terça-feira, 29 de novembro de 2011

CAMINHAR BEM PELA VIDA por: Milton Hênio

Já estamos no final de novembro e assistimos a corrida célere do tempo. Particularmente, apesar dos meus 74 anos e 49 no exercício diário da medicina, procuro sentir dentro de mim as portas continuarem se abrindo, apesar de estar no entardecer da vida.

No passado, a imagem de uma pessoa com 60 anos era de alguém desanimado, solitário, sentado em uma cadeira de balanço ouvindo um estridente radinho. Era essa a imagem dos nossos avôs. Os tempos mudaram. O envelhecimento é uma das palavras que sofreu mais modificações nos últimos 10 anos.

Começamos a envelhecer desde o momento em que saímos do útero materno. Cada dia é menos um dia. Hoje vemos inúmeras avós nas academias de ginástica dando verdadeiro show de juventude. E homens com 80 anos praticando esporte e natação como se fossem jovens. Isso é notável. Em todos os tempos o ser humano sempre se preocupou com sua longevidade e aparência. Conta-se que Cleópatra, no Egito, tomava banhos diários de leite para manter-se jovem e com pele alva.

No passado ouvíamos dizer com frequência que o mundo era dos jovens. Hoje, nos tempos modernos, os idosos estão sabendo se cuidar realmente.Diz a OMS que atualmente 870 mil pessoas completam 65 anos a cada mês no mundo. A mesma instituição revela que o mundo terá 1,3 bilhões de idosos até o ano 2040. No Brasil em 2007 tínhamos 11.427 brasileiros com idade acima dos 90 anos. São dados do IBGE.

À medida que passamos dos 50 anos nossa força muscular vai caindo em consequência da queda de hormônios. Nossos neurônios também vão sendo eliminados. É preciso, portanto, ativá-los. Caminhada, respirar oxigênio puro, leitura, bom humor, tudo concorre para sua caminhada tentando alongar o máximo possível esse percurso que se chama vida.

A vida é uma lição de efeitos e contrastes. Todos nós esperamos que as coisas aconteçam num futuro próximo esquecendo que o momento mais poderoso para que as coisas ocorram agora, é hoje. Acordar bem todos os dias é um grande salto na transformação da caminhada em sua vida. Sorria, brinque, tome seu banho de mar, enfrente os obstáculos com altivez. Mexa-se, abandone a preguiça, olhe-se no espelho e veja o melhor de você.

Lembre-se que a verdadeira beleza física e sua longevidade dependem do equilíbrio entre o externo e o interno, isto é, entre o corpo e a mente. Veja bem: a verdadeira idade é a que você quer ter.


GAZETA DE ALAGOAS - 27-11-11

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MOSSORÓ por Gilca Cinara

“Teve época que tínhamos mais de 100 mulheres perdidas dentro da boate”. Se recorda o filho do famoso Benedito Alves dos Santos, o “Mossoró”, sobre os anos de grande movimentação na Boate e Churrascaria Areia Branca, consagrada o melhor prostíbulo de Alagoas, nos anos 70 e 80, no bairro do Canaã, em Maceió. Aos 65 anos, o aposentado Alberto Nascimento Santos, mesmo contando que está com a memória fraca, ainda traz boas lembranças dos anos dourados do Areia Branca.Entre suas lembranças, “Roberto”, como é conhecido, relata o dia em que deixou o bairro do Jaraguá, ao lado do pai para montar o novo negócio na parte alta da cidade. Benedito Mossoró deixou a sua profissão de pintor para se tornar dono de um bar diferente. O primeiro estabelecimento, onde conseguiu uma grande parte da clientela, foi no próprio Jaraguá. No bairro, permaneceu por longos anos na Rua Sá e Albuquerque, até o governo da época determinar o fechamento dos prostíbulos, em 1967.

“Quando fechou o Jaraguá, meu pai ficou sem saber para onde ir. Ele tinha esse terreno aqui no Canaã, e resolveu colocar a boate aqui para fugir da fiscalização do governo. Ele labutou muito para construir, mas não pensava que o estabelecimento ganhasse tanta fama. Ele cismou em entrar para o ramo”, recorda.

