Há quase um ano, no artigo “Palmeiras - instituição maceioense”, referi-me à reunião às margens da Lagoa Mundaú, de homens já entrados na terceira idade, para comemorar o aniversário de uma entidade que lhes alegrou a adolescência: o Palmeiras Futebol Clube. O encontro ultrapassou os contornos de simples homenagem. Transformou-se em confraternização de pessoas que foram jovens no meado do século passado. A festa deste ano terá ingrediente especial: a homenagem a um dos mais importantes integrantes da geração palmeirense: o general Nilton Moreira. Discreto e cordial, Nilton deixou Maceió, antes de chegar à idade adulta. Aprovado nos duros exames ministrados pelo Exército brasileiro, tornou-se cadete. Deixou-nos, assim, para cursar a Academia Militar das Agulhas Negras. Voltava para cá, nas férias de fim do ano, com direito a envergar, no réveillon da Fênix, a vistosa farda de gala - encanto das garotas e causa de inveja a nós outros, civis. Jamais, entretanto, portou-se com arrogância.
No posto de coronel, ele retornou à terra, para comandar o 20º Batalhão de Caçadores. Manteve, nesse alto posto, a cordialidade de sempre. O generalato, tampouco, o modificou. O general Nilton Moreira continuou a ostentar o sorriso tímido que o caracterizava nos tempos de estudante secundário. Já na reserva, foi convocado para dirigir a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, poderosa entidade, capaz de se impor aos mais poderosos políticos nordestinos. Nem aí ele se transformou.
Como testemunho de sua postura, lembro uma entrevista em que recebi, no STJ, o procurador-chefe da Sudene. Entusiasmado com a entidade a que pertencia, ele narrou-me a preocupação com que recebera a nomeação de um general para a superintendência do órgão: “Se os civis abusam da prepotência - imaginou ele - um general vai distribuir pontapés”. A inquietação esvaiu-se no primeiro despacho. Ao contrário do que faziam os civis, O general-superintendente foi recebê-lo à porta do gabinete e, no lugar de passar ordens, pediu orientações. “Saí amigo daquele homem”, finalizou o advogado. Fingindo ignorância e disfarçando emoção, indaguei: “Como se chama esse general?”. A resposta envaideceu-me: “O nome dele é Nilton Moreira, um dos maiores administradores que a Sudene já teve”.
Esse general gentil-homem, orgulho de nossa geração, faz jus a qualquer homenagem que Alagoas lhe possa tributar. Estou, contudo, seguro de que, em seu proverbial recato, ele preferirá a qualquer honraria, o tributo singelo que lhe prestarão os amigos de juventude.
(*) É escritor, advogado e ministro aposentado do STJ
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