segunda-feira, 5 de maio de 2008

UM INESQUECÍVEL CARNAVAL por Carlito Lima

General Mário Lima foi uma das figuras marcantes do século passado no Estado das Alagoas. Desde os tempos que saiu da Escola Militar de Realengo em 1930 teve um relacionamento de amor e cidadania com a sociedade alagoana. Sua carreira militar foi repleta de feitos e de lutas. Participou ativamente em lutas armadas, como a revolução Constitucionalista de 1932, quando partiu com a tropa do 20º BC para lutar no Vale do Paraíba em São Paulo e tornou-se herói daquela guerra entre irmãos. Sua vida militar foi quase toda dedicada aqui no Estado de Alagoas, onde serviu no 20º Batalhão de Caçadores desde tenente até sua aposentadoria como general. Serviu em poucos lugares do Brasil: Lorena, Rio, Recife e USA se preparando para a II Guerra, quando chegou a paz.
Meu pai foi de uma dedicação extraordinária à sua comunidade. Além de oficial do Exército e por certo tempo Comandante da Polícia Militar, foi presidente do CRB, da Fênix , da Federação Alagoana de Desportos, juiz de Futebol, Provedor da Santa Casa, Diretor do Orfanato São Domingos, Lions , Rotary, diretor da TELASA, professor, escritor, membro do Instituto Histórico, intelectual, historiador e outros tipos de participação, de cidadania..
Fatos marcantes me ficaram gravados, principalmente nos anos 50 em que ele era comandante do 20º BC, e o governador do Estado, Silvestre Péricles; um homem honesto mas altamente arbitrário, violento, ditatorial.

O General Mário Lima escreveu um livro, SURURU APIMENTADO, onde narra histórias de um tempo de violências nas Alagoas. Documento histórico da época dos Góes Monteiro.
Em um capítulo dos mais interessantes ele conta fatos com a família do deputado Oséas Cardoso. Fatos esses que também ficaram gravados na mente daqu
ele menino de 10 anos, testemunha de alguns acontecimentos aqui narrados por essa criança, buscados no livro de seu pai e em sua memória.
Num final de tarde de janeiro do ano de 1950, meu pai chegou em casa comovido, abalado, contando a tragédia que havia acontecido na farmácia Pasteur, Rua do Comércio, no centro da cidade, quando numa briga com os irmãos Pinho (ligados ao Governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro), o deputado Oséas Cardoso atingiu mortalmente com um tiro de revólver um dos irmãos, Policarpo Pinho.
A partir desse episódio Alagoas tornou-se notícia em todos os jornais do Brasil, e pronunciamentos na Câmara e Senado, inclusive do Deputado Aurélio Viana, testemunha ocular do episódio, declarou na tribuna que o deputado Oséas Cardoso tudo fez para evitar aquela desgraça. Matou para não morr
er.
A Assembléia não deu licença para processar o deputado. Oséas resolveu se afastar de Alagoas por algum tempo.
Conta Mário Lima no Sururu Apimentado: “Na sexta-feira, 17 de fevereiro, anterior ao carnaval, quando a cidade se preparava para as alegrias momescas, uma notícia inquietadora sobressaltava a população ordeira de Maceió. Cerca das 12 h., um grupo de indivíduos assaltou a Pensão Aurora, residência e meio de vida do Sr. João Paes Cardoso, progenitor do deputado Oseás Cardoso, resultando dessa agressão o assassínio do velho Cardoso e ferimentos nas suas filhas Marieta e Nair. Boatos contraditórios e alarmantes encheram a cidade de apreensão, pois foi constatado que os agressores eram pertencentes à Força Pública do Estado. A Rádio Difusora, do governo estadual, dava a notícia com o título “um bandido que morre “, entremeados de músicas carnavalescas. “
Nessa mesma tarde, o coronel Mário Lima encontrava-se no expediente no 20º BC, quando chegaram em minha casa na Rua Silvério Jorge 290, aflitos e temerosos, os irmãos José, Edson e João Cardoso. Assim que soube, meu pai
voltou imediatamente, e encontrou os irmãos que pediam garantia de vida, estavam ameaçados e caçados por elementos do governo estadual.
O Coronel Mário Lima resolveu assumir pessoalmente a responsabilidade de garantia de vida dos irmãos Cardoso. Alojou-os em nosso quarto. Eu e meus irmãos dormimos por algum tempo em outros quartos, colchões no chão. Meu pai preferiu não envolver o Exército nesse caso político e de segurança estadual. Os irmãos Cardoso ficaram no nosso quarto, não saíram sequer para o enterro do pai no sábado de carnaval evitando choques imprevisíveis.

No domingo de carnaval toda família foi para a matinée infantil do Clube Fênix Alagoana. Minha mãe, festeira, nos dias de carnaval fazia alguma fantasia para os filhos, comprava lança-perfume Rodhouro e deixava a meninada cair no passo feliz da vida. Como garantia, os irmãos Cardoso ficaram na casa vizinha do Dr. Balthazar de Mendonça, parente dos Cardoso, onde hoje é o Restaurante “Flagrante Delitro”. Os quintais das casas eram separados apenas por uma cerca.
Quando acabava a matinée infantil, apareceu um cidadão apavorado informando a meu pai que um grupo carnavalesco fantasiado de cangaceiros estava em frente a nossa casa com intuito de fuzilar os irmãos Cardoso, pois havia presidiários, cabras, jagunços com armas verdadeiras. Meu pai imediatamente se dirigiu à nossa residência. Encontramos um alegre grupo de cangaceiros cant
ando, bebendo e olhando para o interior da casa. Meu pai se aproximou, dialogou com eles, deu alguns trocados para uma cachacinha, e ordenou para o grupo debandar.
Quando entramos, atrás de cada coluna da varanda lateral, junto ao jardim, escondia-se um dos irmãos Cardoso com arma em punho, preparados para matar ou morrer. Quase que a casa aonde nasci tornava-se palco de mais uma tragédia alagoana.
Na quarta-feira de cinzas houve uma comovente cena: as irmãs feridas saíram sigilosamente do hospital e foram se despedir dos irmãos que embarcavam para Aracaju num teco-teco, deixando nossa casa, uma providencial e acidental guarida. Assim foi o carnaval de 1950, um inesquecível carnaval para aquele menino de 10 anos.

DIOCESANO por Carlito Lima



Somos o produto do meio, de nossa educação, de nossa gênese. Cinco instituições básicas tiveram maiores influências em minha formação: 1-Minha família, 2-As ruas e praias de Maceió da minha infância livre e solta, 3- O Colégio Diocesano, 4- O Exército Brasileiro e 5-A Boemia. Embora um tanto rebelde e contestador como todo jovem, aprendi muito com os ensinamentos e caminhos mostrados por essas entidades que fazem parte de meu ser.
Uma delas, O Colégio Diocesano, completa nesse ano da graça de 2005 seu centenário. Meu amigo Petrúcio Codá enviou-me um e-mail acerca do Colégio dos Irmãos Maristas, no qual tomo um bigu.

