sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

OS MENINOS DA AVENIDA por Carlito

A teoria é de Chiquinho Nemésio, campeão señor de tênis pelo Brasil, quem teve uma juventude como nós em Maceió, ou outra cidade nordestina nos anos 50/60, não precisa freqüentar divã de psiquiatra.
A infância fica impregnada em nossa personalidade. Nossas cabeças são feitas pela vida que levamos dos 5 aos 15 anos. Essa é a idade mais importante na formação de um ser humano.
Nós meninos da Avenida da Paz tivemos uma vida solta, liberdade completa vivida num paraíso chamado Maceió. Sequer existia a palavra droga, violência ou medo. Nossos pais controlavam apenas a hora da entrada em casa. O bairro de Jaraguá era como se fosse quintal de nossas casas, além do mar verde-azulado da praia da Avenida da Paz, onde a moçada jogava bola, nadava, corria, paquerava, deixava correr a fantasia, dentro dágua, em intenção às gostosas que se estiravam na areia da praia. Tínhamos também um bucólico riacho desaguando no mar, onde a moçada tomava banho, pescava, pegava caranguejo goiamum em suas margens de manguezais. Era o Salgadinho, hoje
um esgoto a céu aberto, um cancro urbano, a vergonha de nossa cidade.
Na Avenida todos se conheciam, os meninos eram tratados como filhos na casa dos amigos, durante as tardes e noites quando não era hora de estudo, estávamos jogando botão, reunindo o time de futebol Atlântico ou outra qualquer brincadeira.
Mas naquela turma não tinha santo. Havia um pequeno bar em Jaraguá nosso local predileto da sexta-feira, onde traçamos muita galinha, peru ou pato assado, afanado por nós na vizinhança. Uma das maiores vítimas era Dona Zeca, minha mãe.
Certa vez ela ganhou 4 lindos patos, colocou-os no galinheiro no fundo do quintal, mandou reforçar as telas, colocou um cadeado na porta. Ao passar pela turma que jogava botão, falou com seu bom humor, desafiando.
- Agora quero ver vocês roubarem meus patos.
Aquilo foi uma provocação. Primeiramente pensamos em fazer uma cópia da chave. Mas só havia uma guardada fielmente com a empregada que todo o dia limpava o galinheiro,
tratava, dava de comer aos patos e galinhas. Em um reconhecimento, examinando o cadeado, Cuca, meu primo, lembrou que havia um igualzinho àquele em sua casa. Na hora de Luzia, a empregada, tratar o galinheiro, ela abriu a porta e deixou o cadeado com a chave pendurado, numa operação rápida e precisa Cuca trocou os cadeados.
No início da noite da sexta-feira como se estivéssemos assaltando um banco, sorrateiramente e silenciosamente, levando um saco de aniagem, abrimos o cadeado, do Cuca, com uma chave reserva, torcemos o pescoço de dois belos e gordos patos, eles ainda chiaram. Tentando não fazer barulho, saímos pela portinhola do fundo do quintal direto para o bar, onde o cozinheiro já esperava. Foi uma bela noitada de pato assado.
No sábado, com a cara mais cínica, estávamos jogando botão em minha casa quando Dona Zeca, voltando do quintal, foi taxativa:
-“Ontem roubaram dois patos de meu galinheiro. Não sei como conseguiram, só tenho certeza que foram vocês, seus cabras safados, sem vergonhas!” e desatou a rir.
Outra vez, estávamos jogando futebol no quintal do Dr. Hélio Gazanneo, na Silvério Jorge, a bola caiu no quintal vizinho, era a Fábrica de Cama Progresso de Napoleão Barbosa, Quico pulou o muro, retornou a bola, chutou por cima do muro. Ao ver uma plantação de melancia, não resistiu, arrancou uma enorme, pela cerca dos fundos rolou a pesada melancia para o quintal do Dr. Hélio. Na hora do almoço chega Quico em casa, cansado, com melancia nos braços, dá de encontro com Dona Bi, sua mãe, que ao saber a origem, mandou devolver imediatamente. Foi um castigo Quico voltar com a pesada melancia até a fábrica. Quando passou por minha casa, entrou e gritou na maior cara de pau:
- Dona Zeca olhe aqui o presente que trouxe para senhora.
Mamãe ficou agradecida ainda que desconfiada do repentino presente. Quico livrou-se de carregar a pesada melancia até a fabrica e a vergonha de devolver o roubo.
Foi assim nossa juventude. Eram assim os meninos da Avenida

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