sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

FILHO DO GENERAL COM NEGA ODETE por Paulo Ramalho

Lá pelos anos 57, quando éramos meninos livres e felizes da avenida, nos períodos de férias, a nossa vida era durante as manhãs, jogar futebol na praia, a tarde fazer trincheiras para guerrear com bolas feitas de areia molhada e areia seca para endurecer, ou então jogar ximbra, soltar arraia, hoje, bola de gude e papagaio, ou então jogar pinhão, o que fazer não faltava.

À noite, o tradicional encontro no banco que ficava defronte onde hoje é a Rua Emílio Cardoso, bem próximo ao coreto, depois ou saiamos juntos, ou cada um tomava o seu destino, ou ainda, permanecíamos até a hora de voltar para casa.

Certa noite de Ano Novo, após a confraternização em família, fomos nos encontrar no tradicional banco. Não me recordo quem chegou com uma garrafa de uísque.

- Como vamos beber, sem copo e sem gelo?

Foi quando avistamos um carro de raspadinha que se aproximava. Chamamos o rapaz, negociamos a barra de gelo, na condição de fornecer os copos e ficar até terminar o uísque.

É claro que somente efetuamos o pagamento combinado, no final
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Nessa época, o Lele pegou um bronze tão violento, todas as manhãs na praia, que ganhou um apelido, que o acompanha até hoje, Nego Lele. (Negro)


Todas as vezes que me encontrava com ele, dizia:

- Neguinho você é filho do General com a Nega Odete.

Nega Odete era uma empregada doméstica da pá virada, trabalhava na casa de Marcos Montenegro, que morava na esquina ao lado da então Faculdade de Engenharia, na Praça Sinimbu.

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A tal Nega Odete, ensinou a arte e ofício, a muitas gerações de Maceió, e o Marcos veio a ser meu colega no Colégio Diocesano.
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Eu não perdoava, todas as vezes que avistava o neguinho, dizia:

-Neguinho você é filho do General com a Nega Odete.

Certo dia, terminei o almoço, e me dirigi a casa do General, a fim de encontrar com Lele, Carlito seu irmão, para irmos a esquina próxima a casa deles, onde tradicionalmente saboreávamos um cigarrinho e pilheriávamos.

Quando chequei ao terraço onde a família almoçava, todos estavam sentados à mesa almoçando, então o sem-vergonha do neguinho veio à desforra:

- Paulinho, diga agora que sou filho do General com a Nega Odete.

Infarto não podia ter, porque não tinha idade para tal, nem sabíamos naquela época da existência desse mal.

Dei meia volta, e sai como uma bala, passando um bom tempo sem lá voltar.
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Mas logo o fato foi esquecido e voltei a freqüentar a casa, porque nós éramos tratados pelas mães de nossos amigos, como se filhos fossemos.

Infância que tenho certeza, poucos tiveram.

Ainda somos amigos irmãos, e nos encontramos toda primeira quinta-feira do mês, para almoçar juntos no Restaurante Picuí, esquina com a Rua Emílio Cardoso, primeiro da turma a partir para outra vida.

Era ali defronte que ficava o banco, principal ponto de encontro e início da noite.

Eita tempo Bom!

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