Na abertura das aulas do 1º ano colegial, em 1955, o “lente” da turma, Irmão Bráulio, lembrou a todos alunos, que aquele ano era um ano de glória, pois o Colégio Diocesano completava 50 anos de fundação. Muitas festas estavam programadas inclusive uma passeata, um desfile militar pelas ruas da cidade como parte da comemoração do cinqüentenário. Os candidatos para a banda marcial deviam procurar o Irmão Rodolfo. Tocar na banda era privilégio, principalmente naquele ano de festas. O Diocesano voltaria a desfilar também no dia da Emancipação Política de Alagoas, dia 16 de setembro. Havia 4 anos que nosso colégio não desfilava nessa parada, o que muito entristecia os alunos.
Afinal houve os primeiros ensaios da banda com alguns alunos voluntários, hoje figuras conhecidas das Alagoas: Petrúcio Codá, Betuca Lima, Oscar
Cunha, Geraldo Bulhões, João Sampaio, Breno Cansanção (Arroz Doce) entre outros. Havia também o João Paulo, filho do Coronel Bina Machado comandante do 20º BC, que destacou um cabo corneteiro para ensaiar a banda. Nos primeiros ensaios, o Irmão Rodolfo, acompanhou de perto todos os treinamentos, e fez uma recomendação peremptória, com ameaças de expulsão:
- “Quero avisar aos compone
ntes da banda marcial, que está terminantemente proibida de tocar, quer nos ensaios, quer no dia do desfile, o dobrado conhecido vulgarmente como “Cortar Cebola”.
Foi uma enorme frustração para os componentes da banda, verdadeiros artistas dos dobrados militares, que tinham o “Cortar Cebola” entre os melhores dobrados: Alvorada, Major Gastão, Floriano Peixoto, e outros tantos . O “Cortar Cebola” era preferência dos estudantes, músicos, do fã clube feminino e do povo de Maceió. Fácil de aprender, de executar, bonito, vibrante, e era o único que podia ser cantado. Exatamente por isso o belo dobrado foi proibido. Um autor anônimo colocou uma letra que caiu na aceitação popular e era cantado nos quatro cantos da província de Maceió quando iniciava a segunda parte do dobrado:
“Eu fui pra mata...Cortar cebola...Errei a faca...e cortei a rola....”
Os componentes da banda fizeram pressão, pediram, suplicaram. Não adiantou. Não conseguiram tocar o dobrado “Cortar Cebola” nem nos ensaios.
Naquele ano o uniforme do Colégio Diocesano teve uma radical e moderna mudança, coisa de vanguarda: Foi adotado como uniforme a calça “sem cinto” em tropical azul marinho. Era o famoso “cós argentino”, a grande e censurada novidade da moda masculina na época. Completava uma camisa branca com um escudo, sapatos pretos e um casquete estilo Fuzileiro Naval no mesmo tecido da calça.
Assim o Diocesano desfilou garbosamente nas ruas centrais de Maceió no dia de seu cinqüentenário, 6 de junho de 1955. Houve várias festas, come
morações, palestras, competições. A prática do esporte no Diocesano era incentivada. Nas tardes havia o campeonato de futebol entre as classes. O campo era o enorme pátio com oitizeiros que faziam parte da jogada, a bola podia bater nas árvores ou nos muros laterais continuava o jogo, era como bola na trave.
Petrúcio Codá termina seu email fazendo um apelo, uma sugestão:
“Que nas comemorações do centenário se promova um desfile comemorativo e que nós, velhinhos transviados da década de 50, possamos também participar, quem sabe formando o pelotão “Cortar Cebola”. Aproveitaríamos para homenagear o antigo Diocesano, suas tradições, seu corpo docente. Saudar os Irmãos do cinqüentenário: Rodolfo, Luis Pascal, Luis Barreto, Eugênio, Silvino, Bráulio, entre outros.
Só assim mataríamos a saudade do velho casarão da Rua do Macena. Dos oitizeiros do campo de futebol. Do porteiro Seu Luis Camões.
Dos livros didáticos da Editora FTD. Das canetas-tinteiros marca Esterbook. Do terço rezado diariamente às nove da manhã em todas as salas de aula. Da benção do Santíssimo rezada pelo padre Hélio na última sexta-feira do mês. Do Canto Orfeônico. Do jogo de espiribol. Das missas aos domingos. Da Cruzada Infantil. Da Congregação Mariana. E de tantas cousas boas e salutares daqueles tempos.”
Concordo com o Petrúcio e acrescento: Das paqueras no Colégio São José e Sacramento. Dos recreios. Das ximbras e piões. E as histórias do Museu, hein?
Ficam as sugestões para a comissão organizadora do centenário. Alguns ex-alunos estão se movimentando como Glênio Guimarães, Jaime de Altavila. Participei do cinqüentenário, quero celebrar o centenário do Diocesan
o/Marista, celeiro de muitas cabeças coroadas das Alagoas.

P.S.1- Quem tiver histórias do Diocesano-Marista favor me enviar por email ou 99810199.
P.S.2 – Na foto cinqüentenária(27/10/55) gentilmente cedida por Marinalva Lima, viúva do saudoso cirurgião plástico José Costa Lima: 1ª Fila: Fernando Tourinho,Odon Cedrim, Adalberto Câmara, Jarbas Cerqueira, Chico Reis, Roberto Von Sósthenes. 2ª Fila: Afrânio Lages, Alberto Carnaúba, José Lima, Renato, Leonardo, Geraldo Lima, Otávio, Emerson, Cleomenes. 3ª Fila: Carlito, Ayrton Lessa, Mauro Jorge, Pascoal Savastano, Hamilton Bahia, José Rocha, Nery Fireman, Nilson Cerqueira. Sentados (os peixinhos do Irmão): Nilson Lira, Ib Santiago, Denis Barbosa, Irmão Bráulio, João Almeida, Jadson, Manilton Calumby. Faltaram: Carlos Fortes e Edmilson. Notar as calças “sem cinto”.
P.S.3- Amanhã 27 fev, como todo bom menino, estarei comemorando meu aniversário, 65 aninhos. No Acarajé do Alagoinha, praça Gogó da Ema, a partir das 10 horas receberei os amigos para uma cerveja com acarajé.
P.S.4- Participem da campanha de fomento à leitura: “Dê livro (nem que seja do sebo). Um presente para toda vida.”

ACABOU NOSSO CARNAVAL por Carlito Lima

Eu morava fora de Maceió, mas sempre achava uma maneira de vir no carnaval. Seja em férias, licença ou feriado. Os carnavais eram de uma animação e de um alto astral que fazia bem ao espírito, aumentava a alegria de viver de cada um de nós, mancebos e mancebas de uma terra bonita, onde todos se conheciam, se amavam. No carnaval a ordem era cair no passo, dançar o frevo, sambar, se esbaldar, curtir, namorar.
A temporada carnavalesca começava com o Baile de Máscaras logo após o ano novo. Baile chiquérrimo, com fantasias e máscaras obrigatórias ou traje a rigor. Muitos senhores vestiam seus smokings. Os foliões pulavam até o Sol raiar.
Enquanto esperava o carnaval chegar, n
os sábados havia festas pré-carnavalescas: Noite no Hawai, Preto e Branco, Baile Tricolor. Os surdos e tamborins começavam a esquentar nessas festas, onde a paquera era escancarada. Início e término de muitos namoros. Os mais sabidos entravam solteiros no carnaval.
No domingo antes do carnaval a
contecia o Banho de Mar à Fantasia. A Avenida da Paz ficava apinhada de foliões. A C.O.C. organizava concurso de fantasias, blocos e críticas (sempre bem humoradas malhando o governo ou nossos costumes). Destaque para uma turma irreverentíssima formada por: Rubem Camelo, Alipão, João Moura, Napoleão, Bráulio Leite, Vadinho, Santa Rita. O Fusco dava seu show particular, além do Tarzan e senhora.
Durante a quinzena anterior ao carnaval, a Prefeitura organizava uma animada Maratona Carnavalesca toda noite no Comércio, com corso e muito frevo. Os carros desfilavam com as meninas sentadas nos pára-lamas d
os carros, jipes e caminhonetes abertas. Saltávamos nas esquinas onde havia uma banda tocando o frevo. Ali se misturava a burguesia, a classe média com o povão, os estivadores, as empregadas, soldados, pedreiros, lavadeiras e putas. A Maratona só terminava quarta-feira de cinzas.
O carnaval iniciava no sábado de Zé Pereira. Depois do corso tínhamos duas opções para os clubes: CRB ou Tênis. No domingo além da matinal da Fênix havia à noite o Baile dos Marujos no Iate ou o Baile da Fênix.
Certa vez coincidiu meu aniversário com o último dia de carnaval. Nessa terça-feira a Escola de Samba Unidos do Poço animava a matinal da Fênix. Depois da matinal levei alguns amigos para casa. Minha mãe concordou na maior animação. Era uma festeira. Comandei a bateria da Unidos do Poço, sambando pela Avenida até minha casa. Comemoramos meu aniversário até o anoitecer ao som dos tamborins. Era o início da despedida do carnaval.
Ainda agüentei ir ao corso depois de tomar um banho. Estava cansad
o, com medo de não agüentar o restante do último dia, quando Paulo Sá me viu naquele estado, cochichou no meu ouvido: “Levante-te Capita, vamos até ali”. Entramos num bar na Rua da Praia. Paulinho pediu um copo d’água, deu-me uma pílula vermelha com recomendação: “É um energético para recuperar o cansaço, uma pílula milagrosa!”
Chegando em casa recomendei que me despertasse à meia-noite, estava com medo de perder a última festa. Quando a empregada foi me acordar, eu já estava pronto de banho tomado, vestido com um macacão. Dormi um pouco, meus lábios formigavam, estava recuperado, zerado, disposto a cair no carnaval.
Pensei na pílula do Paulo Sá, vá ser milagrosa assim na p.q.p.


