sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

PEGADOR DE DINHEIRO por Paulo Ramalho

Não tenho certeza quanto à data, mas acredito que foi em 1957, no dia 21 de setembro, quando Quico completou 15 anos.

Estávamos em nossa casa, na Avenida da Paz, 1.200, quando Manoel nosso irmão entregou um presente ao aniversariante.

Estava em nossa companhia, o inesquecível e saudoso Mele.

Ao abrir o presente, Quico verificou que era um pegador de dinheiro, muito utilizado naquela época, bonito, todo dourado e com um escudo em couro.

Quando Mele viu o que era, disse: pre...pre presente sem utilidade.

Por que Mele, perguntou Manoel ?

Por...por porque ele não tem dinheiro.

Foi uma risada geral.

Quico desprezou o presente, acredito que pelo motivo ressaltado por Mele, guardei-o e somente devolvi ano passado, relatando o ocorrido, pois ele não mais lembrava.

O Mele tem histórias fantásticas, apesar de não ter sido coadjuvante, soube do fato a seguir.

No final da antiga linha do bonde, na ponta da terra, havia um gramado, por traz do Iate Clube Pajuçara, onde todo final de ano havia um acirrado pastoril, barracas vendendo comida, etc.

Tanto as dançarinas, como as vendedoras das barracas, eram meninas da sociedade alagoana.

Numa dessas festas, estavam Mele e Biriba (Lisandro Jardim).

Determinado momento, apertou a fome, e eles resolveram fazer uma lanche, dirigiram-se a uma das barracas, que entre outras coisas, vendia galinha assada.

Quando estavam chegando próximo à barraca, o Mele contando uma história ao Biriba, como era gago, tropeçou em algumas palavras, as meninas da barraca começaram a rir.

O Mele não gostou, fechou a cara, Biriba que conhecia a irreverência do amigo, sumiu.

Mele se aproximou da barraca e disse, que...que quero um sobre cu, as meninas baixaram as cabeças e dirigiram-se ao fundo da barraca.

Mele não satisfeito disse: um...um...um bem gordinho viu dona.
Fim trágico, teve nosso amigo Mele, tão inteligente, tão brincalhão, tão alegre, tão amigo, tão moleque, sentado em uma cadeira, encostou o cano do rifle embaixo do queixo e acionou o gatilho.

No meio a tantas alegrias, também temos tristezas.

Faz parte da vida.


Dezembro de 2007.

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