
ENCONTRO PALMEIRAS
ANIVERSÁRIOS: BEBÉ E BETO GOMES DE BARROS
FOTOS DE LELÉ
( clique na foto para aumentar)











Não me atreveria aqui a discutir ideologia ou regime político do quadro atual de Cuba, nem tampouco descrever a magnífica viagem que fizemos toda a família à ilha, percorrendo-a de carro quase 4 mil quilômetros em três semanas, visitando cidades coloniais belíssimas e praias paradisíacas com direito a mergulhos em corais maravilhosos.
Desejo apenas relatar o meu momento mais sublime dessa viagem.
Dia 9 de junho, terça-feira, cinco e meia da tarde, sol ainda forte, 35 graus, chegamos a velha Santiago de Cuba, a mais africana, musical e apaixonante cidade de Cuba, berço da Revolução. Pelas ruas estreitas procurávamos hotel. Calle Heredia. Calle Enramada. De repente um enxame de roupas vermelhas com lenços azuis ou vermelhos no pescoço. Eram os estudantes primários voltando para casa.
Centenas deles. Alguns de mãos dadas com suas mães ou avós, na garupa da bicicleta do pai, mas a maioria desgarrada, brincando, dançando, chupando sorvete, gritando, fazendo algazarra. Numa situação inusitada de alegria. Felizes como pintos no lixo.
Sentei-me no meio fio, com uma Bucanero na mão, cerveja forte e gostosa, e fiquei apreciando aquele movimento de estudantes, sublime como uma procissão, se arrastando feito cobra. Esse sim, o maior espetáculo da terra. Confesso que lágrimas desceram. Fiquei com uma esperança engasgada no coração.
Em Cuba, um pais pobre, que vive principalmente do Turismo e da agricultura, a população passa aperto para garantir suas crianças na escola em tempo integral. Entram as 8:00 e saem às 5:30. E isto é uma rotina sagrado. Todos que conversamos foram unânimes em não abrir mão desse direito. O estudo é obrigatório até ao equivalente nosso 2º. Grau.
Cheguei a Maceió, dia 22, segunda-feira, depois de uma viagem puxada Havana-Bogotá-Manaus-São Paulo-Maceió. Mesmo assim fiz questão de ligar a TV Gazeta prá assistir as noticias locais. Numa reportagem, uma menina de 5 ou 6 anos, com as mãozinhas sujas de pólvora, ajudava a mãe na fabricação de bombas juninas. Confesso que lágrimas desceram. Voltei a ficar com um desânimo, uma impotência engasgada no cor
ação.
Petrúcio, Eu e Quico, somos os rabugentos do Clã dos Ramalhos.
A nossa diferença de idade, o aniversariante e Eu, é de 1 ano e 9 meses, aproximadamente.
Hoje, essa diferença pouco representa, mas naquela época, freqüentávamos turmas diferentes.
Além de que saiu cedo de casa para morar em Vitória, no Espírito Santo, onde constituiu essa bela e querida família.
Mas, alguns fatos ficaram gravados na memória.
Nossas férias no Fundão, com nossos queridos e saudosos tios Helena e João, jamais serão esquecidas.
Assim como nossa infância na Avenida da Paz.
Aconteceu em pleno carnaval: Cada um recebeu um lança perfume Rodoro, para irmos ao baile infantil do Clube Fênix.
Fomos nos preparar, Petrúcio tomou um porre de lança no nosso quarto de vestir, que ficava anexo ao banheiro, no pavimento térreo. Rodopiou, bateu a perna com tanta força, na cômoda que ficava no quarto que D. Bi ouviu e foi olhar.
Petrúcio estava sentado no chão, com o lança perfume na mão, os olhos revirados.
Mamãe tomou o lança perfume e disse: - não vai mais a festa!
Eu e Quico, apressamos para sair logo, foi quando Petrúcio melhorou do porre e nos dedurou, Paulo e Quico também tomam.