O Baile havia começado tocando marchinhas bonitas para alegrar o
coração dos foliões. Eu dançava nas cadeiras, no salão, em todos lugares. A festa foi se animando com muita mulher bonita. Até que lá para três da manhã o presidente Dr. Ardel Jucá anunciou o folião do ano, escolhido por unanimidade. Fiquei surpreso quando falaram meu nome. Com muitos aplausos recebi o prêmio oferecendo à milagrosa do Paulo Sá. Havia quebrado uma tradição de vários anos, quando Pitão e Ednor Bitencourt se alternavam no prêmio de folião do ano.
A festa continuou até o Sol raiar. Finalmente a orquestra desceu do palco tocando, deu várias voltas no salão até se dirigir e conduzir a multidão para praia onde continuaram dançando e cantando: “É de fazer chorar...quando o dia amanhece...e obriga o frevo acabar...Oh! quarta-feira ingrata...c
hega tão de pressa só pra contrariar...” O carnaval terminava com um banho de mar com a fantasia suada e cansada. Yemanjá a tudo assistia e abençoava com alegria.
Jovens alegres, molhados, cansados, deitados, esparramados embaixo das amendoeiras da Avenida, sentia saudade daquele carnaval que findava. Alguns de mãos entrelaçadas, abraçados, outros se beijavam. Quico e Alice, namoro de carnaval. Socorrinho e Clailton namoro antigo. Um bando de jo
vens bonitos e felizes se reunia aos poucos: Bebete, Lourdinha, Ângela, Zito, Nia Malta, Vladimir e Guilherme Palmeira, Uchoa, Bárbara, Lelé , Salete Toledo, Vadinho, Frazão, Teca, Vânia, Carmen, Bethânia, João, Ana Amélia, Suely, Martinha, prima que ti quiero prima. Todos unidos pelo cansaço e pela saudade da folia que havia terminado. O que nunca se acabou foi o carinho, a amizade de todos nós.
Certa hora alguém falou em tomar café e uma saideira na casa
de Dona Zeca. Levantamos, andando devagar feito o Exército de Brancaleone. Alguns descalços, outros sem camisa, namorados de mãos dadas, amigos abraçados. O dia estava claro, o mar e o céu passavam do alaranjado da madrugada para o azul-esverdeado, brilhante de uma luminosa manhã de quarta-feira de cinzas.
No lento andar, Vladimir iniciou cantando a marcha da quarta-feira de cinzas, e todos nós acompanhamos como se fosse uma premonição. Nem ale
gres, nem tristes, sabíamos que alguma coisa estava para acontecer, deu uma sensação de perda. Alguém chorou sem saber o por quê. De mãos dadas cantamos com o coração, perambulando pela Avenida: “Acabou nosso carnaval...Ninguém ouve cantar canções...Ninguém passa mais brincando feliz...E nos corações saudades e cinzas foi o que restou...E, no entanto, é preciso cantar, Mais que nunca é preciso cantar ...e alegrar a cidade...”
Aquele tinha sido o último dos nossos carnavais.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O REI MOMO LUIZ RAMALHO por Paulo Ramalho


No dia ll de fevereiro de 2001, foi conferido, in memorian, ao nosso pai Luiz Ramalho de Castro, a Comenda da Ordem do Pinto, no grau de cavalheiro, pelos serviços prestados à preservação de nossas raízes, assinada por Eduardo Silvio Sarmento de Lyra, Herman Braga de Lyra Júnior, Marcial Lima e Marcos Davi de Melo, os dois primeiros, primos por nosso lado materno.


Ele nasceu em Coruripe, no dia 05 de setembro de 1895, completaria 113 anos este ano, se vivo estivesse.



Foi casado com Benedita Prazeres de Castro, pai de onze filhos e trinta e seis netos.

Durante muitos anos de sua vida foi agente em Maceió, da Companhia Nacional de Navegação Costeira.



Folião nato dos carnavais de Maceió.


Foi sócio contribuinte do Clube de Regatas Brasil, parte social, Iate clube Pajuçara, Jaraguá Tênis Clube e sócio proprietário remido do Clube Fênix Alagoano, que o lançou primeiro Rei Momo do carnaval de Maceió, em 1958, tendo como rainhas, Nildinha Perrelli e Mailda Azevedo, e como vassalo Carlito Lima.


Nildinha, cunhada de nosso irmão Amaury, amiga irmã de infância, Mailda prima-irmã, filha de nossa tia Luzinete, irmã de nossa mãe, e Carlito Lima, amigo de infância e irmão por adoção.


Residia na Avenida da Paz número 1200, palco dos banhos de mar a fantasia que ocorria naquela época, no domingo que antecedia o início do carnaval, e aquele endereço era parada obrigatória da grande maioria dos blocos que desfilavam, principalmente dos grupos fantasiados, bastante comuns naquela época.


Participava de todos os bailes de carnaval dos Clubes que era sócio, às vezes formando bloco com os filhos, os sobrinhos e amigos.



Em um carnaval, nossa mãe Benedita, estava no Rio de Janeiro, e ele não queria perder o baile, idealizou uma fantasia, levando em uma das mãos, uma tabuleta com a inscrição:



BLOCO EU SOZINHO, ANTES SÓ QUE MAL ACOMPANHADO”, e não perdeu a festa.



Era assim o saudoso e querido folião LUIZ RAMALHO.



Maceió, 27/03/2008.



Paulo Ramalho.

segunda-feira, 3 de março de 2008

JOGO DE BOTÃO por Lelé

Semana passada rolou aqui em Maceió um torneio de Futebol de Mesa da regra chamada 12 toques. Esta regra é descrita no site de recomendação dos meninos no nosso Blog : http://www.futeboldebotao.com/ Tive curiosidade de dar uma espiada no torneio, mas acabei não indo lá. Mas me parece que é levado a sério mesmo. Já estão anunciando o 1º. Nordestão em Caruaru.

Estes fatos me levaram a recordar nosso tempo de meninos da Avenida. O jogo de botão era uma das brincadeiras preferidas da gente e a que levavam mais a sério. Raros os que não tinham seu time, seus botões. Nossa regra era bem mais livre e específica do pessoal da Avenida, mas seguida a risca. A gente jogava até no chão ou em mesa de jantar, mas os mais dedicados tinham seu campo de botão, embora poucos possuíam aquela mesa totalmente apropriada, como a do Ricardo Peixoto, o nosso Maraca.

Os nossos botões eram de capa, daquelas de Humphrey Bogart, que se podia vestir dos dois lados, e a gente arrancava os botões de dentro do casaco de nossos pais, pra eles não perceberem, pois raramente usavam a capa, menos ainda os dois lados. Os botões eram também de vidro de relógio, de chifre de boi, feitos pelos presidiários de Maceió e Recife, e também de caco de côco. Estes feitos pela gente mesmo, ralando o caco no cimento da calçada. Alguns faziam verdadeiras obras primas. Valia um bocado no nosso mercado de botões. Os primeiros botões de plástico eram feitos com fichas de jogo de cartas, e para ficar mais altos colávamos duas delas com chiclete queimado. Depois chegaram os industrializados pela Estrela, com rosto de jogador de futebol no centro do botão.

