terça-feira, 30 de junho de 2015

MÁRIO LIMA, O LEGENDÁRIO GENERAL DO POVO por Edberto Ticianeli

( BLOG historia de alagoas em fotos -  http://www.historiadealagoas.com.br)



Major Kleber, General Mário Lima e o governador Arnon de Mello


O jovem tenente Mário Lima

Mário de Carvalho Lima nasceu em Maceió no dia 24 de outubro de 1908. Era filho de Américo Araújo Lima e Amélia de Carvalho Lima.
Mesmo ingressando na vida militar muito jovem, o que normalmente tenderia a lhe dar uma formação disciplinadora e autoritária, Mário Lima desenvolveu um temperamento conciliador, mais para diplomata que para soldado.


Major Mário Lima

Ingressou em 1925 na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro. Cinco anos após era declarado aspirante à oficial e designado para o 5º Regimento de Infantaria em Lorena­, São Paulo.
No ano seguinte, em 1931, chega a 1º tenente e passa a servir no 20º Batalhão de Caçadores, em Maceió, onde retorna ao convívio da família e dos amigos. Em 1932, embarca com o 20º BC com destino a São Paulo, onde participa da mobilização militar que sufocou a chamada Revolução Constitucionalista.
Por ter saído heroicamente da sua trincheira e socorrido um soldado e um coronel feridos, que arrastou enquanto rastejava, foi convidado para ser Ajudante de Ordem de um general no Rio de Janeiro, para onde levou toda a família.


Família Peixoto Lima

Em 1934, casa-se com Maria José Peixoto Lima (Zeca), que se tornou a sua eterna companheira e com a qual teve cinco filhos: Rosita, Mario Humberto (Betuca), Carlos Roberto (Carlito), Américo José (Lelé) e Maria do Socorro (Socorrinho).
Com a deflagração do episódio que ficou conhecido como Intentona Comunista, em 1935, Mário Lima deslocasse com sua tropa para Natal, onde enfrenta fogo cerrado e perde seu amigo sargento Jaime Pantaleão, alagoano de Pilar. Foi Delegado da DOPS em 1937.


Comandante do 20º BC, coronel Mário Lima

Em 1939, compra a casa da Rua Silvério Jorge, em Jaraguá, que teria sido de uma amante do governador Costa Rego e vai morar lá com a família. Carlito Lima, seu filho, lembra assim da casa: “sempre festiva e aberta aos amigos, muitas vezes funcionou uma espécie de exílio de perseguidos políticos a boêmios desamparados”.
Já capitão, em 1944, Mário Lima foi transferido do 20º BC para Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro. Um pouco antes do final da Segunda Guerra, em 1945, foi estagiar no The Infantary School Fort Benning, nos­ EUA.


General Mário Lima

Em 1946 é promovido a major e regressa ao 20º BC em Maceió, quando consegue se formar pela Faculdade de Direito. No início do governo de Arnon de Mello é chamado a assumir o comando da Polícia Militar.
No período entre 31 de março de 1952 e 6 de dezembro de 1954 assume o comando do 20º BC. No final do governo de Arnon de Mello, no dia 2 de junho de 1955, lhe é entregue a Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, Justiça e Segurança Pública. Foi ainda Comandante da Guarnição Federal em Alagoas.


Mário Lima presidente do Orfanato São Domingos

Mário Lima ainda dirigiu a TELASA e teve participação atuante em sua comunidade. Dirigiu clubes sociais e esportivos, como o CRB e Fênix Alagoana. Foi ainda diretor do Orfanato São Domingos e provedor da Santa Casa, entre outros.
Foi presidente da Federação Alagoana de Desportos, juiz de futebol, diretor do Lions e Rotary. Era também reconhecido como excelente professor de matemática. Como escritor, era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e recebeu o prêmio Jayme de Altavila da Academia Alagoana de Letras.


Mário Lima também foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Maceió

O general Mário de Carvalho Lima faleceu em Maceió quando tinha 84 anos, no dia 6 de janeiro de 1983.

Obras:

Floriano e Barroso, Maceió, 1939.
Sururu Apimentado, Apontamentos para a História Política de Alagoas, apresentação de Franklin Casado de Lima e Paulo de Castro Silveira, Maceió, EDUFAL, 1979.
A Revolução de 1930 em Alagoas, Revista do IHGA, v. 31, 1974-1975, Maceió, 1975, p. 31-57.
Plácido de Castro o Libertador do Acre, Revista IHGA, v. 32, 1975-1976, Maceió, 1976, p. 135-148.
Participação de Alagoas no “Trampolim da Vitória” – 2ª Guerra Mundial – 1941/1945, Revista do IHGA, v. 33, 1977, Maceió, p. 45-91.
Assembléia Constituinte Estadual de 1935 Agressiva Campanha Política para Eleição Indireta do Governador do Estado, Revista IHGA, v. 36, 1980, Maceió, 1980, p. 43-68.

