Numa dessas sextas-feiras mágicas, exatamente nesta primeira do mês em curso, convidado, reencontrei-me, em almoço formal, com vários de meus amigos e companheiros da praia da avenida, mais precisamente da que fora a mais bela e incomparável de todas, onde nos exercitávamos através da prática de variados esportes, e nos preparávamos para a vida em sociedade. Alguns amores, também, ali, se iniciaram... Um deles, pelo menos, pleno e imorredouro, eu bem o conheço... A bucólica praia da avenida, de águas límpidas e areias nevadas, cintilantemente alvas, lamentavelmente, foi vilipendiada de modo irreversível, vítima de uma improvisada urbanização, irresponsável e predadora. Objetivamente, pela irracional mudança do curso do Riacho Salgadinho que, antes, desaguava na então afastada praia do sobral.
Compareceu a esse memorável encontro, pouco mais de uma dezena de avenidenses, com destaque para, dentre outros, os irmãos Carlito e Lelé Lima, Paulinho e Quico Ramalho, além de Valdo Wanderley, Cuca Lima, Geraldinho Gonçalves, Eurico Uchôa e Mozart Cintra que, não obstante residir na Avenida da Paz, se fez freqüentador assíduo da Praça Raiol e, mercê das raízes profundas e germinativas que ali fixou, converteu-se em um dos responsáveis pela estruturação e êxito da Confraria da Raiol, dirigindo-a por um decisivo e fecundo período.
Em considerações nem tão breves, expus a experiência vitoriosa da Confraria da Raiol, em todas as suas possíveis dimensões; de modo enfático, sob seu aspecto humano e social. Relatei que, antes da Confraria, nossos encontros eram anuais, normalmente em uma das churrascarias de Maceió... A partir de 1999, mudamo-nos, com ânimo de ficar, para o território livre da Praça Raiol, materializando essa atitude em reuniões familiares semanais, sempre aos sábados, além de uma grande confraternização natalina, realizada, sempre, na primeira quinzena de dezembro.
Assim, cuidamos do nosso Estatuto; iniciamos vida cartorial, transformando-nos em pessoa jurídica de direito privado; tivemos nossa Confraria reconhecida como de utilidade pública, através de lei municipal e, finalmente, graças, também, aos préstimos do então vereador Arnaldo Fontan, a Praça voltou a ser Raiol...
Sou dos que acham que o culto às sadias tradições, o permanente lembrar de nossos áureos e bem vividos tempos de jovens adolescentes não nos deprime, ou nos aprisiona, imobilizando-nos no passado. Pelo contrário, é o esquecimento dessas memoráveis experiências que responde pelo que somos, pelo que conseguimos ser, esse, sim, ao expulsar de nossas vidas e de nossas lembranças o encantado mundo em que nos nutrimos e crescemos, tornar-nos-ia estéreis, egoisticamente isolados, infensos aos sagrados liames da fraternidade.
Disse-lhes, por fim, o nosso segredo: - Os meninos da Praça Raiol, quase que nela moravam; desfrutavam-na, com avidez juvenil, em todos os dias. Éramos felizes e sabíamos de nossa felicidade. Também, tanto quanto os meninos da avenida, éramos donatários de um esplêndido naco da praia da avenida, justo o território praieiro frontal que ia da fabrica de mosaicos do Sr. Paulo Pedrosa até o casarão do Sr. Morgado. Nessa lúdica área, construímos uma quadra oficial de voleibol e um campo de futebol. Nela, igualmente ao que se dava na Praça Raiol, espraiamos nossas incontidas e indeléveis felicidades. Embora traquinas, entre nós, jamais medrou a delinqüência, pois que não alimentávamos o vício do ócio, o uso de droga, nem a rebelião contra a escola; éramos ligados aos exemplos de virtude, respeitosos com nossos pais e atenciosos com os professores e idosos.
Murillo Rocha Mendes
(Membro da Academia Alagoana de Cultura)
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