A qualidade do botão era para a gente poder controlar, tocar, driblar, chutar, ajudava. Porém o que resolvia mesmo era a habilidade de cada um. Carlito que na geração dele era imbatível foi campeão com um time de botões de braguilhas. Depois vendia-os no mercado de botão a preço de Ronaldinho. Mas nas mãos de muitos estes botões se tornavam perna-de-pau. Carlito me deu uma vez um artilheiro, um botão de braguilha pretinho, chamado Baltazar. Comigo ele continuou artilheiro. Modéstia a parte, eu também era um dos bons.

Na geração do Carlito tinham outros craques como Rafael Perrelli, seu principal rival, com o time do Vasco. O botão Ademir era terrível. Quando Perrelli falava “coloque-se” pra ele chutar, o adversário tremia, certamente lá vinha um gol . Lizardo tinha um time de capa espetacular (ainda hoje ele guarda o time). Betuca, Paulo e Cuíca também entravam na parada.

A gente controlava o botão não com palheta como hoje em dia, mas com um pente. O preferido era da marca Flamengo, o comprido. Um lado era fino apropriado para tocar e outro grosso para chutar. Na minha geração, meu principal rival era o Cuca. Outro Vasco X Fluminense. Em jogo amistoso era pau a pau. Mas na vera, em torneio, campeonato, minha vantagem era muito grande. Eu fazia dois gols no começo do jogo e aproveitava o nevorsismo do Cuca. Quando eu pegava o pente fino para ficar controlando a bola, fazendo cera, ele prontamente começava a mastigar cotoco de vela, que usávamos para lustrar os botões. Final do jogo 2 X 0 , e nisso ele já tinha comido uma vela inteira. Nessa geração despontaram outros craques como Guilherme e Ricardo Braga, Luciano e Ricardo Peixoto, que tinha um time temido.

Ano passado Betuca fez um campo de botão de 1ª. linha para mim. Jogamos algumas vezes , mas o campo, agora, tá lá no quarto dos fundos mofando. Aproveito nosso Blog para mandar um recado à galera: vamos renovar nossa aptidão , e marcar aqui em Guaxuma um torneio de botão! E se a final for entre eu e Cuca, por favor, tirem os cotocos de vela de perto dele!

(Lelé – Março/2008)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

CHEIA DO SALGADINHO por Paulo Ramalho

O Jornal Gazeta de Alagoas, publicou anos atrás, acredito que não cometi pleonasmo, uma foto que se encontrava no seu Baú de Imagens, relembrando as obras de mudança de curso e deslocamento da Foz do Salgadinho, que em 1949, a nova foz não agüentou a vazão da tromba d’água que castigou Maceió.

Morávamos bem próximo ao Salgadinho, na Avenida da Paz, e que apesar dos meus oitos anos, a citada foto, esta gravada nitidamente no baú do meu subconsciente.

A água chegou ao quintal de nossa casa, porém, como a diferença de nível da Rua Silvério Jorge, para a Avenida, em nossa casa, ela ia de uma rua a outra, era algo próximo aos dois metros, não nos causou maiores danos.

Lembro-me que um bêbado tentou atravessar pelo trilho do bonde que ficou pendurado, com o desabamento da ponte, não me recordo se conseguiu.

Ficamos isolados de Maceió, digo Maceió, porque naquela época, quem morava nessas imediações, na Pajuçara, Ponta da Terra, quando ia ao comércio no Centro, dizia que ia à Maceió.

A ponte da avenida era a única ligação para veículos, a outra era a ponte de ferro, destinada ao trem, localizada na Rua Buarque de Macedo.

Quando não vinha trem, o pedestre podia atravessar equilibrando no trilho, ou pelos dormentes.

Os bondes que ficaram na ponta da terra, paravam defronte a nossa casa, fazendo garagem a céu aberto.

Inicialmente a travessia era feita de canoa.

Mais tarde foi construída uma ponte estreita de madeira, para os pedestres. E tempos depois, uma ponte também de madeira, na Rua Silvério Jorge, para os veículos.

Havia quem arriscasse atravessar pela praia, quando o mar estava baixo, mas de vez em quando um atolava, e ficava até o mar encher, ai era desastre total.

Nessa época, nossa mãe estava internada na Santa Casa, operada de vesícula. Quando recebeu alta, foi de carro para a Estação Ferroviária Central, e de trem foi para a Estação de Jaraguá, e novamente de carro foi para casa.

A referida tromba d’água, provocou a queda da barreiRa no bairro do Poço, causando destruição e várias mortes, entre elas um tio avô, irmão de minha avó materna que lá morava, tirou a família, e voltou para ver como estava, foi quando a barreira caiu atingindo-o fatalmente, jogando-o para o outro lado da rua. Ficou tão deformado, que o filho somente reconheceu pela aliança.

Morava também uma tia, irmã de meu pai, que ela e o marido tiveram mais sorte, defronte morava Hélio Ramalho, o do cartório, nosso parente, que os tirou a tempo, apenas com as roupas que estavam vestidos, perderam tudo.

O tio que faleceu, era uma pessoa que quando acontecia qualquer anormalidade, ele procurava se inteirar, e saia pelas casas dos parentes, relatando tudo.

Como nossa mãe estava se recuperando de uma cirurgia, tentamos ao máximo esconder, porque ela gostava muito do tio.

Todavia ela disse, vocês estão escondendo alguma coisa, porque Tio Zé já deveria estar aqui contando o ocorrido, não tivemos outra solução, e contamos a verdade, digo

contamos, mas de fato, foram os irmãos mais velhos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MORADORES DA AVENIDA 2 por Mozart Cintra

Para complementação do trabalho de Ricardo Peixoto‏
De: mozart cintra (mozartcintra@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 29 de janeiro de 2008 17:58:57
Para: Américo J.P. Lima (americojplima@hotmail.com)
Grande Lelé - Espero tá contribuindo com alguma coisa - pelo menos para a história dos fatos da AVENIDA., e complementando o trabalho do Ricardo Peixoto.
Escolhi a esquina em frente ao Coreto, até a outra esquina da antiga Capitania dos Portos. Vamos lá:
Logo na esquina, era a casa da dona Melinha que junto com uma irmã, eram irmães do General Mario Lima, marido de dona Zeca, pai da Rosita, Betuca, Carlito, VOCE e Socorrinho;
Depois era a casa de uma família que tinha um cozinheiro, que era misto de mordono e administrador da casa: sr. Alceu;
A outra era a casa do Zezinho Cardoso, irmão do dep. Oséas Cardoso e que tinha um sobrinho apelidado de Tonico e que trabalhou a vida toda na Cia. Telefônica de Alagoas;
A outra era a minha casa. Seu Aryoswaldo, marido de dona Aurea, pai também de Verônica, Vitória e Marcos;
Em seguida a casa do seu Emilio Cardoso, marido de dona Elizabeth, donos da empreza comercial "A Mobiliadora" em frente a antiga "Gazeta de Alagoas", pais de Laiz, Iracilda, Alberto, Elza, Emílio, Lêda, Sonia e Elizabeth. Emílio faleceu em um ascidente de automóvel:
A próxima casa era do sr. Segismundo Walderley (que veio a falecer em um ascidente de carro) marido de dona Enaura, pai de Werter, Wolney, Welma, Waldo, Wânia, Wilmene, Walma, Tido, Segismundo e Cid. Wolney e Werter tiveram também um ascidente de carro, onde Wolney faleceu e Wertwr ficou paraplégico. Na época Wolney era Assistente Social e Werter era cadete do Exercito;
Em seguida vinha a casa do sr. Homero Galvão:
A proxima era a casa do sr. Nemézio, marido da dona Marieta, pais de Chiquinho, Hugo, Célia e sogro de Cid Scala, marido desta última. Tinham outros filhos. O Hugo Nemézio era casado com a irmã do "Binha" (Robson Guimarães Lins) que morava na Estrada Nova, hoje avenida Comendador Leão. Depois morou o dr. Jair Galvão e dona Sílvia;
Depois vinha uma outra casa que eu não me lembro bem de quem era e que junto com a casa do sr. Némézio, foram demolidas para dar lugar a antiga AABB, Associação Atlética Banco do Brasil;
Logo junto a esta casa, vinha a de um "médico de criança", da época, hoje Pediatra e que era casado com uma senhora natural da Bahia e tinham como filha adotiva a Tereza, que a gente chamava de "Tereza Doida";
Depois, a casa do Dr. Neves Pinto, marido da dona Olga, pai de Roberto, Vera, Guiga e Ana;
Junto a esta casa, vinha a das irmães Mitchel, tias e mães adotivas de uma moça chamada Expedita;
A próxima, era a casa da dona Nice Buenos Aires, que foi casada com o Dr. Alvaro Leite, irmão de Bráulio Leite Junior, chefe do Ministério da Fazenda, cargo hoje equivalente ao de delegado da Receita Federal. Eles tiveram três filhos: Mércia, Talvanes e Cézar;
Em seguida a casa da dona Joaninha, uma expécie de "república", pensionato, para os marmanjos da época:
Como penúltima casa, e última residência, a casa do sr. Morgado, dona de Morgado Pinto & Cia. Ltda. na rua do Comércio. Depois morou o sr. Chico Rocha, de União dos Palmares, e pai mesmo de um "Mário Doido" a quem o Ricardo Peixoto na sua relação, complementa o nome do Chiquinho Nemézio. Hoje funciona uma das unidades da Secretaria de Saúde;
E finalmente a casa da esquina que vivia fechada e que teria funcionado antes a Capitania dos Portos. Depois é que ela passou para o outro lado da rua onde é a Capítania.
O outro quarteirão, que era composto da Capitania (esquina da rua do Uruguai) até a esquina da rua Mato Grosso, que termina na Praça Rayol, tinha apenas quatro unidades: a Capitania, a casa do seu Barreto, a do senhor Pompeu Sarmento (ambos altos funcionários da Cia. Utinga Leão) e uma onde hoje está funcionando uma unidade do Sebrae e era também um prédio da Usina. O senhor Pompeu era pai de Asdrubal, Hélvio, Amilcar e Anibal e várias irmães. Hoje dos filhos homens, apenas Anibal está vivo.