Fontes:
ABC das Alagoas.
Blog Meninos da Avenida.
Várias entrevistas e crônicas do seu filho Carlito Lima.
Site do 59º BIMtz. http://www.59bimtz.eb.mil.br/index.php/comandantes.
Arquivo pessoal de Américo “Lelé”, seu filho.


Coronel Mário Lima, Théo Brandão e Carivaldo Brandão na operação salvamento do Gogó da Ema em 1955


Capa do livro Diário de um soldado alagoano no front da Revolução de 1932


Capa do livro Sururu Apimentado

OS TARADOS DA AVENIDA por Carlito



No início do século XX, Bebedouro era o bairro mais chique, mais festeiro, mais rico de Maceió. Restam algumas mansões, bonitos palacetes de famílias tradicionais embelezando o bairro. 

                 O Brasil não foi à Guerra, entretanto, ao terminar a Primeira Guerra Mundial (1918), o prefeito de Maceió comemorou com o povo o fim da guerra na então “Praia do Aterro”. Depois de bons goles de cachaça, prometeu, ali construiria uma bela Avenida, a Avenida da Paz.

             Político de palavra ( existia antigamente), logo iniciou a obra, a Avenida ficou linda, começou a desbancar Bebedouro, a burguesia foi se transferindo para a Avenida da Paz, construindo belas casas, mansões. Nessa época apareceu a moda do “banho salgado”, hoje banho de mar, a mulherada moderna vestia maiô até o joelho, caía na água. Maior sucesso, alguns achavam um escândalo. Vinham homens, velhos, meninos do interior apreciar as modernas senhoritas de maiô aparecendo a batata das pernas, causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram aparecendo os primeiros “tarados”. Nos anos 40 o maiô já havia diminuído o tamanho, subindo até a metade da coxa, quanto mais diminuía o tamanho do maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na esplêndida praia da Avenida da Paz.

         Nos anos 50 eu era um jovem maloqueiro de praia. Nadava singrando a calmaria do mar azul esverdeado, pulava da cumeeira dos trapiches mar adentro, jogava bola na areia dura, pescava nas jangadas, puxava rede, a Avenida da Paz foi berço esplêndido. Entretanto, o esporte predileto dos meninos da avenida depois do futebol, era ficar na areia olhando, que nem jacaré, as belas mulheres estendidas na areia, pegando um bronzeado. 

          É próprio do homem o “voyeurismo”, olhar os encantos da mulher. Alguns não se controlavam, praticavam o onanismo em esdrúxulas situações. Naquela época, os meninos com cara de santinho frequentavam rodas de conversas das moças na praia, olhavam discretamente o corpo dourado das jovens, quando entravam na água não havia quem segurassem.

       Gaguinho era mestre, aproximava-se das desavisadas de maiô, deitava de bruços, cavava uma cova, adaptava a mão, estimulava suas fantasias. Certa vez, um amigo percebeu o Gaguinho em posição de trincheira perto de sua belíssima irmã, foi chegando por trás, devagar, de repente virou o Gaguinho em vias da apoteose final. Levaram o “tarado” para a Delegacia de Jaraguá. Ficou preso.

        Certo verão ela apareceu vestindo o primeiro biquíni em Maceió. Bonita ruiva, dizia-se atriz, hóspede do Hotel Atlântico, sustentada por um rico fazendeiro. Toda manhã descia à praia, como de fosse uma liturgia, estendia a toalha, enfiava o pau da sombrinha na areia e armava. Devagar, cheia de preguiça, tirava a blusa, aparecia parte do biquíni pouco cobrindo os seios. Em seguida, como fosse um strip-tease, descia lentamente o short requebrando os quadris, movimentos harmoniosos, sensuais, passando pelas pernas até transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito como se chutasse o vento. Ainda em pé, dobrava o short, a blusa, colocava-os junto à sombrinha. Deitava lentamente, de bruços, deixando o sol da manhã acariciar suas pernas, seu dorso. Foi o grande espetáculo daquele verão. Os homens se deliciavam com o ritual erótico da musa dos cabelos de fogo. 

             “Chaina”, sua cachorrinha pequenez, ficava amarrada no pau da sombrinha. Às vezes, ela se soltava para alegria da moçada correndo, tentando capturá-la para receber o agradecimento, e olhar de perto as penugens douradas nas coxas da magnífica. Depois que Chaina começou a frequentar a praia, o número de tarados aumentou nos mares da Avenida.

        Muita gente graúda entre eles. Certa vez fizemos uma votação para eleger o maior tarado da praia. Em terceiro lugar, "Punho de bronze", foi para um jogador de futebol. Segundo lugar, "Punho de prata", ganhou um coroa, vestia um velho calção de banho, passava o dia vadiando na praia. E primeiro lugar, "Punho de ouro", fez-se justiça, ganhou um comerciante muito conhecido, era prático, profissional, conta a lenda, todas as suas calças tinham bolsos furados.

