O MAR QUE FAVORECE O ONANISMO
A temperatura do mar da praia da Avenida, principalmente no verão, é de fazer inveja a muitas saunas. Então, favorável a um sabãozinho, e mamão com açúcar para os adeptos do onanismo. Esse costume no mar, é exclusividade nossa, que tem essa água caliente. Jamais seria praticado no sul maravilha, apesar da matéria prima por lá, que fica nas imediações do mar, ser bem mais voluptuosa. No sul não dá, a água do mar é fria pro cacete; Broxante... eles dão mergulho no mar, vapt-vupt, a gente toma banho de mar. Bate papo. Muita diferença...
Naquela época na praia da Avenida, quando a gente dava uma olhada giratória para a beira do mar, estavam lá eles, só se via a cabecinha do lado de fora da água. Ficavam concentrados em determinado lugar. A gente espiando a praia realçava logo uma gostosona naquela área. Os punheteiros eram bem conhecidos, até hoje continuam com os apelidos: fulano bronha, sicrano tara, beltrano punho de ouro...
Um dos mais conhecidos, o China (musculoso, gostava de brigar, fazia luta livre), certo dia saiu correndo da água, caiu em cima de uma menina deitada na praia, conhecida nossa, e ejaculou naquelas belíssimas pernas. Cabra safado... A turma estava jogando bola na praia, e imediatamente correu pra cima dele. O China levou a maior lixa. Porrada pra valer. Mesmo assim o sem vergonha gritava “ podem me matar, foi a maior gozada da minha vida”.
NADANDO PARA O CAIS DO PORTO
Vez em quando, íamos nadando pro cais, longe pro cacete, levando como segurança uma bóia grande, geralmente câmara de ar de trator. Eramos seguidos pelos mergulhos dos botos, ou golfinhos como chamam hoje. Diziam que eles salvavam, empurrando pra praia, jangadeiros que caiam na água e não sabiam nadar. Saíamos em grupo. As meninas, nossas amigas, também nos acompanhavam. Quando alguma boazuda estava no meio, a gente notava que alguns se afastavam pra praticar o ato solitário no mar adentro. A água transparente denunciava o calção no joelho. Sacanas...
PRIMEIRO ALUMBRAMENTO
ALUMBRAMENTO (Manuel Bandeira)
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
. . .
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar flor
Da água que o vento desapruma...
. . .
- Eu vi-a nua... toda nua!
Nosso primeiro alumbramento foi ver uma empregada, nuinha, tomando banho no quintal perto da casa do Emílio, que a gente só tinha acesso subindo no frondoso sapotizeiro atrás da casa. Na época, a gala mal tinha chegado na gente.
A festa acabou quando estávamos, Emilio, Cuca e eu, no galho mais alto da árvore, o único que dava vista para o bendito quintal, e repentinamente ele partiu. Menos pelo peso da gente, mais pelo movimento harmônico que fazíamos. Era mais uma estória que tínhamos que inventar em casa para justificar os arranhões que arranjamos por toda parte do corpo. Mas valeu...
PENIQUEIRA, GRAÇAS A DEUS
Ah... o nosso namoro com as meninos. Tempão depois do começo do namoro, nos era permitido apalpar os peitinhos. E olhe lá! E só. E nossa gala pra onde ia? Era o grande dilema dos meninos de nossa geração. Entrar no clube do China? Foi aí que se formaram verdadeiras armadas, como a de Brancaleone, para facilitar o carinho das empregadas domésticas. As peniqueiras.
Felizmente existiam as peniqueiras... Os meninos da praça Gonçalves Lêdo, que formavam o Palmeiras, tinha até uma armada com hierarquia militar, com graduação não por antiguidade, mas por mérito na batalha. Marechal era o sedutor mor das empregadinhas, o pegador. Na Avenida tínhamos os bambas. Paulo da Capa sempre esteve no pódio, bem acima dos outros.
Nós os menores penávamos. Conosco ficava a sobra. Mas tínhamos nossa estratégia para comer carnes mais saborosas. Como não dávamos muitas importâncias as meninas para namoro, convivíamos mais intensamente com as peniqueiras do que os amigos maiores, que só a procuravam na hora da sede. A gente sentava com as empregadas no banco exclusivo delas na Avenida, ouvíamos suas confidências e lamurias: "Tonho tá saindo com a Zefinha!!!", e nesse papel de pequenos sacerdotes aproveitávamos para faturar o nosso objetivo. Assim nosso sêmen era eventualmente expelido... viva as peniqueiras!
MARCAR CARTÃO
Esse é um termo genuinamente alagoano. Surgiu do fato que os pais marcavam em cima os namorados, mal deixava pegar nas mãos das meninas. Eles então esperavam as festas populares de fim de ano, as natalinas, onde eram montadas roda gigante e barquinhos, com direito a apresentação do nosso folclore tão rico, Chegança, Pastoril, Reisado, Baianas, e que nunca deixavam de ter espalhadas varias barracas de bingo. Aí era onde o namorado aproveitava. Mesmo na vista conivente dos pais, a menina sentava na banca da barraca, pedia os cartões de bingo, e o namorado ficava em pé, por trás da menina, marcando o seu cartão debruçado nela. Era a rara oportunidade de encostar seu membro oculto no corpo da amada. Marcar cartão foi então uma grande tática dos maloqueiros para conhecer melhor sua namorada.
O termo ficou abrangente. Frequentemente, com turma reunida, sentada num banco da Avenida, alguém dava a idéia "vamos marcar cartão, tá na hora!". Tratava-se de subir num ônibus cheio, à tardinha, e procurar uma dona que topasse a esfrega. Quando assisti A Dama do Lotação lembrei-me daqueles tempos. Com a prosperidade de Pajuçara foi inaugurada uma linha, Bebedouro-Pajuçara, que passava pela Avenida, com ônibus novíssimos tipo Atocar, que quando freava dava aquela balançada, arrumando os que ficavam em pé. Eram melhores freqüentados, pelo menos na parte das donas que topavam o sabão, geralmente comerciaria e casada. Quando chegava no ponto de ônibus delas, fechavam a cara e desciam rapidamente, como nada tivesse acontecido. O troféu dos meninos era quando descia do ônibus na Avenida e mostrava a calça esporrada. A glória!
OS MENINOS DA AVENIDA E AS MENINAS DO MOSSORÓ
A praia do Trapiche, pertinho da Avenida, era aonde na maré cheia corríamos para os velhos trapiches desativados, para pular de cima deles na água do mar, fazendo-os de trampolim. Eles já foram armazéns junto do cais para guardar gêneros de embarque. Ali também ficava a colônia dos pescadores, onde as jangadas saíam em busca dos pescados. E paralelo a praia, a rua dos principais puteiros de Maceió. Alhambra, Tabaris, Night-and-Day, São Jorge...
As damas das boates iam curtir a ressaca à tarde na praia do Trapiche. Os meninos da Avenida que estudavam pela manhã davam sempre uma esticada por lá na tardinha para conversar com elas. A amizade era sólida, elas gostavam da atenção dos pivetes, tomavam banho de mar juntos, mas pelo dia claro, elas não deixavam os meninos se aproximarem, impunham respeito. Porém às vezes, como presente pela amizade, depois do por do sol, rolava dentro da água, ainda caliente, algo sublime para os meninos. Se descobriam com as especialistas. Chegavam em casa com um sorriso na cara, e ouviam: “maloqueiro, uma hora desta, o jantar na mesa, e você com essa cara de safado!”. Pior que era.
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