Espero não ter esquecido muita coisa.

Um forte abraço e disponha do

Mozart Cintra

Grande Lelé: No entusiasmo de poder contribuir com a história do começo de nossas vidas, esqueci um detalhe muito importante no início do meu relato. Na esquina da rua que devidia a casa do seu Pádua com a casa do lado de cá, era a residência do sr. Paulo Tenório, toda emuldorada com uma grade de chumbo prateado, onde a gente quebrava e roubava para vender o metal no pêso. Essa travessa recebeu o nome de "Travessa Emílio Cardoso" na gestão de Vinícius Cansanção como prefeito. Ele era um homem - o senhor Paulo Tenório - muito rico de União dos Palmares e que teve uma filha chamada de Divanete Tenório que casou com Aloísio de Goes, que foi prefeito mais de uma vez de Quebrangulo. Depois esta casa foi vendida para o Estado, no Governo do Major Luiz Cavalcante e acomodou por muitos anos a CODEAL - Companhia de Desenvolvimento de Alagoas. Hoje, lá funciona a Secretaria de Industria e Comercio do Estado de Alagoas.
Desculpe a nosa falha
Mozart Cintra


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

MORADORES DA AVENIDA por Ricardo Peixoto








IMAGENS de SATÉLITE - 2 LADOS DO SALGADINHO - PEGUEI NO GOOGLE (Lelé)

ATENÇÃO LELÉ
Pelo que estou lembrado, o Riacho Salgadinho era um divisor que tinhamos na AVENIDA, pois tinha os meninos do lado que dava para o Corêto e outros para o lado da Fênix e, aqui vou tentar colocar os nomes de todos que me chegam na memória :
LADO DA FÊNIX - partindo da ponte -
Família Laverère Machado : Haíno, Marcelo, Eduardo e Alberto (não eram integrados)
- Ricardo Peixoto -
Gago Di (3º Sargento Valdir Moraes) - Draute Barbosa logo depois morou Walter Ananias, por longo tempo (na casa que foi do Gago Di) -
Familia Couto : Jarbas - Capixaba e Getúlio (mudaram para Recife) -
Athayde : João e Eduardo (Guda) -
Dr. Adail e Terezinha Bicuda
Mascarenhas : Joubert - Roberto - Gilson (mudaram para o Farol) -
Na Silvério Jorge tinha Laércio (era com o R mesmo)
LADO DO CORETO - partindo da ponte
Familia Miranda - Hélio e os irmãos e, depois, os filhos de Haroldo (Tonico, Mirandinha, etc)
Familia Melé - Cesar e Mardem
Familia Jardim - Lizardo - Mário e Biriba (Lisandro)
F. Ramalho -- Petrucio - Paulo e Quico - GRAPETTE (agregado)
F. Bentes - Luciano - Mardem - Tinho - Dudu e Géo (mudaram para o FArol)
F. Braga - Guilherme e Ricardo (mudaram para o Farol) e BIU e de Marina.
Adilson Cuíca -
Cuca -
Tonho (Seu Pádua)
Paulo Tenório
Familia Lima - D. Melinha
Marcos e Mozart Cintra
Placido Alvim
Alberto e Emilio Cardoso
Werther - Wolney e Waldo Wanderley (e Tido ?)
Chiquinho Nemésio Mário Doido
Dr. Neves Pinto
Seu Morgado Pinto
e após a Capitania dos Portos -
Familia Sarmento : Asdrubal, Amilcar e Anibal
e daí em diante, em Jaraguá, só o PAI VÉIO DOS MENINOS - BIU MOSSORÓ
Na Silvério Jorge :
F . Perrelli - Betinho e Rafael
Marcondes
Sobradinho - Pericles
F. Lima - Betuca , Carlito e Lelé
Piduca e Morinha - depois Eurico
Lelo e Lula
Tonho (Casa do Dr. Homero) e Benedito Policarpo irmão da Marina.
Zé Guilherme (Zé Gordinho) -
tinha o pessoal de "Seu Nelo" (da venda) que era nosso rival, mas de vez em quando estava conosco
- Mí - Toinho - Binha (Robson), que era mais da turma da Rayol e do Jaraguá Tênis Clube e nós, FENIANOS DOENTES.
INTEGRADOS NA TURMA - Walter Lima - P.C. Farias - Marú (seu primo)
Faltei mencionar : Tonho - Mané Sapinho - Siginho (ou Serginho ?) e Paulão por não ter conseguido cair a ficha.
Achei ótima a sua idéia do Blog, PARABENS MESMO. Aproveito a oportunidade para lhe agradecer o DVD que me enviou e achei emocionante a confraternização da turma do Palmeiras, muito mais pela idade dos integrantes, comandados pelo GRANDE CARIOCA DA RUA SÃO SALVADOR - FLAMENGO - CAL (ou Cau ?) LIMA. Já falei com Eduardo (Dunga) e Sérgio Magalhães (que estava presente) para ver o filme.
Grande abraço,
Ricardão
(Ricardo , modifiquei um pouco a lista. Mas vou provocar discussão na próxima reunião - LeLé)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

CARNAVAL NA AVENIDA por Paulo Ramalho




Na década de cinqüenta, não recordo o ano, meu Pai Luiz Ramalho, resolveu fazer um bloco para o carnaval, com os filhos e sobrinhos.

Foi o Bloco do Flitt, não sei se a ortografia está correta, era um inseticida muito utilizado na época, cuja propaganda apresentava uns soldados vestidos a caráter, cuja farda predominava o branco, uma túnica com botões dourados de cima a baixo, nos dois lados com as bordas também douradas, cartola alta na cabeça, com bastante dourado, e a bomba de inseticida na mão.

Assim fizemos, o pai se fantasiou de barata, e nós os soldados, com farda idêntica, e nas bombas uma essência de perfume que compramos no mercado, diluída em água para não ficar ativa, muito forte, e assim fomos ao baile de carnaval no Fênix.

Anos depois participei do Quarenta e Dois Espada D’Água, com vários amigos-irmãos da avenida e inúmeros outros.

