domingo, 8 de janeiro de 2012

FOTOS LANÇAMENTO LIVRO Meninos da Avenida

Fotos de Ronaldo Torres ( FOLHA DA BARRA - http://www.folhadabarra.com.br/) no lançamento do livro MENINOS DA AVENIDA, no restaurante Barroco -> dia 16-dezembro-2011. Cerca de 250 amigos compareceram ao nosso chamado.
TODAS AS FOTOS no ÁLBUM acima (para ampliar a foto clique nela).


FALECIMENTO DE VERÔNICA CINTRA


Nossa amiga de infância MARIA VERÔNICA CINTRA SILVA, em 25 de julho, teve uma parada cardíaca, ficou em coma até terça-feira passada às 2 e 45 da madrugada quando faleceu.

CABE SEMPRE A FRASE DE JOHN DONNE

"Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

D. ÁUREA, MOZART, MARCOS E VITÓRIA CINTRA convidam os meninos da avenida para a missa de sétimo dia:

MISSA DO SÉTIMO DIA - MARIA VERÔNICA CINTRA SILVA

DIA 10.01 - TERÇA-FEIRA

LOCAL: CAPELA DO COLÉGIO IMACULADA CONCEIÇÃO ( PAJUÇARA)

HORÁRIO: 17:30 HORAS

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

OS MENINOS DA AVENIDA DA PAZ por Fátima Almeida (repórter)

Houve um tempo em que a vida, em Maceió, girava no entorno da Praia da Avenida. Por lá foi instalado o Porto de Maceió, reforçando o crescimento da indústria canavieira; por lá cresceram o centro comercial e a povoação da cidade, com grandes casarios e palacetes. Cadeiras nas calçadas, famílias conversando, crianças brincando na rua ou na areia da praia, crescendo e sonhando com os embalos do Clube Fênix Alagoana.


Naquele tempo, nas décadas douradas de 50 e 60, a Avenida da Paz era o “point” da juventude de Maceió. Jatiúca não existia e a Pajuçara era apenas um projeto de expansão urbana à beira-mar.

Todo mundo descia para a Avenida em
busca de lazer – fosse para se aventurar nas casas noturnas do Jaraguá; para apreciar o pôr-do-sol no coreto; ou, simplesmente, para curtir o clima da praia ou um simples e refrescante banho de riacho.

Riacho? “Isso mesmo. Naquela época, o riacho Salgadinho, que hoje arrasta a poluição até a praia, chegava limpinho no seu encontro com o mar. E o banho, depois da praia, do futebol, era delicioso”, recorda Américo Peixoto Lima, o Lelé Lima, um dos meninos que cresceram naquela avenida, onde, apesar do burburinho, também moravam a tranquilidade e a paz.

As brincadeiras que ficaram no passado

No dia da entrevista, os “meninos” também não conseguiram se apossar do coreto, como faziam antigamente. Havia outros inquilinos no local – moradores de rua, alheios à movimentação daqueles antigos “donos” do pedaço.
Mesmo assim, Lelé, o mais revolucionário da turma – que chegou a ser preso na época da ditadura militar – avisa: “Esse coreto era fundamental nas nossas brincadeiras. Ele é especial e faz parte da nossa vida. Já tiraram quase todas as características da nossa Avenida da Paz. Se inventarem de tirar o coreto, a gente vai intervir e acampar aqui na frente para impedir”.

Como os novos moradores não abriram “as portas”, o jeito foi mesmo conversar e fazer as fotos ali mesmo, na praça, ao lado do coreto.

“Tiraram até a paisagem. O coreto foi feito para apreciar a praia, o mar. Mas hoje tem esse monumento – Memorial da República –, colocado bem aqui de maneira absurda”, reclama Lelé, olhando para o poente. “Ainda bem que não podem tirar o sol”.

A liberdade da adolescência

Mas eles não foram meninos a vida inteira. Cresceram e conheceram as “madrinhas”, responsáveis, na época, pela iniciação sexual dos garotos.

Uma delas ficou guardada na lembrança desses meninos. “A Nega Odete foi a primeira mulher a se libertar em Maceió. Era uma mulher livre, fazia o que queria. Todos os dias, ela escolhia um estudante para amar, livremente, na areia da praia. E não cobrava nada por isso”, contam eles, quase que numa só voz.

