Era da turma intermediária, mais que na adolescência já
andava conosco nas caçadas, farras e namoros. Era o menor de três irmãos homens
da família Perrelli. O Fael era uma figura notável, amigo fiel, valente,
vaidoso, apaixonado pela namorada Gilda, destemperado principalmente quando se
falava da namorada e dos irmãos, logo partia para brigar.
Dentre várias situações, vou detalhar algumas que tive o
prazer de vivenciar; Eu adorava caçar todos os sábados na cidade do Pilar, onde
residia o compadre Aloisio e, tinha uma
canoa que adquiri para as caçadas e pescarias; na primeira vez que chamei o
Fael para participar de nossa distração semanal, ele empolgado me acordou as 3 horas da
matina, juntamente com Emilio seguimos no Guerreiro ( meu Jeep Williams 60),
chegando na casa do compadre as quatro horas, ainda escuro.Após tomar um café
com charque e macaxeira, seguimos para o porto onde embarcamos rumo a
propriedade Lamas, já iniciando a atirar nos galos d´água, jaçanãs, socos,
carões, marrecos etc. Era época de
inverno e com a lagoa cheia, transbordava para o vale ficando uma imensa área alagada.
Ao chegarmos ao destino, descemos da canoa e seguimos a pés
pelo grande alagado, depois de andarmos umas quatro horas, o corpo já pedindo
um descanso, o Fael, gordo, começou a olhar para os lados, tudo alagado e
subitamente apavorado, grita “Cuca eu quero terra, eu quero terra”. Foi uma
gozação geral; ele ficava brabo quando alguns da turma para chateá-lo gritava “quero terra, quero terra”.
Quando o sol esquentava ( onze
horas), juntávamos a caça e voltávamos para a cidade, onde deixávamos os marrecos
para assar no bar do Tonho, seguíamos para o Grajaú onde tomávamos um banho de
bica e de volta, tomar cerveja e pinga com os pássaros de tira gosto, voltando
a Maceió no final da tarde; era uma beleza.
O Rafael, mesmo com o “quero
terra”, tomou gosto com as caçadas, programou passarmos uma semana no seu sítio
no Carrapatinho, fomos eu, nego Lelé, Fael e por insistência, como nosso cozinheiro
o Bil Taveiros, primo de Rafael e um cachaceiro irrecuperável. O programa
sempre era parecido, de madrugada saiamos para caçar em uma canoa de Sr. Pedro,
morador e conhecia os alagados; La pelas onze horas, voltávamos com os pássaros,
sempre galos e galinhas d ´água, marrecos, socos e vez por outra carões;
enquanto limpávamos às armas, o Bil despenava , tratava e cozinhava à caça, as
duas horas almoçávamos, depois ficávamos jogando baralho, ou Banco Imobiliário, ouvindo música e as
vezes apostando quem melhor atirava, a noite tomávamos uns goles de vermute e
comentávamos sobre a caçada do dia seguinte, era uma tranqüilidade. Os únicos
problemas que tivemos, foram as cachaçadas do Bil; que no segundo dia, ao
voltarmos da caça, estava completamente bêbado e não tinha cozinhado nem o
arroz, feijão e macarrão; tivemos de almoçar jaca mole. Nesse dia o Fael deu
umas porradas nele, mas não tinha jeito; então decidimos que também o
levaríamos pela madrugada e na volta ajudávamos na cozinha, o que em parte
solucionou o impasse, passando a só beber à noite. Também tínhamos muitas
frutas que tirávamos toda tarde, para diminuir as despesas.
Lembro-me que estava no Coreto quando alguém pediu-me
para chamar o Fael, pois o Betinho, seu irmão tinha tido um acidente e estava
no Hospital dos Usineiros; segui no Guerreiro para o gramado, onde o mesmo
estava marcando ponto com a Gilda, no portão de trás , dei sinal de luz, mais
ele pensou que era sacanagem minha e partiu para brigar aí tive de dizer
bruscamente o caso do acidente. O Fael apavorado, entrou no Jeep e pedindo
sempre que aumentasse a velocidade, começou a chorar, não se contentando,
colocou seu pé no acelerador, foi uma loucura, entremos no hospital a uns 120
km por hora, não sei como conseguimos chegar vivos.
Outro caso que merece recordar,
foi a sua fantasia de “Feiticeiro Africano” no baile de Mascaras do Clube Fênix
Alagoana. Naquela época, o baile de Mascaras e seu concurso de fantasias era
muito festejado e os prêmios eram caixas de lança perfume Rodouro, viagens ao
Sul do país, enfim, a disputa era acirrada e levada a serio por toda a
sociedade alagoana. As fantasias eram escondidas, não alardeadas até o grande
dia. Existia em Maceió um cronista social muito festejado, o saudoso Sam Duarte
que sempre disputava com apresentações exuberantes, e tinha afirmado nos
jornais que venceria naquele ano, e era gordo como o Fael.
No esperado dia do citado baile,
estávamos numa mesa na Fênix, todos devidamente mascarados e fantasiados,
quando chega o Fael puto de vida, pois um c ara já por duas vezes tinha passado
a mão na sua bunda, chamando-o de viado, mas como ele estava disputando o concurso de fantasia, não queria
brigar. Tendo afirmado que iria pegar o tal fulano após o resultado para dar
uma surra. Vem o concurso, e o Rafael ganha em terceiro lugar e quando desce do
palco para procurar o desafeto, eis que
ele aparece e pela terceira vez alisa a
bunda, ao tempo em que diz “ganhaste cronista viado”, o Fael dá uma surra no
agressor que estupefato não revida e, ao tirar a mascara era Paulinho Malta
pensando que o Fael era o Sam Duarte. Como não tinha porte para uma luta com o
Fael, o Paulinho foi para sua casa armou-se de uma soqueira de metal e volta ao
clube, espera quando o Fael deita-se
para descansar na quadra ao lado do ginásio e aplica um murro e corre pulando o
muro . Esse caso foi preciso muita paciência e jeito para que não terminasse
numa tragédia.
Mais infelizmente Rafael Perrelli
teve uma vida curta, ao visitá-lo no hospital do Câncer, ele já se ultimando,
ficava conversando por horas na varanda de seu quarto, ele tinha dores
horríveis toda vez que precisava defecar e sabia que também a época tinha
retirado um câncer em São Paulo, queria saber o que eu fazia para evitar as
dores, quando lhe afirmei que não defecava pois só ingeria líquido, e ele “até
doente você é um cara cagado Cuca”.
Maceió 26 de junho 2.012
Cuca
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