D. Bi tomou nossos lanças perfume e disse: - ninguém vai mais à festa! Conclusão, perdemos o carnaval.
Outro fato, que já escrevi, e consta do Blog dos Meninos da Avenida, é que confeccionamos um Judas, para sacrificá-lo no sábado.
Amaramos o Judas em uma das traves de sustentação da porta da garagem, e a trave, amaramos no poste de iluminação que ficava atrás de nossa casa, na Rua Silvério Jorge, e ficamos esperando a hora do sacrifício.
Foi quando passou um grupo de operários de uma fábrica que ficava próxima a nossa casa, e levou o Judas.
Além do Judas, nossa preocupação era com a trave da porta da garagem, que D. Bi iria dar maior bronca.
Foi quando lembramos que Amaury, ainda estava em casa.
Entramos na maior carreira e aos gritos, Amaury, Amaury, os operários da fábrica roubaram nosso Judas.
Pelos gritos Amaury sentiu a nossa aflição,já estava no Box do banheiro, vestiu a calça do pijama, que naquela época era comprida, e saiu pela rua amarrando o cordão.
Além da estatura, Ele e Petrúcio são os mais altos, herança de nosso Pai, tinha um físico atlético, pois fazia bastante musculação.
Quando chegamos próximo à fábrica, nós atrás, em fila indiana, vimos os operários sentados na calçada da fábrica, e o Judas no poste do lado oposto.
Amaury desamarrou o Judas, colocou com a trave nas costa, e nos dirigimos para casa.
Os operários olhando, nada disseram, nós é que não conseguimos conter a alegria, olhando para os operários, demos o maior grito: ah! ah! ah! ah! ah!
Fundamos um time de futebol, o Atlântico Futebol Clube, e pedimos autorização a D. Bi para transformar a garagem em sede do clube, e fomos atendidos.
Pintamos a garagem e compramos lá pela Rua do Queimado ou Praça Rayol, um escudo de ferro de um time de futebol que havia sido extinto.
Mandamos pintá-lo com as corres de nosso clube, e penduramos na parede, coberto com um pano para ser retirado na hora da inauguração.
Petrúcio era o Presidente, e nossa Mãe, Presidente de Honra.
Quando da inauguração, o Presidente disse: - agora a Presidente de Honra vai tirar o pano do negócio!
Desnecessário dizer que a risada foi geral.
Fica a cargo de Quico dizer o motivo que levou D. Bi, acabar com a sede.
É possível que os fatos não estejam em ordem cronológica, mais são de nossa infância de meninos livres e felizes da Avenida.
Quem diria, Petrúcio 70, é Deus querer, eu chego lá.
Concluirei com um poema do teólogo Miguel de Unamuno:
“Alarga a porta, Pai,
porque não posso passar.
Fizeste a para as crianças
e eu cresci, a meu pesar.
Se não me alargas a porta,
diminui-me, por piedade.
Volta-me àquela idade
em que viver é sonhar”.
Beijos, e fiquem com Deus.
23 de abril de 2009.
Paulo.
A chuva intensa nesse inverno nordestino fez-me voltar à infância. O ano, 1949, era um menino, nove anos, fiquei assustado com relâmpagos e trovoadas, me alegrava apenas lembrar dos caranguejos, eles saem do buraco com trovões, naquele dia eu havia colocado “ratoeiras” feita de lata de óleo em algumas tocas de goiamuns nas margens do Riacho Salgadinho. Durante a madrugada houve um temporal diluviano. O Salgadinho transbordou, encheu a Rua Silvério Jorge, onde eu morava, e adjacências. As grandes chuvas previstas para maio estavam acontecendo no final de abril.
