quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A VOLTA DO FENIANO por Paulo Silveira

Que foi, foi, uma festa linda, Maravilhosa. A alegria dominando o vasto salão. As serpentinas traçando riscos multicores. As chuvas de confete prenunciando um grande carnaval. Todos riam contentes. Era como se fosse uma enorme família. Fosse não. Era mesmo uma enorme família “feniana” a espera da chegada do ano novo – 1967.

De repente, a orquestra toca o Hino Nacional. O silêncio agora é profundo. Ouvia-se somente a música, símbolo da Pátria querida. Os emotivos faziam força para não chorar. Outros, recordavam terras distantes. Parentes que partiram para sempre.

Logo mais, chegaram os abraços. Lábios colavam-se nas taças de champanhe. Era a família reunida, democraticamente. Jovens e velhos. Todos, todos cantavam e dançavam saudando o ano que vinha do berço que se chama tempo.

Bem que essa missão não é minha. De escrever ou descrever uma festa, que não sou cronista social. Mas faço esse registro como secretário do meu querido Clube Fênix Alagoana, do clube da minha mocidade e de minha velhice. Faço esse registro como se estivesse redigindo uma ata.

E recordo. Recordo um passado gostoso. Dos dias bons. Dias maus. A segunda grande guerra envelopando minha geração em fardas do Exército. Os Natais que eram pretensiosos, envoltos no “Black-out”. Os submarinos nazistas, eram como hienas no fundo do mar, farejando a costa brasileira. Mas a velha Fênix nos aconchegava, e dentro de seus salões eu e meus colegas éramos novamente “fenianos”, fardados de branco. Esquecíamos o que de ruim nos esperava.

Lá está nesta primeira madrugada de 1967 o Barnabé Oiticica. Não mais é o jovem tenente de artilharia. E’ o senhor casado, usineiro, cercado da esposa e filhos. O seu menino repete as façanhas do pai, e vem para o salão dançando com os brotos de hoje.

No meio dessa alegria, eu sinto falta de Hermann Almeida. Engulo uma dose de uísque. Quero afogar minha saudade. Matá-la. Esquecer. Brincar. Sorrir. Se a vida é tão curta e ninguém sabe qual o primeiro que partirá!

Aos pouco, a velha e querida Fênix me domina. Chego a ser feliz. Estou com minha esposa, minha filha, meu futuro genro, meus irmãos, e meus sobrinhos. E devo tudo isso ao meu clube, que me retirou da cama, da meditação, me transformou num sujeito alegre, quando minutos antes, eu era uma espécie de escafandrista, mergulhado no fundo de um mar de recordações, vendo meu pai, minha mãe, meus amigos. Amigos como o motorista Franklin Bezerra – o seu Franco – quase um irmão, que durante tantos anos, nunca me largou.

A Fênix é meu doce refúgio. Estou alegre, já agora quando a madrugada vem. Que bom a gente abraçar afetuosamente os conhecidos. Desejar a todos bons anos.

Repentinamente, ouço a voz do Presidente em exercício Ardel Jucá me convocando. Processa-se a eleição e posse da nova “glamour-girl” da Fênix, a linda menina-moça Laura Baia Quintela, um bibelô, um poema transformado em gente.

Mas a grande surpresa veio em seguida, quando Ardel Jucá, com sua voz compassada, disse:

Convido para vir até aqui o maior de todos os foliões “feniano”, o Sr. Luiz Ramalho de Castro.

Acredite leitor, quase que as palmas faziam tremer os alicerces do ginásio. Estava ali Luiz Ramalho, o seu Ramalho da Costeira, o folião dos grandes carnavais, o Rei Momo espontâneo que brinca com ingenuidade. O folião atravessou várias décadas fazendo o passo com sua esposa, seus filhos e netos.

Estava ali um homem digno, com os cabelos brancos como o de um Papai Noel, bondoso e generoso. Estava o seu Ramalho da Costeira que de seu bolso pagou muitas passagens para que jovens numa segunda classe fosse tentar a vida no sul, como aquele personagem cancioneiro popular que diz:

“Tomei o Ita no Norte”.

E foi essa a primeira emoção de alegria que experimentei neste ano de 1967. Quando o sol, que é um astro-rei, surgiu na avenida, prateando o mar, saudando o ano novo, eu pedi a Deus pelo meu povo, pelos meus amigos e até pelos meus inimigos, se é que os tenho. Era uma grande hora que devo registrar para a história social de minha terra. O Ardel Jucá convocando um outro Rei, Rei do Carnaval, Rei da Alegria, Rei pela bondade de seu coração, pela sua popularidade espontânea. O seu Luiz Ramalho, era ali, naquela festa de confraternização, a mais humana figura que encheu de satisfação, de prazer aquele mundo de gente que registrou com suas palmas – palmas dos jovens e velhos – que saudaram com o ano novo A VOLTA DO FENIANO.