        Hoje, ao caminhar pela praia da Jatiúca, apreciando os corpos deitados, belamente bronzeados, lembro dos velhos tempos da Avenida da Paz. Com tantas mulheres semi nuas, os tarados da Avenida iriam enlouquecer.

sábado, 6 de junho de 2015

MEU QUERIDO PRIMO WALTER por Carlito



Sábado à noite senti-me atordoado quando Socorrinho telefonou-me comunicando sua morte, uma tristeza profunda me invadiu, chorei, chorei feito um menino, aquele menino que nós fomos. Puxei sua foto no computador, de paletó, sério, como sempre foi na vida. Encarando a foto revi nos vestígios da memória um pouco de nossa história. Nascemos três primos em 1940, Mario Jorge em janeiro, eu fevereiro e você em março. A mais nítida recordação do fundo do baú é 1946, a chegada do navio Itanajé com minha família ao porto de Maceió. 

Tínhamos morado dois anos no Rio de Janeiro, o Capitão Mário Lima retornava à sua terra, alguns dias navegando na imensidão do mar finalmente chegamos a Maceió numa fascinante e luminosa manhã, o mar de um verde azulado, durante o ancoramento olhei ao longe a praia branca cercada por casas pequeninas, mal sabia, era a Avenida da Paz, seria o cenário de nossa infância, de nossa vida. Do navio direto para casa da Vovó Melinha, foi meu primeiro contato com a praia da Avenida. Durante o almoço misturavam-se parentes e amigos, lhe conheci, meu querido primo, você foi meu primeiro amigo de infância. Depois do almoço a grande família colocou cadeiras em baixo das amendoeiras, conversas, sorrisos, sonhos. Nós fomos brincar no coreto da Avenida, pulando abaixo, jogando futebol, corremos a praia de areia branca, molhamos os pés naquele mar que seria meu mundo.


        Meu pai alugou uma casa na Avenida, aos domingos, você, Mario Jorge e Warren vinham à praia, antes do banho de mar, jogar futebol na areia quente, brincar na Avenida, nossa praia, éramos os donos da Avenida.


   Muitas vezes o centro de nossas brincadeiras foi sua casa, centro de Maceió, Rua da Alegria 61. Todo dia 1º de janeiro, aniversário de sua irmã, Vânia, uma festa a correria perto da Rua do Comércio, inesquecível a Sorveteria Xangai de Seu Fon, sinto ainda o paladar, o sabor do crocante sorvete de chocolate.


      Certa vez inventamos de organizar um time de Futebol, Atlântico Futebol Clube, camisa branca com faixa vermelha no peito. Jogávamos todo sábado. Seu tio Mário, meu pai, era coronel do 20º BC, facilitava o jogo naquele campo maravilhoso. Inventávamos campeonato, contra times do Farol, Poço, Pajuçara. Você jogava com um gorro enfiado na cabeça, moda naquela época, melhorar cabecear ao gol. Quando ganhávamos  na terça-feira saía na Gazeta de Alagoas: "Vitorioso o Atlântico, batido o Palmeiras por 5 x 3". Quando perdíamos nosso repórter esquecia de passar a notícia.

Infância, livre, leve e solta, juventude alegre, saudável, hormônios à flor da pele. O homem é o produto do meio, levamos nossa infância por toda vida dentro de nós, agora, Walter, primo querido, você levou a feliz infância para a eternidade. 


Certa vez, você me convidou a estudar matemática com o professor Benedito de Moraes na Praça das Graças. Assistíamos as aulas juntos, ganhamos muitos lápis acertando problemas, tenho forte base matemática, raciocínio lógico, cartesiano, graças ao Professor Benedito, graças a você, meu primo. Tomamos rumos diferentes, fui para Escola Militar, você para escola de Medicina, tornou-se competente médico, o primeiro cirurgião pediatra das Alagoas. Eu tinha maior orgulho. Encontrávamos sempre nessa Maceió, certa vez você me confidenciou, ia noivar com Marta.

 Ao nascerem meus filhos você os pegou, acompanhou-os o resto das vidas, assim como milhares de crianças nessa cidade. Walter você foi cedo, 75 anos, entretanto, nos deixou o legado de sua honestidade, seu amor à medicina, às crianças, e nos deixou ainda seus filhos Ana Paula, Walter, Danilo, Eduardo, e a Betinha.

É isso mesmo, primo velho, tem de ter coragem para viver dignamente, a única certeza da vida é a morte, aliás, é a única niveladora da igualdade humana. Certa vez li um livro de Hemingway, iniciava com um poema de John Donnne, diz mais ou menos assim. "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

  Ouço os sinos, dobram por mim, até mais ver, querido primo.