terça-feira, 10 de maio de 2011

AMIZADES DE INFANCIA por Cuca

Uma coisa que eu prezo e sempre que possível tento dar sustança, são as amizades que tive na infância e adolescência, mesmo porque ocorreu uma total mudança de conceitos e valores , com divergências gritantes entre a nossa e essa geração atual.

Na nossa infância, tivemos o privilégio ser livres, leves e soltos na expressão ampla do termo.Nossas amizades tinham robustez, convivíamos todo dia e nossos exemplos eram de solidariedade, confiança mútua, ajuda recíproca e respeito aos mais velhos indiscriminadamente; éramos como irmãos.

Nossos interesses, se existiam, eram ingênuos, mas às amizades feitas depois desse período, por melhores que sejam, sempre existe um interesse; aí reside a grande diferenciação.

Como exemplo, posso citar o caso do Grapete e do Biu, ambos faziam parte de nossa turma, mas como não situação financeira igualitária, ficava por nossa conta, o cinema, o sorvete e demais despesas que realizávamos em conjunto.

Existia muita briga entre nós; principalmente pelas disputas em jogo de botão, partidas de futebol, trincheira etc, mais breves; eu e o gordo Luciano brigávamos sempre, havia os incentivadores meus e do gordo, porém à noite já estávamos de bem, para voltar a brigar no outro dia . Eu e nego Lelé vivíamos nos chamando de “irmão da Rosita” e “irmão da Bebé” porque “de mal”, ou seja, brigados, podíamos jogar, brincar, etc. porém não podíamos pronunciar o nome do outro.

A turma era coesa, nos desentendíamos, mas não aceitávamos qualquer interferência de terceiros, como a da praça Rayol, da Sinibú etc.Daí dar origem a litígios entre às turmas. No São João já era tradição nosso enfrentamento com a turma da Praça Sinibú, na base dos tiros de combate e bombas; nosso maior fornecedor era o Dr. Bené que comprava caixotes de fogos para os filhos, principalmente tiros de combate,sempre solicitado por Luciano e irmãos, nosso arsenal . Logicamente que nossos pais não sabiam que os fogos que compravam era para as disputas.

Nós invadíamos a Sinibú, botando a turma de lá para correr e vice-versa; lembro-me de um caso interessante nessas pelejas, ao sermos atacados por aquela turma, nessa oportunidade, estávamos prevenidos e conseguimos botá-los para correr pela praia e para o azar deles, o salgadinho estava cheio, o que os obrigou a jogar seus fogos na água e prosseguir nadando sob nosso fogo serrado. Nessa ocasião Alberto lançou um foguete sobre o Dimas que raspou a cabeça, e ele ficou tempão com uma facha sem cabelo na cabeça.

Foi a nossa grande vitória, pois alguns deles, ao chegar em casa todo molhados, receberam uma sova dos pais; foi a glória, o boato correu solto entre várias turmas.

Ao contar esse fato, pretendo principalmente demonstrar a total diferença entre as turmas e as atuais Ganges; nas turmas não existiam armas de qualquer natureza, brigávamos a muque, não existiam inimizades sérias, pois após as disputas encontrávamos para discutir os acontecimentos, daí as gozações que faziam parte do cotidiano.

Na Avenida havia duas turmas bastante distintas, os maiores e dos menores, da qual fazíamos parte. Os maiores dificilmente deixavam que participássemos de seus encontros, com exceções do Helio Miranda que era nosso técnico, Diacuí, Alberto, Waldo e Rafael Perrelli que eram intermediários, os outros achavam-se em nível superior, só ocorrendo maior integração em nossa adolescência que passamos a sair juntos.

Para caracterizar esta diferenciação, contarei um fato ocorrido que atesta a situação; quando fizemos o roubo histórico da cabra Margarida, para os festejos juninos, soubemos que a turma dos maiores queria subtrai-la de nós, então providenciamos uma espingarda 32, carregamos dois cartuchos de sal para atirarmos na bunda dos novos ladrões; deixamos a Margarida pastando tranquilamente no quintal do Euricão e ficamos de tocaia nas bananeiras.

No começo da tarde aparecem Betuca, Nequito, Leo e Ciridião no muro da casa de tia Zeca, o Beta já tinha colocado a perna para pular, mas Leo previdente, diz, Beta esses meninos não deixariam essa cabra de bobeira, é fria, vamos embora, após muita discussão, desistiram sob protesto do Betuca. Nas bananeiras o Emilio estava ansioso, pois tinha ganho na porrinha o direito dar o tiro de desagravo, o que graças a Deus não aconteceu.

Conversa tem perna curta, Betuca soube do que escapou e, como vingança, no domingo seguinte reuniu os maiores e quando fomos tomar banho de mar, nos pegaram e tiraram nossos calções, deixando todos nus dentro d’água, colocando as peças no alto da amendoeira. Só no final da tarde o Emílio foi buscar nossas roupas; deixamos de almoçar e levamos uma enorme bronca de nossos pais.

Durante o verão, todas as noites após o jantar, nossas mães sentavam na porta para tomar fresca e fofocar e nossos pais ficavam nos bancos na avenida batendo papo; nós aproveitávamos para brincar de garrafão, rouba bandeira, ximbra, pinhão ou de cowboy no coreto. Pontualmente as dez horas todos se recolhiam.

