O fato
aconteceu na praia da Avenida da Paz. Apareceu em Maceió um português fazendo
demonstrações aéreas com um avião teco-teco. Seu proprietário fazia
apresentações em todas as cidades que passava, vivia desse biscate.
O avião de nome Garoto decolava e pousava
na praia da Avenida durante a maré baixa, perto do Sobral, local mais deserto.
Suas apresentações eram piruetas, parafusos, folhas secas e outras acrobacias.
Como não podia cobrar dos expectadores que
ficavam na praia observando, ele cobrava de quem se arriscava a dar uma voada
com ele durante suas peripécias aéreas. Um de cada vez porque só havia um lugar
além do piloto. Cada vôo de cinco minutos, o português cobrava cinco mil réis.
Numa tarde bonita e ensolarada de verão, o
português fazia magníficas exibições nos céus da praia da Avenida. O povo
assistindo o espetáculo vibrava com o arrojo do piloto, uma maravilha de
exibição.
Entre os candidatos ao vôo surgiu Seu
Portela, figura altamente conhecida na cidade, onde tinha uma loja no centro,
na Rua do Comércio.
Eram aproximadamente quatro da tarde quando
chegou sua vez. O português colocou Seu Portela na poltrona, prendeu-o com o
cinto de segurança, deu-lhe todas as recomendações e assumiu o comando do
Garoto.
Taxiou pela beira da praia de areia dura e
extensa, tomou velocidade e decolou em direção ao mar. Rapidamente atingiu a
altitude necessária e iniciou as acrobacias aéreas.
Não demorou muito. Após um arrojado
“looping”, deu sinal que estava retornando à praia. Os inúmeros expectadores
acharam estranho. Por quê em tão pouco tempo o Garoto retornava ao solo? Seria
alguma complicação mecânica? Alguma pane? O teco-teco estava a perigo? Eram as
perguntas que faziam entre eles. Formou-se maior expectativa.
O avião pousou abruptamente e de repente o
piloto desembarcou, deixando seu Portela na aeronave.
O lusitano gritava em direção ao povaréu
apreensivo que estava plantado na Avenida, perguntava se alguém dispunha de uma
capa para emprestar-lhe, pois havia uma situação de emergência.
Quem teria, numa tarde maceioense
ensolarada de verão, na beira da praia, uma capa para emprestar a quem quer que
seja?
Com a resposta negativa, o português buscou
uma alternativa e conseguiu com um pescador que morava em uma casa de taipa e
palha ali próxima, um pedaço de pano, ou melhor, uma rota vela de jangada.
Com o trapo na mão o piloto retornou
correndo à aeronave, ajudou o seu Portela a desembarcar e envolveu-o com o
velho molambo, levando-o para um local onde conseguiu meios para que o levassem
rapidamente para sua residência. Nessa altura a moçada perguntava o que teria
ocorrido.
Acontece que por onde seu Portela passou,
entre o avião até a Avenida, deixou um rastro líquido e escuro na areia branca
da praia, juntamente com uma catinga, com o fedor de merda, insuportável para
quem estava mais próximo.
Sem esconder, o nobre piloto português
contou a história: Assim que levantaram vôo, o seu Portela num grito pediu para
descer. Como o piloto já estava preparado para o “looping”, não atendeu aos
pedidos e deu aquelas voltas com o teco-teco se curvando no ar, enquanto o
acompanhante gritava de medo. Só depois do português ouvir seu Portela gritar
que estava todo cagado, ele resolveu aterrizar.
Foi uma gargalhada geral, os comentários e
as galhofas espalharam-se entre as pessoas presentes que estavam assistindo ao
espetáculo e assim foi se espalhando na Rua do Comércio, em Jaraguá, no Farol,
na Ponta Grossa. À noite Maceió todo já sabia da cagada do seu Portela no
avião.
Por vários dias que se seguiram o comentário
era o mesmo, nas escolas, nos bares, nos lares, na zona, nas barbearias, o
assunto era a aventura de seu Portela no vôo do Garoto.
Os
estudantes assumiram a chacota, passavam em
frente da lojinha de seu Portela na Rua do Comércio, se divertiam
cantando uma modinha que um jovem compôs em alusão a desventura aérea do
comerciante. Aliás, muito tocada no carnaval daquele ano:
“Marchinha do seu Portela”
Eu fui alegre
Passear de
avião
Para mostrar
Que sou cabra
valentão
Mas vejam só,
Que eu não
posso andar voando
He
He............
Estou me
cagando, estou me cagando.
Portela não
seja frouxo,
Não coma mais
sururu
Quando subir
no Garoto
Arroche as pregas
do........”bolso”.
Seu Portela tinha bom humor e levou também
na gozação. Se importasse com o acontecido, até hoje, em seu túmulo o povo
estaria gozando o seu inesquecível e histórico vôo nos céus da Avenida da Paz.
Um comentário:
Nada de anonimato...
Sou Adelaide Reys, amiga dia seus irmãos Betuca e Carlito.
Esses Meninos da Avenida eram e muitos ainda o são sensacionais!
Gostei da saga do Sr.Portela e me diverti muito.
Parabéns Lelé.
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