General Mário Lima foi uma das figuras marcantes do século passado no Estado das Alagoas. Desde os tempos que saiu da Escola Militar de Realengo em 1930 teve um relacionamento de amor e cidadania com a sociedade alagoana. Sua carreira militar foi repleta de feitos e de lutas. Participou ativamente em lutas armadas, como a revolução Constitucionalista de 1932, quando partiu com a tropa do 20º BC para lutar no Vale do Paraíba em São Paulo e tornou-se herói daquela guerra entre irmãos. Sua vida militar foi quase toda dedicada aqui no Estado de Alagoas, onde serviu no 20º Batalhão de Caçadores desde tenente até sua aposentadoria como general. Serviu em poucos lugares do Brasil: Lorena, Rio, Recife e USA se preparando para a II Guerra, quando chegou a paz.
Meu pai foi de uma dedicação extraordinária à sua comunidade. Além de oficial do Exército e por certo tempo Comandante da Polícia Militar, foi presidente do CRB, da Fênix , da Federação Alagoana de Desportos, juiz de Futebol, Provedor da Santa Casa, Diretor do Orfanato São Domingos, Lions , Rotary, diretor da TELASA, professor, escritor, membro do Instituto Histórico, intelectual, historiador e outros tipos de participação, de cidadania..
Fatos marcantes me ficaram gravados, principalmente nos anos 50 em que ele era comandante do 20º BC, e o governador do Estado, Silvestre Péricles; um homem honesto mas altamente arbitrário, violento, ditatorial.
O General Mário Lima escreveu um livro, SURURU APIMENTADO, onde narra histórias de um tempo de violências nas Alagoas. Documento histórico da época dos Góes Monteiro.
Em um capítulo dos mais interessantes ele conta fatos com a família do deputado Oséas Cardoso. Fatos esses que também ficaram gravados na mente daquele menino de 10 anos, testemunha de alguns acontecimentos aqui narrados por essa criança, buscados no livro de seu pai e em sua memória.
Num final de tarde de janeiro do ano de 1950, meu pai chegou em casa comovido, abalado, contando a tragédia que havia acontecido na farmácia Pasteur, Rua do Comércio, no centro da cidade, quando numa briga com os irmãos Pinho (ligados ao Governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro), o deputado Oséas Cardoso atingiu mortalmente com um tiro de revólver um dos irmãos, Policarpo Pinho.
A partir desse episódio Alagoas tornou-se notícia em todos os jornais do Brasil, e pronunciamentos na Câmara e Senado, inclusive do Deputado Aurélio Viana, testemunha ocular do episódio, declarou na tribuna que o deputado Oséas Cardoso tudo fez para evitar aquela desgraça. Matou para não morrer.
A Assembléia não deu licença para processar o deputado. Oséas resolveu se afastar de Alagoas por algum tempo.
Conta Mário Lima no Sururu Apimentado: “Na sexta-feira, 17 de fevereiro, anterior ao carnaval, quando a cidade se preparava para as alegrias momescas, uma notícia inquietadora sobressaltava a população ordeira de Maceió. Cerca das 12 h., um grupo de indivíduos assaltou a Pensão Aurora, residência e meio de vida do Sr. João Paes Cardoso, progenitor do deputado Oseás Cardoso, resultando dessa agressão o assassínio do velho Cardoso e ferimentos nas suas filhas Marieta e Nair. Boatos contraditórios e alarmantes encheram a cidade de apreensão, pois foi constatado que os agressores eram pertencentes à Força Pública do Estado. A Rádio Difusora, do governo estadual, dava a notícia com o título “um bandido que morre “, entremeados de músicas carnavalescas. “
Nessa mesma tarde, o coronel Mário Lima encontrava-se no expediente no 20º BC, quando chegaram em minha casa na Rua Silvério Jorge 290, aflitos e temerosos, os irmãos José, Edson e João Cardoso. Assim que soube, meu pai voltou imediatamente, e encontrou os irmãos que pediam garantia de vida, estavam ameaçados e caçados por elementos do governo estadual.