O apelido Mossoró foi dado pelos fregueses, devido ao nome da boate Areia Branca, que lembrava as dunas de areia na cidade de Natal. “O povo foi chegando e ele foi ganhando nome”. Ao falar sobre o pai, Roberto o classifica como uma pessoa “bacana e ao tempo reservada”. “Ele sempre procurou o lugar dele. A maior parte do povo gosta de criticar donos de boates. Muitos homens gostam, mas tem mulher que não gosta deste tipo de lugar”, afirmou aos risos.

O prostíbulo ganhou tanta fama, que virou ponto turístico em Maceió. “O povo que frequentava não era de baixa renda. Se citarmos nomes em público a família não aceitará e vai querer criar problemas”, disse Roberto fazendo referencia ao grande número de personalidades políticas que eram fregueses do Mossoró. A casa também foi visitada por personagens como Altemar Dutra, Vera Fischer, Martinho da Vila e outros.

Das luzes às ondas musicais por todo o Brasil
Rapidamente, as luzes e as mulheres que animavam o local ganharam fama nacional. A boate, inclusive, virou tema de música do sambista Martinho da Villa e do alagoano Djavan.
“... Vou tomar uma azuladinha
E vou convidar vocês
Pra comer uma agulinha
Lá na Praia do Francês
E um casadinho de feijão
Lá na casa do Seu João
E depois vou vadiar
Com as meninas em Mossoró
Só em Maceió
Só em Maceió
É que se pode vadiar
Com as meninas de Mossoró
Com as meninas de Mossoró
Alagoas, Alagoas
Há Alagoas...”, escreveu Martinho da Villa.
Essa situação não serviu para melhorar o local. Mesmo com o passar do tempo e o crescimento econômico, a rua mais movimentada do bairro ainda continua com o aspecto encontrado por Mossoró, em 1969: esburacada, sem saneamento e pavimentação. No local erguido o palácio do Rei da Noite, hoje é preenchido por residências de aluguéis, divididas entre os três filhos. Em um desses imóveis reside Roberto, com a mulher e o neto.

“Depois que ele faleceu passei um ano à frente da boate, mas não agüentei. Os impostos eram muito pesados, na época pagava R$ 1.200 só de energia para tirar esse dinheiro vendendo cerveja. O povo já tinha parado de consumir as bebidas mais caras, onde eu conseguia tirar mais lucro. Desde então continuei morando aqui (Canaã) há mais de 45 anos. Agora penso em deixar o bairro, o que tinha que perder aqui eu já perdi, perdi meu pai”, se emociona Roberto.

Com a fama do Mossoró e a movimentação na região ainda deserta, começou o crescimento do bairro do Canaã, hoje habitado por mais de sete mil moradores. A população, em sua maioria, é oriunda do Interior. Muitas pessoas que trabalharam no Areia Branca fixaram residência no bairro, após o seu fechamento, em 1995. Benedito Mossoró faleceu no dia 14 de dezembro de 1994, vítima de um infarto fulminante. Com a sua morte, o Areia Branca resistiu menos de um ano com as portas abertas.

Na época do sucesso, outros prostíbulos se instalaram ao redor do Areia Branca, que se destacava pela sua organização e pela “excelente” seleção das mulheres. “Quem tinha dinheiro freqüentava o Areia Branca duas, três vezes na semana. Quem não tinha se contentava com outros, como o Bar do Paulo, a Sandra, Eliane e outros cabarezinhos que tinham por lá”, lembra um freguês assíduo do Mossoró, que prefere não se identificar para não ter mais problemas com a esposa.

Para o presidente da Associação dos Moradores do Cannã, José Bonifácio, o fundador do bairro foi Benedito Mossoró. Com o tempo, fábricas foram instaladas no local, os terrenos começaram a ser invadidos por trabalhadores, que deram o nome de sua cidades para as ruas. “Satuba, Porto Calvo, Anadia, Maragogi, Quebrangulo, Jequiá e antiga Rua Camaragibe são os nomes batizados das sete ruas do Canaã”, conta.

“O Canaã para nós hoje é uma cidade. Tem muito gente que saiu daqui a época quando começou o crescimento do bairro, que hoje quer voltar e não tem mais condições. O bairro se desenvolveu muito. Hoje temos uma população de mais de sete mil moradores”. Mesmo com todo o desenvolvimento, Bonifácio lamenta a discriminação da área onde funcionavam os prostíbulos, esquecida pelo poder público.