À noite uma enxurrada desceu do Tabuleiro com muita velocidade, passando pelo bairro do Farol com um barulho aterrador de água em grande movimento. A aluvião avançou como se fosse uma onda desgovernada atropelando o que encontrava pela frente, carros, carroças, derrubou árvores. Quando a enxurrada se intensificou na descida do Farol, na Rua Barão de Anadia, perto fábrica de Guaraná Davino, aconteceu um forte estrondo, rompeu um enorme bloco de barro, desprendido da barreira caiu por trás das casas daquela rua. Tragédia, 20 residências soterradas, mais de 50 mortos.
No leito do vale do Riacho Reginaldo–Salgadinho a correnteza da água de chuva, volumosa e insustentável como um enorme vagalhão, levava o que havia pela frente em seu corredor. Na foz, no desembocar, onde o riacho deságua na Avenida da Paz, a enxurrada chegou tão forte que partiu ao meio a ponte de concreto da avenida. A ponte desmoronou, foi arrastada em dois blocos à beira-mar.
No vão, onde estava a ponte sobre o Salgadinho, ficaram apenas trilhos dos velhos bondes pregados em seus dormentes. O bonde era o transporte urbano mais usado naquela época.
Quando o dia amanheceu puderam-se avaliar os estragos da catástrofe, daquela chuva de volume nunca visto. Curiosos, usuários do bonde para o trabalho, ficaram estarrecidos, contemplando as conseqüências da água violenta naquela madrugada.
Pela manhã já se sabia pela da catástrofe pela Rádio Difusora, a enxurrada havia derrubado a ponte da Avenida. A Rádio anunciou a suspensão das aulas; depois do café da manhã, corri atrás de minhas “ratoeiras”, não encontrei uma sequer, em alguns locais estavam submersas. Andei até a praia, entrei no Hotel Atlântico, de uma privilegiada posição fiquei contemplando emocionado o vão da ponte apenas com os dormentes do bonde balançando.
Dois enormes blocos de concretos à beira-mar, lavados pelas ondas, como se fossem rochas naturais. Dois pedaços de ponte. Fiquei encantado com os trilhos pregados no dormente, resistindo numa linha curva, o que restou da tragédia. Esses mesmos trilhos serviram como base, construíram imediatamente uma ponte de pedestre provisória para usuários dos bondes atravessarem fazendo baldeação da linha Vergel do Lago - Ponta da Terra e vice versa. Os bondes paravam na cabeceira da ponte, os passageiros recebiam um tíquete, atravessavam a ponte improvisada, tomavam outro bonde que os levavam ao destino. Carros, caminhões e ônibus seguiam seu destino de Ponta da Terra para o Centro, arrodeando via bairro do Poço. Por conta disso, em Maceió, quando uma pessoa percorre um percurso maior que o previsto, ou faz muita delonga para contar alguma história, diz-se estar caminhando via Poço.
A meninada inocente e traquina até gostou da tragédia, apareceu mais outro divertimento. Todo dia nós acompanhávamos, encantados, as obras de engenharia, construção da nova ponte do Salgadinho. Da cabeceira descíamos, ficávamos por baixo da ponte de pedestre improvisada, em local estratégico, apreciando o desfile das calcinhas das meninas, das mulheres que atravessavam distraídas.
Com a construção de uma ponte de madeira provisória na Rua Silvério Jorge, o trânsito voltou ao normal na região da orla. Não gostamos, a rua ficou com trânsito intenso, tirou o bucolismo. A nova ponte de madeira acabou com nossa tranqüilidade e com o divertimento de apreciar as pernas das meninas por baixo da ponte.
Foi rápida a construção da nova ponte de concreto, logo inaugurada com muito estardalhaço. Quatro anos depois, Luzia, embaixo dessa mesma ponte do Salgadinho, tirou minha inocência, meus cabrestos.
