TODAS AS FOTOS no ÁLBUM acima (para ampliar a foto clique nela).






















Naquele tempo, nas décadas douradas de 50 e 60, a Avenida da Paz era o “point” da juventude de Maceió. Jatiúca não existia e a Pajuçara era apenas um projeto de expansão urbana à beira-mar.
Todo mundo descia para a Avenida em busca de lazer – fosse para se aventurar nas casas noturnas do Jaraguá; para apreciar o pôr-do-sol no coreto; ou, simplesmente, para curtir o clima da praia ou um simples e refrescante banho de riacho.
Riacho? “Isso mesmo. Naquela época, o riacho Salgadinho, que hoje arrasta a poluição até a praia, chegava limpinho no seu encontro com o mar. E o banho, depois da praia, do futebol, era delicioso”, recorda Américo Peixoto Lima, o Lelé Lima, um dos meninos que cresceram naquela avenida, onde, apesar do burburinho, também moravam a tranquilidade e a paz.
As brincadeiras que ficaram no passado
No dia da entrevista, os “meninos” também não conseguiram se apossar do coreto, como faziam antigamente. Havia outros inquilinos no local – moradores de rua, alheios à movimentação daqueles antigos “donos” do pedaço.
Mesmo assim, Lelé, o mais revolucionário da turma – que chegou a ser preso na época da ditadura militar – avisa: “Esse coreto era fundamental nas nossas brincadeiras. Ele é especial e faz parte da nossa vida. Já tiraram quase todas as características da nossa Avenida da Paz. Se inventarem de tirar o coreto, a gente vai intervir e acampar aqui na frente para impedir”.
Como os novos moradores não abriram “as portas”, o jeito foi mesmo conversar e fazer as fotos ali mesmo, na praça, ao lado do coreto.
“Tiraram até a paisagem. O coreto foi feito para apreciar a praia, o mar. Mas hoje tem esse monumento – Memorial da República –, colocado bem aqui de maneira absurda”, reclama Lelé, olhando para o poente. “Ainda bem que não podem tirar o sol”.
A liberdade da adolescência
Mas eles não foram meninos a vida inteira. Cresceram e conheceram as “madrinhas”, responsáveis, na época, pela iniciação sexual dos garotos.
Uma delas ficou guardada na lembrança desses meninos. “A Nega Odete foi a primeira mulher a se libertar em Maceió. Era uma mulher livre, fazia o que queria. Todos os dias, ela escolhia um estudante para amar, livremente, na areia da praia. E não cobrava nada por isso”, contam eles, quase que numa só voz.
Até com ela, hoje com mais de 80 anos, os “meninos” conseguiram restabelecer contato. Há uma semana, Odete mandou um recado: um pedido de ajuda financeira para uma cirurgia. Arrecadaram o dinheiro entre eles e mandaram. “Pelo menos 50 anos depois, estamos pagando pelos serviços prestados na juventude”, brincam eles, entre si.
Mas eles lembram, também, os cabarés da época – a boate Areia Branca, do famoso Mossoró, que, apesar de localizada fora do circuito da Avenida da Paz, era bem frequentada pela juventude da época – e as boates de Jaraguá.
Como “azeite” para a vida adulta, contos de memórias
Veio também a vida adulta, a profissionalização, o casamento, a família, e os meninos se separaram. Cada um seguiu seu rumo, até o reencontro, há quase 10 anos, e, desde então, mesmo os que moram distante estabelecem contato, colocando “azeite” na velha e boa amizade.
“Esse livro traz parte da história de Maceió, contada por pessoas que viveram essas histórias. Fala de como viviam as pessoas, de como era a cidade na época, dos verdadeiros valores que a gente cultivava, como a amizade e a alegria de viver”, diz Paulo Ramalho.
“É um tributo à amizade, recheado de fatos que fazem parte da história da cidade, das memórias de um tempo que não volta mais; de uma parte da cidade que teve seus anos de glória, no entorno da Avenida da Paz. Podemos dizer que vivíamos no paraíso, e que o nosso compromisso era com a felicidade. Fizemos e vivemos muitas histórias”, diz Américo, destacando que muitos dos “meninos” ficaram de fora dessa edição, e muitos ainda querem contar outras histórias.