Até com ela, hoje com mais de 80 anos, os “meninos” conseguiram restabelecer contato. Há uma semana, Odete mandou um recado: um pedido de ajuda financeira para uma cirurgia. Arrecadaram o dinheiro entre eles e mandaram. “Pelo menos 50 anos depois, estamos pagando pelos serviços prestados na juventude”, brincam eles, entre si.

Mas eles lembram, também, os cabarés da época – a boate Areia Branca, do famoso Mossoró, que, apesar de localizada fora do circuito da Avenida da Paz, era bem frequentada pela juventude da época – e as boates de Jaraguá.

Como “azeite” para a vida adulta, contos de memórias

Veio também a vida adulta, a profissionalização, o casamento, a família, e os meninos se separaram. Cada um seguiu seu rumo, até o reencontro, há quase 10 anos, e, desde então, mesmo os qu
e moram distante estabelecem contato, colocando “azeite” na velha e boa amizade.

“Esse livro traz parte da história de Maceió, contada por pessoas que viveram essas histórias. Fala de como viviam as pessoas, de como era a cidade na época, dos verdadeiros valores que a gente cultivava, como a amizade e a alegria de viver”, diz Paulo Ramalho.

“É um tributo à amizade, recheado de fatos que fazem parte da história da cidade, das memórias de um tempo que não volta mais; de uma parte da cidade que teve seus anos de glória, no entorno da Avenida da Paz. Podemos dizer que vivíamos no paraíso, e que o nosso compromisso era com a felicidade. Fizemos e vivemos muitas histórias”, diz Américo, destacando que muitos dos “meninos” ficaram de fora dessa edição, e muitos ainda querem contar outras histórias.

Leia mais na versão impressa

FOTOS DE AILTON CRUZ (fotógrafo Gazeta de Alagoas)

GAZETA DA ALAGOAS - 25 de dezembro de 2011 - DOMINGO

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

1o. BEIJO DE CACÁ DIEGUES FOI NO CORETO DA AVENIDA

Viajando de Maceió para o Rio deparei-me, na revista da GOL, com uma reportagem AMOR por Maceió, com Cacá Diegues. Ele escolhe a Avenida da Paz como a principal visita de Maceió, porque foi no coreto1ue ele deu seu primeiro beijo. Também isso aconteceu comigo, um dos primeiros beijos namorando sentado no pequeno degrau do coreto. Podemos concluir então que o coreto era afrodisíaco, e infelizmente não botamos isso no nosso livro. Hoje o local é broxante graças aos nossos honrados administradores públicos.
Abaixo a reportagem (clique na figura para aumentar).

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DÁDIVAS E PRENDAS NATALINAS: - CELEBRAÇÕES, CULTOS E TESTEMUNHOS por Murillo Mendes

1. Na última sexta-feira, fez-se em realidade luminosa, um encantador livro de relatos e de experiências, colhidos ao longo de uma época imorredoura que, ainda, se expande, impregnando a alma de quantos a desfrutaram na varando atlântica da Avenida da Paz, sob o pálio da estima e da verdadeira amizade. Uma construção literária que exalta uma adolescência/juventude forjada sem a rigidez de regras draconianas e castradoras; consumada em liberdade, embora obediente e em harmonia com os postulados familiares então vigentes, que não os oprimia, imobilizando-os.

“Meninos da Avenida”, o livro aqui festejado, expressa a saga da formação de jovens adolescente, o eco de sua felicidade, o companheirismo ousado e fértil que consagrou um logradouro e que destaca a felicidade de uma época em que se fizeram prontos para os enfrentamentos existenciais. Trata ele, na verdade, do breviário avenidense; uma narrativa compartida, coletiva por excelência, de fatos acontecidos, semeados e germinados no terreno alvissareiro da juventude, cujos frutos, agora maduros e saborosos, são colhidos para transformarem-se em livro, para perpetuá-los, evitando que se percam nos desvãos imperscrutáveis do tempo passado.