Longe se sermos santos, muito pelo contrário, mas a não ser a brincadeira de dar dedadas que era de mal gosto, éramos por demais inventivos, sem qualquer apelação para a violência, humilhação ou safadeza

Naquela época, viado era nome feio, existindo discriminação mesmo, inclusive nossa turma não os aceitava, era no cacete, com exceção de um que protegíamos por fazer parte da turma.

Não me lembro quem iniciou, mas foi genial, contávamos que o Celite estava espalhando na cidade que a pessoa tinha tirado as calças e sentado no seu colo por várias vezes, que ele era funcionário do Centro Metalúrgico, loja por demais conhecida, localizada no centro do comércio. Foi um Deus nos acuda, o Sr.Agnaldo que era um chato, não agüentava mais de informar que não tinha nenhum Sr. Celite como funcionário à pessoas alteradas, deu briga feia e cadeia. CELITE era uma marca popular de vaso sanitário.

Outra brincadeira bacana da turma foi de iniciativa do Emilio. Todo ano, o dr. Helio Gazzaneo fazia uma festa de natal em sua casa e fazia a entrega de presentes; o Papai Noel era um irmão de D. Maristela e responsável pela entrega, retirando os presentes de um saco vermelho.

Como seus filhos faziam parte da turma, os menores eram convidados e Dr. Hélio comprava um presente para cada. Acontece que ao jogarmos bola no quintal, onde havia um dos nossos campos de bate bola na véspera da festa, o Emilio viu quando levaram grande quantidade de pacotes para um quarto que ficava junto da sala de visitas (existia naquela época) e, me chamou juntamente com Lelé para nos escondermos até o final da tarde, quando os donos da casa saíram, então munidos de uma caneta subimos no telhado, destelhamos no citado quarto e pulamos para dentro, onde trocamos os nomes dos presenteados pelos nossos. Não deu outra, foi um vexame, pararam a distribuição, mas ao final devolvemos os presentes.

Outra idéia genial, foi a criação de uma rádio no colégio Guido para filarmos a prova de química do Professor Gelio Medeiros no primeiro ano cientifico. Nessa brincadeira, da turma só participaram eu e Emilio que estudávamos naquele colégio.

Tínhamos o clube Avenidense, mas fundamos outros que não prosperaram para os campeonatos de botão, de 2x2 no coreto dentre outros; mas freqüentávamos o Clube Fenix, onde jogávamos futebol de salão, vôlei e basquete, mas o grande feito da turma foi a vitoria contra o Tenis Jaraguá no primeiro jogo de futsal realizado em Maceió, no ginásio da Fenix, onde fizemos a preliminar do jogo da seleção alagoana de basquete contra Pernambuco, nesse jogo ganhamos por 3x2, sendo nossos gols de Esquerdinha, Biriba e Lelé.

Nesse tempo não existia qualquer tipo de drogas; a primeira vez que tivemos ciência aconteceu, quando já adolescentes, estávamos jogando bola no coreto, e fomos avisados que tinha um maconheiro debaixo da ponte do salgadinho. Seguimos para lá e encontramos um indivíduo com aproximadamente vinte e tantos anos com os olhos vermelhos e arregalados, deitado e vomitado. Esse quadro grotesco, livrou-nos da aproximação ou interesse pelas drogas.

Três locais foram de grande importância para a turma. O sítio do Taboleiro dos Martins do Dr. Ulisses Braga, onde nas férias íamos com freqüência, ficávamos instalados num prédio anexo a casa, onde às vezes juntávamos mais de dez meninos. Tinha um bom campo de futebol e frutas de toda espécie, não esquecer as disputas de Jogo Imóbiliário, War, damas etc.

Quem tomava conta da turma era a Marina, irmã do Luiz Policarpo, empregada de extrema confiança da família, que terminou seus dias criando também os filhos do Felipe.

O Engenho Mataraca também recebia nossa visita, principalmente eu, Emílio e Lelé, onde desfrutávamos de andadas a cavalo, caçadas e pescarias. A noite íamos para Atalaia, onde começamos as paqueras, os guerreiros e zona de meretrício.

E a casa de Tio Mario e Zeca que era uma verdadeira pensão, sempre tinha comida à nossa disposição, a turma dos maiores eram quem mais aproveitavam, inclusive, o Aurino Malta a chamava de Mãe Zeca. O doce de mangaba era irresistível.

Atualmente inimaginável, Dr. Ulisses , D. Creuza com Marina , Tio Celso , Tia Liéne e tios Mario e Zeca recebiam uma cambada de meninos sem qualquer problema; inclusive, éramos tratados iguais a seus filhos, tudo nos era oferecidos com o maior prazer; havendo em contrapartida a total confiança de nossos pais; era um outro mundo.

Isto, para dar exemplo, pois havia outras casas que também freqüentávamos como a do Bené Bentes no farol, a do Melé na Mangabeiras dentre outras.

Tudo o que é bom tem um fim, começou a desmembrar com a mudança do Luciano e seus irmãos para o Farol; depois a preparação para o vestibular e por aí foi.

As amizades de infância foram substanciais e continuam até hoje à prosperar e engrandecer.

Infelizmente nossos filhos e netos não conseguiram estabelecê-las, pois com a proliferação da violência, das drogas, da insegurança; restando para eles os colegas de colégio, de prédio etc., o que é uma pena.

