quinta-feira, 28 de junho de 2012

RAFAEL PERRELLI por Cuca


Era da turma intermediária, mais que na adolescência já andava conosco nas caçadas, farras e namoros. Era o menor de três irmãos homens da família Perrelli. O Fael era uma figura notável, amigo fiel, valente, vaidoso, apaixonado pela namorada Gilda, destemperado principalmente quando se falava da namorada e dos irmãos, logo partia para brigar.

Dentre várias situações, vou detalhar algumas que tive o prazer de vivenciar; Eu adorava caçar todos os sábados na cidade do Pilar, onde residia o compadre Aloisio e,  tinha uma canoa que adquiri para as caçadas e pescarias; na primeira vez que chamei o Fael para participar de nossa distração semanal,  ele empolgado me acordou as 3 horas da matina, juntamente com Emilio seguimos no Guerreiro ( meu Jeep Williams 60), chegando na casa do compadre as quatro horas, ainda escuro.Após tomar um café com charque e macaxeira, seguimos para o porto onde embarcamos rumo a propriedade Lamas, já iniciando a atirar nos galos d´água, jaçanãs, socos, carões, marrecos  etc. Era época de inverno e com a lagoa cheia, transbordava para o vale ficando uma imensa  área alagada.

Ao chegarmos ao destino, descemos da canoa e seguimos a pés pelo grande alagado, depois de andarmos umas quatro horas, o corpo já pedindo um descanso, o Fael, gordo, começou a olhar para os lados, tudo alagado e subitamente apavorado, grita “Cuca eu quero terra, eu quero terra”. Foi uma gozação geral; ele ficava brabo quando alguns da turma para chateá-lo gritava  “quero terra, quero terra”.

Quando o sol esquentava ( onze horas), juntávamos a caça e voltávamos para a cidade, onde deixávamos os marrecos para assar no bar do Tonho, seguíamos para o Grajaú onde tomávamos um banho de bica e de volta, tomar cerveja e pinga com os pássaros de tira gosto, voltando a Maceió no final da tarde; era uma beleza.   

O Rafael, mesmo com o “quero terra”, tomou gosto com as caçadas, programou passarmos uma semana no seu sítio no Carrapatinho, fomos eu, nego Lelé, Fael e por insistência, como nosso cozinheiro o Bil Taveiros, primo de Rafael e um cachaceiro irrecuperável. O programa sempre era parecido, de madrugada saiamos para caçar em uma canoa de Sr. Pedro, morador e conhecia os alagados; La pelas onze horas, voltávamos com os pássaros, sempre galos e galinhas d ´água, marrecos, socos e vez por outra carões; enquanto limpávamos às armas, o Bil despenava , tratava e cozinhava à caça, as duas horas almoçávamos, depois ficávamos jogando baralho,  ou Banco Imobiliário, ouvindo música e as vezes apostando quem melhor atirava, a noite tomávamos uns goles de vermute e comentávamos sobre a caçada do dia seguinte, era uma tranqüilidade. Os únicos problemas que tivemos, foram as cachaçadas do Bil; que no segundo dia, ao voltarmos da caça, estava completamente bêbado e não tinha cozinhado nem o arroz, feijão e macarrão; tivemos de almoçar jaca mole. Nesse dia o Fael deu umas porradas nele, mas não tinha jeito; então decidimos que também o levaríamos pela madrugada e na volta ajudávamos na cozinha, o que em parte solucionou o impasse, passando a só beber à noite. Também tínhamos muitas frutas que tirávamos toda tarde, para diminuir as despesas. 


Lembro-me  que estava no Coreto quando alguém pediu-me para chamar o Fael, pois o Betinho, seu irmão tinha tido um acidente e estava no Hospital dos Usineiros; segui no Guerreiro para o gramado, onde o mesmo estava marcando ponto com a Gilda, no portão de trás , dei sinal de luz, mais ele pensou que era sacanagem minha e partiu para brigar aí tive de dizer bruscamente o caso do acidente. O Fael apavorado, entrou no Jeep e pedindo sempre que aumentasse a velocidade, começou a chorar, não se contentando, colocou seu pé no acelerador, foi uma loucura, entremos no hospital a uns 120 km por hora, não sei como conseguimos chegar vivos. 


 
 Outro caso que merece recordar, foi a sua fantasia de “Feiticeiro Africano” no baile de Mascaras do Clube Fênix Alagoana. Naquela época, o baile de Mascaras e seu concurso de fantasias era muito festejado e os prêmios eram caixas de lança perfume Rodouro, viagens ao Sul do país, enfim, a disputa era acirrada e levada a serio por toda a sociedade alagoana. As fantasias eram escondidas, não alardeadas até o grande dia. Existia em Maceió um cronista social muito festejado, o saudoso Sam Duarte que sempre disputava com apresentações exuberantes, e tinha afirmado nos jornais que venceria naquele ano, e era gordo como o Fael.

No esperado dia do citado baile, estávamos numa mesa na Fênix, todos devidamente mascarados e fantasiados, quando chega o Fael puto de vida, pois um c ara já por duas vezes tinha passado a mão na sua bunda, chamando-o de viado, mas como ele estava  disputando o concurso de fantasia, não queria brigar. Tendo afirmado que iria pegar o tal fulano após o resultado para dar uma surra. Vem o concurso, e o Rafael ganha em terceiro lugar e quando desce do palco para procurar o desafeto, eis  que ele aparece e pela terceira vez  alisa a bunda, ao tempo em que diz “ganhaste cronista viado”, o Fael dá uma surra no agressor que estupefato não revida e, ao tirar a mascara era Paulinho Malta pensando que o Fael era o Sam Duarte. Como não tinha porte para uma luta com o Fael, o Paulinho foi para sua casa armou-se de uma soqueira de metal e volta ao clube, espera quando o Fael  deita-se para descansar na quadra ao lado do ginásio e aplica um murro e corre pulando o muro . Esse caso foi preciso muita paciência e jeito para que não terminasse numa tragédia.

Mais infelizmente Rafael Perrelli teve uma vida curta, ao visitá-lo no hospital do Câncer, ele já se ultimando, ficava conversando por horas na varanda de seu quarto, ele tinha dores horríveis toda vez que precisava defecar e sabia que também a época tinha retirado um câncer em São Paulo, queria saber o que eu fazia para evitar as dores, quando lhe afirmei que não defecava pois só ingeria líquido, e ele “até doente você é um cara cagado Cuca”.    

Maceió 26 de junho 2.012
Cuca

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