Antes dos bailes, a concentração era num buteco que havia na Rua Marechal Roberto Ferreira, perto da Praça Sinimbu.

Quando chegávamos no ponto, partíamos para o Clube. CORSO

Não vou citar os componentes, porque éramos muitos e sei que não lembro de todos.

Nessa época o General Mário Lima era Presidente do Fênix, e flagrou Betuca, seu filho, tomando porre de lança perfume.

Como exemplo começa em casa, de imediato expulsou Betuca do Clube.

Como era diferente!

Reunimos o Quarenta e Dois Espada D’Água, e decidimos por unanimidade rebaixar o General para Cabo Lima.

E assim passamos a tratá-lo, entre nós, é claro.

Além das prévias, que íamos a todas, durante os quatro dias, brincávamos direto que nem cantiga de grilo.

Íamos pular e fazer o corso no comércio, às onze horas íamos para casa trocar de roupa, encontrávamos no Quartel General, na Rua Marechal Roberto Ferreira, e íamos para o Clube até às cinco ou seis da manhã.

A segunda-feira que era dia de descanso, passávamos o dia em algum banho, lembro-me de um em Messias, uma bela piscina de água corrente, numa pedreira da Família Uchoa.

Em toda casa que íamos, fazíamos uma modinha rimando Zé Pereira, Carnaval, Quarenta e Dois, e o dono da casa.

Na casa do General Mário Lima:

Viva o Zé Pereira
Viva a Festa Fina
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Mário Lima

Na casa do Almir:

Viva o Zé Pereira
Viva o Carnaval
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Agesilao

Na casa do Seu Raul, pai do Ronaldo:

Viva o Zé Pereira .
Viva a Festa Azul
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Seu Raul.

Na casa do Seu Uchoa:

Viva o Zé Pereira
Viva a Festa Boa
Viva o Quarenta e Dois
Viva o Seu Uchoa.

Sem me prender à cronologia, nem citar nomes, para não cometer injustiça, lembro-me ainda dos blocos Guerreiros Astecas, que não participei, Tirolês, esse participei, e numa época em que a bermuda ainda não era bem aceita nos bailes noturnos, fomos de bermuda, e a rigor, da cintura para cima, fui com um fraque e cartola, que eram de meu pai.

O Banho de Mar à Fantasia, realizado do domingo que antecede o carnaval, era realizado na Avenida, e as casas do General Mário Lima e Luiz Ramalho, meu pai, eram paradas obrigatórias dos blocos que lá desfilavam.

E assim brincamos inúmeros, bons e inesquecíveis carnavais.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O LIDER (EMILIO) por Lelé

Quer me fazer feliz? Empreste um gibi pra eu ler. Luluzinha e a turma do Bolinha está entre as minhas revistas preferidas. A turma do Bolinha me leva a nossa infância na Avenida e não consigo dissociar a personagem principal do nosso saudoso amigo Emilio Cardoso. Apesar da aparência totalmente diferente, a personalidade de líder, aventureiro, protetor, amante platônico é muito semelhante. Como o Bolinha, qualquer acontecimento tinha que passar necessariamente por ele. A idéia podia ser de outro, mas Emílio era quem a tornava realizável. Tomar banho no Catolé ou no rio Jacarecica, passar fim de semana na casa da tia Jú em Santa Luzia do Norte ou no sítio de seu Bemon em Urucu. Quem decidia onde, quando e como era ele.

Lente na ximbra. O melhor no pião. No rouba bandeira ou no garrafão, todos queriam ficar do lado dele. Principalmente na trincheira, ninguém queria Emílio como inimigo. Esta brincadeira onde se cavava dois grandes buracos feitos trincheiras, distantes cerca de 10 metros, até encontrar água, para poder fazer um bolo duro juntando com a areia fina, é uma invenção do pessoal da Avenida. Ficavam três ou quatro meninos por buraco, procurando atingir os inimigos no outro buraco. Emilio com aquela altura e habilidade era temido por todos. Lembro que eu certa vez estava cobrindo um ataque dele à trincheira inimiga quando levei uma bolada do Quico no quengo que desmaiei. Brincadeirinha dócil, hein?


Vivemos muitas histórias juntos. Jogávamos futebol frequentemente no campo da casa do Lelo. Um dia D.Maristela mandou o Lelo estudar e pediu a gente que saísse para não atrapalhar o estudo do filho. Não adiantava argumentar. Jogar naquele campo era um direito nosso. Saímos indignados. A idéia foi minha. Uma parte do muro atrás do campo tinha sido refeita recentemente, ainda estava secando. Emilio bolou a estratégia para derrubarmos esta parte do muro. De manhã faríamos uma corda com cipó de guajuru, plantação abundante atrás do muro, e a noite iríamos lá, derrubar o pedaço dele com a corda. Depois voltaríamos correndo para o banco da avenida para não causar suspeitas. Fizemos exatamente isto, só que em vez de parte, veio o muro inteiro abaixo. Com o susto deixamos a corda de cipó na plantação. Não havia nenhuma dúvida dos responsáveis pelo desabamento. D. Maristela foi a cada uma de nossa mãe, Zeca, Santina e Beth, dizendo que o filho dela era um bom menino, mas quando se juntava com os outros dois maloqueiros, ficava influenciado e se não tomasse cuidado iria se tornar um moleque também. Pior é que ficamos sem jogar no nosso campinho predileto por um tempão.

Uma outra idéia partiu do Cuca. Não sei como ele descobriu, mas sabia que os presentes de natal da casa do Lelo estavam guardados no sótão. Emilio traçou a estratégia para a gente entrar no sótão e trocar os nomes dos presenteados para o nosso nome. Tínhamos que fazer isto de madrugada. Subimos no telhado da casa do Eurico, conseguimos abrir a janela da frente do sótão, e começamos a mudar os nomes dos presentes para Lelé, Cuca e Emilio. A família era tão generosa que havia presentes com nosso nome. Mas éramos tão sacanas que trocamos os nossos nomes com os da família, supondo que os presentes destinados a gente deveriam ser piores que os dos familiares. E assim no dia de Natal, a Tia Elza, vestida de Papai Noel, surpresa, entregou mais presentes pra gente do que para os filhos e sobrinhos. Que maldade. Bando de canalhinhas. E tem gente aí dizendo que toda criança é pura, não tem maldade. Esses caras não tiveram infância.

Emilhão gostava de apelidar pessoas, principalmente as que não achava simpáticas. Mas também dava muitos apelidos carinhosos, de amizade. Só me chamava de neguinho. Desconfio que foi ele quem apelidou PC Farias de Paulo Gasolina. Certa vez, estávamos passeando na camionete do Ricardo Peixoto, com o Paulo César na boléia, e atrás na carroceria, Emilio, Eurico e eu. De repente aparece uma viatura dos guardas de trânsito. Ricardo sem carteira percebeu e acelerou. Foi uma perseguição digna de filme policial americano. Emilio começou a mostrar o dedo pros guardas, claro que acompanhei meu líder, acrescentando banana além de dedo. Sempre exagerei na dose. Continuo até hoje, principalmente quando é uma boa cachacinha. Bem, Ricardão livrou-se dos guardas na praça Sinimbu, e voltamos para a mansão dos Peixoto. Menos de dez minutos depois chegaram os guardas lá. Dona Zélia recebeu-os.
O Zarôlho, conhecido nosso por usar óculos de fundo de garrafa, falou:
- Seu filho de menor estava em alta velocidade pelas ruas da cidade, colocando em perigo os transeuntes. E atrás da camionete tinha um molequezinho dando banana pra gente.
- O senhor é um irresponsável. Não tem vergonha de estimular uma criança a dirigir correndo no transito? E o molequezinho que você está chamando é filho do Coronel Mário Lima. Se ele souber que o filho dele está sendo desrespeitado por vocês...
Os guardas botaram a viola no saco e se mandaram. Mãe é mãe, em qualquer época e lugar do mundo.


