levou a elegê-la, por aclamação, Presidente de Honra.

Pintamos a sede, conseguimos lá pela Rua do Queimado, comprar um escudo de ferro, que mandamos pintar com as corres de nosso clube.

No dia da inauguração, colocamos um pano sobre o escudo, e chamamos a Presidente de Honra para descerrar o pano.

Petrúcio, nosso irmão pouco mais velho, que era o Presidente do Clube, disse na hora da inauguração: agora a Presidente de Honra vai tirar o pano do negócio.

Risada geral.

A turma era formada pelos Lima, Wanderlei, Cardoso, Jardim, Braga, Peixoto, Uchoa, Bentes, Ramalho, Perrelli, Gazzaneu, se não me falha a memória, além de Walter e Marú Lima, primos de Carlito, Roberto Barbosa o “arainha”, primo de Walter, que moravam na Rua da Alegria, no centro, Geonal Arrochelas, primo do “arainha”, que morava no poço, Artur Justo, que morava logo acima da Ladeira do Brito, Erisvaldo Cavalcante, que não me recordo onde morava, Kleber Mendonça, filho do dono da fábrica de biscoito e panificação Glória, instalada na Rua da Alegria, quase defronte a casa do Walter, e morava na Rua Nova.

Tenho parte da turma documentada em uma fotografia do time, em um dos jogos.

Tínhamos campo de futebol quase particular, o então Coronel Mário Lima, era Comandante do 20º Batalhão de Caçadores, e Provedor do Orfanato São Domingos.

Dependendo do time e do dia que íamos jogar, optávamos pelo campo do Quartel, ou do Orfanato, que ficava defronte, onde hoje é o Condomínio Vaticano.

O Coronel foi também Comandante da Polícia Militar, e as vezes conseguíamos até transporte para ir ao campo.
Tínhamos também, a bela Praia da Avenida, para treinos, peladas, torneios que as vezes promovíamos, e que com freqüência terminava em briga.

Determinada tarde Ângela, nossa irmã, e Rosita, irmã de Carlito, ao passarem próximo à garagem, ouviram um barulho estranho, a porta do lado de dentro da casa, estava encostada, ao abrirem, viram alguns componentes do clube fazendo o que não deviam, principalmente em se tratando da sede do Clube.

Ao relatarem o ocorrido a nossa mãe, que era muito severa, de imediato acabou com a sede do Atlântico Futebol Clube.

PEGADOR DE DINHEIRO por Paulo Ramalho

Não tenho certeza quanto à data, mas acredito que foi em 1957, no dia 21 de setembro, quando Quico completou 15 anos.

Estávamos em nossa casa, na Avenida da Paz, 1.200, quando Manoel nosso irmão entregou um presente ao aniversariante.

Estava em nossa companhia, o inesquecível e saudoso Mele.

Ao abrir o presente, Quico verificou que era um pegador de dinheiro, muito utilizado naquela época, bonito, todo dourado e com um escudo em couro.

Quando Mele viu o que era, disse: pre...pre presente sem utilidade.

Por que Mele, perguntou Manoel ?

Por...por porque ele não tem dinheiro.

Foi uma risada geral.

Quico desprezou o presente, acredito que pelo motivo ressaltado por Mele, guardei-o e somente devolvi ano passado, relatando o ocorrido, pois ele não mais lembrava.

O Mele tem histórias fantásticas, apesar de não ter sido coadjuvante, soube do fato a seguir.

No final da antiga linha do bonde, na ponta da terra, havia um gramado, por traz do Iate Clube Pajuçara, onde todo final de ano havia um acirrado pastoril, barracas vendendo comida, etc.

Tanto as dançarinas, como as vendedoras das barracas, eram meninas da sociedade alagoana.

Numa dessas festas, estavam Mele e Biriba (Lisandro Jardim).

Determinado momento, apertou a fome, e eles resolveram fazer uma lanche, dirigiram-se a uma das barracas, que entre outras coisas, vendia galinha assada.

Quando estavam chegando próximo à barraca, o Mele contando uma história ao Biriba, como era gago, tropeçou em algumas palavras, as meninas da barraca começaram a rir.

O Mele não gostou, fechou a cara, Biriba que conhecia a irreverência do amigo, sumiu.