Não se trata, pois, de um livro fantasioso que alberga situações irreais, ou refere-se a pessoas imaginárias; nele, estão narrados fatos reais, experiências de pessoas vivas que se nutriram em uma aura benfazeja, para se converterem em cidadãos válidos e operantes. Os meninos que habitaram a Avenida da Paz e adjacências, como, de resto, os jovens contemporâneos que amavam a vida, não viam o mundo em que estavam inseridos como algo estático, completo e acabado; sabiam, de modo empírico, é bem verdade, como corolário de seu inato sentido de completitude, que teriam de lutar pelo seu aprimoramento, pela elevação de sua justeza e de sua equidade; para fazê-lo mais fraterno e feliz, aberto a todos, acolhedor de todos...

Contando estórias, relatando experiências juvenis, “Os Meninos da Avenida” fortalece, em todos nós, a certeza de que a felicidade existe e é possível... E nos ensina que, para desfrutá-la, não precisamos de muito; basta que saibamos colocá-la ao alcance de nossas possibilidades. E, assim, eles fizeram e está registrado na autenticidade de seu livro. Parabéns, avenidenses! A lição é edificante e a festa que lograram realizar foi inspiradora e emocionante.

2. No sábado recém-passado, ainda em comunhão com a mágica natalina, significando uma simbiose perfeita e amena, edificada por jovens briosos, nos altiplanos do Farol, realizou-se o Encontro de Confraternização do Palmeiras, com a presença de mais de meia centena de seus sempre joviais integrantes. Foi, por assim dizer, uma festa de celebração à harmonia entre pessoas, à estima entre companheiros que se mantêm unidos e solidários, afetuosos. Mas, também, evocativa de um culto à interação entre o ser humano e a natureza, justo que se materializou no entorno lagunar, emoldurado por sua inspiradora paisagem.

Foi, em sua concretude, uma majestática exaltação aos sentimentos que agregam e elevam, uma comemoração que nos distinguiu e marcou, enquanto seres inteligentes. A alegria tomou conta de todos, criando um ambiente verdadeiramente fraternal. Nele, foram compartidas as amenidades que povoaram a afortunada juventude palmeirense; lembrados e enobrecidos os tempos criativos que a fizeram operante e válida. Na verdade, essa comunidade sabia o que queria; sabia somar-se em aliança, para não se deixar afetar pelo áspero do egoísmo avassalador. Enfim, uma contagiante reunião festiva e luminosa.

3. No crepuscular desta crônica, cumpre-me o elogio à juventude raiolina que vivi, intensa e plenamente, no território livre da Praça Raiol. Expresso-a na abordagem poética que segue:

Juventude na Raiol: Um tempo já distante/ Aos nossos olhos/ Tão bem vivido/ Tão bem haurido/ Ainda íntegro, constante/ Em nosso espírito / / Tempo inovador, eloqüente/ Singular, construtivo/ Convergente/ Ainda vivo em nós.../ Felizmente / / Por isso,/ Fulcro de nossas emoções/ Reverenciado, presente/ Em nossos corações/ Jamais esquecido/ Descartado ou ausente/ credo de nossas celebrações / / Tempo alentador, querido/ Embora decorrido/ Não se fez ido/ Na seletiva corrida/ Na inclemente luta da vida / / Halo renovador/ Força incontida, ardor/ Energia inesgotável, criativa/ Substância essencial da vida/ Ínsita em todos nós/ Aureolando nossa diuturna lida.

O JORNAL - 20-12-2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

ENCONTRO DEZEMBRO 2011 - no BARROCO


Encontro no Restaurante Barroco - sexta dia 2-dezembro-2011 Tonho, Cuca, Betuca, Carlito, Lelé, Ricardo, Guilherme, Waldo, Paulo, Quico, Mané Ramalho, Eurico, Aderbal Jacaré.
Foi distribuído um exemplar para cada participante do livro MENINOS DA AVENIDA. (1a. tiragem)





terça-feira, 29 de novembro de 2011

CAMINHAR BEM PELA VIDA por: Milton Hênio

Já estamos no final de novembro e assistimos a corrida célere do tempo. Particularmente, apesar dos meus 74 anos e 49 no exercício diário da medicina, procuro sentir dentro de mim as portas continuarem se abrindo, apesar de estar no entardecer da vida.