O mundo mudou, juntamente com seus conceitos, necessidades, confiança, solidariedade, apareceu a malfadada TV ensinando tudo o que nefasto, trazendo aos lares uma visão maléfica das minorias.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

FOTOS ENCONTRO maio2011 - MURILO MENDES


ENCONTRO DE 6 DE MAIO DE 2011 - Candelábrio - FENIX
CONVIDADO: MURILO MENDES
COMPARECERAM: PAULO E QUICO RAMALHO, CESAR CARNEIRO, CARLITO, LELÉ, CUCA, GERALDINHO, MOZART, WALDO, EURICO

quinta-feira, 5 de maio de 2011

SEU RODOLFO por Alberto Cardoso

Referencia: Blog dos Meninos da Avenida
Registro de lembranças: Alberto Cardoso Correia Rêgo ( período 1955 a 1959 na Av. da Paz)
Personagem: Velho Pescador Sr. Rodolfo. ( meu grande amigo)

Avenidenses : Passo a descrever alguns fatos e passagens de momentos felizes dos meninos da avenida , associados ao velho Pescador que conviveu com a nossa comunidade da Av da Paz , rua Silvério Jorge e imediações, com a venda de peixe fresco, pescado ali em frente as nossas casas e próximo do porto de Maceió, nos idos de 1955 a 1959.

Pescador Seu Rodolfo.

Pescador aposentado sem INSS ,sem renda fixa, casado com dona Santa tinha 2 filhos , sendo um adolescente sem emprego e outro de menor,uma família muito pobre que habitava um pequeno barraco as margens do rio Salgadinho numa propriedade de coqueiros por trás da rua Silvério Jorge. Embora moço apresentava um grave problema de saúde com uma enorme hérnia , tendo de usar uma sunga permanente para evitar estrangulamento e ter que ser socorrido no proto socorro, tinha fases críticas quando fazia algum esforço físico, pesos, andar grandes distancias,dias e dias doloridos, ou seja , debilitado para a maioria dos trabalhos.

Chegamos a fazer um campo de futebol nessa propriedade plantada de coqueiros próximo do barraco do Seu Rodolfo,onde jogamos várias peladas sempre na parte da tarde e depois tirávamos ( roubávamos )cachos de côco para matar a sede que ninguém é de ferro, e de certa forma pedíamos emprestado a foice para facilitar as aberturas dos mesmos. Dessa maneira ficamos familiarizados com essa família. A nossa única preocupação era na hora de roubar cocos observar o vigia dessa propriedade cuja casa ficava do outro lado do rio Salgadinho onde o mesmo tinha uma espingarda com tiro de sal, que para chegar ao nosso local teria que correr muito rápido e atravessar a ponte de ferro o que dava tempo suficiente para a turma se picar. De longe já longe da mira da tal espingarda , gritávamos a plenos pulmões, vigia fdp, filho de rapariga e em seguida com os buchos cheios de água de coco descíamos para a praia tomar banho de mar até escurecer.

Seu Rodolfo ficava com sua cesta vazia observando o lance das redes dos pescadores, seus ex- companheiros de profissão e assisti muitas vezes o chefe da pescaria selecionar os maiores peixes e fazer um sinal para Seu Rodolfo colocá-los em sua cesta e partir para comercialização. Muitas vezes seus olhos se enchiam de lágrimas de alegria por aquele gesto do também pescador pois estava dando-lhe chance de ganhar uns trocados na comissão pela venda dos peixes e conseguir adquirir comida para os seus. Quando a pescaria não dava peixes grandes, o pescador chefe apanhava um bom punhado de peixes e piabas e colocava-os na sua cesta que serviriam para aliviar a fome da família. Seu Rodolfo muitas vezes saia de mãos abanando , com a cesta vazia mas nunca presenciei o mesmo reclamar ou mesmo pegar peixes sem autorização do chefe da pescaria.

Seu Rodolfo subia a praia e começava sua peregrinação pelas nossas casas onde nossas mães compravam logo aqueles peixes frescos , pesando-os em suas próprias balanças e pagavam o valor cobrado sempre agradecendo e encomendando para a semana seguinte, de tal modo que em pouco tempo ele já podia prestar contas com o pescador chefe e ficar com sua comissão. Em dias de sucesso como este, com dinheiro nas mãos se dirigia para a venda de Seu Nelo ( pai de Mi e de Zito) esquina da rua do Uruguai para comprar mantimentos que mandava para casa por seu filho e aproveitava para tomar umas cachaças ( chamava de gornopes) e virava um boêmio de marca maior, cantava com voz forte e entoava canções que gravei na memória de tanto ouvi-las. Trazia consigo um violão e se sentava a noitinha em um meio fio encostado num poste com luz . Os meninos da avenida iam chegando para assistir aquele artista improvisado e quando eu chegava próximo ia logo dando bronca reclamando porque ele tinha bebido demais e ele calmamente dizia Betinho, ele sempre tratava os meninos pelo diminutivo, tomei uns gornopes não nego, tive um dia muito complicado, mas prometo que não vou beber mais. Nós ameaçávamos de não mais ajuda-lo se ele continuasse bebendo os seus gornopes mas no íntimo queríamos resguarda-lo de sua saúde.Veja a sensibilidade do Seu Rodolfo com a letra de uma das músicas que sempre cantava, com voz firme e entoada acho que é anterior ao período do cantor Orlando Silva, e que gravei na memória e canto ainda hoje, sempre em momentos de recordação dos nossos tempos de infância felizes:” Meu grande Amigo”.