UM REI TAMBÉM MORRE por Paulo Silveira

Os súditos têm a impressão que o rei não morre. E quando isto acontece, surge um desapontamento geral, embora o reinado continue a existir pelo sistema de direito em que se apóia a coroa e que oferecer oportunidade para o sucessor ocupar o trono.

Aos poucos tudo vai se adaptando dentro da paisagem. Quase sempre o sistema é parlamentarista, e o rei vivo, reina, mas não governa.

Por duas vezes, num regime tradicionalmente republicano democrático, o mundo sofreu o impacto da renúncia de cidadão um presidente. Quando ele morreu, simples cidadão da França, desapareceu também um sistema de governo que um só Charles De Gaulle sabia impor para tirar sua pátria dos abismos fabricados pela ambição dos aventureiros.

Era um rei sem coroa. Um rei que criou o “Degaulismo”, que é também um sistema de direito constitucional fortalecendo o Poder Executivo, para evitar crises e anarquia.

Existem muitos reis sem coroa. Reis que levaram e ainda levam alegria para o povo. Reis como Maurício Chevalier, como Charles Chaplin, como o atleta de pernas tortas, Garrincha, hoje envolto nas suas angústias, nos seus complexos. Rei como Pelé.

Pois Alagoas perdeu um rei. Um rei sem coroa. Mas um rei popular. Um rei que nos carnavais, com sua alegria, comandava multidões democráticas. E cantava, e dançava, e sorria, com aquela mesma disposição que dirigia os “itas”, e os “aras” da Companhia de Navegação Costeira, organização que representou tantos anos em nossa terra e que o tornava um LEADER, um CICERONE, um relações públicas, como se diz hoje, do cais do porto de Maceió.

Morreu Luiz Ramalho de Castro. A cidade está crescendo. Espalhando-se pelos tabuleiros, pelos mangues, pelas praias. Subindo verticalmente através de seus arranha-céus.

Mas, com a morte de Luiz Ramalho de Castro, Maceió ficou menor, pois a grandeza da alma desse homem que partiu não tinha limites.

Morreu um rei que era um bom pai, bom esposo, bom amigo. Tinha que morrer, porque chegou seu dia, porque diante da morte até um rei bondoso capitula.

Para o povo, todavia, Luiz Ramalho ficará na lembrança de um toque de clarim quando fevereiro chegar. Porque será carnaval, uma festa que encherá de recordações os que amavam você, Luiz. Você que era bem um símbolo de bondade num mundo de traições, de inveja e de terroristas covardes que espalham a morte.

JORNAL DE ALAGOAS – SÁBADO, 15 de abril de 1972

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FATOS E RECORDAÇÕES DA MINHA INFÂNCIA NA AVENIDA por Eurico Uchoa

Como é prazeroso relembrar aqui alguns fatos de minha infância. A amizade que iniciamos naquela época continua sendo marcante em nossas vidas. Nossos encontros mensais de hoje são a prova disso.

BANHOS DE MAR – Os banhos de mar na praia da Avenida eram deliciosos e as brincadeiras na areia também. Mas estávamos sempre atentos ao que se passava em volta. Certa vez, o irmão do Seu Heráclito Lima, que morava no sul, chegou por aqui. Ele tinha o hábito de dar um mergulho diário no mar. Fincava um pedaço de galho de amendoeira na areia, marcando assim o local onde havia escondido a chave de casa. Certa vez, assim que ele foi mergulhar, fincamos rapidinho um monte de galhos parecidos...

MANGAS ROSAS - Minha casa era vizinha da D. Maristela – mãe do Lelo, Lula, Tereza e Clarissa. Subíamos o muro da Villa Olinda (nome da nossa casa) para alcançar o telhado e de lá atingíamos a mangueira. As mangas rosas eram deliciosas e sempre saboreadas ali mesmo na calçada pela turma da Avenida.

CARRO DO DR HOMERO - A “fobica” do Dr. Homero era pilotada pelo Tonho que todas as manhãs conduzia os estudantes no Centro da cidade, para os Colégios Anchieta, Batista, Diocesano e Estadual. Lá ia eu, minhas irmãs e outros colegas. Se a boléia daquela camionete Ford falasse...

SAPATO DO SEU LUIZ - Lembro-me do famoso sapato preto do Seu Luiz Policarpo (empregado do Dr. Homero). Foi usado por mais de 20 anos e nunca soltou o selo de fabricação.

ROLETES DE CANA - Alberto e Valdo disputavam sempre o último rolete de cana na porrinha!!!

BANQUINHO DA PRAIA – Acirradas discussões sobre política aconteciam antes das eleições no banco da Avenida , em frente ao Beco Emilio Cardoso, principalmente na época da turma do Brizola.

CLUBE FÊNIX ALAGOANA – Das festas tradicionais do clube (aniversário, reveillon e carnaval), temos boas e divertidas lembranças...