No passado, a imagem de uma pessoa com 60 anos era de alguém desanimado, solitário, sentado em uma cadeira de balanço ouvindo um estridente radinho. Era essa a imagem dos nossos avôs. Os tempos mudaram. O envelhecimento é uma das palavras que sofreu mais modificações nos últimos 10 anos.

Começamos a envelhecer desde o momento em que saímos do útero materno. Cada dia é menos um dia. Hoje vemos inúmeras avós nas academias de ginástica dando verdadeiro show de juventude. E homens com 80 anos praticando esporte e natação como se fossem jovens. Isso é notável. Em todos os tempos o ser humano sempre se preocupou com sua longevidade e aparência. Conta-se que Cleópatra, no Egito, tomava banhos diários de leite para manter-se jovem e com pele alva.

No passado ouvíamos dizer com frequência que o mundo era dos jovens. Hoje, nos tempos modernos, os idosos estão sabendo se cuidar realmente.Diz a OMS que atualmente 870 mil pessoas completam 65 anos a cada mês no mundo. A mesma instituição revela que o mundo terá 1,3 bilhões de idosos até o ano 2040. No Brasil em 2007 tínhamos 11.427 brasileiros com idade acima dos 90 anos. São dados do IBGE.

À medida que passamos dos 50 anos nossa força muscular vai caindo em consequência da queda de hormônios. Nossos neurônios também vão sendo eliminados. É preciso, portanto, ativá-los. Caminhada, respirar oxigênio puro, leitura, bom humor, tudo concorre para sua caminhada tentando alongar o máximo possível esse percurso que se chama vida.

A vida é uma lição de efeitos e contrastes. Todos nós esperamos que as coisas aconteçam num futuro próximo esquecendo que o momento mais poderoso para que as coisas ocorram agora, é hoje. Acordar bem todos os dias é um grande salto na transformação da caminhada em sua vida. Sorria, brinque, tome seu banho de mar, enfrente os obstáculos com altivez. Mexa-se, abandone a preguiça, olhe-se no espelho e veja o melhor de você.

Lembre-se que a verdadeira beleza física e sua longevidade dependem do equilíbrio entre o externo e o interno, isto é, entre o corpo e a mente. Veja bem: a verdadeira idade é a que você quer ter.


GAZETA DE ALAGOAS - 27-11-11

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MOSSORÓ por Gilca Cinara

“Teve época que tínhamos mais de 100 mulheres perdidas dentro da boate”. Se recorda o filho do famoso Benedito Alves dos Santos, o “Mossoró”, sobre os anos de grande movimentação na Boate e Churrascaria Areia Branca, consagrada o melhor prostíbulo de Alagoas, nos anos 70 e 80, no bairro do Canaã, em Maceió. Aos 65 anos, o aposentado Alberto Nascimento Santos, mesmo contando que está com a memória fraca, ainda traz boas lembranças dos anos dourados do Areia Branca.Entre suas lembranças, “Roberto”, como é conhecido, relata o dia em que deixou o bairro do Jaraguá, ao lado do pai para montar o novo negócio na parte alta da cidade. Benedito Mossoró deixou a sua profissão de pintor para se tornar dono de um bar diferente. O primeiro estabelecimento, onde conseguiu uma grande parte da clientela, foi no próprio Jaraguá. No bairro, permaneceu por longos anos na Rua Sá e Albuquerque, até o governo da época determinar o fechamento dos prostíbulos, em 1967.

“Quando fechou o Jaraguá, meu pai ficou sem saber para onde ir. Ele tinha esse terreno aqui no Canaã, e resolveu colocar a boate aqui para fugir da fiscalização do governo. Ele labutou muito para construir, mas não pensava que o estabelecimento ganhasse tanta fama. Ele cismou em entrar para o ramo”, recorda.

O apelido Mossoró foi dado pelos fregueses, devido ao nome da boate Areia Branca, que lembrava as dunas de areia na cidade de Natal. “O povo foi chegando e ele foi ganhando nome”. Ao falar sobre o pai, Roberto o classifica como uma pessoa “bacana e ao tempo reservada”. “Ele sempre procurou o lugar dele. A maior parte do povo gosta de criticar donos de boates. Muitos homens gostam, mas tem mulher que não gosta deste tipo de lugar”, afirmou aos risos.

