Os súditos têm a impressão que o rei não morre. E quando isto acontece, surge um desapontamento geral, embora o reinado continue a existir pelo sistema de direito em que se apóia a coroa e que oferecer oportunidade para o sucessor ocupar o trono.
Aos poucos tudo vai se adaptando dentro da paisagem. Quase sempre o sistema é parlamentarista, e o rei vivo, reina, mas não governa.
Por duas vezes, num regime tradicionalmente republicano democrático, o mundo sofreu o impacto da renúncia de cidadão um presidente. Quando ele morreu, simples cidadão da França, desapareceu também um sistema de governo que um só Charles De Gaulle sabia impor para tirar sua pátria dos abismos fabricados pela ambição dos aventureiros.
Era um rei sem coroa. Um rei que criou o “Degaulismo”, que é também um sistema de direito constitucional fortalecendo o Poder Executivo, para evitar crises e anarquia.
Existem muitos reis sem coroa. Reis que levaram e ainda levam alegria para o povo. Reis como Maurício Chevalier, como Charles Chaplin, como o atleta de pernas tortas, Garrincha, hoje envolto nas suas angústias, nos seus complexos. Rei como Pelé.
Pois Alagoas perdeu um rei. Um rei sem coroa. Mas um rei popular. Um rei que nos carnavais, com sua alegria, comandava multidões democráticas. E cantava, e dançava, e sorria, com aquela mesma disposição que dirigia os “itas”, e os “aras” da Companhia de Navegação Costeira, organização que representou tantos anos em nossa terra e que o tornava um LEADER, um CICERONE, um relações públicas, como se diz hoje, do cais do porto de Maceió.
Morreu Luiz Ramalho de Castro. A cidade está crescendo. Espalhando-se pelos tabuleiros, pelos mangues, pelas praias. Subindo verticalmente através de seus arranha-céus.
Mas, com a morte de Luiz Ramalho de Castro, Maceió ficou menor, pois a grandeza da alma desse homem que partiu não tinha limites.
Morreu um rei que era um bom pai, bom esposo, bom amigo. Tinha que morrer, porque chegou seu dia, porque diante da morte até um rei bondoso capitula.
Para o povo, todavia, Luiz Ramalho ficará na lembrança de um toque de clarim quando fevereiro chegar. Porque será carnaval, uma festa que encherá de recordações os que amavam você, Luiz. Você que era bem um símbolo de bondade num mundo de traições, de inveja e de terroristas covardes que espalham a morte.
JORNAL DE ALAGOAS – SÁBADO, 15 de abril de 1972
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