O Coronel Mário Lima resolveu assumir pessoalmente a responsabilidade de garantia de vida dos irmãos Cardoso. Alojou-os em nosso quarto. Eu e meus irmãos dormimos por algum tempo em outros quartos, colchões no chão. Meu pai preferiu não envolver o Exército nesse caso político e de segurança estadual. Os irmãos Cardoso ficaram no nosso quarto, não saíram sequer para o enterro do pai no sábado de carnaval evitando choques imprevisíveis.
No domingo de carnaval toda família foi para a matinée infantil do Clube Fênix Alagoana. Minha mãe, festeira, nos dias de carnaval fazia alguma fantasia para os filhos, comprava lança-perfume Rodhouro e deixava a meninada cair no passo feliz da vida. Como garantia, os irmãos Cardoso ficaram na casa vizinha do Dr. Balthazar de Mendonça, parente dos Cardoso, onde hoje é o Restaurante “Flagrante Delitro”. Os quintais das casas eram separados apenas por uma cerca.
Quando acabava a matinée infantil, apareceu um cidadão apavorado informando a meu pai que um grupo carnavalesco fantasiado de cangaceiros estava em frente a nossa casa com intuito de fuzilar os irmãos Cardoso, pois havia presidiários, cabras, jagunços com armas verdadeiras. Meu pai imediatamente se dirigiu à nossa residência. Encontramos um alegre grupo de cangaceiros cantando, bebendo e olhando para o interior da casa. Meu pai se aproximou, dialogou com eles, deu alguns trocados para uma cachacinha, e ordenou para o grupo debandar.
Quando entramos, atrás de cada coluna da varanda lateral, junto ao jardim, escondia-se um dos irmãos Cardoso com arma em punho, preparados para matar ou morrer. Quase que a casa aonde nasci tornava-se palco de mais uma tragédia alagoana.
Na quarta-feira de cinzas houve uma comovente cena: as irmãs feridas saíram sigilosamente do hospital e foram se despedir dos irmãos que embarcavam para Aracaju num teco-teco, deixando nossa casa, uma providencial e acidental guarida. Assim foi o carnaval de 1950, um inesquecível carnaval para aquele menino de 10 anos.
Meu pai foi de uma dedicação extraordinária à sua comunidade. Além de oficial do Exército e por certo tempo Comandante da Polícia Militar, foi presidente do CRB, da Fênix , da Federação Alagoana de Desportos, juiz de Futebol, Provedor da Santa Casa, Diretor do Orfanato São Domingos, Lions , Rotary, diretor da TELASA, professor, escritor, membro do Instituto Histórico, intelectual, historiador e outros tipos de participação, de cidadania..
Fatos marcantes me ficaram gravados, principalmente nos anos 50 em que ele era comandante do 20º BC, e o governador do Estado, Silvestre Péricles; um homem honesto mas altamente arbitrário, violento, ditatorial.
O General Mário Lima escreveu um livro, SURURU APIMENTADO, onde narra histórias de um tempo de violências nas Alagoas. Documento histórico da época dos Góes Monteiro.
Em um capítulo dos mais interessantes ele conta fatos com a família do deputado Oséas Cardoso. Fatos esses que também ficaram gravados na mente daquele menino de 10 anos, testemunha de alguns acontecimentos aqui narrados por essa criança, buscados no livro de seu pai e em sua memória.
Num final de tarde de janeiro do ano de 1950, meu pai chegou em casa comovido, abalado, contando a tragédia que havia acontecido na farmácia Pasteur, Rua do Comércio, no centro da cidade, quando numa briga com os irmãos Pinho (ligados ao Governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro), o deputado Oséas Cardoso atingiu mortalmente com um tiro de revólver um dos irmãos, Policarpo Pinho.
A partir desse episódio Alagoas tornou-se notícia em todos os jornais do Brasil, e pronunciamentos na Câmara e Senado, inclusive do Deputado Aurélio Viana, testemunha ocular do episódio, declarou na tribuna que o deputado Oséas Cardoso tudo fez para evitar aquela desgraça. Matou para não morrer.
