O período
das festas juninas, que simplesmente chamamos de SÃO JOÃO, está para nós
nordestinos, como o carnaval está para o
Sul Maravilha.
A partir de 19 de março, dia de São José, já começávamos
a contagem regressiva para o início de nossas festas preferidas. Todas as casas
da Avenida da Paz tinham um quintal nos fundos onde ficavam as fruteiras,
jardins e galinheiro. Especialmente nesse dia, procurávamos pedacinhos de terra disponíveis
para plantar as sementes de milho. As colheitas nessa pequena plantação eram
feitas nas vésperas, e nos dias de S. João e S. Pedro. Os milhos novos e
verdinhos eram assados na fogueira em frente a casa.
COMIDAS DE
SÃO JOÃO
Os saborosos
pratos à base de milho, como canjica, pamonha, milho cozido, bolo e mungunzá
eram servidos durante todo mês de junho. Eram feitos com milhos comprados no
atacado, no mínimo uma mão, 50 espigas, em carroceiros que vendiam de porta em
porta.
Nos dias e vésperas das festas em homenagem aos santos juninos, Santo
Antônio, São João e São Pedro, certamente todas as casas tinham esses quitutes,
além de arroz doce, amendoim cozido na casca, bolo de macaxeira, pé de moleque,
enfim, tudo o que a imaginação e competência culinária de nossas mães podiam
fazer com as maravilhas que brotam de nossa terra.
Quando a
fogueira já estava em brasa assávamos os milhos colhidos em nossos quintais.
Também na brasa fazíamos churrasquinhos de carne no espeto, acompanhados,
claro, de nosso quentão, mistura de cachaça, vinho tinto, Cinzano e
canela.
AS
ADIVINHAÇÕES DAS MENINAS
As festas
juninas começavam a tomar fôlego dia 13 de junho, dia de Santo Antonio, quando
as meninas se juntavam para fazer adivinhações que giravam em torno de um único
tema - com quem iam se casar???. Era
mais um motivo para aumentar a bagunça dos meninos da Avenida, que nunca
perdiam uma oportunidade de melar a brincadeira das meninas.
Uma das
adivinhações era furar uma bananeira com uma faca que nunca tinha sido usada. No dia
seguinte apareceria na lâmina as iniciais do provável noivo. Víamos escondidos
onde as meninas enfiavam as facas. Depois,
colocávamos uma letra na lâmina com sumo de limão, e a faca voltava para
o mesmo lugar na bananeira. Quando
a menina, no outro dia tirava a faca, estava uma letra de algum menino que ela não
gostava. E nós? Lá estávamos, de olho, para apontar o nome do bandido que ela
não queria nem ouvir falar. Pura maldade .
Também
bagunçávamos as adivinhações de colocar uma moeda na fogueira e no dia seguinte
oferecê-la ao primeiro esmoler que aparecia. O nome dele seria do pretenso
noivo. Também costumávamos brincar de deixar os pingos de uma vela caírem na
água de uma bacia até aparecer uma letra. Era a primeira letra do nome de um pretendente.
E muitas outras brincadeiras de adivinhações animavam as nossas noites juninas, como
colocar clara de ovo num copo d´água. No dia seguinte se aparecesse na água uma
figura sugerindo a imagem de uma igreja, era sinal de casamento próximo. Se a imagem sugerisse um navio, era sinal de viagem. A imagem de um caixão, era a morte em breve. Claro que pra
provocar gritinhos de pavor entre as Luluzinhas, fazíamos sempre aparecer no copo d´água, no dia seguinte, o desenho de um caixão.
FOGOS
Acendíamos
as fogueiras no começo da noite. O efeito era quase que mágico. A Rua Silvério
Jorge, de repente, ficava totalmente iluminada pelas labaredas e pelas
brasas das fogueiras. A fumaça cobria
todo o céu. Com a brasa na extremidade do pau da fogueira acendíamos nossos
fogos.
Pistolão,
vulcão, estrelinhas, diabinhos, bombas, pipocavam em cores e luzes enfeitando
toda a rua. A pivetada corria de fogueira em fogueira, jogando travaliana,
beliscando os quitutes feitos por nossas mães, felizes como pinto no lixo.
Na Avenida
da Paz, as fogueiras eram altas, montadas na areia da praia, onde não havia a
limitação da rede elétrica. O contraste daquele fogaréu com a lua e o mar,
formava uma paisagem de tirar o fôlego. Belíssima. Principalmente quando o tio
Béu soltava os mais deslumbrantes fogos
de artifícios. Outros soltavam balões. Era um momento especial esperado
ansiosamente por todos os meninos da região. A noite da Avenida da Paz brilhava
em todo seu esplendor.
GUERRA DE
FOGUETES
Nesse
período de São João, os meninos da Avenida mantinham um confronto sem trégua
com os meninos da Praça Sinimbu, armados só com foguetes. O Rio Salgadinho era
a divisa da área de atuação. Passando desse limite, o moleque era coberto com
bombas de pistolões. Sempre havia alguma queimadura na batalha.
Certa vez,
Dimas, um mulato da Praça Sinimbu atravessou o rio, pela praia, com um grupo de
amigos. Estávamos escondidos atrás das pilastras da Ponte do Salgadinho,
esperando justamente isso, um atrevimento da parte deles. De um lugar estratégico, com boa visão do campo de batalha,
acompanhávamos cada passo, cada manobra dos inimigos. E de cima para baixo, surpreendemos
Dimas e sua tropa, jogando foguetes em cima deles. Alberto Cardoso acertou o
cocuruto do Dimas com um rojão. Ele passou meses com uma faixa no cabelo
pixaim. Maldade.
Não existia
para nós, Meninos da Avenida, melhor época do ano que o São João.