O prostíbulo ganhou tanta fama, que virou ponto turístico em Maceió. “O povo que frequentava não era de baixa renda. Se citarmos nomes em público a família não aceitará e vai querer criar problemas”, disse Roberto fazendo referencia ao grande número de personalidades políticas que eram fregueses do Mossoró. A casa também foi visitada por personagens como Altemar Dutra, Vera Fischer, Martinho da Vila e outros.

Das luzes às ondas musicais por todo o Brasil
Rapidamente, as luzes e as mulheres que animavam o local ganharam fama nacional. A boate, inclusive, virou tema de música do sambista Martinho da Villa e do alagoano Djavan.
“... Vou tomar uma azuladinha
E vou convidar vocês
Pra comer uma agulinha
Lá na Praia do Francês
E um casadinho de feijão
Lá na casa do Seu João
E depois vou vadiar
Com as meninas em Mossoró
Só em Maceió
Só em Maceió
É que se pode vadiar
Com as meninas de Mossoró
Com as meninas de Mossoró
Alagoas, Alagoas
Há Alagoas...”, escreveu Martinho da Villa.
Essa situação não serviu para melhorar o local. Mesmo com o passar do tempo e o crescimento econômico, a rua mais movimentada do bairro ainda continua com o aspecto encontrado por Mossoró, em 1969: esburacada, sem saneamento e pavimentação. No local erguido o palácio do Rei da Noite, hoje é preenchido por residências de aluguéis, divididas entre os três filhos. Em um desses imóveis reside Roberto, com a mulher e o neto.

“Depois que ele faleceu passei um ano à frente da boate, mas não agüentei. Os impostos eram muito pesados, na época pagava R$ 1.200 só de energia para tirar esse dinheiro vendendo cerveja. O povo já tinha parado de consumir as bebidas mais caras, onde eu conseguia tirar mais lucro. Desde então continuei morando aqui (Canaã) há mais de 45 anos. Agora penso em deixar o bairro, o que tinha que perder aqui eu já perdi, perdi meu pai”, se emociona Roberto.

Com a fama do Mossoró e a movimentação na região ainda deserta, começou o crescimento do bairro do Canaã, hoje habitado por mais de sete mil moradores. A população, em sua maioria, é oriunda do Interior. Muitas pessoas que trabalharam no Areia Branca fixaram residência no bairro, após o seu fechamento, em 1995. Benedito Mossoró faleceu no dia 14 de dezembro de 1994, vítima de um infarto fulminante. Com a sua morte, o Areia Branca resistiu menos de um ano com as portas abertas.

Na época do sucesso, outros prostíbulos se instalaram ao redor do Areia Branca, que se destacava pela sua organização e pela “excelente” seleção das mulheres. “Quem tinha dinheiro freqüentava o Areia Branca duas, três vezes na semana. Quem não tinha se contentava com outros, como o Bar do Paulo, a Sandra, Eliane e outros cabarezinhos que tinham por lá”, lembra um freguês assíduo do Mossoró, que prefere não se identificar para não ter mais problemas com a esposa.

Para o presidente da Associação dos Moradores do Cannã, José Bonifácio, o fundador do bairro foi Benedito Mossoró. Com o tempo, fábricas foram instaladas no local, os terrenos começaram a ser invadidos por trabalhadores, que deram o nome de sua cidades para as ruas. “Satuba, Porto Calvo, Anadia, Maragogi, Quebrangulo, Jequiá e antiga Rua Camaragibe são os nomes batizados das sete ruas do Canaã”, conta.

“O Canaã para nós hoje é uma cidade. Tem muito gente que saiu daqui a época quando começou o crescimento do bairro, que hoje quer voltar e não tem mais condições. O bairro se desenvolveu muito. Hoje temos uma população de mais de sete mil moradores”. Mesmo com todo o desenvolvimento, Bonifácio lamenta a discriminação da área onde funcionavam os prostíbulos, esquecida pelo poder público.

