Vindo de uma prole de dez irmãos
vivos, major Celso foi escolhido por seu pai o velho Nonô da Mataraca para
ajudá-lo na administração das propriedades Mataraca, Laranjeiras e Taboleiro,
todas anexas, situadas no município de Atalaia. As mesmas já estão em poder da
família há aproximadamente 200 anos, vez que foram herdadas de meu bisavô,
Coronel da Guarda Nacional Jose Tomás da Silva.
Foi o único irmão homem a não ter um
diploma superior, contudo demonstrou ser um sábio administrador, dentre seus
inúmeros predicados; era conhecido pela extrema coragem, sinceridade,
generosidade, ajudava espontaneamente seus amigos, funcionários, familiares
etc. etc.
Sou deveras suspeito, vez que sempre foi
o meu tio herói, mas a bem da verdade, tive o privilégio de contar com sua
presença e de tia Liene por toda a infância e parte da adolescência;
afastando-me um pouco após o casamento, todavia, estivesse presente à toda a
sua existência.
Todas as férias escolares, inclusive
feriados ia para o engenho, onde sempre fui tratado como um filho por ambos.
Ele gostava de andar com seus sobrinhos e filhos, por isso presenciava e
apreendia seu modo justo de agir e vivenciar o dia a dia na fazenda e fora
dela.
Fui testemunho de acontecimentos
indeléveis e formadores de meu caráter; citarei alguns: - Logo após a cassação
de tio Aloysio, estivemos no Banco do Brasil na Praça Dois Leões em Jaraguá,
para resolver uma situação e, tio Celso que sempre era tratado amistosamente ,
sentiu uma certa animosidade e, como não gostava de esperar, abriu o verbo;
tendo aparecido na ocasião um rapaz alto, falando carioca, dizendo ser
diretor para que Celso acalmasse, o tio
que era baixinho, pegou-o pela gravata, e aos berros chamou-o de viado, pois o
mesmo estava com um paletó amarelo, estranho naquela época, dizendo-lhe
cale-se, mecha que levará uma surra, me respeite. Foi um sururu danado e o
santo remédio.
Estávamos jantando, quando o velho
Flor, administrador à época, veio dizer
que os sertanejos, três irmãos, queriam acabar a festa de São Sebastião, que
ocorria todos os anos no barracão do Elvécio; ele estava de camiseta branca e
com um revolver 32 no quarto, saiu correndo e eu e o Flor atrás, até o arruado,
onde os irmãos tinham ido para se armarem, ao passar pelo primeiro, virou-se e
pulou com os dois pés no peito, derrubando-o, a seguir deu com as mãos um
telefone no outro que caiu desfalecido, o terceiro, ajoelhou-se e pediu perdão.
Foi uma cena que nunca me fugiu ao pensamento, ele estava armado, mas em nenhum
momento utilizou-a.
Como sempre, saiamos a cavalo pela
manhã, para a Laranjeiras e, ao saber que o Elvécio tinha um plantio de
melancias em uma das ilhas do rio Paraíba; desmontamos eu, Ricardo, Emilio,
Mario e Neno e fomos comer as melancias, esquecendo do tempo, quando voltamos,
já passava do meio dia, horário do almoço; Celso já estava nervoso na varanda,
tentando enrolar, perguntei, “tio, onde colocaremos as selas ?” e ele botem no
rabo, galego sarará.
Todo São João era celebrado; vinham
Humberto Casado, Walter Lima, as sobrinhas de Tia Lucy, Marleide, Eliane,
Carol, e amigas de Maceió, Flora, Mariluce, Cida, além dos menores, Eu,
Lucinha, Ricardo, Jose Thomás, Neno, Mario, Emilio etc. Tio comprava vários
fogos e bombas, todos os quitutes juninos, eram feitas inúmeras brincadeiras, a
fogueira era enorme, onde eram assados milhos. Eu adorava as festas, mas quem
mais aproveitava eram Humberto e Walter, pois tinham idade de paquerar a
vontade; sempre preferia dormir no coro da Igreja que fica ao lado da casa
grande.
Todos os anos era feita uma pescaria
no Paraíba, onde fechávamos um braço do rio , onde era batido cipó, após
algum tempo, os peixes ficavam tontos,
eram pescados com puçás e à mão. Também tinha a pescaria da Semana Santa que
era feita nos açudes; soltava a água e passava um grande reducho. Os peixes
mais comuns eram no rio: sabararus, jundiás, caras zebus ou bois, cascudos,
piabas, trairas e pitus; nos açudes: tilapias, tambaquis, tambacus, piaus,
surubins, curumatás e pescada branca; o produto da pesca
era da Casa Grande, convidados e dos
pescadores e moradores, dava para dividir para todos pois pegávamos em média de
uma tonelada.
Outro esporte muito apreciado por
todos eram as caçadas, que sempre fizemos desde a infância, dentre elas,
destacamos as realizadas na própria fazenda, nambus pé, capivaras, galos dágua,
jaçanãs etc; na fazenda Riachão de compadre Mainha, pacas, veados , paturis e
marrecos; nos alagados da cidade de Pilar, onde sempre aos sábados, com o compadre Gabriel, Emilio, Lele e outros
da Avenida da Paz, usávamos uma canoa que possuía e sempre com o compadre
Aloisio ao remo, matávamos pássaros de inúmeros tipos, especialmente marrecos e
paturis; e as mais importantes, na
propriedade em Ibotirama, estado da Bahia, onde passávamos em média uma semana
inteira caçando.
Em ibotirama, propriedade de cinqüenta mil hectares à beira do Rio São
Francisco, fizemos varias e maravilhosas caçadas e pescarias; havia caça e peixes com fartura. Sempre viajávamos
saindo do Mataraca de madrugada em duas camionetes, só chegando em nosso
destino ao anoitecer, antes ´, tio Celso fazia
compras de pães, arroz, macarrão, café e fubá em Ibotirama , pois às
carnes e peixes era de nossa responsabilidade caçá-los, como seja: mutuns, cordonizes,
porcos do mato, veados, onças, tatus, gatos do mato, jacarés, patos , surubins,
pacus etc etc.
Sempre participavam nas viagens tio Celso, Ricardo, Celcinho, Jabes,
Lula, eu, Junior Fuba e convidados, que juntávamos com o Sr. João, índio que
morava na fazenda e conhecia todas as trilhas, açudes e esperas.
Todas as noites, quando voltávamos, após a retirada dos couros e
repartição das carnes e preparo delas em uma fogueira de arueira na borda da
piscina, ficávamos tomando uma bebida, cerveja ou uisk com tira gosto,
finalizando com um banho refrescante, programando às caçadas do dia seguinte.
Era um paraíso, inclusive pela estrutura do ambiente, uma ampla casa com
vários quartos e terraços em sua volta; tínhamos além do Sr. João o apoio de D.
Maria, cozinheira supimpa. Poderíamos escrever um livro só com os causos destas
caçadas. Sempre escolhi como lazer as caçadas, pois desligávamos totalmente do
nosso cotidiano. O chato era a volta, vez que a semana passava com uma rapidez
impressionante.
Meu tios sempre foram presentes em toda a minha feliz existência, desde a
infância no engenho, avenida da Paz, na adolescência nas caçadas, na fase
adulta com seus conselhos e exemplos.
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