Escuta meu Grande Amigo
Preste atenção no que lhe digo
Vim despedir-me de Ti

Meu Amigo até agora
Não sabia que Eu ia embora
Por causa de uma mulher

Trocamos um abraço forte
Desejo-lhes boa sorte
Incontinenti partí

Para não cometer um erro
Preferí esse desterro
Com toda resignação

Para Ele a vida é bela
Hoje Ele vive com Ela
E Ela no meu coração.

Observo que tal qual a letra a música é muito bonita , adaptada para violão, do tipo romântica roedera.

Algum tempo depois Seu Rodolfo, conseguiu um terreno a beira mar numa colônia de pescadores em frente ao porto de Maceió e quando íamos para sua casa pele praia passávamos por debaixo do trapiche (nosso mini paraíso para pular e tomar banho de mar com a maré cheia). Desmontou seu barraco antigo do Salgadinho com ajuda de vários meninos da avenida e aproveitou para construir a nova morada. Conseguimos arrecadar dinheiro compramos tijolos , telhas e outros materiais de tal modo que a nova casa ficou muito melhor em todos os sentidos que o barraco anterior que era isolado sem qualquer vizinhança. Seu filho mais velho já trabalhava e tinha uma boa carroça e era um bom pedreiro que ajudou na construção da nova casa.

Várias noites após o café os meninos da avenida se reunião no banco da praça junto ao Coreto e partíamos para a casa do Seu Rodolfo pela praia e logo após passar por baixo do trapiche chegávamos nas proximidades e no escuro fazíamos o anúncio de nossas presenças então ele gritava de alegria : Santinha ou Santinha veja quem chegou ,os meninos, vamos entrar e sentar a mesa para tomar a sopa de peixe que era servida mesmo afirmando que já estávamos de barriga cheia , a nossa recusa não era aceita e tomávamos aquela sopa de cabeça de peixe.As nossas mães sempre mandavam por nós ,alimentos , dinheiro e roupas , deixando Seu Rodolfo e dona Santinha bastante felizes.

Nos anos 60 me transferi para Recife para cursar engenharia e nessa fase da vida as brincadeiras vão sendo paulatinamente substituídas pela responsabilidade profissional e a nossa juventude desabrocha em inúmeros sonhos, queremos resolver tudo, participar de tudo, resolver os problemas do mundo, cuidar dos amigos , da política, formar família e quando vamos dar conta de como estão nossos contemporâneos que ficaram somos surpreendidos pelas mudanças que o tempo realiza implacavelmente. Digo isso porque aconteceu comigo e senti como se culpado fosse quando um dia a Dona Santinha chegou no apartamento de minha mãe , na Pajuçara , bem velhinha, exatamente no dia que eu estava em Maceió e ao ir embora disse que Seu Rodolfo estava morando na ponta da terra , não andava mais , ficava na cama ou sentado e que eu fosse visitá-lo quando quizesse, o que não aconteceu. Infelizmente a vida é assim. Felizmente porque mantive na memória a sua imagem de quando era um bom artista.

Recife,4 de maio de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

LUIZ POLICARPO e SEU RODOLFO por CUCA

Os Meninos já escreveram sobre grande parte dos nossos companheiros daquela época, seu Fortes; o sorveteiro Primitivo, Grapete, Papa Mé, Paulo dentre outros ,mas esqueceram duas pessoas que a meu ver, participaram ativamente de nossa infância e adolescência, Luiz Policarpo e seu Rodolfo.

O Luiz foi veio de São Luis do Quitunde juntamente com sua irmã Marina. Ele ficou com dr. Homero, para brincar com seus filhos Geraldo e Maria Tereza. Ela com D. Creuza Braga para tomar conta de Guilherme, Ricardo e por fim do Felipe.

Com o falecimento do Geraldo e a ida de Maria Tereza e sua mãe para o Rio de Janeiro, Luiz foi ficando, como era costume da época passando a morar na casa nos fundos do quintal, sendo mantido pelo Dr. Homero. Ele também vendia leite ao pessoal da Avenida e adjacências, como também fazia bicos de toda natureza, como encanador, eletricista, consertava rádios etc.

Nunca casou nem namorou, tinha um coração grande e uma língua afiada, falava de todo mundo, porém, conversava muito com a turma e era muito querido, pois nos aconselhava, nos emprestava dinheiro para comprar cigarros e figurinhas, consertava nossas bicicletas, campos de botão, fazia arraias, piões e por aí vai. Contudo, por ser muito agitado, fofoqueiro contumaz e gago, a turma gozava muito dele, por isso tinha uma cisma com o Lelé e Socorrinho a quem chamava de neguinhos do GENERAL..

Conhecia todo mundo da região, sempre tendo historias para narrar e nós éramos seus ouvintes prediletos, inclusive porque um dos nossos pontos de encontro era na calçada de sua casa, no pé de oiti (que existe até hoje) onde programávamos nossas tripolias.

Tínhamos divergência quando roubávamos as mangas e sapotis do quintal, aproveitávamos sua saída de casa, mas ele sempre descobria e ficava uma fera e começava a gaguejar para satisfação de Lelé e Emílio.