Emilio tinha espírito de comandante, gostava mesmo era de mandar. Estávamos consertando um barco no Hotel Atlântico. Mardem Melé pregando umas tábuas ajudado pelo Tonho. O resto do grupo sentado na calçada dando palpite. Até que Emilio falou que Melé estava pregando as tábuas de forma totalmente errada. Mardem se emputeceu e gaguejou:
- To-tome a-a-aqui e-e-esta me-merda de ma-ma-mar-te-telo. Não pre-pre-go mais po-porra nenhuma. E-e-esse na-navio vai a-a-afundar. Tem po-poucos ma-mari-rinheiros e mui-mui-muitos a-a-almi-mi-rantes.

Num domingo saímos nós dois para caçar no sítio de seu Ribemon Uchôa, pai do Euricão, em Urucu, lugarejo de Novo Lino. Fomos de ônibus de Recife e voltaríamos no FNM do seu Bemon. Pedimos ao motorista para parar o pinga-pinga em Urucu, mas o filho de uma égua passou direto. Quando demos por fé estávamos em Pernambuco. Foi aquela discussão com o motorista, cada um com uma espingarda na mão. Emilhão ameaçando o cara. A gente liso, sem um tostão. Ele disse que a única coisa que poderia fazer era levar a gente até Recife. Chegamos no começo da tarde na rodoviária antiga. Rosita, minha irmã, morava no Prado, e fomos até lá a pé. Só na Conde da Boa Vista andamos mais de uma hora, com as merdas das espingardas nas costas. Quem passava pela gente olhava como dissesse “que é que é isso?”. Com uma fome da gota, almoçamos na casa da Zita, e João Carlos nos levou de volta para rodoviária. Só pudemos pegar o último ônibus. Pior é que seu Bemon, meu vizinho, já tinha retornado pra casa. Aí mãe Zeca enlouqueceu. Resumindo, quando chegamos já a noitona, tinha uma verdadeira multidão nos esperando, assistindo aqueles dois caras lisas descerem do ônibus.

Um outro momento inesquecível foi quando estávamos batendo papo no coreto. Eu confessei que estava apaixonado por uma menina, e não estava conseguindo me declarar. Para minha surpresa, pois era dificílimo tirar alguma revelação sentimental do Emilio, ele me confessou, sob minha jura de morte, que era apaixonadíssimo por uma garota há muito tempo, e nunca teve coragem de se declarar. Creio que ele levou este amor platônica pra o túmulo. Lembro-me de a gente ter comentado “se fosse com o Alberto”.

O irmão mais velho dele era o nosso guru. Alberto Cardoso era nosso referencial para tudo. Foi ele inclusive que me trouxe pelo braço para a esquerda, embora eu seja gauche na vida de nascença. Nossa admiração por Albertão era tanta, que uma das coisas mais importante para um adolescente, escolher a profissão, teve a influência dele também: Engenheiro Eletricista. Emilio, inteligente mas um pouco malandro no estudo, largou o projeto. Eu era mais aplicado e perseverante. Cheguei lá. Minha formatura em Elétrica, na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, a mesma de Alberto, foi no dia 23 de dezembro de 1968. Dez dias após o AI5. Naquele dia os milicos cercaram a Escola na hora da formatura. No meu lado tinha uma cadeira vazia. Vazia pro resto do mundo. Pra mim estava Emilhão ali sentado, com a mão no meu ombro, protegendo o irmão por adoção, como sempre.

Hoje ele é nome de rua em Maceió. Travessa Emilio Cardoso Filho, esquina com a Avenida da Paz. O beco mais querido no mundo pelos meninos da Avenida.

( Lelé – outubro 2007)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

GRAPETTE por Ricardo Peixoto

Para - Léle e Paulo Ramalho
A idade chega e os valores da vida começam a se modificar , para melhor é claro. Fatos da nossa infância e da adolescência que não davamos o valor devido, agora são os que ocupam o espaço mais importante nas nossas memórias.Relembrar todas estas ocorrências, como especialmente aquela da nossa aventura na caminhonete Ford Roquete F-100 em que estavamos eu, Lelé, Eurico e os saudosos Emilio e Paulo Cesar (Gasolina, Zur Velho, Cafar Velho, Titela Envergada, Boca Troncha, etc , tinha até mais), perseguidos por Milton "Zaroio" da Guarda de Trânsito, como também esta que Paulo Ramalho está lembrando, que embora não estivesse deletada, estava no arquivo cheia de poeira, mas é fantástica.Não sei se lembram de uma, também ocorrida no mesmo banco da Avenida, quando passou um "Japona" membro da tripulação de um navio e nós pedimos "please one cigarrete" (era uma forma da gente fumar cigarro americano) e o cara deu numa boa, quando Carlito aproveitou que êle estava de costas e deu-lhe uma dedada ; o Japa se virou e deu de cara com Grapette (que trabalhava na casa de Sr. Jorge Barros) e avançou para dar, falando coisas que ninguem entendia, uma fera. Grapette, sem alternativa, deu uma carreira com o Japa atrás dêle e deu a volta na Silvério Jorge, foi até a Rua do Uruguai e voltou para o mesmo local da Avenida, em frente ao Coreto ; só que o Japa, já exausto, desistiu quando voltou para a Avenida e foi gastar as energias e economias, nos Jardins Suspensos da Sá e Albuquerque, em Jaraguá.Vou espanar toda a poeira do meu arquivo e salvar as boas que tempor lá e, pelo que estou percebendo, vocês já estão fazendo o mesmo.
Grande abraço, Ricardão

Ricardão V. lembrou de um personagem incrível da Avenida. Nêgo Grapette. Logo que ele chegou em maceió (veio do interior) queria conhecer um cinema. Foi pro REX. E antes de começar o filme, ele agoniado, saiu porrilhões de vezes. E cada vez que entrava pagava a entrada novamente. O filme era uma serie de cowboy , no primeiro tiroteio saiu correndo com a gôta embora. Já na avenida disse que não voltava mais nunca, que não queria levar um tiro, e também porque era caro prá pêga. Grande Grapette, onde andará?
abraçoslelé
Não esqueçam dia 6 (quinta-feira) no Bicui do seu Pádua

SEDE DO ATLÂNTICO FUTEBOL CLUBE por Paulo Ramalho

Nos idos de 1957, morávamos na Avenida da Paz, 1 200, nossa casa ia da avenida à Rua Silvério Jorge, onde ficava a garagem.

Resolvemos fundar um time de futebol, as reuniões eram em nossa casa.

Foi indo para uma dessas reuniões, que Carlito insultou o famoso Guarda Doido, fato já relatado em uma de suas crônicas, fazendo com que ele chegasse mais rápido a nossa casa, quase atropelando nosso pai, Luiz Ramalho, que fumava seu charuto, sentado em uma cadeira, na porta de casa, naquela época podia, deu boa noite e entrou que só uma bala, pois o Guarda Doido vinha em seu encalço.

Será que hoje ele correria do mesmo jeito?

Obtivemos autorização de nossa mãe Bi, para transformar a garagem na sede do ATLÁNTICO FUTEBOL CLUBE, fato que nos levou a elegê-la, por aclamação, Presidente de Honra.

Pintamos a sede, conseguimos lá pela Rua do Queimado, comprar um escudo de ferro, que mandamos pintar com as corres de nosso clube.

No dia da inauguração, colocamos um pano sobre o escudo, e chamamos a Presidente de Honra para descerrar o pano.

Petrúcio, nosso irmão pouco mais velho, que era o Presidente do Clube, disse na hora da inauguração: agora a Presidente de Honra vai tirar o pano do negócio.

Risada geral.

A turma era formada pelos Lima, Wanderlei, Cardoso, Jardim, Braga, Peixoto, Uchoa, Bentes, Ramalho, Perrelli, Gazzaneu, se não me falha a memória, além de Walter e Marú Lima, primos de Carlito, Roberto Barbosa o “arainha”, primo de Walter, que moravam na Rua da Alegria, no centro, Geonal Arrochelas, primo do “arainha”, que morava no poço, Artur Justo, que morava logo acima da Ladeira do Brito, Erisvaldo Cavalcante, que não me recordo onde morava, Kleber Mendonça, filho do dono da fábrica de biscoito e panificação Glória, instalada na Rua da Alegria, quase defronte a casa do Walter, e morava na Rua Nova.