A noite de gala no Mossoró
O aniversário da boate era comemorado em grande estilo. Todos os anos, Benedito Mossoró oferecia uma festa para sua clientela, regada com muita bebida, música e o glamour das suas meninas. Todos seguiam o estilo elegante do grande anfitrião da festa, que tinha sua preferência pelo terno branco, marca registrada do mais conhecido boêmio alagoano.
“A festa era com todo mundo de sapato alto e mulheres com vestidos longos. A fila de carro era grande, a cerveja era de graça, de 50 a 100 grades de cerveja. A festa começava no final da tarde e antes das 22h a bebida já tinha acabado. O povo devorava tudo. Todo ano ele dava essa festa. Ele era tão ruim, que ele fazia isso. Ele ajeitava muito os clientes, ai você tinha que voltar, ali é bom e vou ter que voltar”, disse Roberto

As meninas do Mossoró
A beleza das meninas do Mossoró encantava quem por lá frequentava. “Mulheres selecionadas a dedo”, riu o filho do empresário da noite. E assim que muitos fregueses da época qualificam as meninas. Para trabalhar no Areia Branca não bastava apenas ser bonita, mas tinha que saber agradar ao cliente. Tinha que ter molejo.

Apesar da renovação das meninas ser sempre constante, muitas histórias de amor nasceram com as visitas habituais ao estabelecimento, como é caso do aposentado Cícero Lima. “Eu me apaixonei por uma das meninas chamada Daniela. Por pouco não me casei com ela, como fez o meu primo que casou com outra menina do Mossoró, e construiu uma família com três filhos e netos”. O trecho relatado por Cícero se assemelha a tantos e tanto casos. “Hoje muitas das mulheres que trabalharam no Mossoró estão casadas e são mães de família”, conta, relembrando que elas vivem apenas nos sonhos dos antigos clientes.

Uma pessoa em Recife se encarregava em trazer as meninas das cidades de Aracaju, Caruaru, Recife, Campina Grande até Maceió. Algumas delas, como já trabalhavam no ramo há muito tempo, chegavam ao Areia Branca sozinhas, acompanhadas apenas ‘da cara e da coragem’. Todas elas dividam os quartos construídos por Benedito Mossoró. Em época de grande movimento duas a três mulheres moravam no mesmo quarto. “Ele (Mossoró) ia buscar também. Mas na época ninguém podia trazer duas, três mulheres no carro não que a Polícia pegava, porque sabia que era tráfico de mulheres”, disse Roberto.

Bem apresentáveis, elas não desapontavam nenhum cliente que as convidavam para também fazer companhia em festas sociais. “Lembro-me que nos finais de ano, eu e um primo pegamos cinco mulheres do Mossoró e levamos para uma festa no Clube Fênix. Elas eram muito bonitas, educadas e bem vestidas circulavam normalmente em todo lugar. Só sabia o que elas faziam quem lá frequentava. Na rua ninguém comentava nada, pois quem via achava que o cara estava acompanhado da esposa. Isso aconteceu outras vezes, inclusive na festa de formatura do meu primo no Iate Clube. Elas se comportavam melhor que certas mulheres donas de casa que quando enchiam a cara ficavam loucas nas festas”, contou um empresário que preferiu manter-se no anonimato.

Poucas confusões foram vista dentro da boate Areia Branca, graças à organização do Mossoró e a fiscalização do gerente, o senhor Djalma. Da amizade existente entre seu pai e Djalma, Roberto jamais esqueceu. Se vivo estivesse, Djalma seria o grande narrador das noites boemias e festivas no Areia Branca. Quando faleceu, há 16 anos Benedito Alves, o Rei da Noite, deixou a casa em pleno funcionamento, com nove funcionários e uma dezena de mulheres. Clientes assíduos, ao relembrar das aventuras no Mossoró enchem a boca para dizer: “Era um ambiente quase familiar”.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MENINOS DA AVENIDA por Paulo Ramalho

Muitos

Éramos

Naquela

Irmandade

Nadando e fazendo tudo que tinha direito.

Obtendo

Sonhos


Durante

Anos


Amigos

Vivíamos

Enturmados

Naquela

Intimidade

Duradouro

Até........