O Luiz não tinha nenhum vício, sempre orientando pelos bons princípios, não acatava nossas traquinagens, porém, já no início de nossa adolescência, roubávamos as cadeiras de ferro da boate da Railda e, dizendo que era de uma tia do Clailton, vendíamos a ele para custear nossas farras.

Da turma, eu era que tinha mais paciência para ouvir suas histórias e queixas; todo dia passava horas em sua companhia e, não mangava de sua gagueira.

Ele tinha um coração imenso, ajudava a muita gente além da turma, como os irmãos do Tonho, o Paulo, suas irmãs e criou a Rita uma sobrinha sua, como se fosse mãe e pai, trocava fraudas, dava gogó, botava para dormir, estudar, responsabilizando-se até que a mesma casasse, mas ninguém poderia falar de sua deusa Maria Tereza, filha do dr. Homero, até sua grande decepção.

Tinha verdadeira adoração por ela, que no entanto não foi muito honesta com ele, pois após o falecimento do Dr. Homero, quando veio a Maceió para receber a herança de mais de cem casas, propriedades rurais, pontos comerciais dentre outras coisas, não deu a mínima para o pobre Luiz, deu-lhe um prazo de uma semana para desocupar a casa onde sempre morou.

Encontrei o Luiz aos prantos, pois além de sua decepção pela atitude de sua deusa, não tinha dinheiro ,nem para onde ir. Nessa época, se não me engano, estava em Recife juntamente com boa parte da turma, que preparávamos para vestibular. Indignado com o tratamento dado ao Luiz, fui pessoalmente enfrentar a fera e seu marido, que estavam na casa do falecido.

Como à época não existia direito trabalhista, foi uma conversa tensa e desagradável, pois cheguei a afirmar que o Luiz só sairia da casa para outra doada pela Maria Tereza, sob pena de vir juntamente com outros da turma a morar na casa do Luiz, e dizer a todos a atitude tacanha e mesquinha por ela tomada. Depois de alguns problemas e com a ajuda de Dr. Jair Galvão, ficou acertado a entrega de uma pequena casa no poço, onde o Luiz foi morar um mês após.

Em sua nova morada estive poucas vezes, até perder o contato por completo. Tive ciência pelo TONHO, que algum tempo depois, teve uma paralisia, sendo abandonado pela filha adotiva, contudo o Samuel, pessoa que ele tinha arranjado trabalho, seu velho amigo foi quem cuidou dele até seu falecimento.

Já o velho Rodoufo, que tinha um casebre no quintal dos Perrelli, onde morava com dona Santinha e seu filho Alexandre que era menor que a gente, outro ponto de nossos encontros, compactuava com nossas traquinagens, como roubo de cocos, cana, galinhas, patos e frutas de toda espécie.

Era o nosso esconderijo e, onde começamos a tomar umas e outras, pois o velho era um alcoólatra, mas tocava violão e contava histórias como ninguém, mas não tinha nem de perto o bom caráter do Luiz.

Lá aprendemos a fazer rede, tarrafa, gaiolas para goiamuns e tetéias para as memoráveis pescarias no riacho salgadinho e siris no início do cais do porto.

Era lá também que levávamos os doces e salgados que tirávamos dos assaltos aos cozinhados das meninas, o que acontecia com freqüência.

Foi no casebre que me embebedei pela primeira vez, aconteceu com a chegada na Avenida de uma prima do pessoal que morava no sobrado em frente a casa do Euricão, vinda do Recife, já escolada, todos começaram a tentar um namoro; surgiu a idéia de a convidar para uma serenata de violão na casa do Rodoufo, onde na base do vermute Cinzano, tira gosto de galinha e peixe, escutávamos a cantoria do velho; como era escuro, na base do candeeiro, não havia luz elétrica, podíamos tirar um sarrinho nas peniqueiras que eventualmente convidávamos e, especificamente nesse dia disputava com Emilio os favores da jovem, se não me falha a memória, IOLANDA. Terminou a dita serenata com todos de porre de Cinzano.

Sr. Rodoufo era um velho pescador que fez amizade com tio Nilo, tendo usufruído uma rede em sociedade, mas era muito sabido e nosso tio desfez a sociedade mas deixou a rede com ele que logo vendeu para tomar pinga. Então passou a comprar peixe dos outros pescadores e revender às nossas mães, contudo, tinha a habilidade de colocar areia no estomago dos pescados para pesarem mais.

O velho era malandra, mais foi importante em nosso aprendizado, onde tivemos bons e inesquecíveis momentos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

LIBIDINAGEM DOS MENINOS DA AVENIDA por Lelé

O MAR QUE FAVORECE O ONANISMO

A temperatura do mar da praia da Avenida, principalmente no verão, é de fazer inveja a muitas saunas. Então, favorável a um sabãozinho, e mamão com açúcar para os adeptos do onanismo. Esse costume no mar, é exclusividade nossa, que tem essa água caliente. Jamais seria praticado no sul maravilha, apesar da matéria prima por lá, que fica nas imediações do mar, ser bem mais voluptuosa. No sul não dá, a água do mar é fria pro cacete; Broxante... eles dão mergulho no mar, vapt-vupt, a gente toma banho de mar. Bate papo. Muita diferença...