Final dos anos 60 retornei a Maceió para curtir minhas férias, voltava de Roraima aonde comandei por dois anos a 9ª Companhia de Fronteira, na região da Serra da Raposa do Sol. Muito tempo sem ver o mar, só a imensidão dos rios amazonenses. Ao chegar do aeroporto, em casa, vesti um velho calção de banho, desci à praia, descalço, peito nu, feliz da vida, voltava à terra amada. Em frente ao coreto, sentei-me na praia de extensa areia branca e morna onde aprendi a andar, onde me criei. Sozinho, extasiado, deslumbrado, contemplava o belo verde-azulado, cor exclusiva que Deus inventou num dia de inspiração e colocou nos mares de Maceió. Permaneci sentado, meditando, até o Sol se esconder lá no fim do mundo pra noite chegar, pôr-do-sol belíssimo, espetáculo que a natureza repete todo entardecer na enseada da praia da Avenida da Paz. Dentro de mim uma enorme alegria, concentrado no encantamento, absorto em minha paixão por essa terra onde nasci, olhava ao longe o infinito, o horizonte, beleza divina misteriosa. Não pensava, não falava, só sentia e curtia aquele momento. Foi assim a celebração de meu retorno a Maceió naquele belo e ensolarado verão.
Ainda em férias recebi a notícia, havia sido promovido a capitão e classificado no 15º RI de João Pessoa. Nada contra qualquer cidade de meu belo Nordeste, apenas depois de 13 anos perambulando por esse Brasil, resolvi ficar em Maceió.
Comprei uma passagem, voei ao Rio de Janeiro. Com apenas uma maleta na mão fui ao Ministério da Guerra, dirigi-me ao Departamento Geral de Pessoal, responsável pelas transferências e classificações de oficiais. Atendeu-me um coronel, apresentei-me, contei-lhe a verdade, gostaria de retificar minha classificação do 15º RI de João Pessoa para o 20º BC de Maceió. Dei sorte, o coronel, era um homem gentil e prático. Pediu que eu esperasse; logo depois voltou com a notícia, existe vaga de capitão no 20º BC e que publicaria a retificação de minha classificação no Noticiário do Exército ainda naquela semana. Vibrei, afinal ia servir em minha terra. Tomei um lotação para o Flamengo, direto para o apartamento do Cáo, amigo velho, seu apartamento era uma espécie de embaixada alagoana. Cáo é uma figura extraordinária, leitor compulsivo, sabe tudo sobre as histórias das guerras embora seja um tremendo pacifista. Setentão, organiza todo final de ano uma divertida festa do Palmeira, antigo time de futebol do Farol, comparecem grandes figuras que fizeram a história de Maceió dos anos 50/60.
Voltando ao Rio, para comemorar minha alegria telefonei para duas primas-irmãs, Lourdinha e Bebete. Durante o jantar na casa de Tia Rosita, Lourdinha aventou a possibilidade de um contato com Vladimir Palmeira, naquela época ele liderou a marcha de 100 mil pessoas na Cinelândia contra a ditadura militar, estava na clandestinidade, era um dos homens mais procurados pelo regime. Às 10 da noite encontrei meu querido Vladimir em um discreto bar de Botafogo. Vladimir sugeriu irmos para o Canecão. Tomamos uma mesa estratégica, excelente música. Dançamos, bebemos, comemos. Quem por ali passasse jamais imaginaria que naquele grupo alegre havia o líder estudantil mais procurado, caçado pela ditadura e um capitão do Exército, divertindo-se, celebrando encontro de amigos.
Às seis da manhã, o dia amanhecia, perambulávamos pela praia de Copacabana cantando: “Ai, ai que saudade ai que dó... Viver longe de Maceió...” Encontrei-me outras vezes com Vladimir nesses dias de Rio de Janeiro. Depois ele foi preso e banido. Só fui revê-lo muito tempo depois, em 1979, por conta da anistia, quando voltou da Bélgica.
