terça-feira, 19 de março de 2013

MEUS QUERIDOS TIOS DA FAMÍLIA NONÔ por Cuca



Outras pessoas que pela convivência contribuíram amiúde, para meu desenvolvimento cultural e de caráter, foram sem dúvida meus tios. Entretanto, hoje me sinto meio perdido, deveras confuso, pela drástica mudança de valores e de conceitos da atual geração.

Nos anos passados, havia um norte a ser almejado, sempre se levando em conta às qualidades naturais da honestidade, da dignidade, da coragem, da amizade familiar, da solidariedade, da hierarquia, do conhecimento e principalmente do respeito às autoridades e aos mais idosos.
A geração atual tem como primórdios o consumismo, a aparência, o egoísmo exacerbado, a covardia, a corrupção e o desrespeito amplo e irrestrito.

Atualmente, a ingerência do Estado sobre às pessoas, através do famigerado “direitos humanos “, admite que os filhos denunciem seus pais, caso sejam castigados por eles; ao invés das vitimas, os bandidos são protegidos pelo Estado, inclusive , financeiramente. O desmando e incentivo aos desonestos é explicito, o mesmo ocorrendo com as minorias; ser viado é moda e a palavra negro é preconceito, punida como crime inafiançável. Os medicamentos são fraudados, já não existe o compromisso da palavra dada, os contratos desrespeitados sem uma penalidade compatível, os crimes são praticados em tocaia, protegidos por mascaras e covardia; nosso país esta em coma moral.

Mas, voltando às boas lembranças, desejo tornar expresso o meu sentimento de gratidão a esses entes que ajudaram sobremaneira minha vida.

Inicio, forçando a memória a expor, minha ligação com tio ALOYSIO UBALDO DE SILVA NONÔ, que tinha como marca, a determinação e fidelidade. Iniciou sua carreira como funcionário do Banco do Brasil, quando gerente em Palmeira dos Indios, face às amplas e sinceras amizades, projetou-se na política, elegendo-se deputado federal por varias legislaturas , até ser cassado pelo regime militar, de modo absurdo; pois o causador do fato foi o coronel Adalto, que desejava candidatar-se e para facilitar, afastou todos os políticos prestigiados de Alagoas; mas, o tiro saiu pela culatra, tendo o referido coronel sido assassinado no quartel, antes de candidatar-se. Tio Aloysio tinha uma memória privilegiada, sabia a arvore genealógica das principais famílias alagoanas; como também às datas de aniversario de todos os familiares e amigos, que fazia questão de ligar parabenizando.

Quando pequeno, adorava pedir-lhe a benção, pois toda vez, recebia uma nota novinha em folha, que ele costumava trazer consigo; era outra marca característica de sua pessoa.

Com o passar dos anos, como comecei a dirigir cedo e bem; acompanhei-o na sua segunda eleição como seu motorista; suas viagens eram incríveis, pois não tinha planejamento, saiamos e chegávamos nas casas de seus compadres e apoiadores alta noite ou pela madrugada; nessas viagens fiz amizades duradouras e, convivi in loco com a política, observando seus meandros, fato que me nortearam a jamais pertencer a qualquer partido político ou sequer participar ativamente de política, muito embora tenha havido imensas possibilidades.

A partir dessa eleição, passamos a ter um convívio efetivo; tinha umas manias interessantes, seu cabelo somente era cortado por um barbeiro de Palmeira dos Indios, adorava anotar tudo em suas cadernetas, não usava cuecas, gostava limpeza em seus mínimos detalhes, a gravata borboleta era uma marca registrada, chamava todos pelo nome, sabia conservar como ninguém suas velhas e queridas amizades, tinha pavor a traição, mas sabia perdoar; era um péssimo motorista; adorava jogar baralho, as vezes ia para a branca de Atalaia e passávamos a noite jogando de testa, não comprava cigarros mais jogando fumava muito, sempre cerrando dos parceiros. Participou de nosso jogo semanal, que até hoje acontece; ocorreu uma vez que teve um desmaio, sendo segurado pelo Vergette por algum tempo, neste ínterim, liguei para Jamille e Bilau, ficando de levá-lo para o hospital; mas, de súbito, voltou a si e sempre muito teimoso, continuou o jogo, não aceitando nossa sugestão . Dentre seus vários amigos, considerava Madeiro como seu irmão, o que era recíproco, estando seu quarto intocado até hoje na fazenda Carmelo em Jacaré dos Homens.

Foi quem me conseguiu o primeiro emprego no extinto IPASE, me apoiando sempre em minhas atitudes e conselheiro em todas as horas. Quando tive um escritório em Recife, sempre viajávamos juntos, mas para não perturbar ia no acento traseiro.

Sua família exemplar, adorava sua NINI e seus filhos José Thomás e Hercílio Neto, o afamado Biláu; Tia Eunice era a única pessoa que aventurava-se a andar com ele dirigindo. Na política, destacou-se pela ajuda aos municípios sertanejos, a ponte de Batalha, créditos no Banco do Brasil etc,  etc; mas ficou conhecido em Brasília, por ter queimado os móveis de seu apartamento funcional, ato noticiado na imprensa nacional; como Presidente do Ipaseal, construiu o prédio sede deixando sempre sua marca de bom gestor; era eleitor assíduo de Mano.

Nunca foi um bom caçador, mais adorava participar da folia; tinha uma excelente espingarda Santa Etiene; tendo morto um veado vermelho na Fazenda Riachão de seu compadre Mainha, como também marrecos na várzea da Boa Cica, em Penedo; fizemos varias caçadas juntos.

Depois de sua operação de próstata, quando precisou ficar na UTI da Santa Casa, aconteceu um fato inédito, pois adorou o barulhinho ti ti ti, era incrível o meu tio. Aposentado, passou a ser o motorista e acompanhante de Tia Eunice; porém, após varias batidas, teve de andar com um motorista, o que o deixou muito cabreiro e chateado.

Com a volta de seu câncer, faleceu na ocasião adequada, pois seria difícil sua estada em uma cama, face a sua agitação característica.

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