Leia mais na versão impressa
FOTOS DE AILTON CRUZ (fotógrafo Gazeta de Alagoas)
GAZETA DA ALAGOAS - 25 de dezembro de 2011 - DOMINGO
1. Na última sexta-feira, fez-se em realidade luminosa, um encantador livro de relatos e de experiências, colhidos ao longo de uma época imorredoura que, ainda, se expande, impregnando a alma de quantos a desfrutaram na varando atlântica da Avenida da Paz, sob o pálio da estima e da verdadeira amizade. Uma construção literária que exalta uma adolescência/juventude forjada sem a rigidez de regras draconianas e castradoras; consumada em liberdade, embora obediente e em harmonia com os postulados familiares então vigentes, que não os oprimia, imobilizando-os.
“Meninos da Avenida”, o livro aqui festejado, expressa a saga da formação de jovens adolescente, o eco de sua felicidade, o companheirismo ousado e fértil que consagrou um logradouro e que destaca a felicidade de uma época em que se fizeram prontos para os enfrentamentos existenciais. Trata ele, na verdade, do breviário avenidense; uma narrativa compartida, coletiva por excelência, de fatos acontecidos, semeados e germinados no terreno alvissareiro da juventude, cujos frutos, agora maduros e saborosos, são colhidos para transformarem-se em livro, para perpetuá-los, evitando que se percam nos desvãos imperscrutáveis do tempo passado.
Não se trata, pois, de um livro fantasioso que alberga situações irreais, ou refere-se a pessoas imaginárias; nele, estão narrados fatos reais, experiências de pessoas vivas que se nutriram em uma aura benfazeja, para se converterem em cidadãos válidos e operantes. Os meninos que habitaram a Avenida da Paz e adjacências, como, de resto, os jovens contemporâneos que amavam a vida, não viam o mundo em que estavam inseridos como algo estático, completo e acabado; sabiam, de modo empírico, é bem verdade, como corolário de seu inato sentido de completitude, que teriam de lutar pelo seu aprimoramento, pela elevação de sua justeza e de sua equidade; para fazê-lo mais fraterno e feliz, aberto a todos, acolhedor de todos...
Contando estórias, relatando experiências juvenis, “Os Meninos da Avenida” fortalece, em todos nós, a certeza de que a felicidade existe e é possível... E nos ensina que, para desfrutá-la, não precisamos de muito; basta que saibamos colocá-la ao alcance de nossas possibilidades. E, assim, eles fizeram e está registrado na autenticidade de seu livro. Parabéns, avenidenses! A lição é edificante e a festa que lograram realizar foi inspiradora e emocionante.
2. No sábado recém-passado, ainda em comunhão com a mágica natalina, significando uma simbiose perfeita e amena, edificada por jovens briosos, nos altiplanos do Farol, realizou-se o Encontro de Confraternização do Palmeiras, com a presença de mais de meia centena de seus sempre joviais integrantes. Foi, por assim dizer, uma festa de celebração à harmonia entre pessoas, à estima entre companheiros que se mantêm unidos e solidários, afetuosos. Mas, também, evocativa de um culto à interação entre o ser humano e a natureza, justo que se materializou no entorno lagunar, emoldurado por sua inspiradora paisagem.
Foi, em sua concretude, uma majestática exaltação aos sentimentos que agregam e elevam, uma comemoração que nos distinguiu e marcou, enquanto seres inteligentes. A alegria tomou conta de todos, criando um ambiente verdadeiramente fraternal. Nele, foram compartidas as amenidades que povoaram a afortunada juventude palmeirense; lembrados e enobrecidos os tempos criativos que a fizeram operante e válida. Na verdade, essa comunidade sabia o que queria; sabia somar-se em aliança, para não se deixar afetar pelo áspero do egoísmo avassalador. Enfim, uma contagiante reunião festiva e luminosa.