Passei quase todo mês de janeiro no apartamento do Cáo, sempre hospedados 2 ou 3 alagoanos na “Embaixada”. Ao voltar para Maceió, falei para mim mesmo, aqui é meu lugar, basta de perambular pelo Brasil. Logo depois deixei o Exército, mas fiquei
Maceió, como toda cidade nordestina, tem saborosos sorvetes como tradição e cultura gastronômica e animadas sorveterias como ponto de encontro, consequência do calor e de nossas frutas deliciosamente adocicadas que se prestam aos sucos e sorvetes.
Tenho ainda na lembrança o dia que meu pai comprou a primeira geladeira, Frigidaire, maior sucesso. Minha mãe, no almoço, fazia saborosos refrescos de mangaba, manga, abacaxi; o suco que sobrava do almoço nós colocávamos no congelador, era uma farra quando virava sorvete.
Na Praia da Avenida da Paz um sorveteiro, Seu Primitivo, rodava seu carrinho pela manhã entre os banhistas. Havia sempre duas qualidades de sorvete, coco e cajá, coco e goiaba, coco e mangaba; o de coco era invariável. Ele vendia fiado e cobrava em nossas casas pela tarde.
Nos anos 60/70 duas sorveterias fizeram a delícia da moçada no Centro da cidade: a DK-1 e a GUT-GUT, pontos de conversa, de relaxamento, de desfile das belas jovens cheias de hormônios que esfriavam o calor externo e o interno lambendo deliciosos sorvetes. Quantos namoros, quantas paqueras se deram naquelas tardes mornas nas sorveterias dos anos
dourados!
Essas histórias de sorvetes eram assuntos da conversa domingo passado na Bali, orla da Pajuçara. A sorveteria tornou-se ponto de encontro, local agradável, mesas de metal limpíssimas, todo tipo possível de sorvete. São mais de 70 qualidades, além dos diets. O sorvete de pinha é meu predileto, depois sapoti, mangaba... Maceió está bem de sorvete, além da Bali, Alberto Cabus revolucionou a indústria de gelados. A fábrica de sorvete Fika-Frio compete com a Nestlé e a Kibon; entre outras delícias, produz o picolé de tapioca, o melhor picolé do Brasil, excelência em matéria de sorvete.
Imperdível na Sorveteria Bali é a roda de papo, a prosa acarinhada pela brisa marítima. Geralmente vou com o amigo Majella de três a quatro vezes por semana. Nos sentamos por volta das cinco da tarde, o papo prolonga-se até 9 ou 10 da noite; outros amigos agregam-se na roda. Na Bali se vê de tudo: gente famosa como o Galvão Bueno, a Daniela Cicarelli, e muita mulher bonita. Turistas saem da praia com suas cangas charmosas para saborear um sorvetinho em ambiente descontraído. É bom apreciar, ver mulher bonita, faz bem aos olhos. Autoridades não faltam na Bali. São constantes frequentadores o deputado Augusto Farias, o ex-governador Ronaldo Lessa aparece para esfriar a cabeça e um papo. Domingo passado, Téo Vilela tomava sorvete com sua bela filha, sozinho, sem algum segurança, sentou-se numa mesa na calçada; o governador cumprimentava os
conhecidos.
Em nossa mesa, rola todo tipo de conversa, principalmente falar mal do governo, seja qual for; o papo vai de filme, música, à mulher bonita, prosa variada e inteligente, divertida. Não se nota o tempo passar, nem que estamos ocupando mesa, clientes ficam à espera, e nós nem aí. Além do gostoso sorvete, existe a gentileza de Carlos e Lia, os proprietários. O casal veio a Maceió a passeio, ficaram, montaram a Bali há 19 anos, aqui permaneceram, são alagoanos por opção e fazem parte da
cidade.
Em
Não posso deixar de registrar um acontecimento com José Santos, vendedor de DVDs piratas, que ronda as casas noturnas da cidade. Domingo passado, na Bali, escolhi alguns filmes para a Semana Santa. 8 filmes, R$ 26,00, barato que nem banana em fim de feira. Dei-lhe uma nota de R$ 20,00 e mais três notas de R$ 2,00. Meia hora depois José Santos retorna reclamando que lhe dei dinheiro errado. Me devolveu uma nota de R$ 100,00; eu havia confundido com uma nota de R$ 2,00 (mesma
cor).