A Assembléia não deu licença para processar o deputado. Oséas resolveu se afastar de Alagoas por algum tempo.
Conta Mário Lima no Sururu Apimentado: “Na sexta-feira, 17 de fevereiro, anterior ao carnaval, quando a cidade se preparava para as alegrias momescas, uma notícia inquietadora sobressaltava a população ordeira de Maceió. Cerca das 12 h., um grupo de indivíduos assaltou a Pensão Aurora, residência e meio de vida do Sr. João Paes Cardoso, progenitor do deputado Oseás Cardoso, resultando dessa agressão o assassínio do velho Cardoso e ferimentos nas suas filhas Marieta e Nair. Boatos contraditórios e alarmantes encheram a cidade de apreensão, pois foi constatado que os agressores eram pertencentes à Força Pública do Estado. A Rádio Difusora, do governo estadual, dava a notícia com o título “um bandido que morre “, entremeados de músicas carnavalescas. “
Nessa mesma tarde, o coronel Mário Lima encontrava-se no expediente no 20º BC, quando chegaram em minha casa na Rua Silvério Jorge 290, aflitos e temerosos, os irmãos José, Edson e João Cardoso. Assim que soube, meu pai voltou imediatamente, e encontrou os irmãos que pediam garantia de vida, estavam ameaçados e caçados por elementos do governo estadual.
O Coronel Mário Lima resolveu assumir pessoalmente a responsabilidade de garantia de vida dos irmãos Cardoso. Alojou-os em nosso quarto. Eu e meus irmãos dormimos por algum tempo em outros quartos, colchões no chão. Meu pai preferiu não envolver o Exército nesse caso político e de segurança estadual. Os irmãos Cardoso ficaram no nosso quarto, não saíram sequer para o enterro do pai no sábado de carnaval evitando choques imprevisíveis.
No domingo de carnaval toda família foi para a matinée infantil do Clube Fênix Alagoana. Minha mãe, festeira, nos dias de carnaval fazia alguma fantasia para os filhos, comprava lança-perfume Rodhouro e deixava a meninada cair no passo feliz da vida. Como garantia, os irmãos Cardoso ficaram na casa vizinha do Dr. Balthazar de Mendonça, parente dos Cardoso, onde hoje é o Restaurante “Flagrante Delitro”. Os quintais das casas eram separados apenas por uma cerca.
Quando acabava a matinée infantil, apareceu um cidadão apavorado informando a meu pai que um grupo carnavalesco fantasiado de cangaceiros estava em frente a nossa casa com intuito de fuzilar os irmãos Cardoso, pois havia presidiários, cabras, jagunços com armas verdadeiras. Meu pai imediatamente se dirigiu à nossa residência. Encontramos um alegre grupo de cangaceiros cantando, bebendo e olhando para o interior da casa. Meu pai se aproximou, dialogou com eles, deu alguns trocados para uma cachacinha, e ordenou para o grupo debandar.
Quando entramos, atrás de cada coluna da varanda lateral, junto ao jardim, escondia-se um dos irmãos Cardoso com arma em punho, preparados para matar ou morrer. Quase que a casa aonde nasci tornava-se palco de mais uma tragédia alagoana.
Na quarta-feira de cinzas houve uma comovente cena: as irmãs feridas saíram sigilosamente do hospital e foram se despedir dos irmãos que embarcavam para Aracaju num teco-teco, deixando nossa casa, uma providencial e acidental guarida. Assim foi o carnaval de 1950, um inesquecível carnaval para aquele menino de 10 anos.
Um comentário:
Cardoso, eita família porreta!
A família Cardoso fizeram história em Alagoas e no Brasil. Os filhos, Oseas Cardoso foi o último representante dos Cardosos? Eles ainda estão no meio político? Os Cardosos são temidos até hoje? Parece-me que há uma pesquisa pela UFA sobre a família Cardoso?!! Enfim, deveriam lançar um livro sobre os bastidores dos Cardosos... Afinal, para entrar p/ história e virar lenda.... tem que ser muito bommm!!!!
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