Naquela época na praia da Avenida, quando a gente dava uma olhada giratória para a beira do mar, estavam lá eles, só se via a cabecinha do lado de fora da água. Ficavam concentrados em determinado lugar. A gente espiando a praia realçava logo uma gostosona naquela área. Os punheteiros eram bem conhecidos, até hoje continuam com os apelidos: fulano bronha, sicrano tara, beltrano punho de ouro...

Um dos mais conhecidos, o China (musculoso, gostava de brigar, fazia luta livre), certo dia saiu correndo da água, caiu em cima de uma menina deitada na praia, conhecida nossa, e ejaculou naquelas belíssimas pernas. Cabra safado... A turma estava jogando bola na praia, e imediatamente correu pra cima dele. O China levou a maior lixa. Porrada pra valer. Mesmo assim o sem vergonha gritava “ podem me matar, foi a maior gozada da minha vida”.


NADANDO PARA O CAIS DO PORTO

Vez em quando, íamos nadando pro cais, longe pro cacete, levando como segurança uma bóia grande, geralmente câmara de ar de trator. Eramos seguidos pelos mergulhos dos botos, ou golfinhos como chamam hoje. Diziam que eles salvavam, empurrando pra praia, jangadeiros que caiam na água e não sabiam nadar. Saíamos em grupo. As meninas, nossas amigas, também nos acompanhavam. Quando alguma boazuda estava no meio, a gente notava que alguns se afastavam pra praticar o ato solitário no mar adentro. A água transparente denunciava o calção no joelho. Sacanas...


PRIMEIRO ALUMBRAMENTO


ALUMBRAMENTO (Manuel Bandeira)

Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!

. . .
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar flor
Da água que o vento desapruma...
. . .
- Eu vi-a nua... toda nua!


Nosso primeiro alumbramento foi ver uma empregada, nuinha, tomando banho no quintal perto da casa do Emílio, que a gente só tinha acesso subindo no frondoso sapotizeiro atrás da casa. Na época, a gala mal tinha chegado na gente.

A festa acabou quando estávamos, Emilio, Cuca e eu, no galho mais alto da árvore, o único que dava vista para o bendito quintal, e repentinamente ele partiu. Menos pelo peso da gente, mais pelo movimento harmônico que fazíamos. Era mais uma estória que tínhamos que inventar em casa para justificar os arranhões que arranjamos por toda parte do corpo. Mas valeu...


PENIQUEIRA, GRAÇAS A DEUS

Ah... o nosso namoro com as meninos. Tempão depois do começo do namoro, nos era permitido apalpar os peitinhos. E olhe lá! E só. E nossa gala pra onde ia? Era o grande dilema dos meninos de nossa geração. Entrar no clube do China? Foi aí que se formaram verdadeiras armadas, como a de Brancaleone, para facilitar o carinho das empregadas domésticas. As peniqueiras.

Felizmente existiam as peniqueiras... Os meninos da praça Gonçalves Lêdo, que formavam o Palmeiras, tinha até uma armada com hierarquia militar, com graduação não por antiguidade, mas por mérito na batalha. Marechal era o sedutor mor das empregadinhas, o pegador. Na Avenida tínhamos os bambas. Paulo da Capa sempre esteve no pódio, bem acima dos outros.

Nós os menores penávamos. Conosco ficava a sobra. Mas tínhamos nossa estratégia para comer carnes mais saborosas. Como não dávamos muitas importâncias as meninas para namoro, convivíamos mais intensamente com as peniqueiras do que os amigos maiores, que só a procuravam na hora da sede. A gente sentava com as empregadas no banco exclusivo delas na Avenida, ouvíamos suas confidências e lamurias: "Tonho tá saindo com a Zefinha!!!", e nesse papel de pequenos sacerdotes aproveitávamos para faturar o nosso objetivo. Assim nosso sêmen era eventualmente expelido... viva as peniqueiras!


MARCAR CARTÃO

Esse é um termo genuinamente alagoano. Surgiu do fato que os pais marcavam em cima os namorados, mal deixava pegar nas mãos das meninas. Eles então esperavam as festas populares de fim de ano, as natalinas, onde eram montadas roda gigante e barquinhos, com direito a apresentação do nosso folclore tão rico, Chegança, Pastoril, Reisado, Baianas, e que nunca deixavam de ter espalhadas varias barracas de bingo. Aí era onde o namorado aproveitava. Mesmo na vista conivente dos pais, a menina sentava na banca da barraca, pedia os cartões de bingo, e o namorado ficava em pé, por trás da menina, marcando o seu cartão debruçado nela. Era a rara oportunidade de encostar seu membro oculto no corpo da amada. Marcar cartão foi então uma grande tática dos maloqueiros para conhecer melhor sua namorada.

O termo ficou abrangente. Frequentemente, com turma reunida, sentada num banco da Avenida, alguém dava a idéia "vamos marcar cartão, tá na hora!". Tratava-se de subir num ônibus cheio, à tardinha, e procurar uma dona que topasse a esfrega. Quando assisti A Dama do Lotação lembrei-me daqueles tempos. Com a prosperidade de Pajuçara foi inaugurada uma linha, Bebedouro-Pajuçara, que passava pela Avenida, com ônibus novíssimos tipo Atocar, que quando freava dava aquela balançada, arrumando os que ficavam em pé. Eram melhores freqüentados, pelo menos na parte das donas que topavam o sabão, geralmente comerciaria e casada. Quando chegava no ponto de ônibus delas, fechavam a cara e desciam rapidamente, como nada tivesse acontecido. O troféu dos meninos era quando descia do ônibus na Avenida e mostrava a calça esporrada. A glória!


