domingo, 25 de julho de 2010

ORDENER E O 44o. ESPADA D´ÁGUA por Lelé

Lendo a crônica do Carlito sobre Ordener Cerqueira nessa semana, lembrei-me de outras estórias desse grande amigo que contei para Ricardo Peixoto quando fui presenteado por ele do gostoso livro SAGA DO 44º. ESPADA D´ÁGUA de Aldemar Paiva. As estórias mandei por e-mail, em novembro de 2005 – ocasião dos sessenta anos de Ricardo. Acho que cabe aqui no Blog dos Meninos da Avenida publicar essa mensagem.


From: AMERICO JOSÉ PEIXOTO LIMA - Lelé
To: peixotoric@hotmail.com
Subject: SAGA DO 44o. espada d´água
Date: Mon, 28 Nov 2005 23:26:08 -0200

Ricardão
Li a SAGA DO 44º. ESPADA D´ÁGUA
que você me deu em só fôlego e meia garrafa. Vou conversar com o Cao Oiticica, que deve ter algumas informações do seu Félix sobre este bando de Brancaleone da birita.
Apesar da diferença de geração ( cerca de 20 anos) , acompanhei algumas farras do bando ainda mais novo na casa de Dr. Hélio Gazzaneo, nosso vizinho, na Silvério Jorge. A turma se aboletava debaixo do frondoso pé de manga rosa
junto à varanda na frente da casa. Lembro-me bem de Eloi Paurilio (compôs a belíssima “Ansiedade” principalmente na voz de Leureny), Ordener, Sizenando Nabuco ( chamado pela maldosa galera de Sinzibuco Nanando, por trocar de palavras que costumava fazer na última flor do Lácio inculta e bela), Henrique Equelman, Arnoldo e Rubem Jambo, Aldemar e mais freqüentemente Alberto Paiva, que levava uma viola e depois da terceira lascava: “ levo a vida em serenatas, somente a cantar...”. Também o Seu Rossiter, pai do Beto Kid, botava pra ver: “ Granada terra sonhada por mim...”, apelidado de Parada, devido o grande Teotônio Villela, nos seus discursos etílicos, dizer que ele era parada na Granada. Nós, pivetes, ficávamos agachados num cantinho observando toda aquela maravilhosa confusão letrada e etílica, sem saber que estávamos olhando a própria história das Alagoas. Até que D. Maristela chegasse com seu esporro: “ saiam daí Lelo, Lelé, Cuca e Emílio . Aí não é lugar de menino” . Pior que era ...
Chamávamos D. Maristela de Véia Bêbada porque nos marcava em cima. Mas a coitada nunca botou um álcool na boca, ao contrário, tinha horror a bebidas, devido Dr. Hélio tomar por ele, por ela e por toda a família. Diziam as más línguas que eles se mudaram para o Rio para afastar o Dr. Hélio da turma de biriteiros, conseqüentemente da bebida. Lerdo engano. Eles foram morar no Leblon num apartamento bem em cima do bar Diagonal, um dos templos da boemia carioca. E pertinho do Degrau, Bracarense, Final do Leblon... Então, como dizia a D. Zeca: “ para quem gosta de cachaça, amigo é o tira-gosto”. Mas minha mãe não entendia de bebida, e sim de tira-gosto. Nada é mais prazeroso que tomar umas cercado de amigos do peito.
Dr. Hélio, uma criatura inesquecível, era um brilhante professor de Geografia e História do colégio Estadual. Sua fala era formal, mas bonita e esclarecedora. Lembro-me que numa festa de Natal em sua casa, com os filhos e amigos, ele pronunciou um discurso que citava a palavra OXALÁ. Foi a primeira vez que ouvi esta palavra exótica e mágica, e logo me apaixonei por ela. Naquela ocasião, quase 50 anos atrás, prometi a mim mesmo que algum dia escreveria um belo texto, e a incluiria nele. Passou-se
o tempo e não escrevi este belo texto. Mas não vou decepcionar o seu Oxalá, vou incluí-lo no meu epíteto “ Aqui jaz uma alma não pequena. Oxalá seja leve pra subir a um lugar que valha a pena”.
Voltando ao SAGA DO 44º. , das tantas personagens marcantes, uma em
particular tocou especialmente esse coração ateu. Ordener pra mim foi como aquele cara que se encontrasse Diógenes na Grécia Antiga, este teria exclamado: “achei!”. Dentro daquele vozeirão exagerado e de uma presepada anunciada escondia um coração de ouro. Apesar da nossa diferença de idade, nos tratávamos como velhos amigos. Eu costumava repetir para o General Mario Lima que com certeza ele tinha dois grandes amigos, o sargento Jorge, seu motorista, e Ordener Cerqueira. Na verdade ele era amigo de infância da família de minha mãe. Ela contava várias presepadas do Ordener daquela época. Como colocar guaiamum na gaveta do birô da professora, e outras estórias deste gênero. fui testemunha de algumas. Uma quando Napoleão Peixoto, outro presepeiro, irmão caçula de D. Zeca, que morava no Rio, chegou a Maceió depois de mais de trinta anos ausente, a primeira coisa que falou pra mim, Betuca e Carlito foi “ quero ver Ordener imediatamente”. Fomos direto prá casa dele na praça do Plaza. D. Angelita falou que ele estava no consultório da rua Boa Vista, e lá disseram que foi fazer plantão no Iapetec. Ordener estava lá atendendo, e me mandou entrar. No consultório estava um caboclo de cara pra cima, com a boca arregalada esperando a intervenção do dentista. Eu disse que tinha uma pessoa lá fora que estava muito ansioso pra vê-lo. Imediatamente ele foi ao encontro
do tio Napoleão. Foi aquela festa de amigos de infância que não se viam há anos. Pior, bem em frente do Iapetec ficava o bar do Relógio, e partimos pra lá . E tome cachaça. Até hoje o boi de piranha está de boca aberta esperando a intervenção do Dr. cirurgião dentista Ordener Cerqueira.
Outra estória que vale a pena lembrar: eu estava subindo a escada estreita e escura do bar Castelo (era este mesmo o nome?), junto a Helvética, quando encontrei agachado, já cheio do pau, o Ordener procurando alguma coisa, acendendo um fósforo atrás de outro. “ Que é isso, Ordener?” , perguntei. “ Tou procurando o fósforo que perdi quando eu ia acender meu cigarro”. Este era o grande Ordener que a gente conhecia. A última vez que o vi foi há dez anos na comemoração dos meus cinqüenta anos, lembra-se?
Mas só pra chatear, tenho uma retificação a fazer neste excelente SAGA DO 44º. Na página 50, Aldemar Paiva diz que o “ Candango Palace” ficava em Guaxuma, este paraíso onde nós moramos. Na verdade a casa de praia do Ordener ficava em Riacho Doce, já pertinho do Rio Pratagi. Fiz muita farra ali juntamente com Paulo Moura, Aldinho, Vicente, Uchoinha, seus alunos da Faculdade de Odontologia. Babávamos na maxixada de D. Angelita.
A foto mostra a frente da casa, que hoje pertence a um italiano, raça que está tomando conta do litoral norte de Maceió. Hoje isto aqui está se tornando outro mundo. Porém vale a pena recordar aqueles tempos.
Como bem disse o nosso amado Lua “saudade inté que assim é bom/ pro cabra se convencer/ que é feliz sem saber/ pois não sofreu“.
Ricardão, grato pelo presente. Plagiando Drumond: mas este livro / mas este uísque / botam a gente comovido como o diabo...
Diga a D. Bethânia que ela nos proporcionou uma das mais maravilhosas
festas da paróquia.
Um abraço e um queijo
Lelé