Mele se aproximou da barraca e disse, que...que quero um sobre cu, as meninas baixaram as cabeças e dirigiram-se ao fundo da barraca.

Mele não satisfeito disse: um...um...um bem gordinho viu dona.
Fim trágico, teve nosso amigo Mele, tão inteligente, tão brincalhão, tão alegre, tão amigo, tão moleque, sentado em uma cadeira, encostou o cano do rifle embaixo do queixo e acionou o gatilho.

No meio a tantas alegrias, também temos tristezas.

Faz parte da vida.


Dezembro de 2007.

OS MENINOS DA AVENIDA por Carlito

A teoria é de Chiquinho Nemésio, campeão señor de tênis pelo Brasil, quem teve uma juventude como nós em Maceió, ou outra cidade nordestina nos anos 50/60, não precisa freqüentar divã de psiquiatra.
A infância fica impregnada em nossa personalidade. Nossas cabeças são feitas pela vida que levamos dos 5 aos 15 anos. Essa é a idade mais importante na formação de um ser humano.
Nós meninos da Avenida da Paz tivemos uma vida solta, liberdade completa vivida num paraíso chamado Maceió. Sequer existia a palavra droga, violência ou medo. Nossos pais controlavam apenas a hora da entrada em casa. O bairro de Jaraguá era como se fosse quintal de nossas casas, além do mar verde-azulado da praia da Avenida da Paz, onde a moçada jogava bola, nadava, corria, paquerava, deixava correr a fantasia, dentro dágua, em intenção às gostosas que se estiravam na areia da praia. Tínhamos também um bucólico riacho desaguando no mar, onde a moçada tomava banho, pescava, pegava caranguejo goiamum em suas margens de manguezais. Era o Salgadinho, hoje
um esgoto a céu aberto, um cancro urbano, a vergonha de nossa cidade.
Na Avenida todos se conheciam, os meninos eram tratados como filhos na casa dos amigos, durante as tardes e noites quando não era hora de estudo, estávamos jogando botão, reunindo o time de futebol Atlântico ou outra qualquer brincadeira.
Mas naquela turma não tinha santo. Havia um pequeno bar em Jaraguá nosso local predileto da sexta-feira, onde traçamos muita galinha, peru ou pato assado, afanado por nós na vizinhança. Uma das maiores vítimas era Dona Zeca, minha mãe.
Certa vez ela ganhou 4 lindos patos, colocou-os no galinheiro no fundo do quintal, mandou reforçar as telas, colocou um cadeado na porta. Ao passar pela turma que jogava botão, falou com seu bom humor, desafiando.
- Agora quero ver vocês roubarem meus patos.
Aquilo foi uma provocação. Primeiramente pensamos em fazer uma cópia da chave. Mas só havia uma guardada fielmente com a empregada que todo o dia limpava o galinheiro,
tratava, dava de comer aos patos e galinhas. Em um reconhecimento, examinando o cadeado, Cuca, meu primo, lembrou que havia um igualzinho àquele em sua casa. Na hora de Luzia, a empregada, tratar o galinheiro, ela abriu a porta e deixou o cadeado com a chave pendurado, numa operação rápida e precisa Cuca trocou os cadeados.
No início da noite da sexta-feira como se estivéssemos assaltando um banco, sorrateiramente e silenciosamente, levando um saco de aniagem, abrimos o cadeado, do Cuca, com uma chave reserva, torcemos o pescoço de dois belos e gordos patos, eles ainda chiaram. Tentando não fazer barulho, saímos pela portinhola do fundo do quintal direto para o bar, onde o cozinheiro já esperava. Foi uma bela noitada de pato assado.
No sábado, com a cara mais cínica, estávamos jogando botão em minha casa quando Dona Zeca, voltando do quintal, foi taxativa:
-“Ontem roubaram dois patos de meu galinheiro. Não sei como conseguiram, só tenho certeza que foram vocês, seus cabras safados, sem vergonhas!” e desatou a rir.
Outra vez, estávamos jogando futebol no quintal do Dr. Hélio Gazanneo, na Silvério Jorge, a bola caiu no quintal vizinho, era a Fábrica de Cama Progresso de Napoleão Barbosa, Quico pulou o muro, retornou a bola, chutou por cima do muro. Ao ver uma plantação de melancia, não resistiu, arrancou uma enorme, pela cerca dos fundos rolou a pesada melancia para o quintal do Dr. Hélio. Na hora do almoço chega Quico em casa, cansado, com melancia nos braços, dá de encontro com Dona Bi, sua mãe, que ao saber a origem, mandou devolver imediatamente. Foi um castigo Quico voltar com a pesada melancia até a fábrica. Quando passou por minha casa, entrou e gritou na maior cara de pau:
- Dona Zeca olhe aqui o presente que trouxe para senhora.
Mamãe ficou agradecida ainda que desconfiada do repentino presente. Quico livrou-se de carregar a pesada melancia até a fabrica e a vergonha de devolver o roubo.
Foi assim nossa juventude. Eram assim os meninos da Avenida