JARAGUÁ TÊNIS CLUBE - Minha avó, mãe de meu pai, morreu numa quarta-feira e no sábado era o dia da Festa Macabra no Clube Tênis. Pedi para Tia Bel fazer uma fantasia de “Alma Penada” dizendo que seria usada pelo Ricardo Peixoto. No sábado, disse para família que iria dormir fora de casa, mas fui mesmo para festa. Na volta, traído pelo álcool, esqueci do que tinha inventado e ao voltar em casa, meu pai se deparou com a cena. Seu Ribemont, meu pai, ficou irado com o desrespeito pelo luto. Tentei explicar que de qualquer forma, era uma FESTA MACABRA, com caixões e velas por todos os lados, mas não escapei de 30 dias de castigo sem sair de casa.

FAMILIA GALVÃO – Lembro muito da família Galvão, vizinha da AABB na Avenida. Os filhos, bem menores que a gente, sempre nos ajudavam guardando lugares no cinema da AABB das quartas-feiras. Augusto Galvão, hoje um grande amigo, é um deles. Ele, Isolda e seus irmãos menores foram sempre os primeiros a chegar à sessão.

DIA DE NATAL – Por muitos anos, logo depois que ceávamos com nossos familiares, Emílio, Lelé, Tonho, Cuíca, Ricardo e outros ( a memória já não me ajuda ), íamos a pé até a festa da praça da Faculdade de Medicina, no Prado. Certa vez fomos assistir a um show de “Jararaca e Ratinho”, no palco montado perto do Memorial. Para tirar onda com Ricardo, que ia abrindo caminho na multidão, Emílio deu um tapa na careca do Ratinho e saiu despistando. A confusão formou-se em torno do Ricardo que estava na frente. Mas como nossa turma era “todos por um e um por todos” fugimos juntos do ambiente pesado !!!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

OS 15 ANOS DE BEBÉ por Chiquinho Nemésio

Albertina Nonô Lima, filha de D. Santina e profº. Albérico Lima tem como único irmão o Dr. Alberto Nonô Lima (CUCA), hoje famoso advogado de Alagoas.

Dr. Albérico Lima, pai de Bebé, foi meu professor de contabilidade, no Curso de Ciências Econômicas, que funcionava no prédio da “Perseverança”, á Rua do Sol! Quando lecionava, sua movimentação na classe era quase nenhuma, porém, ficava indo e vindo, em um passo adiante e outro para trás, daí o apelido de “professor Pastoril”.

Mas, vamos ao aniversário de 15 anos da Bebé.

Bebé sempre foi uma menina esplendorosa e radiante. Era realmente a “MUSA” da Avenida da Paz!

Já mocinha, quando vestia seu maiô preto (naquele tempo não se usava biquíni), parava nossa tradicional pelada de futebol ou vôlei! Realmente Deus ajudou muito a nossa Musa!

Pois bem, D. Santina permitiu que a filha convidasse toda a turma da Avenida para a festa dos seus 15 anos! Principais Convidados: Diógenes Gama, Orlando Meira Góis, vulgo CABANA, os primos Betuca e Carlito, Eduardo Jorge, Zé Maria irmão do Cabana, Werter e Wolney e muitos outros!

Sua mãe que era muito pródiga mandou servir bebida e comida á vontade! Nós, bons “de copo”, enfiamos a cara. Resultado, descobrimos que havia uma bebida nova para nós! GIM Tônico! E enfiamos a cara!

Resultado: Eu lembro que subi em uma mesa, fiz discurso, dancei e, no fim, tomei GIM “puro” sem água tônica. Foi um porre geral. Eu estava sozinho em minha casa e levei uns bêbados para dormir lá, pois, meus pais estavam viajando. Terminamos a farra bebendo uma garrafa de vinho que papai havia deixado em cima da cristaleira!

Resumo da ópera: Cabana que estava de “paquera” com a aniversariante ficou na mão!

Eu até hoje, nunca mais tomei GIM na minha vida. Foi uma festa inesquecível!

GINCANA DE LAMBRETA por Chiquinho Nemésio

No ano de 1958, eu já era funcionário do Banco do Brasil. Comprei na “Casa Normande” a 1ª lambreta que circulou em Maceió. Ia para o trabalho de lambreta, ia para a Perseverança de lambreta e, á noite levava meu amigo Betuca na garupa até o bairro de “Cruz das Almas”, pois namorávamos duas irmãs!

Pois bem, certo dia chegou a Maceió um “galego” italiano, representante da marca Lambreta e organizou uma gincana (vide fotos).

Concorri formando dupla com meu irmão Hugo, também do BB, e representamos a AABB, que nessa época funcionava na Avenida, junto da minha casa. A competição foi na Avenida da Paz. Não precisa dizer qual foi a dupla vencedora: Eu e meu irmão.

Assim era a nossa querida Avenida da Paz!