OS MENINOS DA AVENIDA E AS MENINAS DO MOSSORÓ

A praia do Trapiche, pertinho da Avenida, era aonde na maré cheia corríamos para os velhos trapiches desativados, para pular de cima deles na água do mar, fazendo-os de trampolim. Eles já foram armazéns junto do cais para guardar gêneros de embarque. Ali também ficava a colônia dos pescadores, onde as jangadas saíam em busca dos pescados. E paralelo a praia, a rua dos principais puteiros de Maceió. Alhambra, Tabaris, Night-and-Day, São Jorge...

As damas das boates iam curtir a ressaca à tarde na praia do Trapiche. Os meninos da Avenida que estudavam pela manhã davam sempre uma esticada por lá na tardinha para conversar com elas. A amizade era sólida, elas gostavam da atenção dos pivetes, tomavam banho de mar juntos, mas pelo dia claro, elas não deixavam os meninos se aproximarem, impunham respeito. Porém às vezes, como presente pela amizade, depois do por do sol, rolava dentro da água, ainda caliente, algo sublime para os meninos. Se descobriam com as especialistas. Chegavam em casa com um sorriso na cara, e ouviam: “maloqueiro, uma hora desta, o jantar na mesa, e você com essa cara de safado!”. Pior que era.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MOLECAGENS DE MARDEM MELÉ por Lelé



MATINÉ NO PLAZA

Sábado à tarde, Cuíca, Melé e eu fomos para o Plaza ver um faroeste. A seção tava meio vazia, a negrada concentrada no centro do salão. No meio do filme, Melé se levanta, e vai até as cadeiras da frente, olha pra baixo, demora um pouco e volta pra junto da gente. Um curioso foi lá conferir que o Melé espiou. Na mesma hora que baixou a cabeça para olhar botou um lenço no nariz. Mardem, educadamente, para não incomodar os vizinhos de cadeira foi peidar na frente do salão onde estava vazio. Nós três caímos na gaitada...

O CARRO DO DR. ADAIL

Pouquíssima pessoa tinha carro na Avenida, um deles era Dr. Adail, um tremendo munheca de pau. Em frente a casa dele havia uma espécie de tonel na rua. Ele pediu a Mardem Melé, que passava na hora, para lhe orientar no acostamento. Mardem na sua gagueira começou a berrar “ ven-ven-ven-ven...” , aí, TIBUM, o carro derrubou o tonel, e amassou toda a traseira. Imediatamente Melé gritou sem gaguejar: “Aí tá bom!!!” , e saiu na maior carreira...

A CHAVE DE SÃO PEDRO

Melé achou uma chave de portão na calçada da Avenida, daquelas chaves que São Pedro carrega para guardar a porta do céu. Aí ele foi para beira do calçamento e ficou parando os carros (a freqüência não era grande) perguntando se o motorista não tinha perdido aquela chave.( Tô ficando broco - a tempo - essa história aconteceu com Mozart Cintra e não com Melé. Dois maloqueiros de primeira linhagem!)

APRESENTAÇÃO AO FRAZÃO

O mago Edson Frazão morava no Rio, mas a fama da gagueira e molecagem de Melé já andava por lá. Frazão veio à Maceió, e encontrou com a gente no bar do Chopp. Apresento ele ao Melé. Mardem estende a mão e começa a gaguejar: “ mui-mui-mui...”, aí o mago dá maior gargalhada. Melé berra imediatamente “ ta-tá-tá se abrindo a pri-primeira vista, porra!”.

QUILOWATT

Na praia da Avenida geralmente sentávamos em roda para papear com as meninas, debaixo de sombrinhas de praia. Numa roda dessa, Mardem tentava dizer alguma coisa, mas com a dificuldade que tinha pra falar, não saía a voz, e com o papo animado ninguém ficou esperando sair a fala de Melé. De repente sai um grito dele: “ Bi-Bi-Biriba, se-seus qui-quilowatts estão de fora”. Biriba olhou pra baixo, viu seus colhões à vista das meninas, e vermelho de vergonha (naquela época existia isso), levantou-se e saiu correndo...

TRAVALIANA

Na época de São João, Mardem, ainda bem criança, andava com os bolsos cheio de travalianas, aquelas bombas que estouravam quando jogávamos ela na parede, e faziam estremecer os ares. Era um estrondo da gota. No começo da noite, as donas de casa ficavam tomando sereno sentadas em cadeiras de balanço na calçada em todas as ruas da região. Melé não perdoava, percorria as ruas onde não era conhecido (foi logo quando chegou na Avenida) e jogava as travalianas perto das cadeiras das velhinhas. Ele era desprovido totalmente da noção de perigo que podia causar tal insanidade. E dizem que menino não tem maldade...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

FOTOS ENCONTRO 4-2-2011

Encontro no Picuí de Seu Pádua: COMEMORAÇÃO 70 ANOS DE PAULO.
PRESENTES: CUCA, TONHO, CARLITO, EURICO, QUICO , PAULO, LELÉ, SERGIO NOBRE E O retardatário MANÉ RAMALHO

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

JARAGUÁ por Carlito lima





Jaraguá, porto e mar. A enseada um ancoradouro natural, onde tudo começou. Navios fundeados desembarcavam mercadorias, aventureiros, escravos, comerciantes, marinheiros. A economia da província plantou-se naquele bairro de belos casarões avarandados com balaustradas de ferro em desenhos arabescos, construídos para moradia no andar superior e comércio no térreo. Marinheiros vindos de todos os lugares do mundo movimentaram o local, os arredores do porto se transformaram em bares e biroscas. As famílias se mudaram para outros bairros, os casarões foram transformados em boates e bordéis, onde as serviçais do amor moraram, trabalharam por mais de 70 anos, conservando, mesmo involuntariamente, aquele acervo arquitetônico e histórico, hoje preservado, transformado em área cultural da cidade.