O HIPNOTIZADO (MELÉ) por Lelé

Final dos anos cinqüenta. Brasil já campeão do Mundo. Os americanos enfiaram goela abaixo da nossa classe media ignara, uma revista de variedades, Seleções do Reader´s Digest, de grande conotação anticomunista, tanto que chegou a espalhar que os russos comiam criancinhas, por via oral, claro, pois quem gosta de comê-las por outras vias são os padres de Boston. Deixa pra lá, isto não vem ao caso. Foi só uma demonstração de minha simpatia pela política hipócrita de nossos irmãos do norte.
O fato é que esta revista propagava na época que um padre americano (êpa!) através de hipnotismo curava mazelas de origem psicológica tipo perda de memória, gagueira, etc... Este padre esteve em Maceió e fez até uma exibição no pátio do Colégio Diocesano. Foi o maior sucesso. Muita gente na cidade se achou também um hipnotizador. Só na Avenida, havia pelo menos quatro deles: Lizardo, Rafael, Alberto e Quico.
Porém havia apenas um grande hipnotizado. Mardem Carneiro. Melé para os amigos, porque seu pai era representante da cachaça com este nome que fazia maior sucesso na época. Além de Melé ser gago, chegava ao transe hipnótico com grande facilidade. Portanto, prato cheio para os pretensos hipnotizadores da Avenida.














GAZETA DE ALAGOAS – 13/9/1957 – PROPAGANDA DA CACHAÇA MELÉ **** MARDEM NA MINHA BICICLETA PATAVIUM
Certa noite, no banco da Avenida em frente ao seu Pádua, Quico com um broche roubado de Dona Bi pendurado num cordão, substituindo assim o relógio de algibeira do padre americano, e com uma grande platéia (até nossas irmãs assistindo ao espetáculo), começou uma sessão de hipnotismo.
Mandou Mardem Melé dormir com o pêndulo do broche se movimentado na cara dele. Mardem logo entrou em transe.
- Melé, você não é mais gago, fale qualquer coisa.
- Nã–nã-não tem je-jeito. Sô–sô-sou ga-ga-go mesmo.
- então Melé, você está em casa sozinho, ...
Aí Mardem Melé começou a desabotoar a braguilha. Foi um deus-nos-acuda. Todo o mundo uníssono: ACORDA, MELÉ, ACORDA...