A noite de gala no Mossoró
O aniversário da boate era comemorado em grande estilo. Todos os anos, Benedito Mossoró oferecia uma festa para sua clientela, regada com muita bebida, música e o glamour das suas meninas. Todos seguiam o estilo elegante do grande anfitrião da festa, que tinha sua preferência pelo terno branco, marca registrada do mais conhecido boêmio alagoano.
“A festa era com todo mundo de sapato alto e mulheres com vestidos longos. A fila de carro era grande, a cerveja era de graça, de 50 a 100 grades de cerveja. A festa começava no final da tarde e antes das 22h a bebida já tinha acabado. O povo devorava tudo. Todo ano ele dava essa festa. Ele era tão ruim, que ele fazia isso. Ele ajeitava muito os clientes, ai você tinha que voltar, ali é bom e vou ter que voltar”, disse Roberto

As meninas do Mossoró
A beleza das meninas do Mossoró encantava quem por lá frequentava. “Mulheres selecionadas a dedo”, riu o filho do empresário da noite. E assim que muitos fregueses da época qualificam as meninas. Para trabalhar no Areia Branca não bastava apenas ser bonita, mas tinha que saber agradar ao cliente. Tinha que ter molejo.

Apesar da renovação das meninas ser sempre constante, muitas histórias de amor nasceram com as visitas habituais ao estabelecimento, como é caso do aposentado Cícero Lima. “Eu me apaixonei por uma das meninas chamada Daniela. Por pouco não me casei com ela, como fez o meu primo que casou com outra menina do Mossoró, e construiu uma família com três filhos e netos”. O trecho relatado por Cícero se assemelha a tantos e tanto casos. “Hoje muitas das mulheres que trabalharam no Mossoró estão casadas e são mães de família”, conta, relembrando que elas vivem apenas nos sonhos dos antigos clientes.

Uma pessoa em Recife se encarregava em trazer as meninas das cidades de Aracaju, Caruaru, Recife, Campina Grande até Maceió. Algumas delas, como já trabalhavam no ramo há muito tempo, chegavam ao Areia Branca sozinhas, acompanhadas apenas ‘da cara e da coragem’. Todas elas dividam os quartos construídos por Benedito Mossoró. Em época de grande movimento duas a três mulheres moravam no mesmo quarto. “Ele (Mossoró) ia buscar também. Mas na época ninguém podia trazer duas, três mulheres no carro não que a Polícia pegava, porque sabia que era tráfico de mulheres”, disse Roberto.

Bem apresentáveis, elas não desapontavam nenhum cliente que as convidavam para também fazer companhia em festas sociais. “Lembro-me que nos finais de ano, eu e um primo pegamos cinco mulheres do Mossoró e levamos para uma festa no Clube Fênix. Elas eram muito bonitas, educadas e bem vestidas circulavam normalmente em todo lugar. Só sabia o que elas faziam quem lá frequentava. Na rua ninguém comentava nada, pois quem via achava que o cara estava acompanhado da esposa. Isso aconteceu outras vezes, inclusive na festa de formatura do meu primo no Iate Clube. Elas se comportavam melhor que certas mulheres donas de casa que quando enchiam a cara ficavam loucas nas festas”, contou um empresário que preferiu manter-se no anonimato.

Poucas confusões foram vista dentro da boate Areia Branca, graças à organização do Mossoró e a fiscalização do gerente, o senhor Djalma. Da amizade existente entre seu pai e Djalma, Roberto jamais esqueceu. Se vivo estivesse, Djalma seria o grande narrador das noites boemias e festivas no Areia Branca. Quando faleceu, há 16 anos Benedito Alves, o Rei da Noite, deixou a casa em pleno funcionamento, com nove funcionários e uma dezena de mulheres. Clientes assíduos, ao relembrar das aventuras no Mossoró enchem a boca para dizer: “Era um ambiente quase familiar”.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MENINOS DA AVENIDA por Paulo Ramalho

Muitos

Éramos

Naquela

Irmandade

Nadando e fazendo tudo que tinha direito.

Obtendo

Sonhos


Durante

Anos


Amigos

Vivíamos

Enturmados

Naquela

Intimidade

Duradouro

Até........