Tenho parte da turma documentada em uma fotografia do time, em um dos jogos.

Tínhamos campo de futebol quase particular, o então Coronel Mário Lima, era Comandante do 20º Batalhão de Caçadores, e Provedor do Orfanato São Domingos.

Dependendo do time e do dia que íamos jogar, optávamos pelo campo do Quartel, ou do Orfanato, que ficava defronte, onde hoje é o Condomínio Vaticano.

O Coronel foi também Comandante da Polícia Militar, e as vezes conseguíamos até transporte para ir ao campo.
Tínhamos também, a bela Praia da Avenida, para treinos, peladas, torneios que as vezes promovíamos, e que com freqüência terminava em briga.

Determinada tarde Ângela, nossa irmã, e Rosita, irmã de Carlito, ao passarem próximo à garagem, ouviram um barulho estranho, a porta do lado de dentro da casa, estava encostada, ao abrirem, viram alguns componentes do clube fazendo o que não deviam, principalmente em se tratando da sede do Clube.

Ao relatarem o ocorrido a nossa mãe, que era muito severa, de imediato acabou com a sede do Atlântico Futebol Clube.

PEGADOR DE DINHEIRO por Paulo Ramalho

Não tenho certeza quanto à data, mas acredito que foi em 1957, no dia 21 de setembro, quando Quico completou 15 anos.

Estávamos em nossa casa, na Avenida da Paz, 1.200, quando Manoel nosso irmão entregou um presente ao aniversariante.

Estava em nossa companhia, o inesquecível e saudoso Mele.

Ao abrir o presente, Quico verificou que era um pegador de dinheiro, muito utilizado naquela época, bonito, todo dourado e com um escudo em couro.

Quando Mele viu o que era, disse: pre...pre presente sem utilidade.

Por que Mele, perguntou Manoel ?

Por...por porque ele não tem dinheiro.

Foi uma risada geral.

Quico desprezou o presente, acredito que pelo motivo ressaltado por Mele, guardei-o e somente devolvi ano passado, relatando o ocorrido, pois ele não mais lembrava.

O Mele tem histórias fantásticas, apesar de não ter sido coadjuvante, soube do fato a seguir.

No final da antiga linha do bonde, na ponta da terra, havia um gramado, por traz do Iate Clube Pajuçara, onde todo final de ano havia um acirrado pastoril, barracas vendendo comida, etc.

Tanto as dançarinas, como as vendedoras das barracas, eram meninas da sociedade alagoana.

Numa dessas festas, estavam Mele e Biriba (Lisandro Jardim).

Determinado momento, apertou a fome, e eles resolveram fazer uma lanche, dirigiram-se a uma das barracas, que entre outras coisas, vendia galinha assada.

Quando estavam chegando próximo à barraca, o Mele contando uma história ao Biriba, como era gago, tropeçou em algumas palavras, as meninas da barraca começaram a rir.

O Mele não gostou, fechou a cara, Biriba que conhecia a irreverência do amigo, sumiu.

Mele se aproximou da barraca e disse, que...que quero um sobre cu, as meninas baixaram as cabeças e dirigiram-se ao fundo da barraca.

Mele não satisfeito disse: um...um...um bem gordinho viu dona.
Fim trágico, teve nosso amigo Mele, tão inteligente, tão brincalhão, tão alegre, tão amigo, tão moleque, sentado em uma cadeira, encostou o cano do rifle embaixo do queixo e acionou o gatilho.

No meio a tantas alegrias, também temos tristezas.

Faz parte da vida.


Dezembro de 2007.

OS MENINOS DA AVENIDA por Carlito

A teoria é de Chiquinho Nemésio, campeão señor de tênis pelo Brasil, quem teve uma juventude como nós em Maceió, ou outra cidade nordestina nos anos 50/60, não precisa freqüentar divã de psiquiatra.
A infância fica impregnada em nossa personalidade. Nossas cabeças são feitas pela vida que levamos dos 5 aos 15 anos. Essa é a idade mais importante na formação de um ser humano.
Nós meninos da Avenida da Paz tivemos uma vida solta, liberdade completa vivida num paraíso chamado Maceió. Sequer existia a palavra droga, violência ou medo. Nossos pais controlavam apenas a hora da entrada em casa. O bairro de Jaraguá era como se fosse quintal de nossas casas, além do mar verde-azulado da praia da Avenida da Paz, onde a moçada jogava bola, nadava, corria, paquerava, deixava correr a fantasia, dentro dágua, em intenção às gostosas que se estiravam na areia da praia. Tínhamos também um bucólico riacho desaguando no mar, onde a moçada tomava banho, pescava, pegava caranguejo goiamum em suas margens de manguezais. Era o Salgadinho, hoje
um esgoto a céu aberto, um cancro urbano, a vergonha de nossa cidade.
Na Avenida todos se conheciam, os meninos eram tratados como filhos na casa dos amigos, durante as tardes e noites quando não era hora de estudo, estávamos jogando botão, reunindo o time de futebol Atlântico ou outra qualquer brincadeira.
Mas naquela turma não tinha santo. Havia um pequeno bar em Jaraguá nosso local predileto da sexta-feira, onde traçamos muita galinha, peru ou pato assado, afanado por nós na vizinhança. Uma das maiores vítimas era Dona Zeca, minha mãe.
Certa vez ela ganhou 4 lindos patos, colocou-os no galinheiro no fundo do quintal, mandou reforçar as telas, colocou um cadeado na porta. Ao passar pela turma que jogava botão, falou com seu bom humor, desafiando.
- Agora quero ver vocês roubarem meus patos.
Aquilo foi uma provocação. Primeiramente pensamos em fazer uma cópia da chave. Mas só havia uma guardada fielmente com a empregada que todo o dia limpava o galinheiro,
tratava, dava de comer aos patos e galinhas. Em um reconhecimento, examinando o cadeado, Cuca, meu primo, lembrou que havia um igualzinho àquele em sua casa. Na hora de Luzia, a empregada, tratar o galinheiro, ela abriu a porta e deixou o cadeado com a chave pendurado, numa operação rápida e precisa Cuca trocou os cadeados.
No início da noite da sexta-feira como se estivéssemos assaltando um banco, sorrateiramente e silenciosamente, levando um saco de aniagem, abrimos o cadeado, do Cuca, com uma chave reserva, torcemos o pescoço de dois belos e gordos patos, eles ainda chiaram. Tentando não fazer barulho, saímos pela portinhola do fundo do quintal direto para o bar, onde o cozinheiro já esperava. Foi uma bela noitada de pato assado.
No sábado, com a cara mais cínica, estávamos jogando botão em minha casa quando Dona Zeca, voltando do quintal, foi taxativa:
-“Ontem roubaram dois patos de meu galinheiro. Não sei como conseguiram, só tenho certeza que foram vocês, seus cabras safados, sem vergonhas!” e desatou a rir.
Outra vez, estávamos jogando futebol no quintal do Dr. Hélio Gazanneo, na Silvério Jorge, a bola caiu no quintal vizinho, era a Fábrica de Cama Progresso de Napoleão Barbosa, Quico pulou o muro, retornou a bola, chutou por cima do muro. Ao ver uma plantação de melancia, não resistiu, arrancou uma enorme, pela cerca dos fundos rolou a pesada melancia para o quintal do Dr. Hélio. Na hora do almoço chega Quico em casa, cansado, com melancia nos braços, dá de encontro com Dona Bi, sua mãe, que ao saber a origem, mandou devolver imediatamente. Foi um castigo Quico voltar com a pesada melancia até a fábrica. Quando passou por minha casa, entrou e gritou na maior cara de pau:
- Dona Zeca olhe aqui o presente que trouxe para senhora.
Mamãe ficou agradecida ainda que desconfiada do repentino presente. Quico livrou-se de carregar a pesada melancia até a fabrica e a vergonha de devolver o roubo.
Foi assim nossa juventude. Eram assim os meninos da Avenida