domingo, 7 de agosto de 2011

DONA ZECA - A ÚLTIMA DAS MATRIARCAS por Carlito

Se é que pode existir, foi um enterro bonito, seus amigos foram chorar junto com a gente. A missa de cânticos lindos e sublimes fez parecer que a senhora estava sendo levada para algum lugar etéreo, puro, elevado, deve ser o céu mesmo.

Tudo foi muito comovente e dolorido. Seus filhos não lhe deixaram um instante. Seus netos naquelas horas de dor mostraram como a avó querida vai fazer falta.

A turma dos serviços estava no cemitério, inconsolável. É difícil, nesses tempos, empregados terem tanta dedicação e carinho ao "patrão". Cecília lavadeira de tantas épocas, chegou nas últimas horas, chorava, urrava, foi de doer no fundo da gente.

Maceió estava em peso no Parque das Flores. Desde os mais humildes até o governador, aquele, que a senhora era apaixonado, Divaldo, sabe? E o mais bonito é que os que lá chegavam, não era só pela família, foram mesmo lhe reverenciar, a senhora era querida demais.

Meus amigos, a maioria seus afilhados, choravam pela mãe Zeca, como carinhosamente lhe chamavam e lembravam os tempos das festas na Silvério Jorge. Os grandes almoços, os perus roubados que eram cozinhados e acobertados pela senhora. A sua alegria, sua energia, sua irreverência, sua bondade, seu amor à vida, todos comentavam.

Principalmente sua felicidade, porque mamãe nestes seus tantos anos, 50, foram convividos com outra extraordinária criatura o seu Mário Lima. Foi muito amor e felicidade.

São poucas a criaturas neste mundo de Deus que teve uma vida tão intensa de ternura, de vitalidade e desprendimento. Sua simpatia fazia bem a quem lhe cercava. A senhora passava esta energia positiva. Filhos, netos e bisnetos cresceram, se criaram juntos a sua saia.

Afinal no fundo, no fundo, com todo sua bondade, sua tolerância, sua indulgência, a senhora foi uma grande matriarca, a última das matriarcas. Porque estes tempos novos jamais produzirão uma outra dona Zeca.

Hoje terça-feira, era e seu dia, (filhos e netos cumpriam ritual de 10 anos desde a morte do general. O grande almoço semanal da mesa redonda na sua casa. Aquela carapeba que só dona Zeca sabia fazer. Tudo acabou. Como a senhora vai fazer falta, e como dói. Mas tenha certeza, nós não vamos desagregar. Seus filhos serão unidos, seus netos amigos.

Escrevendo em forma de relato para senhora, é porque como todo mundo sabe, a senhora ainda não teve tempo de olhar aqui para baixo, deve estar curtindo de montão, o seu amado Mário nesses paraísos de Deus.

É isso aí, Dona Zeca, todos lhe choram, mas têm sempre uma lembrança carinhosa alegre e cheia de vida para curtir.

“Ah, minha adorada mãe...Se lhe contasse que sua imagem adornei com flores..Que suas flores foram minhas preces...Preces colhidas nos jardins das dores.”

Gazeta de Alagoas janeiro de 1993.

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