Nego, conforme lhe prometi, tentarei lembrar-me de alguns coadjuvantes de nossa inigualável infância, LA VAI
De princípio desejaria dar um roteiro às pessoas lembradas, embora em sua grande maioria pertencessem à mesma época;
SENHOR PRIMITIVO era o afamado sorveteiro que todas as tardes vinha com sua carrocinha gritando “olha o sorvete”, os sabores eram sempre em dupla, coco e goiaba, coco e maracujá, coco e abacaxi etc., mais sempre tinha coco que pelos coqueirais existentes não tinha como faltar, tinha um chapéu de feltro preto e a meninada adorava tanto os sorvetes como sua pessoa sempre tranqüila que quem não tinha grana, pagava depois, mais nunca deixamos de fazê-lo.
(NOTA DE LELÉ: o carrinho de sorvete – o melhor de côco do mundo – era vermelho )
PAPA MÉ era um doido que em sua primeira aparição na avenida foi genial; estavam trepados na amendoeira junto ao Salgadinho na maior algazarra, Emilio, Alberto Cardoso, Waldo e Fael Perelli, quando foram repreendidos por um senhor de paletó e gravata, alto, moreno claro que se apresentou como novo fiscal da Avenida da Paz, repreendendo a turma, chamando-os de moleques, fez todos descerem da amendoeira e limparem todas as folhas que estavam no chão, a turma surpreendida e temerosa obedeceu e levou uma senhora bronca, tendo o mesmo afirmado que se os pegasse novamente sujando a via pública os prenderia.
O fato foi relatado ao resto da turma a noite, mas dias após, não me lembro por quem, soubemos o fiscal era o doido PAPA MÉ. Foi uma gozação geral nos moleques limpadores de folhas. Depois desse notável fato, passamos a conviver com harmonia com o PAPA MÉ que era culto e bom de papo.
(NOTA DE LELÉ: Papa Mé morou uns tempos numas tubulações de saneamento junto ao Salgadinho. Quando li Diógenes, me lembrava dele, que também morava num tonel em Atenas, e andava com uma lamparina procurando UM HOMEM. Foi um dos primeiros CÉTICOS. Como Papa Mé também vivia mendigando. Este também era filósofo, esculhambava com as autoridades, mas era brabo também, deu algumas carreiras na gente.)
SENHOR FORTES vivia em uma casa entre o mangue e o Salgadinho num sitio de coqueiros que era de sua propriedade, tendo como companhia mais de vinte vira latas. A turma além de sistematicamente roubar os cocos de seu sítio infernizavam o velho que corria com a cachorrada atrás dos meninos com um guarda chuva em punho. Também não era bom da cabeça e nunca houve uma trégua, até a sua morte.
SR. LUIZ POLICARPO era meu grande protetor e amigo. Tomava conta da casa de Dr. Homero Galvão, ilustre advogado e homem de muitas posses.Também trabalhava com ele o nosso Tonho. O Luiz era irmão de Marina que criou Guilherme, Ricardo e Felipe Braga. Fazia de tudo na casa de Dr. Homero e sempre vivia as turras com a turma, face os roubos de manga e galinhas, que eram nossas atividades corriqueiras; mais tinha uma aversão especial com os filhos do General a quem chamava de neguinhos; Socorrinho tinha ódio ao Luiz.
Com o passar do tempo fez amizade com o Clailton e comprava as cadeiras de ferro que subtraiamos das casas de prostíbulo, principalmente da Railda, no Tabuleiro e trazíamos no “Guerreiro”, nome dado ao meu afamado Jipe Willams, dinheiro que servia para custearmos nossos cigarros e farras. Eu sempre aparecia de bom moço, principalmente porque o mesmo tinha um medo danado de mamãe; em sua casa e na garagem da mesma era um dos pontos de encontro da turma e ele sempre nos ajudava no possível, como conserto nos campos de botão, fazia nossas tetéias para pescar síri etc.
Porém, tinha uma idolatria a Maria Tereza, filha do Sr. Homero, que vivia no Rio de Janeiro e vinha em férias de cinco em cinco anos, tendo sofrido muito por isso, na ocasião do inventário dos bens do Dr. Homero, a referida senhora juntamente com o marido determinou que o Luiz desocupasse sua casa em trinta dias, sem qualquer compensação financeira, mesmo tendo o mesmo dedicado toda sua aquela família.
Nessa ocasião, eu tinha passado no vestibular de Direito, tendo sido, portanto a minha primeira causa. Encontrei o Luiz desesperado, chorando compulsivamente, pois não tinha para onde ir, mas não queria desagradar a Maria Tereza.
Com minha cara de pau, fui procurá-la juntamente com o marido e depois de muita briga, afirmei que o Luiz somente sairia dali para uma das duzentas casas que pertenciam ao seu falecido pai, e que a mesma seria passada em seu nome, senão iria aos jornais e denunciaria a mesma.CONSEGUI; o velho Luiz recebeu uma casa no poço, onde viveu até a sua morte e nunca mais quis saber da Maria Tereza.
SR.RODOLFO E D. SANTINHA tinha um casebre atrás da casa dos Perelli, era um velho pescador, a turma os adorava, pois nos ensinou a arte da pescaria e tocava violão; foi onde tomamos as primeiras tragadas, vez que ele, como um bom pescador bebia um bocado e mentia bastante. Era outro ponto habitual de encontro da turma, tanto a maior como os menores, também era lá nossa dispensa das frutas tiradas nas redondezas, principalmente na casa da D. Maristela e do Dr. Gazzaneo, das penosas requisitadas nas casas de tia Zeca, Dr. Segismundo, Sr. Milton entre outras.
Foi o local de nossas primeiras farras, nossas primeiras pescarias, a turma deveu muito ao velho pescador e sua humilde mulher.
Mamãe tinha raiva do velho porque descobriu a sua malandragem em colocar areia da praia dentro dos peixes para pesarem mais e também, juntamente com as outras mães pela assiduidade com que freqüentávamos o seu barraco.
(NOTA DE LELÉ: Foi na casa de seu Rodolfo a nossa iniciação à boemia: cachaça, tira-gosto de D.Santinha e o vozeirão de Seu Rodolfo “Ó linda imagem de mulher encantadora. És malandrina...” )
SEU NELO proprietário da afamada venda da esquina, onde abastecia toda a nossa área. Não podia dar mole, sempre carrancudo, não vendia fiado a turma, mais possuidor de um grande coração, pai de Zito, Mi, Diná e Manoel, tendo dado uma excelente criação a todos com a sua venda, onde viveu até a morte, sempre no batente.
Recordo-me que era bom de papo e mantinha seu estabelecimento sempre bem surtido, nada faltava da venda do seu Nelo.
(NOTA DE LELÉ: Quando a gente voltava do Rex passava no seu Nelo pra tomar cachaça com Cinzano)
MARIA foi uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Na época, criou todos os filhos do velho Segismundo e D. Enaura, mais tinha uma cisma comigo, por dois acontecimentos, primeiro ,ao deparar-se comigo na esquina da casa do Dr. Paulo com sua galinha de estimação debaixo do braço, requisitada que fora, para um tira gosto, fato que nunca se esqueceu.
Tempos depois, quando estava de namoro com Wilmene, me viu no Jipe com uma jovem e, a partir daí, ficou cismada até nos reconciliarmos por ocasião de meu casamento.
GRAPETE foi empregado do Sr. Jorge Barros, mas integrou-se totalmente a nossa turma, sendo uma pessoa sempre alegre, prestes para toda obra, inclusive , consertava nossas bicicletas; mas o que mais nos lembra era o tamanho descomunal de seu pinto, face a brincadeira quando criança, de amarrar num tijolo e arrastar como um carro, dando a absurda dimensão que tinha. Perdemos totalmente o contato com ele, ninguém sabe notícias.
Além desses magníficos coadjuvantes, lembro-me ainda do TONHO DO PÁDUA, do PAULO DO DR. HOMERO, DO CATREVAGEM , dentre outros.
Espero ter contribuído com algumas lembranças de um tempo bem diferente do atual.
(NOTA DE LELÉ: tem mais, cuca, MANÉ SAPINHO, por exemplo, que imitava tudo que era animal, e vivia nos meios “artísticos”. Quando eu morava em Recífilis fui a um circo cuja uma das atrações era um mexicano cantando bolero. Não é que chega Mané com bigodão e sombrero cantando Besame Mucho. Na galera gritamos: “Sapinho fio de uma égua, você é mexicano de Maceió”. Ele passou tempão puto comigo... e havia outros, como ARISTON, que tocava o Hino Nacional soprando no braço...)
CUCA em 08.06.2008 ,
De princípio desejaria dar um roteiro às pessoas lembradas, embora em sua grande maioria pertencessem à mesma época;
SENHOR PRIMITIVO era o afamado sorveteiro que todas as tardes vinha com sua carrocinha gritando “olha o sorvete”, os sabores eram sempre em dupla, coco e goiaba, coco e maracujá, coco e abacaxi etc., mais sempre tinha coco que pelos coqueirais existentes não tinha como faltar, tinha um chapéu de feltro preto e a meninada adorava tanto os sorvetes como sua pessoa sempre tranqüila que quem não tinha grana, pagava depois, mais nunca deixamos de fazê-lo.
(NOTA DE LELÉ: o carrinho de sorvete – o melhor de côco do mundo – era vermelho )
PAPA MÉ era um doido que em sua primeira aparição na avenida foi genial; estavam trepados na amendoeira junto ao Salgadinho na maior algazarra, Emilio, Alberto Cardoso, Waldo e Fael Perelli, quando foram repreendidos por um senhor de paletó e gravata, alto, moreno claro que se apresentou como novo fiscal da Avenida da Paz, repreendendo a turma, chamando-os de moleques, fez todos descerem da amendoeira e limparem todas as folhas que estavam no chão, a turma surpreendida e temerosa obedeceu e levou uma senhora bronca, tendo o mesmo afirmado que se os pegasse novamente sujando a via pública os prenderia.
O fato foi relatado ao resto da turma a noite, mas dias após, não me lembro por quem, soubemos o fiscal era o doido PAPA MÉ. Foi uma gozação geral nos moleques limpadores de folhas. Depois desse notável fato, passamos a conviver com harmonia com o PAPA MÉ que era culto e bom de papo.
(NOTA DE LELÉ: Papa Mé morou uns tempos numas tubulações de saneamento junto ao Salgadinho. Quando li Diógenes, me lembrava dele, que também morava num tonel em Atenas, e andava com uma lamparina procurando UM HOMEM. Foi um dos primeiros CÉTICOS. Como Papa Mé também vivia mendigando. Este também era filósofo, esculhambava com as autoridades, mas era brabo também, deu algumas carreiras na gente.)
SENHOR FORTES vivia em uma casa entre o mangue e o Salgadinho num sitio de coqueiros que era de sua propriedade, tendo como companhia mais de vinte vira latas. A turma além de sistematicamente roubar os cocos de seu sítio infernizavam o velho que corria com a cachorrada atrás dos meninos com um guarda chuva em punho. Também não era bom da cabeça e nunca houve uma trégua, até a sua morte.
SR. LUIZ POLICARPO era meu grande protetor e amigo. Tomava conta da casa de Dr. Homero Galvão, ilustre advogado e homem de muitas posses.Também trabalhava com ele o nosso Tonho. O Luiz era irmão de Marina que criou Guilherme, Ricardo e Felipe Braga. Fazia de tudo na casa de Dr. Homero e sempre vivia as turras com a turma, face os roubos de manga e galinhas, que eram nossas atividades corriqueiras; mais tinha uma aversão especial com os filhos do General a quem chamava de neguinhos; Socorrinho tinha ódio ao Luiz.
Com o passar do tempo fez amizade com o Clailton e comprava as cadeiras de ferro que subtraiamos das casas de prostíbulo, principalmente da Railda, no Tabuleiro e trazíamos no “Guerreiro”, nome dado ao meu afamado Jipe Willams, dinheiro que servia para custearmos nossos cigarros e farras. Eu sempre aparecia de bom moço, principalmente porque o mesmo tinha um medo danado de mamãe; em sua casa e na garagem da mesma era um dos pontos de encontro da turma e ele sempre nos ajudava no possível, como conserto nos campos de botão, fazia nossas tetéias para pescar síri etc.
Porém, tinha uma idolatria a Maria Tereza, filha do Sr. Homero, que vivia no Rio de Janeiro e vinha em férias de cinco em cinco anos, tendo sofrido muito por isso, na ocasião do inventário dos bens do Dr. Homero, a referida senhora juntamente com o marido determinou que o Luiz desocupasse sua casa em trinta dias, sem qualquer compensação financeira, mesmo tendo o mesmo dedicado toda sua aquela família.
Nessa ocasião, eu tinha passado no vestibular de Direito, tendo sido, portanto a minha primeira causa. Encontrei o Luiz desesperado, chorando compulsivamente, pois não tinha para onde ir, mas não queria desagradar a Maria Tereza.
Com minha cara de pau, fui procurá-la juntamente com o marido e depois de muita briga, afirmei que o Luiz somente sairia dali para uma das duzentas casas que pertenciam ao seu falecido pai, e que a mesma seria passada em seu nome, senão iria aos jornais e denunciaria a mesma.CONSEGUI; o velho Luiz recebeu uma casa no poço, onde viveu até a sua morte e nunca mais quis saber da Maria Tereza.
SR.RODOLFO E D. SANTINHA tinha um casebre atrás da casa dos Perelli, era um velho pescador, a turma os adorava, pois nos ensinou a arte da pescaria e tocava violão; foi onde tomamos as primeiras tragadas, vez que ele, como um bom pescador bebia um bocado e mentia bastante. Era outro ponto habitual de encontro da turma, tanto a maior como os menores, também era lá nossa dispensa das frutas tiradas nas redondezas, principalmente na casa da D. Maristela e do Dr. Gazzaneo, das penosas requisitadas nas casas de tia Zeca, Dr. Segismundo, Sr. Milton entre outras.
Foi o local de nossas primeiras farras, nossas primeiras pescarias, a turma deveu muito ao velho pescador e sua humilde mulher.
Mamãe tinha raiva do velho porque descobriu a sua malandragem em colocar areia da praia dentro dos peixes para pesarem mais e também, juntamente com as outras mães pela assiduidade com que freqüentávamos o seu barraco.
(NOTA DE LELÉ: Foi na casa de seu Rodolfo a nossa iniciação à boemia: cachaça, tira-gosto de D.Santinha e o vozeirão de Seu Rodolfo “Ó linda imagem de mulher encantadora. És malandrina...” )
SEU NELO proprietário da afamada venda da esquina, onde abastecia toda a nossa área. Não podia dar mole, sempre carrancudo, não vendia fiado a turma, mais possuidor de um grande coração, pai de Zito, Mi, Diná e Manoel, tendo dado uma excelente criação a todos com a sua venda, onde viveu até a morte, sempre no batente.
Recordo-me que era bom de papo e mantinha seu estabelecimento sempre bem surtido, nada faltava da venda do seu Nelo.
(NOTA DE LELÉ: Quando a gente voltava do Rex passava no seu Nelo pra tomar cachaça com Cinzano)
MARIA foi uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Na época, criou todos os filhos do velho Segismundo e D. Enaura, mais tinha uma cisma comigo, por dois acontecimentos, primeiro ,ao deparar-se comigo na esquina da casa do Dr. Paulo com sua galinha de estimação debaixo do braço, requisitada que fora, para um tira gosto, fato que nunca se esqueceu.
Tempos depois, quando estava de namoro com Wilmene, me viu no Jipe com uma jovem e, a partir daí, ficou cismada até nos reconciliarmos por ocasião de meu casamento.
GRAPETE foi empregado do Sr. Jorge Barros, mas integrou-se totalmente a nossa turma, sendo uma pessoa sempre alegre, prestes para toda obra, inclusive , consertava nossas bicicletas; mas o que mais nos lembra era o tamanho descomunal de seu pinto, face a brincadeira quando criança, de amarrar num tijolo e arrastar como um carro, dando a absurda dimensão que tinha. Perdemos totalmente o contato com ele, ninguém sabe notícias.
Além desses magníficos coadjuvantes, lembro-me ainda do TONHO DO PÁDUA, do PAULO DO DR. HOMERO, DO CATREVAGEM , dentre outros.
Espero ter contribuído com algumas lembranças de um tempo bem diferente do atual.
(NOTA DE LELÉ: tem mais, cuca, MANÉ SAPINHO, por exemplo, que imitava tudo que era animal, e vivia nos meios “artísticos”. Quando eu morava em Recífilis fui a um circo cuja uma das atrações era um mexicano cantando bolero. Não é que chega Mané com bigodão e sombrero cantando Besame Mucho. Na galera gritamos: “Sapinho fio de uma égua, você é mexicano de Maceió”. Ele passou tempão puto comigo... e havia outros, como ARISTON, que tocava o Hino Nacional soprando no braço...)
CUCA em 08.06.2008 ,
Um comentário:
Cuca e Lelé, parabéns pelas memórias. Quantas saudosas lembranças. Quero fazer justiça e contribuir com mais alguns nomes que participaram de nossa feliz meninice : "seu" Barros, motorista de meu pai, quando Secretário do Interior, que nos levava todas as sextas feiras ao cine Lux para assistir a série Dick Tracy, quando ficávamos ansiosos para saber como o detetive se livrou do "perigo da série"; "seu" Maciel, motorista do Sr. Antônio Cansanção; "seu" Jorge, motorista do então Coronel Mário Lima; Zé Melão, barbeiro de profissão e nas horas vagas cobrador "da Fênix", como chamávamos; "seu" Raimundo, gordo e careca porteiro "da Fênix", que nos ajudava a levar amigos não sócios para aquele Clube. Enfim, é muita gente prá relembrar nossa feliz meninice. Ricardo Braga
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