3. No crepuscular desta crônica, cumpre-me o elogio à juventude raiolina que vivi, intensa e plenamente, no território livre da Praça Raiol. Expresso-a na abordagem poética que segue:
Juventude na Raiol: Um tempo já distante/ Aos nossos olhos/ Tão bem vivido/ Tão bem haurido/ Ainda íntegro, constante/ Em nosso espírito / / Tempo inovador, eloqüente/ Singular, construtivo/ Convergente/ Ainda vivo em nós.../ Felizmente / / Por isso,/ Fulcro de nossas emoções/ Reverenciado, presente/ Em nossos corações/ Jamais esquecido/ Descartado ou ausente/ credo de nossas celebrações / / Tempo alentador, querido/ Embora decorrido/ Não se fez ido/ Na seletiva corrida/ Na inclemente luta da vida / / Halo renovador/ Força incontida, ardor/ Energia inesgotável, criativa/ Substância essencial da vida/ Ínsita em todos nós/ Aureolando nossa diuturna lida.
O JORNAL - 20-12-2011
Já estamos no final de novembro e assistimos a corrida célere do tempo. Particularmente, apesar dos meus 74 anos e 49 no exercício diário da medicina, procuro sentir dentro de mim as portas continuarem se abrindo, apesar de estar no entardecer da vida.
No passado, a imagem de uma pessoa com 60 anos era de alguém desanimado, solitário, sentado em uma cadeira de balanço ouvindo um estridente radinho. Era essa a imagem dos nossos avôs. Os tempos mudaram. O envelhecimento é uma das palavras que sofreu mais modificações nos últimos 10 anos.
Começamos a envelhecer desde o momento em que saímos do útero materno. Cada dia é menos um dia. Hoje vemos inúmeras avós nas academias de ginástica dando verdadeiro show de juventude. E homens com 80 anos praticando esporte e natação como se fossem jovens. Isso é notável. Em todos os tempos o ser humano sempre se preocupou com sua longevidade e aparência. Conta-se que Cleópatra, no Egito, tomava banhos diários de leite para manter-se jovem e com pele alva.
No passado ouvíamos dizer com frequência que o mundo era dos jovens. Hoje, nos tempos modernos, os idosos estão sabendo se cuidar realmente.Diz a OMS que atualmente 870 mil pessoas completam 65 anos a cada mês no mundo. A mesma instituição revela que o mundo terá 1,3 bilhões de idosos até o ano 2040. No Brasil em 2007 tínhamos 11.427 brasileiros com idade acima dos 90 anos. São dados do IBGE.
À medida que passamos dos 50 anos nossa força muscular vai caindo em consequência da queda de hormônios. Nossos neurônios também vão sendo eliminados. É preciso, portanto, ativá-los. Caminhada, respirar oxigênio puro, leitura, bom humor, tudo concorre para sua caminhada tentando alongar o máximo possível esse percurso que se chama vida.
A vida é uma lição de efeitos e contrastes. Todos nós esperamos que as coisas aconteçam num futuro próximo esquecendo que o momento mais poderoso para que as coisas ocorram agora, é hoje. Acordar bem todos os dias é um grande salto na transformação da caminhada em sua vida. Sorria, brinque, tome seu banho de mar, enfrente os obstáculos com altivez. Mexa-se, abandone a preguiça, olhe-se no espelho e veja o melhor de você.
Lembre-se que a verdadeira beleza física e sua longevidade dependem do equilíbrio entre o externo e o interno, isto é, entre o corpo e a mente. Veja bem: a verdadeira idade é a que você quer ter.
GAZETA DE ALAGOAS - 27-11-11
Muitos
Éramos
Naquela
Irmandade
Nadando e fazendo tudo que tinha direito.
Obtendo
Sonhos
Durante
Anos
Amigos
Vivíamos
Enturmados
Naquela
Intimidade
Duradouro
Até........
