quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

OS AFAZERES DOS MENINOS DA AVENIDA DA PAZ por Paulo Ramalho

Realmente naquela época a situação se identificava com o nome da avenida, Avenida da Paz.
A nossa principal indumentária era o calção, não existia bermuda, com camisa ou sem e os pés descalços, também não existia sandália japonesa.
Éramos verdadeiramente donos do pedaço.
Fazíamos ratoeiras com latas vazias de óleo comestível para pegar caranguejos nas margens do Riacho Salgadinho, riacho e não esgoto a céu aberto.
Construíamos jangada com troncos de bananeira para passear e pescar no riacho.
Jogávamos futebol no campo da Sinhá, próximo à Praça Sinimbu, pois éramos amigos da turma de lá, jogávamos também em um terreno baldio atrás da casa dos Ribeiro Jardim, no quintal da casa do professor Hélio Gazzaneo, pai de Clarissa, Tereza, Lula e Lélo, que foram morar no Rio de Janeiro, e atrás da casa do General Mário Lima.
Seu genro Capitão João Carlos Castelo Branco, casado com Rosita, sua filha mais velha, quando estava em Maceió, participava de nossas peladas, e no final fazíamos fila para distribuição de cigarros, feita pelo capitão.
Jogávamos pinhão, ximbra, depois chamada bola de gude, soltávamos arraia, depois chamada de papagaio, entre muitas outras coisas.
As arraias eram fabricadas por nós, às vezes eu até vendia, para apurar uns trocados.
As ximbras, quando ganhávamos em grande quantidade, também vendíamos, não sei se Carlito se lembra, certa vez, fizemos uma sociedade e o apurado das vendas nós dividíamos.
Mas a nossa intimidade mesmo era com o mar, a praia de areia alva, onde jogamos futebol na areia molhada, porque era dura, fazíamos trincheiras para guerrear com bola feita de areia molhada, endurecida com areia seca.
Como disse, era no mar que pas
sávamos grande parte de nosso tempo.
Fazíamos de tudo, até aposta para ver quem tirava areia na parte mais funda, sem medo algum da distância da praia, de peixe, ou qualquer outra coisa.

Íamos entrando e mergulhando, quando voltávamos à superfície levantávamos a mão cheia de areia, e cada vez mais se distanciando da praia.
Quando estávamos bem distante, ao mergulhar, o fôlego ia chegando no limite, avistando a areia no fundo, não tínhamos outra alternativa, tinha que forçar, não só para pegar a areia, mas também com os pés na arreia impulsionar a volta, senão era impossível, sem o impulso, voltar a superfície, tal era a profundidade.
Éramos destemidos, e nossa intimidade com o mar, como já disse, era grande.
Nunca aconteceu acidente fatal com qualquer um de nós, os que já partiram não foi em conseqüência de nossa brincadeiras.
Por isso volto a afirmar, tivemos uma infância e uma juventude, que só temos que dá graças a Deus.
Eita tempo bom.
Quantos que não moravam lá, mas sempre que possível estavam conosco, Walter Lima, Marú, primos de Carlito, Roberto Aranha, que moravam na Rua da Alegria; Kleber Mendonça, que morava na rua Nova; Geonaldo Arroxelas, primo de Roberto e morava no Poço; Arthur Justo que morava na rua Comendador Palmeira, em cima da Ladeira do Brito, e tantos outros.
Quanta saudade e quantas boas recordações.
Amigos irmãos avenidenses, meninos da avenida, nós fomos e somos privilegiados.

Abraços.


Paulo Ramalho – Membro efetivo dos Meninos da Avenida Novembro/09

Um comentário:

Lula Castello Branco disse...

Lelé, querido tio, que maravilha de blog ! Obrigado. Essa galera viveu uma época encantada, uma cidade linda, poesia e paz. Felicidade plena permanente, boemia intelectual. Aqui vejo pedaços de mim por todos os lados. Fiquei emocionado quando, pesquisando no google, sobre a fundação da Associação Comercial de Maceió, dei de cara com seu blog. Que bom. É claro que já copiei algumas fotos. Hummm, a Vovó Melinha na janela da porta ! Linda. No entorno uma arquitetura caprichosa, desenhada, nas fachadas. Mando aqui um abraço - do Nenêm da Rosita. - a todos esses super-meninos que habitaram a Cidade em seu auge do glamour. Valeu.