Jaraguá de minha infância querida que os anos não trazem mais. Menino, aprendi a andar nas areias duras da praia da Avenida, aprendi a nadar mergulhando no mar brando, cor indefinida entre azul e verde. Nas noites frescas a meninada tomava conta do calçadão da Avenida da Paz, corria no rouba – bandeira, empurrava no jogo da gata parida, patins e bicicletas faziam a festa. Às 10 da noite a criançada se recolhia, avenida vazia, apenas alguns homens passavam em busca de aventuras nas boates, nos casarões.

Adolescência seminua, pelada de futebol, pesca no Riacho Salgadinho, saltos livres da ponte junto ao belíssimo Hotel Atlântico. À noite os gatos pardos em busca de aventuras depois do namoro comportado na porta da casa. Da namorada apenas beijos roubados ou abraços descuidados. Puberdade, juventude. Excitava a imaginação a fantasiar os instintos. Curiosidade enorme em conhecer, em olhar as boates, os cabarés de chamativas fachadas coloridas em gás néon: Tabaris, Nigth and Day, Alhambra, São Jorge, nós curiosos meninos ouvíamos histórias, contadas pelos mais velhos, de prostitutas bonitas importadas da Europa, França e Bahia. Até que um dia os meninos da Avenida subiram as escadas dos casarões.

Jaraguá dos divertidos roubos de coco nos sítios sem medo da espingarda de sal do vigia, da feira aos sábados, Praça Rayol cheia de poesia de Murilo Mendes. Jaraguá da arborizada Praça 13 de Maio que um dia foi violentada construindo o prédio do SESC, um órgão tão rico, surrupiou da comunidade uma preciosa área verde, a Praça 13 de Maio. Jaraguá dos carnavais saudosos. Sábado de Zé Pereira pela manhã começavam as visitas aos vizinhos tomando laco-paco de maracujá, à noite o grande baile do Jaraguá Tênis Clube iniciava o carnaval de clubes, feliz burguesia. Tênis Clube, onde se jogava também um bom basquete, voleibol, entretanto, predominava o tênis, o mais charmoso dos esportes. Dei minhas raquetadas nas quadras do clube. Assisti gente boa jogar, Zé Elias, Daniel Berard, Maria Esther de saiote branco.

Certo dia, final dos anos 60, a esposa de grande autoridade ao passar, às seis da matina, pelo corredor de boates, surpreendeu um boêmio retardatário fazendo xixi no meio-fio. Em casa exigiu, o marido deu prazo de 60 dias, transferência de todas as boates de Jaraguá para o Canaã. A determinação foi cumprida. Sem os cabarés começaram as derrubadas insanas dos antigos casarões, construindo horríveis prédios modernos. Um grupo de artistas e intelectuais chamou a atenção até que o bairro de Jaraguá foi tombado, ninguém pode mais derrubar qualquer prédio. Em 1991 durante a visita do presidente Fernando Collor a Alagoas, a Associação dos Amigos da Avenida da Paz pediu ao presidente a despoluição do Salgadinho e a restauração do bairro de Jaraguá. Dois meses depois, os projetos estavam prontos, entretanto, a recuperação do bairro foi efetuada anos depois pelos prefeitos Ronaldo e Kátia.

O mundo mudou, não sou saudosista, gosto da vida atual, embora o passado tenha sido mais romântico, mais charmoso. Desde que me tornei escritor aos 62 anos tenho escrito sobre meu bairro. Contar histórias de minha terra tornou-se profissão.

Por todo relato acima, pela luta, pela querência ao bairro, o presidente da Liga dos Blocos Carnavalescos, Edberto Ticianelli, em uma cerimônia festiva e bem humorada nas escadarias da Associação Comercial, deu-me o título de Duque de Jaraguá, o qual uso em apodo ao meu nome nos escritos.

No próximo sábado, 5 de fevereiro, o Jaraguá Tênis Clube realizará o tradicional baile pré carnavalesco Vermelho e Preto, o tema, uma homenagem à Jaraguá, suas máscaras, seus bordéis, e também ao Duque de Jaraguá. Essa ousadia cultural da Diretoria do Tênis, em contar a história do bairro boêmio num baile de carnaval, certamente ficará gravada na história de nossa querida Maceió.
(Crônica - Gazeta de Alagoas - 30-jan-2011)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

PAULO GORDO SETENTÃO por Lelé



Hoje, homenagem dos Meninos da Avenida ao querido amigo Paulo Prazeres Ramalho, o ex-gordo, que hoje completa setenta anos ...
(82) 8818.4889
Comemoraremos essa data na sexta-feira, dia 4 de fevereiro no Picuí do seu Pádua.