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

AS “PELADAS” DO HOTEL ATLÂNTICO por Murillo Mendes

UM “RACHA” QUE, AFINAL, UNIA

Ontem, sem que programasse, passei pela Avenida da Paz e não resisti diante daquela que foi a mais bela de todas as nossas belas praias. Premido pelas boas recordações suscitadas, resolvi descer do carro e percorrer, à beira d’água, o trecho em que, na minha adolescência/juventude, quase que o habitava, pois que nele desfrutei o melhor desse augusto tempo. Bem aventurado, foi exatamente ali que iniciei a construção do amor da minha vida; amor sem fronteiras, verticalmente dado e recebido, fértil e frutuoso, que nem a inclemência da morte foi capaz de minimizá-lo, ou de extingui-lo.

Nele, senti-me, novamente, ávido de viver em plenitude; despertei, em mim, o jovem sonhador e projetista que tudo podia... que muito queria. O fato é que revivi, em intensidade e nesses breves instantes, no trecho que mediava os trapiches que não mais existem e o então florescente Hotel Atlântico, um turbilhão de lembranças significativas que, ainda, me animam e sustentam, e estimulam-me para o viver amplo.

Houve um tempo – bendito tempo – em que essa praia sediava, em todos os domingos, em suas manhãs ensolaradas, uma das mais disputadas “peladas” futebolísticas de nossas encantadoras orlas praieiras. O seu palco, frontal ao Hotel Atlântico, tinha dimensões imensas e irregulares; era limitado pela maré, de um lado; do outro, pelo capinzal rasteiro que, sutilmente, homiziava insuportáveis carrapichos. O jogo era disputado, assim, em aplainadas e firmes areias trabalhadas pela maré, e nas frouxas e cansativas areias brancas que guarneciam e ornamentavam o mar azul que se descortinava ao fundo.

As equipes eram constituídas, sempre, através de chamada alternativa dos presentes; realizada por dois dos seus mais inveterados habitués; quase sempre, Júlio Normande e Betinho Perrelli. Iniciado o “racha”, ele só acabava depois de passado o “meio dia”. Não havia árbitro. Faltas e “goals” eram confirmados e aceitos de modo consensual; algumas vezes, no grito. Neste caso, nunca sem acirradas discussões que eram aliviadas por piadas e chistes que arrefeciam os ímpetos e recompunham a camaradagem.

Era jogo “pra valer”. Não obstante isso, os disputantes, arengueiros em sua maioria, jamais saíram para a “via de fato”. As derrotas eram naturalmente assimiladas. As discordâncias e o inconformismo dos derrotados eram domados pela esperança de que o troco viria na próxima “domingueira”... e, isso bastava, era o suficiente para se manter intacta a harmônica camaradagem. As discussões teimosas eram soterradas pelas “tiradas” inteligentes; pelo caçoar oportuno; pelo humor inofensivo e bem colocado, que temperava a doçura dessa convivência semanal, garantindo-lhe mansidão e pacificidade.

O “racha” do Hotel Atlântico era convergência, união e respeito mútuo. Fez-se em amizades inabaláveis que resistem e prevalecem até hoje; não foram afetadas pela oxidação do tempo. Seus participantes, na realidade, concertaram uma franca convivência que se mantém atual; sobremodo, como exemplo de coerência e de valorização individual.

Antecipando-me em desculpas pelas prováveis omissões, exalto e nomeio, aqui, os lembrados sujeitos ativos dessa eloqüente demonstração democrática; marcadamente fraternal e igualitária: Júlio, Zeca e Henrique Normande; Zé e Mané Ramalho; Fernando e Betinho Perrelli; Paulo Mendes; Gerson Omena; Joubert Scala; Rubinho Mastigada; Vetinho e Claudinho Pacheco; Claudinho Ferrário; Pai Manu; Arroxellas; Afrânio Montenegro; João Simões; Cleantho Rizzo; Luizito; Louvain Ayres; David; Maso e Dirson; Napoleão Moura; Juvencinho Lessa; Zezé Barbeiro; Peitudo; Ascânio Valença; Licito Cansanção; Eraldo; Aurélio Munt; Miguel Rosa; Tonico; Fernando e Toinho Cotrin; Paulo, Maru, Guy e Mano Gomes de Barros; Elísio Aguiar; Zirreli; Eduardo Jorge; Pedro Galinha...

Salve, pois, o futebol praieiro do Hotel Atlântico, por tudo que ele pôde oferecer e edificar.