Fiquei comovido com a simplicidade honesta do José dos Santos. Lembre-se desse nome, ele é o maior dos brasileiros, é povo que é bom e correto. Esse singelo e significativo fato trouxe-me alegria, esperança e a certeza de que nem tudo está perdido, existem muitos José Santos, o mais brasileiro de todos os brasileiros.
(GAZETA DE ALAGOAS – DOMINGO – 19/4/2009)
Ao redor do ano de 1950, pouco mais, ou pouco menos, éramos crianças livres e felizes da Avenida da Paz.
Residindo na casa de número 1200, Petrúcio, eu e Quico, pela ordem decrescente, éramos o nono, décimo e décimo primeiro, filhos de Luiz Ramalho de Castro, natural de Coruripe, e Benedita Prazeres de Castro, natural de União dos Palmares, quando solteira, Benedita Sarmento Prazeres.
Disse crianças porque eu tinha naquela época nove anos de idade, Petrúcio um a mais, e Quico, o caçula, um a menos. Juntos com alguns amigos, não me recordo se Jardim, Braga, Perrelli, Lima, Nonô, Bentes, entre outros.
Confeccionamos um Judas para sacrificá-lo no sábado de aleluia, costume da época, que na realidade nunca existiu sábado de aleluia e sim sábado santo, somente para esclarecimento, porque outro é o enfoque que darei neste escrito.
A nossa casa, como já relatei anteriormente, ia da Avenida da Paz,a rua Silvério Jorge, nessa rua ficava a garagem, que tinha uma porta de madeira, dividida em quatro partes, todas fixas com ferrolhos em cima e em baixo de cada parte, no centro uma fechadura bastante forte, e duas traves de madeira, reforçavam a segurança, indo um lado ao outro da porta.
Quando nosso Judas ficou pronto, o amarramos em uma das traves, e a trave amarramos no poste de iluminação que ficava logo atrás de nossa casa, na rua Silvério Jorge.
Ficamos aguardando a hora do sacrifício, que se não me falha a memória, se dava as onze horas. Nisso passam alguns operários da Fábrica de Cama Progresso, que ficava um pouco adiante, arrancaram o Judas e levaram com a trave e tudo.
Ficamos bastante aflitos, não só pelo Judas, como pela trave, segurança da porta da garagem, foi quando lembramos que nosso irmão Amaury ainda estava em casa.
Amaury é o quarto de cima para baixo, e junto com Petrúcio, foram os que puxaram nosso Pai, na estatura, os demais, estatura baixa, herança de nossa querida Mãe.
Entramos em casa correndo e aos gritos, Amaury, Amaury, os operários da fábrica roubaram o nosso Judas.
Ele que estava no banheiro, já iniciando o banho, ouvindo a nossa aflição, vestiu a calça do pijama, que naquela época era comprida, e saiu amarrando o cordão do pijama, até quando chegou à rua, seguindo em direção à fábrica, nu da cintura para cima, mostrando o porte atlético, e nós em fila indiana, atrás.
Chegando próximo à fábrica, avistamos o Judas amarrado ao poste, no lado oposto à fábrica, e os operários sentados na calcada em frente à fábrica, Amaury desamarrou o Judas colocou nas costas, sob os olhares dos operários, que nada disseram, e voltou em direção a nossa casa.
Nesta hora não conseguimos conter nossa alegria e admiração pelo feito, explodimos no maior grito, ah!ah!ah!ah!ah!ah!ah!, olhando para os operários.
Amarramos o Judas no mesmo poste, até a hora que o sacrificamos, sem mais sermos importunados pelos operários.
Esse e muitos outros fatos ocorreram em nossa infância, juventude e mocidade
Já disse o poeta: “recordar é viver”.