Outra noite, no batente da casa do Cuíca, esquina da Silvério Jorge com o beco Emilio Cardoso, onde Alberto fazia plantão para... deixa pra lá. Bem, Mardem sentado no batente e Rafael Perreli hipnotizando.
- Melé, você não é mais gago, fale qualquer coisa.
- Nã–nã-não tem je-jeito. Sô–sô-sou ga-ga-go mesmo.
- Melé você está em casa sozinho. Está com vontade de fazer o que?
- Tô–tô-tou com Von-ta-ta-de de fu-fu-mar.
Rafael pegou um pedaço de pau e enfiou na boca do Melé :
- Pode fumar, você está com um cigarro aceso na boca.
- I-I-Isto nã-não é ci-ci-garro. Que–que-ro um ci-ci-garro mesmo.
(Nós os pivetes, raramente fumavamos um cigarro inteiro, só quando nosso pai deixava uma carteira de cigarro de bobeira. Isso era privilégio dos maiores, ainda assim, eles não andavam com carteira, compravam cigarros a retalho na venda do seu Nelo. Os menores tinham mesmo é que se satisfazerem com as tóias dos maiores) .
Perreli para não perder a pose de hipnotizador colocou um cigarro verdadeiro na boca de Melé , mas com o intento de pegá-lo de volta.
- Pronto, agora você pode fumar.
- O ci-ci-garro nã–nã-não tá a-a-ceso.
Rafael puto da vida, mas sem querer perder a pose, acendeu o cigarro. Então Mardem Melé dá uma baforada e sai na maior carreira: “ O-O-BRI-BRI-GADO , FA-FAEL PE-PELO CI-CI-GARRO”. Era a glória do pivete fumar o cigarro inteiro.
Agora, se Mardem dormia, se ficava em transe hipnótico durante a sessão, ninguém hoje pode responder. O segredo foi pro túmulo. Mas para mim, amigo do peito, era mais uma molecagem do maior maloqueiro que a Avenida já teve. Grande Melé.
(LELÉ – setembro 2007)

FILHO DO GENERAL COM NEGA ODETE por Paulo Ramalho

Lá pelos anos 57, quando éramos meninos livres e felizes da avenida, nos períodos de férias, a nossa vida era durante as manhãs, jogar futebol na praia, a tarde fazer trincheiras para guerrear com bolas feitas de areia molhada e areia seca para endurecer, ou então jogar ximbra, soltar arraia, hoje, bola de gude e papagaio, ou então jogar pinhão, o que fazer não faltava.

À noite, o tradicional encontro no banco que ficava defronte onde hoje é a Rua Emílio Cardoso, bem próximo ao coreto, depois ou saiamos juntos, ou cada um tomava o seu destino, ou ainda, permanecíamos até a hora de voltar para casa.

Certa noite de Ano Novo, após a confraternização em família, fomos nos encontrar no tradicional banco. Não me recordo quem chegou com uma garrafa de uísque.

- Como vamos beber, sem copo e sem gelo?

Foi quando avistamos um carro de raspadinha que se aproximava. Chamamos o rapaz, negociamos a barra de gelo, na condição de fornecer os copos e ficar até terminar o uísque.

É claro que somente efetuamos o pagamento combinado, no final
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Nessa época, o Lele pegou um bronze tão violento, todas as manhãs na praia, que ganhou um apelido, que o acompanha até hoje, Nego Lele. (Negro)


Todas as vezes que me encontrava com ele, dizia:

- Neguinho você é filho do General com a Nega Odete.

Nega Odete era uma empregada doméstica da pá virada, trabalhava na casa de Marcos Montenegro, que morava na esquina ao lado da então Faculdade de Engenharia, na Praça Sinimbu.

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A tal Nega Odete, ensinou a arte e ofício, a muitas gerações de Maceió, e o Marcos veio a ser meu colega no Colégio Diocesano.
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Eu não perdoava, todas as vezes que avistava o neguinho, dizia:

-Neguinho você é filho do General com a Nega Odete.

Certo dia, terminei o almoço, e me dirigi a casa do General, a fim de encontrar com Lele, Carlito seu irmão, para irmos a esquina próxima a casa deles, onde tradicionalmente saboreávamos um cigarrinho e pilheriávamos.

Quando chequei ao terraço onde a família almoçava, todos estavam sentados à mesa almoçando, então o sem-vergonha do neguinho veio à desforra:

- Paulinho, diga agora que sou filho do General com a Nega Odete.

Infarto não podia ter, porque não tinha idade para tal, nem sabíamos naquela época da existência desse mal.

Dei meia volta, e sai como uma bala, passando um bom tempo sem lá voltar.
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Mas logo o fato foi esquecido e voltei a freqüentar a casa, porque nós éramos tratados pelas mães de nossos amigos, como se filhos fossemos.

Infância que tenho certeza, poucos tiveram.

Ainda somos amigos irmãos, e nos encontramos toda primeira quinta-feira do mês, para almoçar juntos no Restaurante Picuí, esquina com a Rua Emílio Cardoso, primeiro da turma a partir para outra vida.

Era ali defronte que ficava o banco, principal ponto de encontro e início da noite.

Eita tempo Bom!