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

AS “PELADAS” DO HOTEL ATLÂNTICO por Murillo Mendes

UM “RACHA” QUE, AFINAL, UNIA

Ontem, sem que programasse, passei pela Avenida da Paz e não resisti diante daquela que foi a mais bela de todas as nossas belas praias. Premido pelas boas recordações suscitadas, resolvi descer do carro e percorrer, à beira d’água, o trecho em que, na minha adolescência/juventude, quase que o habitava, pois que nele desfrutei o melhor desse augusto tempo. Bem aventurado, foi exatamente ali que iniciei a construção do amor da minha vida; amor sem fronteiras, verticalmente dado e recebido, fértil e frutuoso, que nem a inclemência da morte foi capaz de minimizá-lo, ou de extingui-lo.

Nele, senti-me, novamente, ávido de viver em plenitude; despertei, em mim, o jovem sonhador e projetista que tudo podia... que muito queria. O fato é que revivi, em intensidade e nesses breves instantes, no trecho que mediava os trapiches que não mais existem e o então florescente Hotel Atlântico, um turbilhão de lembranças significativas que, ainda, me animam e sustentam, e estimulam-me para o viver amplo.

Houve um tempo – bendito tempo – em que essa praia sediava, em todos os domingos, em suas manhãs ensolaradas, uma das mais disputadas “peladas” futebolísticas de nossas encantadoras orlas praieiras. O seu palco, frontal ao Hotel Atlântico, tinha dimensões imensas e irregulares; era limitado pela maré, de um lado; do outro, pelo capinzal rasteiro que, sutilmente, homiziava insuportáveis carrapichos. O jogo era disputado, assim, em aplainadas e firmes areias trabalhadas pela maré, e nas frouxas e cansativas areias brancas que guarneciam e ornamentavam o mar azul que se descortinava ao fundo.

As equipes eram constituídas, sempre, através de chamada alternativa dos presentes; realizada por dois dos seus mais inveterados habitués; quase sempre, Júlio Normande e Betinho Perrelli. Iniciado o “racha”, ele só acabava depois de passado o “meio dia”. Não havia árbitro. Faltas e “goals” eram confirmados e aceitos de modo consensual; algumas vezes, no grito. Neste caso, nunca sem acirradas discussões que eram aliviadas por piadas e chistes que arrefeciam os ímpetos e recompunham a camaradagem.

Era jogo “pra valer”. Não obstante isso, os disputantes, arengueiros em sua maioria, jamais saíram para a “via de fato”. As derrotas eram naturalmente assimiladas. As discordâncias e o inconformismo dos derrotados eram domados pela esperança de que o troco viria na próxima “domingueira”... e, isso bastava, era o suficiente para se manter intacta a harmônica camaradagem. As discussões teimosas eram soterradas pelas “tiradas” inteligentes; pelo caçoar oportuno; pelo humor inofensivo e bem colocado, que temperava a doçura dessa convivência semanal, garantindo-lhe mansidão e pacificidade.

O “racha” do Hotel Atlântico era convergência, união e respeito mútuo. Fez-se em amizades inabaláveis que resistem e prevalecem até hoje; não foram afetadas pela oxidação do tempo. Seus participantes, na realidade, concertaram uma franca convivência que se mantém atual; sobremodo, como exemplo de coerência e de valorização individual.

Antecipando-me em desculpas pelas prováveis omissões, exalto e nomeio, aqui, os lembrados sujeitos ativos dessa eloqüente demonstração democrática; marcadamente fraternal e igualitária: Júlio, Zeca e Henrique Normande; Zé e Mané Ramalho; Fernando e Betinho Perrelli; Paulo Mendes; Gerson Omena; Joubert Scala; Rubinho Mastigada; Vetinho e Claudinho Pacheco; Claudinho Ferrário; Pai Manu; Arroxellas; Afrânio Montenegro; João Simões; Cleantho Rizzo; Luizito; Louvain Ayres; David; Maso e Dirson; Napoleão Moura; Juvencinho Lessa; Zezé Barbeiro; Peitudo; Ascânio Valença; Licito Cansanção; Eraldo; Aurélio Munt; Miguel Rosa; Tonico; Fernando e Toinho Cotrin; Paulo, Maru, Guy e Mano Gomes de Barros; Elísio Aguiar; Zirreli; Eduardo Jorge; Pedro Galinha...

Salve, pois, o futebol praieiro do Hotel Atlântico, por tudo que ele pôde oferecer e edificar.