UM “RACHA” QUE, AFINAL, UNIA
Ontem, sem que programasse, passei pela Avenida da Paz e não resisti diante daquela que foi a mais bela de todas as nossas belas praias. Premido pelas boas recordações suscitadas, resolvi descer do carro e percorrer, à beira d’água, o trecho em que, na minha adolescência/juventude, quase que o habitava, pois que nele desfrutei o melhor desse augusto tempo. Bem aventurado, foi exatamente ali que iniciei a construção do amor da minha vida; amor sem fronteiras, verticalmente dado e recebido, fértil e frutuoso, que nem a inclemência da morte foi capaz de minimizá-lo, ou de extingui-lo.
Nele, senti-me, novamente, ávido de viver em plenitude; despertei, em mim, o jovem sonhador e projetista que tudo podia... que muito queria. O fato é que revivi, em intensidade e nesses breves instantes, no trecho que mediava os trapiches que não mais existem e o então florescente Hotel Atlântico, um turbilhão de lembranças significativas que, ainda, me animam e sustentam, e estimulam-me para o viver amplo.
Houve um tempo – bendito tempo – em que essa praia sediava, em todos os domingos, em suas manhãs ensolaradas, uma das mais disputadas “peladas” futebolísticas de nossas encantadoras orlas praieiras. O seu palco, frontal ao Hotel Atlântico, tinha dimensões imensas e irregulares; era limitado pela maré, de um lado; do outro, pelo capinzal rasteiro que, sutilmente, homiziava insuportáveis carrapichos. O jogo era disputado, assim, em aplainadas e firmes areias trabalhadas pela maré, e nas frouxas e cansativas areias brancas que guarneciam e ornamentavam o mar azul que se descortinava ao fundo.
As equipes eram constituídas, sempre, através de chamada alternativa dos presentes; realizada por dois dos seus mais inveterados habitués; quase sempre, Júlio Normande e Betinho Perrelli. Iniciado o “racha”, ele só acabava depois de passado o “meio dia”. Não havia árbitro. Faltas e “goals” eram confirmados e aceitos de modo consensual; algumas vezes, no grito. Neste caso, nunca sem acirradas discussões que eram aliviadas por piadas e chistes que arrefeciam os ímpetos e recompunham a camaradagem.
Era jogo “pra valer”. Não obstante isso, os disputantes, arengueiros em sua maioria, jamais saíram para a “via de fato”. As derrotas eram naturalmente assimiladas. As discordâncias e o inconformismo dos derrotados eram domados pela esperança de que o troco viria na próxima “domingueira”... e, isso bastava, era o suficiente para se manter intacta a harmônica camaradagem. As discussões teimosas eram soterradas pelas “tiradas” inteligentes; pelo caçoar oportuno; pelo humor inofensivo e bem colocado, que temperava a doçura dessa convivência semanal, garantindo-lhe mansidão e pacificidade.
O “racha” do Hotel Atlântico era convergência, união e respeito mútuo. Fez-se em amizades inabaláveis que resistem e prevalecem até hoje; não foram afetadas pela oxidação do tempo. Seus participantes, na realidade, concertaram uma franca convivência que se mantém atual; sobremodo, como exemplo de coerência e de valorização individual.
Antecipando-me em desculpas pelas prováveis omissões, exalto e nomeio, aqui, os lembrados sujeitos ativos dessa eloqüente demonstração democrática; marcadamente fraternal e igualitária: Júlio, Zeca e Henrique Normande; Zé e Mané Ramalho; Fernando e Betinho Perrelli; Paulo Mendes; Gerson Omena; Joubert Scala; Rubinho Mastigada; Vetinho e Claudinho Pacheco; Claudinho Ferrário; Pai Manu; Arroxellas; Afrânio Montenegro; João Simões; Cleantho Rizzo; Luizito; Louvain Ayres; David; Maso e Dirson; Napoleão Moura; Juvencinho Lessa; Zezé Barbeiro; Peitudo; Ascânio Valença; Licito Cansanção; Eraldo; Aurélio Munt; Miguel Rosa; Tonico; Fernando e Toinho Cotrin; Paulo, Maru, Guy e Mano Gomes de Barros; Elísio Aguiar; Zirreli; Eduardo Jorge; Pedro Galinha...
Salve, pois, o futebol praieiro do Hotel Atlântico, por tudo que ele pôde oferecer e edificar.