sexta-feira, 8 de maio de 2009

CARINHO SÓ DE MULÉ... CAPITÁ SÓ MACEIÓ por Carlito



Final dos anos 60 retornei a Maceió para curtir minhas férias, voltava de Roraima aonde comandei por dois anos a 9ª Companhia de Fronteira, na região da Serra da Raposa do Sol. Muito tempo sem ver o mar, só a imensidão dos rios amazonenses. Ao chegar do aeroporto, em casa, vesti um velho calção de banho, desci à praia, descalço, peito nu, feliz da vida, voltava à terra amada. Em frente ao coreto, sentei-me na praia de extensa areia branca e morna onde aprendi a andar, onde me criei. Sozinho, extasiado, deslumbrado, contemplava o belo verde-azulado, cor exclusiva que Deus inventou num dia de inspiração e colocou nos mares de Maceió. Permaneci sentado, meditando, até o Sol se esconder lá no fim do mundo pra noite chegar, pôr-do-sol belíssimo, espetáculo que a natureza repete todo entardecer na enseada da praia da Avenida da Paz. Dentro de mim uma enorme alegria, concentrado no encantamento, absorto em minha paixão por essa terra onde nasci, olhava ao longe o infinito, o horizonte, beleza divina misteriosa. Não pensava, não falava, só sentia e curtia aquele momento. Foi assim a celebração de meu retorno a Maceió naquele belo e ensolarado verão.

Ainda em férias recebi a notícia, havia sido promovido a capitão e classificado no 15º RI de João Pessoa. Nada contra qualquer cidade de meu belo Nordeste, apenas depois de 13 anos perambulando por esse Brasil, resolvi ficar em Maceió.

Comprei uma passagem, voei ao Rio de Janeiro. Com apenas uma maleta na mão fui ao Ministério da Guerra, dirigi-me ao Departamento Geral de Pessoal, responsável pelas transferências e classificações de oficiais. Atendeu-me um coronel, apresentei-me, contei-lhe a verdade, gostaria de retificar minha classificação do 15º RI de João Pessoa para o 20º BC de Maceió. Dei sorte, o coronel, era um homem gentil e prático. Pediu que eu esperasse; logo depois voltou com a notícia, existe vaga de capitão no 20º BC e que publicaria a retificação de minha classificação no Noticiário do Exército ainda naquela semana. Vibrei, afinal ia servir em minha terra. Tomei um lotação para o Flamengo, direto para o apartamento do Cáo, amigo velho, seu apartamento era uma espécie de embaixada alagoana. Cáo é uma figura extraordinária, leitor compulsivo, sabe tudo sobre as histórias das guerras embora seja um tremendo pacifista. Setentão, organiza todo final de ano uma divertida festa do Palmeira, antigo time de futebol do Farol, comparecem grandes figuras que fizeram a história de Maceió dos anos 50/60.

Voltando ao Rio, para comemorar minha alegria telefonei para duas primas-irmãs, Lourdinha e Bebete. Durante o jantar na casa de Tia Rosita, Lourdinha aventou a possibilidade de um contato com Vladimir Palmeira, naquela época ele liderou a marcha de 100 mil pessoas na Cinelândia contra a ditadura militar, estava na clandestinidade, era um dos homens mais procurados pelo regime. Às 10 da noite encontrei meu querido Vladimir em um discreto bar de Botafogo. Vladimir sugeriu irmos para o Canecão. Tomamos uma mesa estratégica, excelente música. Dançamos, bebemos, comemos. Quem por ali passasse jamais imaginaria que naquele grupo alegre havia o líder estudantil mais procurado, caçado pela ditadura e um capitão do Exército, divertindo-se, celebrando encontro de amigos.

Às seis da manhã, o dia amanhecia, perambulávamos pela praia de Copacabana cantando: “Ai, ai que saudade ai que dó... Viver longe de Maceió...” Encontrei-me outras vezes com Vladimir nesses dias de Rio de Janeiro. Depois ele foi preso e banido. Só fui revê-lo muito tempo depois, em 1979, por conta da anistia, quando voltou da Bélgica.

Passei quase todo mês de janeiro no apartamento do Cáo, sempre hospedados 2 ou 3 alagoanos na “Embaixada”. Ao voltar para Maceió, falei para mim mesmo, aqui é meu lugar, basta de perambular pelo Brasil. Logo depois deixei o Exército, mas fiquei em Maceió. Na época jamais passou por minha cabeça que um dia seria um cronista da cidade, contador de histórias de minha terra, que estrearia escritor aos 61 anos. Agora, aos 69 anos, em Brasília, lanço meu 11º livro na próxima quarta-feira, dia 13 de maio, CARINHO SÓ DE MULÉ... CAPITÁ SÓ MACEIÓ. Todos os leitores estão convidados, avisem aos parentes e amigos que moram em Brasília. Estarei recebendo, autografando, a partir das 18 horas no Mercado Municipal de Brasília, W 3 – Sul –quadra 509, onde haverá uma noitada divertida, bom uísque e papos maravilhosos. Em Maceió o lançamento será dia 29 no Bar do Chope.

Um comentário:

Helinho e Tânia disse...

Beleza de texto e imagens, Pai.
Finalmente poderei ir ao lançamento de um livro do Tio Carlito!
Beijo.
Helinho.