FW: SAGA DO 44o. espada d´água‏
De: Ricardo Peixoto (peixotoric@hotmail.com)

Enviada: terça-feira, 29 de novembro de 2005 0:26:04
Para: americojplima@hotmail.com

Lelé amigo,

Achei a sua mensagem fantástica e se me permite, vou encaminhar para
Aldemar, que irá dar boas gargalhadas, é o tipo da coisa que êle adora.
Eu e Betânia ficamos muito felizes com sua presença e Bete aqui nos meus 60, obrigado mesmo. Que bom vocês terem gostado da festa ALAGO CANA, uma mistura de Alagoas e Pernambuco - com homenagem a cana, lògicamente ; depois, lhe enviarei o DVD que Carol (minha filha) ainda está editando,parece que é um DOM de todas que se chamam Carol.
Realmente a cachaça foi grande e me retirei do gramado as 7:15 da matina, ainda deixando uma turminha bem mais jovem tomando uma suposta saideira, que aquela altura eu mesmo já tinha ingerido umas 5 ou 6, no mínimo. Soube depois que tinham combinado me derrubar, viu só que trama ?
Até uma próxima oportunidade.
Forte abraço,

Ricardo


A tempo: Serru, nosso grande amigo Sergio Fontan, ligou prá mim logo depois de ler a crônica do Carlito, contando que o empregado da loja de seu pai Aderbal, A PRIMAVERA, num sábado foi extrair um dente com Ordener. Depois da extração o caboclo falou que o que estava doendo não era aquele extraído. Ordener não titubeou: “ tem importância não, a gente arranca o outro!!! De graça...”. Esse era o ORDENER...

A tempo 2: Nosso blog também é cultura. No gostoso livro Amor, Humor & Sabor, de Angelita Paiva (Borlotinha), mulher do Aldemar, morta há dois anos atrás, ela dá a receita da Maxixada da xará Angelita do Ordener:

Cortar em rodelas os maxixes que devem ser raspados e cozinhados em água e sal até amolecer.
Depois, escorrer a água e fazer um refogado com tomates, pimentões, cebolas e coentro. Juntar os maxixes com leite de coco e um pouco de água. Por último, quebrar alguns ovos em cima do ensopado e cozinhar.

Vez em quando faço aqui em Guaxuma. É de comer ajoelhado...

Nenhum comentário: