Banco simples, de concreto armado, dimensões 1,50x0.50 m , sem encosto, centro lateral de
um canteiro gramado limitando-se a calçada e via principal da Av. da Paz,
localizado próximo ao Coreto e ao
leste com área arenosa( utilizada pelos
meninos da avenida para jogos de pião, chimbra, buraco, rouba bandeira,
academia), outra calçada lateral da
mesma avenida com descida para a praia e o Oceano Atlantico.
A posição estratégica permitia ter uma total visão das casas
localizadas a beira mar e frontal ao bêco chamado atualmente de Emilio Cardoso (
meu querido irmão) que liga a Av da Paz
à rua Silvério Jorge exatamente no casarão Villa Olinda.
Durante nossa infância e inicio da adolescência para a maior
parcela dos meninos da avenida, esse casarão ,com grande área de quintal
possuindo um coreto sombreado por mangueiras, além coqueiros ede muitos tipos
de fruteiras, pertencia ao Sr. Baltazar Mendonça, onde viviam nossos amigos
Mourinha e Duduca, sendo sua família
comandada por Dona Mariinha , que acolhia a todos os meninos com carinho e
permissão para usar sem restrições, os
espaços e as frutas em toda plenitude. Posteriormente a família mudou-se para
Recife e o casarão foi ocupado pela família de Ribemont Uchoa , pai do nosso querido amigo Eurico e de suas irmãs Katia
e Deise, que além de manter ampliou
nosso convívio com permissão para usufruirmos
daquele pedaço de paraiso.
Este banco , durante a década de 50 e por cerca de 10 anos,
foi naturalmente ocupado durante todas as noites pelos meninos da avenida. À
partir das 18:30h iam chegando e os 4
lugares eram ocupados de imediato e os
demais se aconchegavam agachando-se no
gramado fofo que o circundava. Era um atual Top Point.
Conversas jogadas fora e planejamento do que íamos fazer
naquelas belas noitadas, diante de inúmeras opções que se apresentavam. A brisa marinha do Atlantico era constante,
sem qualquer tipo de poluição e nos acalentava , sem percebermos , deixava a todos numa temperatura ambiente agradável e reconfortante , compensando os
esforços desenvolvidos durante o dia, que em media jogávamos de duas
a três peladas no futebol de praia , com direito a banho de mar inigualável, o
ano inteiro.
De memória , há mais de meio século ,os meninos da
avenida que mais frequentemente
frequentavam o banco todas as noites
eram: Alberto, Emilio, Adilson, Lelé, Eurico, Cuca, Carlito, Betuca, Waldo,
Guila, Ricardo Braga, Ricardo Peixoto, Paulo e Quico, Tonho, Rafael, Melé, Lelo
e Lula , entre outros. Turma alegre, participativa, unida, sem
qualquer registro de brigas entre nós e também entre nossas famílias, portanto
um ambiente propicio para fortalecimento das amizades e que perduraram por
todos esses anos.
Os moradores das casas residenciais na nossa frente aos
poucos se movimentavam colocando as suas respectivas cadeiras na calçada para
receberem também a brisa marinha, atualizar sua conversas,
observar os movimentos no seu entorno e os poucos ônibus e veículos que
circulavam na direção da cidade ou na direção de Jaraguá. O Seu Pádua morador
da casa de esquina era sempre o 1º a
aparecer, camisa de pijama, tamancos, circulava até o bêco, fazia pequenos
movimentos digestivos e se recolhia, era um cidadão solitário .
Dona Santina sempre muito arrumada, sentava-se com Seu Béu e Albertina em suas
cadeiras de ferro e assentos de lona e se balançavam por horas. Subindo o bêco, Dona
Àurea e Dona Zeca que olhando para nós
no banco, dávamos boa noite e Dona Zeca ia logo xingando e dizia :
maloqueiros e os risos da galera era geral, todos nos sentíamos felizes pelo aconchego e pelo tratamento em todos os momentos, e ambas seguiam para
casa de Dona ( vovó) Melinha, extraordinária
figura humana, mansa de coração com todos, agregava toda família todas as
noites nas inúmeras cadeiras na calçada de sua casa, em frente ao Coreto e a direita do nosso banco da praça. Um pouco mais a direita as famílias Cintra ,
Cardoso e Wanderley ocupavam dezenas de cadeiras e a prosa era grande e alegre
pois somando os filhos das casa 1074 e
1068, eram cerca de vinte.
Subindo o bêco , lá vem Mané Sapinho, 1,50m franzino, com
seu jeito tímido de andar,era um artista
nato e fazia a imitação exemplar de bichos . Trabalhava diuturnamente para a
família Wanderley, na manutenção e
pintura da residência, mas á
noite, fazia seus bicos utilizando-se de sua arte. Aproximou-se do banco da
praça, onde já tínhamos um grande grupo concentrado e foi direto querendo identificar quem foram os dois
meninos irresponsáveis e metidos a
engraçadinhos qua gritaram seu nome no circo que estava montado em terreno
próximo do clube Fenix, no momento que
apresentava seu número artístico. Dois dos meninos, penetraram por baixo da
lona do circo quando era anunciada a
maior atração da noite, dizendo diretamente da cidade do Mexico o artista Pablo Moreno ,o maior imitador de
bichos do mundo e quando apareceu e o palco foi iluminado , os meninos
disseram: ôxente esse nós conhecemos e
gritaram alto Mané Sapinhoooo. Os leões
de chácara a mando do dono do circo imediatamente localizou os meninos e os expulsaram. Eles ainda
ouviram o famoso Mexicano imitando para delírio da plateia as brigas de 2
cachorros grandes, de 2 cachorros grandes e um pequeno, de cachorro com gato,
briga de gatos.
A programação da turma era variada, determinados dias da
semana íamos assistir jogos de Voley, Basket
, de Futebol de salão, pois nessa época Maceió tinha excelentes
jogadores e sempre saiamos vitoriosos contra as equipes de fora do estado,
entre eles, de memoria: Santa Rita, Giba ( Gilberto Mendes) ,Tonho Lima,
Napoleão ,Lula Monstrinho. Nas 6ª feira
era obrigatório ir assistir ao sessão de cinema no clube Fenix, onde alguns da
turma não eram sócios, mas no final acabavam
entrando pois aproveitávamos a chegada das meninas com seus pais ,socios
e em bloco nos misturávamos e passávamos pelo gerente Sr Raimundo, sempre de paletó branco e subíamos a escada para sala de projeção no
1º andar sem sermos percebidos.
Certa vez, estávamos na calçada em frente a entrada do clube observando à distancia o
Seu Raimundo ,de pé junto a escada , para escolher a melhor oportunidade de
penetrar na sala de projeção, quando de repente
nosso colega Mourinha , separou-se do grupo e penetrou
confiante para enfrentar o gerente e após conversar deu meia volta vou
ver e chegou junto a nós com a explicação, que quando perguntado se era sócio, Mourinha disse sim que era filho de Cabeção( rico
empresário na época) e o Seu Raimundo disse de pronto que Cabeção não era sócio
naãoo, pode voltar, pois ele já tinha subido alguns degraus. Os risos e gozações foram grandes teve colega
que caiu no chão de tanto rir. Ao final
Mourinha entrou e assistiu o filme, adotando a tática do grupo entrando
em bloco com sócios e nunca mais se arriscou em enfrentar o gerente Seu
Raimundo.
seu RAIMUNDO
Certas noites partíamos do banco da praça para as festas
populares que se instalavam nas praças do pirulito, Poço, Sinibú, dois Leões em
Jaraguá. Existiam pastoris, roda gigante, carrossel, muita garota bonita,
roletes de cana, sorvetes, tiro ao alvo, pipocas, alegria geral. Faziamos o
percurso todo na pedoviária, sem medo de ser feliz e ao regressar ficávamos um
certo tempo no banco da praça até sentirmos necessidade de nos recolhermos e
abruptamente levantávamos simultaneamente e diziamos
“té amanhã”.
Certa noite
aproximou-se do nosso banco o colega avenidense Lizardo, irmão de Mario e Biriba, famoso Padu, um pouco mais velho que a maioria, agachou-se
no gramado ,ouvindo e contando suas
observações, sempre fumando com seu isqueiro zipo na mão, tragava forte e
constante, já trabalhava na empresa da família, Casas Jardim ( Tintas),
portanto era bastante diferente da maioria, já responsável, homem feito, outra
visão da vida. Falava sobre comercio, mercado de trabalho, linhas de
financiamento, capital de giro, concorrentes. Chegaram em seguida Hélio Miranda, Capixaba e
Péricles, todos velhos peladeiros da praia da avenida, os dois primeiros chegaram
a jogar nos clubes profissionais. Sem cerimonia, sentavam no gramado e tomavam
conta do papo. Os meninos da avenida consideravam Hélio Miranda o protótipo do
boa vida, bom vivan, bom de bola,
mascarado, malandro , conhecia tudo da bola e descrevia determinadas jogadas que resultaram em goal, em partidas
decisivas.O Capixaba, não ficava atrás também descrevendo jogadas geniais, e
nós boquiabertos com as inúmeras cenas
contadas pelos mesmos. Péricles era um solteirão gente boa que morava
num 1º andar da rua Silvério Jorge e era peladeiro de praia, bem mais velhos
que todos nós, também tinha suas histórias.
Ao final dos ano 50, o grupo foi se desfazendo
paulatinamente pois , varios meninos foram tomando seus caminhos, mais
responsabilidades com conclusão do curso científico, cursinhos de vestibular noturnos,
muitos foram estudar fora do estado , e como dizíamos que a folga acabou ,
vamos assumir responsabilidades inerentes a nossa idade. Novos sonhos, novas
realidades , novos ambientes, mas todos eram unanimes em reconhecer que acumulamos uma base
solida de amizade de companheirismo e tambem de saúde, pela excelente vida que
pudemos usufruir, juntos com todas as nossas famílias unidas, para enfrentar a vida no futuro, sem receios e com grandes
possibilidades de sucesso.
Que DEUS proteja sempre todos nós e nossas famílias para que
possamos ser úteis à sociedade
que vier a nos acolher trazendo cada um no intimo, todo legado de energia positiva que
acumulamos na nossa inesquecível Av da Paz, na nossa cidade sorriso em
Maceió/Alagoas/Brasil.